Alagbẹdẹ: O caso do saber-fazer como distintivo social

Por Marcos Miliano | 02/04/2022 | Sociedade

Alagbẹdẹ: O caso do saber-fazer como distintivo social

 

Marcos Miliano

 O homem, mediante suas 

técnicas, vai substituindo ao Tempo, seu trabalho vai substituindo a obra do Tempo.

Mircea Eliade

 

Resumo

Nos propomos a comunicação do caso em que o saber-fazer distingue o indivíduo, através de sua atuação profissional, centrando nossa observação para os casos dos ofícios no período da escravidão, com destaque aos ferreiros. Os indivíduos podem destacar suas características profissionais e talento como caracteres dominantes de identificação, acima dos aspectos fenotípicos; em tal situação é possível que mesmo na condição de escravo, o indivíduo possa gozar de tratamento diferenciado em relação aos outros escravos. A primeira parte descreve o motivo da escolha do tema, que está ligada a ascendência quilombola do autor e a sua experiência de vida, e como ferreiro. A segunda parte faz um apanhado sobre a diáspora como movimento inicial de atração dos mestres de ofício da África para o Brasil. A terceira parte examina os fatores práticos e mitológicos que fazem do ofício um distintivo social. A quarta parte descreve as ações relacionadas a execução do ofício. A quinta parte traz as considerações finais.

Palavras Chave: Ofício, ferreiro, prestígio, escravo, África

 

Leitmotif

Augusto Cesário de Araujo, nasceu na cidade de Garanhuns, na comunidade do Timbó[1], conhecida como comunidade descendente de um quilombo. Desde cedo serviu nas forças policiais do estado de Pernambuco, o antigo Tiro de Guerra, levado por seu pai que era ordenança do delegado do município em 1926. Caçou cangaceiros pelo Sertão; em 1935 foi condecorado na luta contra os comunistas da Intentona; convocado para a Segunda Grande Guerra ficou aquartelado no Rio de Janeiro, quando o conflito acabou antes de seu embarque para a Itália. Dentre tantas histórias que ocupariam dezenas de folhas, como delegado de algumas cidades do Agreste de Pernambuco, reformou-se segundo tenente, já vinculado à Polícia Militar de Pernambuco.

 

Homem agreste, de poucos gestos, som moderado e pausado na fala, olhar igualmente duro e penetrante. Nunca reclamou de nada, nem de mal palavra, nem de cara feia, exigia o de direito, nunca o viram chorar. Não gostava de desordem, barulho, cabelo grande, barba por fazer. Casou-se com uma mulher branca com quem viveu até sua morte aos 83 anos. Nessa ocasião em 1992 um dos logradouros de Garanhuns recebeu seu nome, homenagem da cidade, sugerida pela Maçonaria[2]. Seu Augusto como era conhecido, por todos, era procurado quando alguém na região precisava consertar uma arma de fogo. Sempre que passava pela porta, para a rua, vestia-se com um duque e chapéu Prada - pelo de lebre marrom, carregava consigo, embaixo do paletó, no coldre subaxilar, o revólver calibre 32, companheiro de uma vida de trabalho na proteção às pessoas.

Seu Augusto era meu avô. Sempre me levava ao passeio, acostumei-me a escutar suas conversas com tantas pessoas que nos paravam pela rua. Aos domingos, o primeiro destino era uma loja de doces, em que o proprietário era chamado de Cabo, por meu avô. Depois que comprava o jornal do dia, sentávamos os dois, cada um à frente de um engraxate para polir os sapatos. Onde eu com o suplemento do jornal – quadrinhos, imitava seus gestos, como se soubesse ler. Assim cresci, aprendendo coisas diferentes, a cada passo do tempo em que eu ficava mais velho. Sempre ouvi suas lições sobre como viver, utilizando metáforas ligadas aos metais: “O silêncio é de ouro e a palavra é de prata! ” - “Mulher casada tem cheiro de chumbo! ” – “Homem é como o aço, forja-se com fogo e pancadas. ”[3] ...

 

Na casa em que mora minha avó, e que voltei a habitar nos últimos cinco anos, meu avô me chamava eventualmente ao quintal, quando ia mexer com fogo e metal[4], nesses eventos me mandava ao batente da porta, tocar o chão do quintal, depois a cabeça, na testa, na direita e na nuca. Só eu executava essa ação, mas diante da forja[5], cruzava os braços sobre o peito, e se mantinha por um segundo contrito olhando o fogo[6].

 

Há seis semanas quando comecei a reunir as notas para compor esse artigo, conversando com uma prima, descobri que meu avô me ordenava executar esses movimentos porque eu seria filho de Ogum. A prima sorriu ao dizer isso, pois sabe que sou ateu, então completou que, só eu fazia aqueles “sinais” porque os filhos de santo é que deveriam obrigatoriamente fazê-los “...você pode não crer, mas tem todo o temperamento explosivo de Ogum...! ”. O cruzamento de braços que meu avô fazia era uma saudação a Ogum-Ferreiro. Decerto que o quintal, naquele dia em que meu avô martelava pequenas peças de metal em brasa contra um pedaço de trilho, tornava-se Terra de Santo, a área em torno do trabalho que meu avô executava, se tornava propriedade do orixá[7].

Há progressivo interesse nos relatos da tradição oral concernentes ao comércio do ferro e aos ferreiros, os quais formam uma poderosa categoria sob muitos aspectos. Isso pode esclarecer o problema relativo ao papel do ferro nos períodos antigos; porém, a questão do conhecimento inicial e da difusão das técnicas é bem mais complexa e pouco estudada. (Unesco - A, 2010 – p.159)

 

Mesmo tendo acompanhado meu avô, desde molecote até o final da minha adolescência com esses trabalhos de ferraria, o qual algumas vezes ele me obrigava a assistir, só aos 40 anos de idade, quando minha avó precisou que eu retornasse ao lar, que tornei a manipular o metal, inicialmente por lazer, hoje profissionalmente. Não sei bem, que circunstâncias dentre tantas me levaram a isso, o fato é que me sinto bem, modificando o metal, orgulhoso por lembrar das coisas que aprendi com meu avô. Ao reler sobre a personalidade de Ogum, posso concordar com minha prima sobre as semelhanças, e respeito muito as crenças alheias. Eu não acredito na metafísica, mas seria muito ingênuo se pensasse que o que sei é tudo e determina a verdade. O que eu não sei pode negar todas as crenças e inclusive a minha descrença. Patakori Ogum!

 

1º Movimento

A Diáspora Africana, ou seja, a emigração dos Africanos, em função dos diversos meios de traficar pessoas para o trabalho escravo, representa parte importante da história mundial. Antes, não foi apenas para as Américas que os africanos foram levados, o Oriente Médio e a Europa, representam destinos mais antigos, ao passo que houve uma migração voluntária, em alguns aspectos. A obra História Geral da África, da Unesco explica:

 

O Êxodo rumo à Ásia Menor e ao mundo mediterrâneo é o mais antigo dentre as correntes da diáspora africana. Teve início muitos séculos antes da era cristã, conhecendo o seu apogeu a partir do século VII. A maior parte dos africanos chegou ao mundo Mediterrâneo pelas diversas vias do tráfico transaariano, enquanto outros imigraram por vontade própria. (Unesco, 2016 – p.319)

 

Além dos que buscavam conhecimento como os intelectuais e professores, também acompanhavam as caravanas dos comerciantes que atravessavam o deserto, os peregrinos em sua viagem à Meca ou Medina. O comércio de escravos nesse sentido também era importante atravessando o Saara, a maioria de origem etíope capturados em vários locais sob guerra e levados para a costa, pelas etnias vencedoras, que os vendiam na costa para comerciantes árabes[8].

 

A migração, forçada ou não para Meca também desempenhou importante papel na diáspora africana. Os peregrinos mais abastados, originários da África, levavam em sua companhia, nas caravanas, um certo número de escravos, os quais poderiam ser vendidos durante a viagem para pagar os custos da peregrinação.

 

 Não é fortuito que Meca tenha figurado como principal mercado de escravos da península arábica. A ela eram levados para venda não somente escravos africanos, mas, igualmente, escravos circassianos, malaios, indianos e da Ásia Central. (Unesco, 2016 – p. 320)

 

As Américas foram muito mais representativas que a Europa na diáspora africana, até 1800 a população de negros, livre e cativos, correspondia a oito e meio milhões. E nas Américas, o Brasil foi ainda mais representativo, ao longo de todo o período do tráfico negreiro, quase quarenta por cento foi trazido para cá. O país passava pelo auge das plantações, com produções muito representativas, que careciam mais e mais de braços para dar vasão à produção, por conseguinte os africanos também exerciam outras atividades além da agrícola, eram tecelões, negociantes, artesãos, proprietários (inclusive de escravos), peixeiros, vendedores, mestres mineiros, ferreiros, modistas, costureiras, com participação efetiva na vida e na formação cultural dos países que passaram a habitar. Quanto menos estável fosse a sociedade, tanto mais os africanos e afro-americanos influenciariam a sua estrutura e conquistariam um espaço para si mesmos e para os seus descendentes. (Unesco, 2016 – p.325) O viajante Thomas Ewbank descreve um leilão de escravos a que assistiu por ocasião de uma viagem ao Rio de Janeiro em 1846:

 

”O catálogo continha oitenta e nove peças e cada peça postava, bem à vista, o número correspondente, (...) com a descrição que deles era feita. (...). Cada peça um homem ou mulher, menino ou menina. Havia cinquenta e três do sexo masculino, a maioria dos quais entre dezoito e trinta anos: carpinteiros, pedreiros, ferreiros e trabalhadores de lavoura. Um era marinheiro, outro calafate e barqueiro. As criaturas ali vendidas eram de todas as locações, desde o profundo azeviche de Angola até o branco, ou quase branco, como pareceu uma mulher a minha frente. (...)” (Moura, 1980 – p. 241)

 

É natural que os africanos trazidos para o Brasil, que na África tinham sido escultores, fundidores, oficiais de um modo geral, trouxessem para o Brasil a sua habilidade e talentos[9]. O profissional num regime escravocrata não exime o uso das capacidades para tornar a vida menos difícil, um especialista em ourivesaria não escolheria capinar apenas para privar os senhores daquela valia, certamente de talentos tão específicos e raros adviria resultados mais proveitosos para si, seja com o fruto diretamente aos seus bolsos, seja indiretamente pelas graças do patrão. A mão-de-obra escrava foi empregada em atividades que exigiam trabalho qualificado, tais como conserto de barris, tinas (tanoeiros), atividades de preparação do açúcar, atividades de ferreiros, etc.[10]

 

Sem fazer menção aos interesses que a não publicitação das atividades alternativas que os africanos exerciam aqui, em prol da construção de uma imagem onde o escravo em todos os casos relacionados, setores profissionais e lugares em que viviam existissem na figura de animais sem expressão, é do dever apartidário, esclarecer a alteridade de condições que existiam no Brasil, no trato com os escravos. Sobre isso, Emanoel Araujo, diretor-curador do Museu Afrobrasil nos comunica:

 

“A negação do passado científico e tecnológico dos povos africanos e a exacerbação do seu caráter lúdico são algumas das principais façanhas do eurocentrismo, abalando fortemente, ainda hoje, a autoestima da população africana e da diáspora” (Museu Afrobrasil, 2019.)

 

No espaço central do supracitado museu, as pessoas podem admirar as moendas de açúcar, as prensas de folha de tabaco, as mesas de lapidação, as moendas de milho, as forjas de ferreiro, as plainas de marceneiros, entre outros objetos que remetem aos séculos XVIII e XIX que representam em suas construções ou modificações a influência da tecnologia e ciência de seus usuários. E Emanoel Araujo continua:

“Desde o século XVIII, os escravos que predominaram na região de Minas Gerais, no auge da produção de ouro, eram originários da Costa da Mina, na África, onde os conhecimentos de mineração e metalurgia do ouro eram altamente desenvolvidos. ” (Museu Afrobrasil, 2019.)

 

 

Toccata

As inovações tecnológicas que desfrutamos hoje, tiveram suas raízes em outras inovações. Seus autores muitas vezes anônimos, trouxeram na bagagem cultural de suas origens, artefatos ou ideias que modificaram o modo de fazer as coisas. Dentre as personagens que a história não esqueceu, alguns autores de importantes criações que influenciaram o desenvolvimento das américas estão afro-americanos, escravos como Henry Blair que em Maryland patenteou duas máquinas de moer milho; em meados do século XIX, Benjamim Montgomery escravo do Presidente dos Estados Confederados do Sul (EUA), inventou uma hélice para barcos. Ou o escravo Benjamim Benneker, matemático e editor de almanaques, entre tantos outros, diferenciaram-se não apenas em suas comunidades, mas no mundo e na história, apesar da condição de servidão.

Eram louvados homens como cita Ancársis, cujos títulos de glória foram ter aperfeiçoado a âncora e inventado o fole e a roda do oleiro; ou homens como Glauco de Quios, que inventou a liga para soldar; ou Teodoro de Samos, a quem se atribui larga série de invenções técnicas como o nível, o esquadro, o torno, a régua e o método de fundir o bronze. (Farrington apud Cunha, 2005 – p.8)

 

As tecnologias desde sempre dotaram indivíduos grupos e nações de distinção, e mais, liderança nos cenários mais duvidosos. Em virtude da posse de uma reputação, até criações que não foram de propriedade são atribuídas. É o caso do mosquete, uma invenção Alemã, em que controvertidamente atribuem aos holandeses, simplesmente porque na época em que surgiu a arma, essa nação era a que detinha maior poderio militar, pela tecnologia de seus armamentos. Desde a primeira ferramenta desenvolvida por um hominídeo, até a técnica da agricultura ou cerâmica, revoluções do Neolítico, que as inovações técnicas eram ao mesmo tempo mistérios. Implicando capacidade sobre-humana, só seriam explicadas pela sacralidade ou como presente dos deuses. Os mistérios que cercavam os detentores dessas técnicas transmitiram por iniciação os segredos do oficio.

 

Parece, portanto, existir em diferentes níveis culturais (índice de grande antiguidade) um laço íntimo entre a arte do ferreiro, as ciências ocultas (xamanismo, magia, cura, etc.) e a arte da canção, da dança e da poesia. Estas técnicas solidárias parecem além de transmitir-se em uma atmosfera impregnada de sacralidade e mistério e comportam iniciações, rituais específicos, segredos de profissão. (Eliade, 1980 - p.56)

 

Na incapacidade de entender uma evolução técnica, foi comum para sociedades menos desenvolvidas, divinizar tanto o saber fazer como os artefatos decorrentes. Mostrar algo novo, desenvolvido pela técnica atribuía ao produtor, a condição de superior ou no mínimo, intermediário de um conhecimento que veio de uma entidade superior[11].

 

Os tabus, interditos ou práticas com que funcionam os indivíduos por uma condição da sua cultura, consequentemente imutável, ou quase, viriam determinar a insegurança na vida ou na evolução, ignorar a ampliação dos horizontes, ou pela dominação de uma magia nativa, a causa do temor, da estagnação em uma técnica pobre.

Quando Cortez perguntou aos chefes astecas de onde tiravam suas facas, estes lhe mostraram o céu. Quão mesmo os maias de Yucatán e os incas do Peru, os astecas utilizavam exclusivamente o ferro meteórico, ao que atribuíam um valor superior ao do ouro. Ignoravam a fusão dos minerais. (Eliade. 1980 – p.11)

 

O primeiro ferreiro, para os Yorubás, foi Ogum – forjador das primeiras armas e ferramentas, aquele que guiou a primeira caça e ensinou os homens as armadilhas, fundou a sociedade Ogboni. Para os Mboula, foi Nzeanzo o guia, médico, ferreiro. O civilizador que ensinou as técnicas e instituiu as confrarias. Dakhas, Tchambhas, Durrws e aqueles que os circundam, a mitologia do Ferreiro-Herói é extremamente rica, e cheia de semelhanças.

 

O que ressalta de todos estes mitos dos Ferreiros que ajudam aos Deuses «supremos» a assegurar sua supremacia é a importância extraordinária concedida à fabricação de uma ferramenta. Está claro que tal fabricação conserva durante muito longo tempo um caráter mágico ou divino, pois toda «criação», toda «construção», não pode ser mais que obra sobre-humana. (Eliade,1980 - p.57)

 

A reputação do ferro, das “idades do metal”, é a que sobrevive de modo insuspeito, no inconsciente como mitologia que ainda influencia os novos costumes, com os tabus e as superstições. Em qualquer civilização, é pela técnica superior à do inimigo, que se faz a vitória, o ferro conserva ainda que na obscura memória a representatividade da superioridade, seja no forjamento da ferramenta da agricultura, seja na ferramenta da guerra. Nessa ambiguidade ou ambivalência que os ferreiros encarnam o espírito também dicotômico. A técnica ou a tecnologia de um grupo em influencia a outro, pode ser usada para o bem ou para o mal.

 

O fogo não perde, portanto, seu caráter ambivalente: é umas vezes de origem divina e outras demoníaca (pois segundo algumas crenças arcaicas se origina magicamente no órgão genital das feiticeiras). E sobre esta ambivalência teremos que insistir antes de apresentar os prestígios do ferreiro (Eliade,1980 - p.22)

 

Para além do prestígio dado pela comunidade étnica ao ferreiro[12], alguém alheio a sua cultura, por razões práticas e de necessidade do seu talento, considerará dar-lhe o mesmo nível de importância, o portador da técnica desfrutará dessa condição independentemente do nível que ela possa manifestar-se, é algo que se projeta acima dos outros, é o bom tratamento dado ao oficial, e as regalias suficientes para que execute o trabalho.

 

As origens comuns da sacralidade dos xamãs e dos ferreiros se prova por seu «domínio do fogo». Traduzido em termos teóricos, este «domínio» significa a obtenção de um estado superior à condição humana. E, o que é mais, o ferreiro cria as armas dos heróis. Não se trata somente de sua «fabricação» material, mas sim da «magia» de que estão investidas; é a arte misteriosa do ferreiro que as transforma em armas mágicas. Daí as relações, testemunhadas nas epopeias, que existem entre heróis e ferreiros.

(Eliade,1980 - p.47)

 

Com a evangelização dos povos do Norte Europeu, Odim e os deuses do panteão nórdico foram associados ao Diabo e aos espíritos decaídos. Assim com a modificação das mitologias pelo cristianismo, o ferreiro e os ofícios que manipulam o fogo são assimilados ao Mal. Esse mesmo domínio do fogo comum aos alquimistas e xamãs é considerado pela cultura cristã como diabólico. Não obstante, ainda que associado a forças do mal, o respeito não cessa de existir, mesmo que não estivesse associado ao bem, o sentimento não seria o de menosprezo, ainda que o temor se sobressaísse.

 

Ainda que no Iluminismo houvesse o reconhecimento da ciência à origem das técnicas de manipulação e transformação dos metais, o ponto de vista dos cientistas é admissível. É da alquimia que surge a química, ou da análise da ideologia de borda da alquimia. Mas na perspectiva popular o procedimento se mostra analiticamente: funda-se a química-ciência sem tampouco deixar de sacralizar a alquimia.

 

Surge em contraponto ao conflito de ordem da concepção, a continuidade do sagrado e o surgimento do experimento profano. A crença metafísica modula a continuidade da reputação do alquimista. Para o nosso entendimento, é mister fixar que as imagens fundadas pela mitologia do ferreiro e análogos, conservariam até nossos dias sua influência no folclore. E nas narrativas do mito, se carregam as significações e os ritos de iniciação, vindo a ratificar o exclusivismo do oficio e as confrarias.

 

Nas confrarias, o respeito e a dignidade dada ao frater, tal e qual nos laços consanguíneos, são socialmente equiparados a descendência comum dos membros de um grupo familiar. Desse modo cultivam-se tabus como a exogamia. Laços alinhados a um totem ou símbolo comum determinam comportamentos solidários e proibitivos, de modo a que todos na irmandade exercessem o ofício em proveito de todos.

 

2º Movimento

 

Se diversas etnias em África comungavam, em seus mitos, da associação em torno dos ofícios, seria natural que isso fosse prática inclusive de resistência também aqui no Brasil. É certo que se encontrava um maior número de negros, especialmente escravos, em determinadas profissões, como alfaiate, sapateiro, ferreiro, que exigisse além da técnica a força, que em outras mais moderadas.

Em qualquer ocupação, o domínio e habilidade dos escravos se dava em vários níveis. A classificação mais genérica, dividia-os em ladinos, ou os que já dominavam a língua e costumes locais, e os boçais, que não tinham essa capacidade. Além disso, podiam ter apenas princípios de conhecimento, ser aprendiz, ter luz de ofício ou ser oficial completo ou, ainda, oficial perito (Alves, 2008 – p.334)

 

Era comum o tratamento diferenciado aos escravos da cidade, em relação aos da zona rural, dispondo de maior liberdade, os escravos de ganho[13] costumavam reunir-se em “cantos” de trabalho, um determinado local, como largos, praças ou esquinas nas proximidades de portos e estações, visando a movimentação da clientela. Com o agrupamento poderiam fixar um ponto para determinado trabalho a ser procurado pela população. Muitas ruas em diversas cidades grandes têm nomes herdados desses ajuntamentos, como Rua dos Ferreiros, Rua dos Alfaiates, dos mascates, etc..

 

Sabemos pela tradição oral que todas as castas de ofícios faziam-se representar por chefes junto ao Mansa. Este lhes dava ordens, que eles transmitiam às respectivas castas; assim, o chefe dos ferreiros, ou o dos barqueiros e pescadores ou o dos sapateiros, era, na verdade, responsável por uma verdadeira corporação de artesãos. (Unesco - B, 2010 - p.179)

 

Os cantos formavam-se com a reunião de dezenas de escravos de um mesmo ofício, agregando também ex-escravos. Inicialmente o agrupamento fazia-se com escravos somente da mesma etnia, depois esse exclusivismo foi abandonado. Os “cantos” estavam sob a liderança de um chefe legítimo, o capitão de canto. Esses agrupamentos assemelham-se às confrarias organizadas, pois obedecem aos desígnios de um líder, em prol da coletividade.

 

Os escravos de ganho recebiam concessões especiais, aliás indispensáveis para a obtenção da renda: locomoção relativamente mais livre e até mesmo moradia fora da propriedade do senhor, para o que deveriam portar autorização por escrito. (Gorender apud Cunha, 2005 – p.46)

 

Algo semelhante aconteceria com os escravos da zona rural, quando dispunham de tempo livre, poderiam trabalhar para si ou para seu ganho, plantando, minerando, pescando ou fazendo artesanato.

Para terem acesso a bens que normalmente não lhes chegariam às mãos pela obrigação ou generosidade dos senhores, os escravos envolviam-se em várias atividades suplementares ao trabalho na grande propriedade. Para conseguir dinheiro trabalhavam nos dias de folga para seus senhores ou outros empregadores. (Albuquerque & Fraga Filho, 2006 – p.79)

 

Quando o senhor, tinha ocioso o escravo oficial ou artífice, o alugava a outrem em troca de pecúnia.  Era comum que escravos trabalhassem em empresas como o comércio ou indústria e quem receberia o salário era o senhor. A condição de escravo continuava, entretanto, a obediência era devida ao locatário. Deve-se destacar, que alguns escravos com ofícios que eventualmente rendesse ganho maior, poderiam comprar outros escravos, e mandar que esses fossem trabalhar para os seus donos, em seu lugar.[14]

 

Um artífice que alugasse um escravo, a tanto por mês, podia, se ele fosse produtivo e disciplinado, adiantar-lhe a quantia necessária à compra de sua alforria. Por meio de um contrato escrito, o artesão constituía o ex-escravo seu oficial durante o tempo necessário à amortização da dívida. (Debret apud Cunha,2005 – p.46)

 

Na Europa, nas casas e nas escolas contratava-se trabalhadores itinerantes para os trabalhos mais pesados, geralmente os ofícios mecânicos, nos conventos havia um irmão, chamado de  coadjutor para conduzir os trabalhos desses oficiais. Era, por sua raridade, difícil encontrar esses trabalhadores de ofício aqui no Brasil, de tal monta que os jesuítas trouxeram irmãos oficiais para trabalhar e ensinar suas especialidades a aprendizes que servissem aqui, tanto a homens livres quanto aos escravos.

O sucesso obtido no ensino fez que eles se tornassem muito disputados pelos senhores de engenho, comerciantes e burocratas, a ponto de os jesuítas conseguirem um decreto do rei, em 1727, proibindo de “tirar” das aldeias indígenas oficiais mecânicos por pessoa de qualquer “qualidade”. (Cunha,2005 – p.32)

 

Apoiados no prestígio das profissões que abraçaram, os artífices que conseguiam destacar-se na comunidade ou mesmo na clientela de uma região, por feito ou feitos de ordem técnica, na inovação ou solução de problemas, poderiam acumular ganhos rapidamente, comprar escravos ou sua liberdade.

Os oficiais mecânicos pediam licença à Câmara, para exercer seus ofícios publicamente, depois de fazer exame perante os juízes de ofício; prestavam juramento de bem servir ao público, pagando fiança, válida por um ano, ou seis meses, para os que recebiam pagamento de terceiros. As licenças para os escravos eram tiradas em nome de seus senhores, os quais pagavam a fiança. (Alves, 2008 – p.325)

 

O artesanato reservava-se às castas. (...) as castas certamente tinham deveres, mas gozavam, igualmente, de alguns direitos muito precisos: nem o imperador, nem os nobres, e muito menos os homens livres podiam exigir deles mais do que era fixado pelo costume. (UNESCO-B, 2010 – p.186/187)

 

 

Das famílias agrupadas em torno dos artífices, que gozavam por sua raridade e singularidade, ou a deferência própria que o talento traz, o prestígio variava mais pela capacidade técnica que pelo poder económico e as condições regionais de possuir profissional igual, assim o espaço geográfico ocupado pela reputação era mais importante do que a origem social ou étnica. As sociedades em todas as épocas são constituídas por dominadores e por dominados: os senhores, num extremo, os obedientes, no outro. E flutuantes entre aqueles elementos de caracterização de homens pela sua posição social, estavam os artistas, artífices ou artesãos.

 

As técnicas dos ofícios com o tempo deixaram de ser passadas apenas por herança, haviam as escolas de ofícios, e assim os mestres que não tinham filhos, ou não tinham filhos homens, ou ainda interessados, passaram a transmitir o conhecimento ao aprendiz em troca de seus serviços enquanto estivesse aprendendo.

 

Em se tratando de iniciar um jovem em algum oficio, o pai do aprendiz estabelecia um contrato formal, ou moral, com o mestre. A aprendizagem podia ser paga em espécie ou em serviços prestados pelo aprendiz, durante o período em que ficava sob a guarda do amo, como denominavam o mestre que ensinava ofícios na época. No caso dos escravos, supõe-se que o pagamento não estava longe dessas práticas, quando não era o próprio senhor, com uma ocupação artesanal, que ensinava, gratuitamente, a seus aprendizes, possibilitando seu aperfeiçoamento até chegar a oficial. (Alves, 2008 – p.337)

 

O saber-fazer dotou muitos profissionais de prestígio ao longo da vida, ao dominar a técnica fazia do oficial, figura distinta. Agregados a isso haviam os benefícios de um tratamento condizente com essa reputação. Veja-se o caso dos alemães metalúrgicos afamados e dos engenheiros ingleses e franceses ao chegarem ao Brasil de 1800 trazendo as inovações técnicas, aqueles profissionais das novas máquinas, de fala esquisita e trejeitos estranhos, gozaram da reputação que adquiriram e assim influenciaram especialmente a vida e o cotidiano dos Nordestinos.  Gilberto Freyre nos conta em diversos textos essa ampla interferência desses visitantes:

 

Estrangeiros na esfera da economia, do trabalho, dos hábitos de convivência... êsses técnicos, pouco numerosos, é verdade, mas aureolados pelos novos valores que representavam, exerceram decisiva influência em nosso meio no quebrarem o isolamento e o exclusivismo prevalentes no período colonial. (Freyre apud Ribeiro, 1954. P.151)

 

E nos conta um causo:

 

Oficial de barbeiro, que não tolera a arrogância e as «bondades» de alguns dos nossos «chauffeurs», acha que êles «estão se julgando uns «maquinistas», assim refletindo o prestígio decorrente da introdução da máquina por êsses estrangeiros inovadores e sempre às voltas com elas. (Freyre apud Ribeiro, 1954. P.152)

 

 

Último movimento – Considerações Finais

Mesmo que seja por herança cultural que tenha perdurado o regime de escravidão, ainda que seja explicado pela rigidez inconteste de outros tempos, o caractere desumano ao qual nos aliamos por aquela prática, será um estigma ao qual devemos nos referenciar para que nada similar aconteça.

 

Assim como as pessoas são diferentes, diferentes também as situações e contextos. Colocar todos os casos de escravidão no mesmo balaio e iguala-los, nivelando por baixo as relações sociais, como animalescas, é no mínimo pueril, ou pior tendencioso.

 

O movimento social contemporâneo em defesa dos negros, fundou-se por sua militância no exemplo do movimento Black Power americano, que se desenvolvia baseado numa relação social de raça, binária. Sua classificação reconhecia apenas dois grupos: negros e brancos. No Brasil há uma diversidade de cores que dificulta a classificação, ainda que pudesse fazer porcentagens. Assim para fazer sentido a “luta” tenta-se reunir os “espectros” que não são totalmente brancos [se é que há pessoas totalmente brancas no Brasil] como invariavelmente de negros. Assim quem pensar um grama diferente dessa classificação é qualificado como traidor. Fala-se em brancos que querem manter-se no poder, temem o levante dos negros! Mostrem-me onde está esse grupo branco, essa Ku Klux Klan!

 

De fato existe racismo, existe preconceito, inclusive em quem diz sofrer por esse mal. O que de fato há é um mal característico não de um grupo, mas de pessoas. O ser humano é mal por natureza. Nunca houve o bom selvagem. O homem é lobo do próprio homem. Dizer que a sociedade é racista, é acusar aqueles que não são. A auto piedade condena o homem à cegueira, a busca pelo privilégio. E aqui havemos de definir o que é privilégio: substantivo masculino - direito, vantagem, prerrogativa, válidos apenas para um indivíduo ou um grupo, em detrimento da maioria; apanágio, regalia. Na antropologia e sociologia, o privilégio social (ou simplesmente privilégio) é um direito especial, vantagem ou imunidade concedida ou disponível (ou suposta como disponível) somente a uma pessoa ou grupo específico[15].

 

Uma vez que deixamos claro o que é um privilégio, podemos perguntar se em algum momento houve o privilégio dado a algum escravo. Se o privilégio é uma vantagem em relação a alguém, quando um escravo se veste melhor que outro, ou quando come melhor que outro, ou quando dorme melhor que outro, ou quando sofre menos que outro, ele goza de um privilégio em relação ao outro. 

Na povoação do Recife, os negros trabalhadores nos “passos de açúcar”, movimentados no comércio exportador do produto, “foram formando uma espécie de aristocracia de escravos, superiores em prestígio. ” (Moura, 1980 – p. 306)

 

Ora vejamos, se os barbeiros ambulantes apareciam aos escravos de ganho, que sentados em bancos ou barris, à espera da freguesia, faziam-lhes a barba, enquanto outro escravo remava em uma galé durante 16 horas por dia, certamente um tem privilégios em relação ao outro, ainda que a escravidão achate aos dois!

 

A distinção de um indivíduo perante outros quaisquer por si só já lhe traz privilégios, e não poderia ser nada mais que os feitos que execute, o seu diferencial para que o procurem, ou indiquem-no para um trabalho. Todos os mestres, os indivíduos que se destacaram na sociedade, fizeram apagar dos olhos de quem os via, a cor de sua pele, seja ela preta, branca, vermelha ou amarela!.

 

Podemos citar o clero, ou o meio militar como projeção para os feitos ainda maiores que os de oficio artesão. O saber fazer é distintivo de qualquer um, seja mulher, aleijado, homossexual ou de cor. O trabalho dignifica o homem. O Dicionário da escravidão negra no Brasil de Clóvis Moura, tem um verbete, trecho da biografia de um ex-combatente da Batalha dos Guararapes:

 

Irmão Pretinho. Foi o único religioso franciscano negro. Chamava-se Frei Francisco de Santo Antônio, vulgarmente denominado Pretinho. Foi com muita dificuldade que chegou a esse posto eclesiástico. Antes fora militar, servindo com muita distinção na campanha contra os holandeses, fazendo parte das falanges da gente preta sob o comando do legendário Henrique Dias[16]. Morreu no seu convento de Olinda em 1695, aos 86 anos de idade. (Moura, 1980 – p. 218)

Ou ainda:

Escudando-se no prestígio social inconteste do clero, muitos mulatos vêm obtendo o desejado reconhecimento social através do exercício do ministério religioso. Paróquia do interior do Estado em que o ingresso nas associações pias femininas ainda modernamente era restringido às pessoas de cór, aceitou sem restrições a um pároco mulato que terminou conquistando a simpatia e admiração gerais pelas suas qualidades pessoais e por sua eloquência. (Ribeiro, 1954. P.126)

 

No caso de destacar-se por feitos militares:

 

Entre 1866 e 1870, durante a guerra do Paraguai, negros capoeiras foram incorporados, muitos forçosamente, aos batalhões brasileiros. O recrutamento forçado para o Exército e a Guarda Nacional era uma forma de puni-los. Entretanto, ao ser enquadrado nas fileiras militares, a capoeira conquistou adeptos entre a população livre e criou a possibilidade de prestígio e ascensão para os negros que a praticavam. Por isso não era incomum ver soldados e oficiais do Exército e a própria polícia a praticarem. (Albuquerque & Fraga Filho, 2006 – p.244)

 

“Esses corpos de mestiços e negros vinham se organizando desde a guerra holandesa, onde os homens de cor, a serviço dos grandes senhores das terras de açúcar, se revelaram tão bons soldados: ótimos para guerrilhas, dado o seu conhecimento íntimo dos canaviais. A especialização militar resultara para ele em prestígio social”. (Moura, 1980 – p. 306)

 

O que mais me agrada, dentre os tratamentos diferenciados ou privilégios que se poderia gozar, perante a condição pessoal de saber-fazer, ou mais, poder fazer é o testemunho que corrobora a existência de escravos reprodutores no Brasil. A história de vida do negro João Antônio de Guaraciaba, que em 1973, na mais absoluta lucidez aos 122 anos, narra ao jornalista Jorge Andrade. Seu João descreve a sua atuação:

 

“Sinhá correu a senzala e apartou as escravas que tava no ‘vício’, na quadra da lua. Quando a quadra da lua é certa, a ‘cria’ é garantida. Era um rebanho de umas dez, no ponto para tirar a raça. Não era qualquer fazenda que tinha um reprodutor nagô-mina como eu. No rebanho tinha uma chamada Duca, de lombo bem feito, de tetas que ia dar um bom ubre, de umbigo bem curado, uns quartos que dava gosto. Andei no meio delas, negaceando, mas só via a Duca, mas ela arrepiou, medrosa. Correu se esconder. Mas reprodutor é bicho paciencioso. Eu sabia que tinha um mês para repassar todas. De longe eu ouvia o choro dela, baixinho pra ninguém ouvir. Se Sinhá ouvisse, o ‘bacalhau’ comia no lombo. Fui chagando de mansinho, de fala macia, agradando. Eu era reprodutor que sabia tratar suas fêmeas. O choro virou cochicho e, no fim da tarde, a Duca, negrinha de quinze para dezesseis anos, já tava prenha. [...] Reprodutor era bem tratado.” (Moura, 1980 – p. 346)

 

Por ocasião do Congresso Entre Mares[17], onde expus o trabalho de três meses em ferraria -  13 armas, feitas aos moldes das tradicionais africanas[18], obedecendo a técnica e os materiais, assim como a estética das etnias a que faziam relação, recebi o elogio de um dos visitantes, que vinha do outro lado do mar: “Podemos encontrar um mestrando que descreva armas, e um ferreiro que as execute, mas um mestrando-ferreiro é um achado único! ” De certo modo, o meu saber-fazer distinguiu-me, ao menos naqueles quinze minutos!

 

Referências

ALBUQUERQUE, W. R. D., & FRAGA FILHO, W. Uma história do negro no Brasil. Salvador, Brasil, Centro de Estudos Afro-Orientais. 2006.

ALVES, N. M. F. Artistas e artífices no mundo de expressão portuguesa. Porto, CEPESE. 2008.

CUNHA, L. A. O ensino de ofícios artesanais e manufatureiros no Brasil escravocrata. São Paulo , UNESP. 2005.

ELIADE, M. Ferreiros e alquimistas. Lisboa, Relógio d'agua. 1980.

IBGE. Território brasileiro e povoamento » negros » o trabalho dos negros africanos. Site: Acesso: 28 de maio de 2019.

MOURA, C. Dicionário da escravidão negra no Brasil. São Paulo, Edusp. 2005.

MUSEU AFRO BRASIL, & ARAÚJO, E. Arte, adorno, design e tecnologia no tempo da escravidão. 2013.

____________________. Arte, Adorno, Design e Tecnologia no Tempo da Escravidão. Site:. Acesso: 28 de maio de 2019.

UNESCO. História geral da África, III: África do século VII ao XI / editado por Mohammed el- Fasi. Brasília, 2010.

________. História geral da África, IV: África do século XII ao XVI / editado por Djibril Tamsir Niane. – Brasília, 2010.

________. Síntese da Coleção História geral da África: século XVI ao XX / coordenação de Valter Roberto Silvério e autoria de Maria Corina Rocha e Muryatan Santana Barbosa. – Brasília, 2013.

 

[1] 9°00'34.5"S 36°23'30.3"W - A comunidade teria sido fundada por um escravo fugido do cativeiro, entre 1650 e 1700 – possui a mais antiga igreja de Garanhuns.

[2] Loja Maçônica em Garanhuns – Mensageiros do Bem.

[3] Vide nota 6.

[4] Ele consertava armas de fogo, geralmente feitas em aço.

[5] É importante que se diferencie os mestres da fundição e os mestres ferreiros, o primeiro usa um forno para derreter o minério e criar uma “borra” que determina a qualidade da peça final feita pelo ferreiro, mas é um produto poroso e quebradiço, o segundo trabalha na criação de peças, usando um outro tipo de forno - a forja para deixar o produto do mestre fundidor maleável pelo fogo, e transformando-o novamente pelas dobras do metal sobre si, sucessivamente, e pela moldagem em algo mais forte e finalizado.

[6] O que é interessante, é que meu avô se dizia católico e frequentava a igreja, entretanto hão os verdadeiros códigos morais e sociais peculiares a um grupo de princípios, transmitidos e observados fielmente pela tradição oral e que não precisam estar restritos a uma religião, podem elevar-se a todas.

[7] Ogum – senhor das guerras e das tecnologias – é ele quem possibilita o caminho entre o ferreiro, o metal e as energias que povoam a oficina.

[8] Faz-se necessário sublinhar que toda a região do Oceano Índico foi, o teatro de movimentos não somente de populações africana, mas igualmente, de malaios, indianos, chineses, todos eles escravos.

[9] Se o engenho é a beira mar, sempre tem o seu barco, ou lancha, e para este se destinam três, ou quatro escravos: além destes há também escravos oficiais, como sejam carpinteiros, ferreiros, pedreiros... (Moura, 1980 – p. 146)

 

[10] IBGE, 2019

[11] Uma técnica similar veio aplicando-se até uma época relativamente recente por alguns povos que ignoravam a metalurgia: trabalhavam o ferro meteórico com martelos de sílex, modelando assim objetos cuja forma reproduzia fielmente a dos objetos líticos. Assim era como os esquimós da Groenlândia fabricavam suas facas com ferro meteórico.

 

[12] Temos que acrescentar a este quadro que todo o continente negro conhece o complexo mágico religioso do ferreiro, com seus segredos de iniciação, seus tabus sexuais, a personificação do martelo e da bigorna e a transmissão hereditária da profissão. (Eliade,1980 p.50)

 

[13] Os escravos de ganho eram escravos que, realizavam tarefas remuneradas a terceiros, e repassavam um valor determinado ao senhor, podendo ficar com o excedente.

[14] Catarina de Brito, preta angola, forra, foi juíza da Irmandade de Nossa Senhora do Rostino, da Freguesia de Sam o Antônio Além do Carmo: irmã da Irmandade de São Benedito, da mesma freguesia (INVENTÁRIOS, ot/1577/3046,06, 1719). Tinha uma escrava e duas crias; Capitão Lourenço Rodrigues Duarte, de Agueda Roiz. Solteiro, tinha dois filhos com sua escrava Damiana. Era oficial mecânico. Ferreiro e deixou como herança, as ferramentas do ofício a um de seus filhos (INVENTÁRIOS. 04/1577/2046,03, 1749): Paulo de Almeida, natural do Remo de Angola, da terra do Congo. Ex-escravo de Amomo de Almeida. Casou-se duas vezes com pretas forras. Tinha seis escravos (INVENTÁRIOS. OJ/1006/1475,(0)8, 175 l). (Alves, 2008 – p.330)

[15] Wikipedia

[16] Indiscutivelmente alguém que está além da pele por suas capacidades, honras e feitos.

[17] < https://neabupe.wordpress.com/eventos/entre-mares/>

[18] Acesso ao vídeo com imagens da exposição

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