AINDA RESTAM 30 POR CENTO- sobre ética e empatia.

Dentre todos os sentimentos presentes no ser humano a empatia é talvez o mais importante e paradoxalmente, o que está se perdendo na sociedade moderna.

Colocar-se no lugar do outro, perceber o que o fere, o magoa, o entristece e, a partir dessa percepção, tentar minimizar esses impactos deveriam ser atitudes espontâneas.

Porém, percebe-se que o ser humano está se tornando cada vez mais egoísta e egocêntrico. Os interesses pessoais ganharam relevância absoluta e, abrir mão de algo em favor do próximo muitas vezes é tratado como “burrice” ou fraqueza.

Certa vez fiz uma pesquisa com jovens e levantei a seguinte questão: Se você encontrasse um celular que foi perdido por alguém o que faria?

Para minha tristeza e decepção a grande maioria (cerca de 70 por cento) respondeu que trocaria o chip e ficaria com o celular.

Algumas respostas: “Azar o dele, sorte minha! ”; “Quem mandou não tomar cuidado? ”; “Tô nem aí, achado não é roubado? ”;

Os demais (30 por cento) responderam que tentariam localizar na agenda do aparelho os contatos do proprietário e o devolveriam sendo que uns poucos justificaram essa atitude por imaginar o que a pessoa que perdeu estaria sentindo.

Algumas falas: “Perdeu todos os contatos coitado! ”; "Deve estar muito triste!"; “Pode ser que o celular fosse seu instrumento de trabalho”; “E se não tiver dinheiro para comprar outro? ”.

Diante disso eis a questão? Onde foi parar a empatia e a ética?

É claro que a questão da honestidade ou a falta dela também é fator determinante nas atitudes descritas.

Mas em que momento da formação desses jovens esses valores corretos ou equivocados foram adquiridos? A escola tem papel fundamental nesse processo, porém, a família tem a obrigação de assumir essa responsabilidade muito antes de a criança ingressar na vida escolar pois, desde o nascimento, vai aprendendo principalmente por meio das observações e das experiências que vivencia com os adultos responsáveis por ela.

Nesse processo, a mídia acaba interferindo concretamente oferecendo, por exemplo, os programas com “pegadinhas” onde as pessoas se divertem vendo as outras sofrerem.

É preciso muito otimismo para crer que haverá mudança a médio e longo prazo. A banalização de alguns valores como ética, honestidade, solidariedade e respeito está colocando-os em processo de extinção.

Os 30 por cento da minha pesquisa não podem se tornar aberrações em uma sociedade que os enxergue como “babacas”.

Precisamos acreditar e investir nessa pequena parcela, mas precisamos muito mais, investir e resgatar os outros 70 por cento.

Nerli de Lourdes Cesarino Vieira- Psicopedagoga.