Ai de nós, temos prefeito! 

Depois que nós, os humanos, aprendemos a viver em sociedade, descobrimos que, para viver em sociedade, precisamos organizá-la. Mas, ai de nós, pois somos humanos. E como tal vivemos em busca de vantagens. Por esse motivo a organização da sociedade passa pela escolha de pessoas que nos representem ou que representem nossos interesses. Dessa forma, acreditamos que aqueles que representam nossos interesses serão os que nos conferirão as vantagens que sonhamos... ou buscamos.

E aqui está nosso drama. Por não termos condições de, constantemente nos reunirmos com nossos concidadãos para discutir como queremos que nossa sociedade seja organizada, delegamos essa responsabilidade a outras pessoas. Elegemos essas pessoas para que representem nossos interesses. Mas aqueles que recebem a delegação se juntam ao redor dos seus interesses e se esquecem dos nossos e aí, mais uma vez, ai de nós! Ficamos à mercê de quem elegemos para representar nossos interesses mas que se juntam ao redor dos seus interesses que, na maioria das vezes, se contrapõem aos nossos.

Quais são nossos interesses? Coisas básicas!

Queremos um eficiente sistema de segurança, pois sabemos que nossos concidadãos representam perigo para nossos interesses, ou sobre nossas posses; alguns concidadãos levarem a efeito sua intenção de nos agredir ou tomar o que nos pertence. Por isso queremos eficiência no sistema de segurança

Além disso queremos um eficaz sistema educacional. Sabemos que não sabemos tudo e, por isso precisamos aprender e necessitamos que alguém nos ensine. Não só as coisas da ciência, mas que nos ajudem a edificar os valores que desejamos para nossos filhos. Por esse motivo queremos que aquilo que ensinamos aos nossos filhos sejam confirmados pela escola (embora alguns cidadãos tenham se imbecilizado ao ponto de pensar que a escola é a única responsável pela educação. O cara não pede ajuda para fazer o filho, mas quer ajuda para educá-lo. Os casais que se sentem incapazes de educar os filhos ao ponto de se socorrerem com os professores, deviam levar isto em consideração: se acham que não dão conta de educar seus filhos, e para isso pedem socorro aos professores, deviam também pedir ajuda no momento de fazer o moleque!)

Outra função que, pelo voto, delegamos aos nossos representantes, diz respeito à saúde pública. Para isso, inclusive, pagamos altos impostos. E já que o dinheiro dos impostos são nosso ele devia retornar a nós na forma de assistência competente para sanar nossas doenças. Não deveríamos ser condenados a morrer nas filas da saúde pública. Observe como o cidadão, pagador de imposto tem menos valor que os outros animais. Pessoas são presas por maltrato a animais, mas não vemos pessoas sendo punidas por deixarem multidões sendo maltratadas pela peste da saúde pública.

Queremos, além disso, que nossos representantes sejam capazes de fazer e manter as vias de transporte. Mas as nossas estradas são perigosas; são um atentado à segurança. Trafegar em nosso sistema viário acaba sendo uma tentativa de suicídio. E, também aqui valemos menos que os outros animais, pois o animal humano paga para ter boas estradas e acaba sendo vitima delas sem que os responsáveis por isso sejam punidos.

Ai de nós, pois fomos nós que os elegemos. E, infelizmente, pouco nos resta a fazer. A não ser, talvez, cantar com Raul Seixas. Quase no final de sua carreira, gravou: Abre-te Sezamo (a letra e o clip podem ser encontrados em http://letras.mus.br/raul-seixas/90575/

vou eu de novo, um tanto assustado / Com Ali-Baba e os quarenta ladrões / não querem nada, com a pátria amada /E cada dia mais enchendo os meus botões... / vou eu de novo / Brasileiro, brasileiro nato /Se eu não morro eu mato /Essa desnutrição / Minha teimosia / Braba de guerreiro / É que me faz o primeiro / Dessa procissão... / Fecha a porta! Abre a porta! / Abre-te Sésamo... / E vamos nós de novo /Vamos na gangorra / No meio da zorra desse /Desse vai-e-vem / É tudo mentira /Quem vai nessa pira / Atrás do tesouro / De Ali-bem-bem...

Ai de nós: acabamos de sair de um pleito eleitoral. Acabamos de eleger um prefeito e um grupo de vereadores. Serão eles os “quarenta ladrões?. Serão eles os que “já não querem nada, com a pátria amada”, que prenderam Ali Babá na caverna?

Serrão eles, ao contrário, os que produzirão as inovações e correções que tanto sonhamos e necessitamos?

Ai de nós: temos prefeitos e vereadores! Mas será que teremos a resposta às nossas expectativas? Será que, como nossos representantes farão o que necessitamos ou, mais uma vez, irão nos engambelar?

Ai de nós!!!

 

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura – RO