Uma pergunta simples que por vezes passa por despercebida, mas que na sua essência revela um caráter muito mais profundo. Diria ainda filosófico e antropológico. O primeiro por que desperta uma reflexão profunda diante da manifestação do ser enquanto existente nesta realidade. Antropológico, pois está arraigada tal questão em todas as culturas.

Mas o problema que aqui se espera tratar busca despertar respostas adormecidas em nós e que por vezes não queremos professá-las, por medo. Digo medo por que geralmente quando uma pessoa passa a conhecer algo a mais sobre a sua própria personalidade isso faz com que automaticamente haja um comprometimento do ser. Ou seja, surgem novas responsabilidades e que necessitam de serem satisfeitas. Se a pessoa degusta camarão e isso gera uma alergia que a deixa muito enferma logo procura o médico que a adverte sobre os riscos da ingestão de tal iguaria. Mas se a pessoa insiste em se deliciar com tais prazeres mesmo sabendo dos riscos então ela é sem por cento responsável pelo que sobrevier de negativo sobre sua saúde. Da mesma forma ocorre com as nossas responsabilidades morais, intelectuais, familiares, sócias e até mesmo ecológicas. Isso se chama senso do que é correto e é algo inerente a nossa humanidade.

O medo neste caso está na saudade da ingenuidade que habitava em nós antes do conhecimento. Conhecimento gera comprometimento, responsabilidades, presença e quem de nós, nos dias atuais querem saber dos itens aprióri citados?

O ser humano é convidado a conhecer sempre mais e melhor tudo o que ainda não o fora apresentado. Mas como conseqüência é aconselhado constantemente pelos seus pedagogos a fazer uso do "bom senso" e utilizar todo essa carga de conhecimentos para a proliferação da verdade, justiça, liberdade, solidariedade e tantas outras palavras que despertam em nós aquele sentimento de dever comprido e que poderíamos aqui citar.

Acredita-se hoje que a realização do ser humano consiste em se ter uma bela namorada, casa, carro, um emprego espetacular em que se labute pouco ao passo que se receba uma alta remuneração. Outros procuram na religião o conforto para as suas inquietações interiores e lá também se realizam. Há também que se realize praticando esportes, estudando, viajando e tantas outras coisas que todos gostamos de fazer. Mas a diferença está no grau de importância que depositamos em cada uma dessas coisas. Enfim, o ser humano na sua subjetividade procura encontrar meios particulares para se auto-realisar. Estes meios são variados e frustrantes, aliás, toda a realização humana é frustrante. Isso ocorre devido há um choque colossal entre o imaginário e a realidade. E se pararmos para pensar é um fenômeno geral e que atinge todas as camadas da sociedade, todas as cores, ambos os sexos. Basta ser humano para ser um eterno frustrado enquanto peregrino neste mundo injusto e desumano.

Criamos em nossa mente sentimentos, palavras, ações por uma pessoa, por exemplo, porém esta pessoa não corresponde as nossas "expectativas fantasiosas". Se a pessoa cria toda uma gama de pensamentos para conquistar a pessoa amada e a pessoa corresponde, ainda assim a frustração. Isso porque as coisas, nem que se quer por uma vírgula errada posta na frase, não saiu como planejado, um imprevisto aconteceu. E agora? Muitos a que se frustram, pois foram rejeitados, mas a imensa maioria se esquece da frustração devido à "miragem do sim" que abre as portas para um novo mundo distinto do "Eu". No entanto, a frustração está lá e por vezes é até lembrada com o tradicional "Poxa vida, poderia ter feito diferente!".

Neste eterno conflito entre imaginação e concretude sempre sairemos perdendo, sempre. É uma batalha que não há vencedor do lado da humanidade. E se isso ocorrer já não seremos mais humanos.

Deste modo é de se concluir que a realização humana necessariamente deve passar e deve ser permeada pela conformidade com a "imaginação sempre perdedora". Os imprevistos são à base da frustração humana, mas que também são o "fortificante" para a humanidade em crise. Tudo depende do modo como olhamos para este fato concreto e real dos nossos dias. Tais imprevistos que geram erros e acertos inesperados são a única oportunidade da humanidade encontrar a sua vocação.

Diz a expressão popular "errar é humano" e outra que diz "é errando que se aprende". Mas se errar é humano mais humano ainda é o desejo de superação e acerto. É característico do ser humano a inconformidade com o seu "EGO SUM". É preciso ressaltar que tal característica é tratada aqui no sentido de superação positivamente falando e não de mero luxo ou soberba.

Afinal de contas, onde está a realização humana? Está dentro de cada um de nós e somente cada sujeito é que encontrará a melhor resposta para a realização de suas utopias.

Lembrando que depois de escrever e ler este artigo adquirimos de imediato mais responsabilidades para com nosso reto agir e existir neste mundo.