AFETO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Joisa Margarete Taube da Veiga1 

Luciana Rizzo Munaretto2 

 

Resumo: O objetivo deste estudo é demonstrar a importância que a relação afetiva desempenha no desenvolvimento pleno das crianças na educação infantil. A afetividade na educação infantil é necessária para a criança sentir-se acolhida e protegida. Cabe ao professor demonstrar paciência e atenção para que a criança possa ter interesse em aprender e a socializar com as pessoas que estão ao seu redor. A infância é uma etapa do desenvolvimento humano a qual se caracteriza como sendo o período que se caracteriza pelo início da socialização e participação ao meio físico e social. A integração do lúdico, afetividade e aprendizagem se tornam mais valorizados devido ao processo que é desenvolvido.

O embasamento teórico deste artigo aborda estudos de Piaget, Vygotsky, Wallon, entre outros.

 

 

INTRODUÇÃO

A participação da família na escola ajuda no desenvolvimento e aprendizagem da criança, o professor deve demonstrar afeto e segurança nas atitudes para que crianças e familiares sintam-se acolhidos.  É necessário a presença do lúdico, pois através dele que a aprendizagem ocorre de forma integral, garantindo um envolvimento intelectual que é demonstrado através do brincar revelando sentimentos e necessidades, que muitas vezes estão ocultos nas crianças.

A criança necessita de afeto, de carinho, ser aceita, acolhida e ouvida para que possa evoluir e aguçar a curiosidade, resultando assim no aprendizado significativo. E o professor é quem prepara e organiza o ambiente de interesse das crianças, esse ambiente depende das necessidades de cada criança, as quais dependem da idade e da estrutura familiar e social em que cada criança está inserida.

 

 

AFETIVIDADE E A EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Segundo o dicionário, afetividade significa: “Conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções; sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza” (AURÉLIO).

Portanto, a afetividade exerce um papel fundamental nos relacionamentos, além de influenciar decisivamente a percepção, a memória, o pensamento, à vontade e as ações, e ser assim, um componente essencial da harmonia e do equilíbrio da personalidade humana.

A afetividade é a mistura de múltiplos sentimentos e a convivência com todos esses sentimentos em harmonia é que vai proporcionar ao sujeito uma vida emocional equilibrada. Emoções e sentimentos são estados psicológicos que acompanham a motivação do ser humano manifestando-se por reações complexas e difíceis de compreender. A afetividade influência na vida, afetando aquilo que está no entorno, e o que está dentro do indivíduo. Além de valorizar fatos e acontecimentos do passado e das perspectivas futuras.

A afetividade na educação infantil desempenha papel fundamental no desenvolvimento das crianças, porém para melhor aproveitamento é necessário considerar a psicologia do desenvolvimento infantil, pois somente de posse desse conhecimento é que o professor pode se valer dos benefícios do afeto no desenvolvimento das crianças. A infância é uma etapa do desenvolvimento humano a qual se caracteriza como sendo o período que se caracteriza pelo início da socialização e participação ao meio físico e social.

A infância é uma etapa biologicamente útil, que se caracteriza como sendo o período de adaptação progressiva ao meio físico e social. A adaptação, aqui, é “equilíbrio”, cuja conquista dura toda a infância e adolescência e define a estruturação própria destes períodos existenciais, educar é adaptar o indivíduo ao meio social. (PIAGET, 1985).

 

Segundo o autor a afetividade é uma espécie de “temperatura”, ou seja, intensidade, qualidade, modalidade, etc. por afetividade entendemos os sentimentos, prazer e desprazer, simpatia e antipatia, propriamente ditos e, em particular as emoções e as diversas tendências aí compreendidas, como as tendências superiores e, em particular, a vontade. Ou seja, a afetividade é fator fundamental, na socialização do ser humano.  As desregulações de caráter afetivo podem obstruir o funcionamento da atividade cognitiva, da mesma forma como as motivações afetivas intensificam a operacionalidade intelectual.

A aprendizagem é mais efetiva quando o afeto e o lúdico são trabalhados concomitantemente. O lúdico tem como objetivo desenvolver a aprendizagem através da compreensão do mundo, por meio da diversão, que é condizente com a conduta de quem conduz e de quem brinca. A integração do lúdico, afetividade e aprendizagem se tornam mais valorizados devido ao processo que é desenvolvido. Segundo Vygotsky, (1991) a brincadeira possui três características: a imaginação, a imitação e a regra e estão presentes em todos os tipos de brincadeiras infantis.

A afetividade é um elemento cultural que faz com que tenha peculiaridades de acordo com cada cultura. Elemento importante em todas as etapas da vida da pessoa, a afetividade tem relevância fundamental no processo ensino-aprendizagem no que diz respeito à motivação, avaliação e relação entre professor e aluno (VYGOTSKY, 1998).

 

O autor afirma que a afetividade precisa de articulação afim de, estabelecer relações entre professor e criança, e em todo meio do qual a criança faça parte, seja família, escola ou outro ambiente, essas questões estão sempre presentes.

Segundo Wallon (1992) emoção e afetividade são fatores que atuam como mediadores, no processo de desenvolvimento infantil em que ocorrem as interações com o objetivo de satisfazer as necessidades básicas, e construção de relações sociais. As interações emocionais devem se pautar pela qualidade a fim de ampliar o horizonte da criança e levá-la a transcender sua subjetividade e inserir-se no social. Na concepção do autor tanto a emoção quanto a inteligência são importantes no processo de desenvolvimento da criança, de forma que o professor deve aprender a lidar com o estado emotivo da criança para melhor poder estimular seu crescimento individual. A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas umas das dimensões do ser humano, e sim uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica e primitiva, portanto, significa que a afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas no plano da inteligência, e vice-versa.

 

A afetividade é um domínio funcional cujo desenvolvimento dependente da ação de dois fatores: o orgânico e o social. Entre esses dois fatores existe uma relação recíproca que impede qualquer tipo de determinação no desenvolvimento humano, tanto que a constituição biológica da criança ao nascer não será a lei única do seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias sociais da sua existência, em que a escolha individual não está ausente (WALLON, 1954).

 

O autor defende que a afetividade pode ser expressada por gestos, olhares, atitudes e objetos que chamam a atenção ou que representam familiaridade para a criança. Essas ações podem ser positivas ou negativas, depende da forma como essas atitudes e ações são expressadas.

 

A afetividade depende de dois fatores: o orgânico e o social, que possuem uma importante relação, tanto que as dificuldades de uma situação podem ser superadas pelas condições mais favoráveis do outro. Essa ligação durante o desenvolvimento do indivíduo modifica a fonte de onde provêm as manifestações afetivas, ou seja, a afetividade, que no início era uma reação basicamente orgânica, passa a sofrer influência do meio social, a constituição biológica da criança ao nascer não será a lei única do seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias sociais da sua existência, em que a escolha individual não está ausente, a afetividade tem uma evolução progressiva, se distanciando do fator orgânico e tornando-se mais relacionada ao fator social (WALLON, 1954).

 

Na educação infantil, a relação dos professores com as crianças é constante, em todos os ambientes, e é em função dessa proximidade afetiva que se dá a interação com os objetos e a construção de um conhecimento altamente envolvente. O professor é “porto seguro” para a criança, onde são acolhidas e valorizadas, a escola, por ser o primeiro agente socializador fora do círculo familiar da criança, torna-se a base da aprendizagem, portanto deve oferecer todas as condições necessárias para que sinta segurança e proteção. Portanto, é imprescindível que o professor tenha consciência de sua importância não apenas como um mero reprodutor da realidade, mas sim atuar como agente transformador do mundo. Como mencionado a escola é o primeiro ambiente socializador que a criança frequenta sem a companhia dos pais, portanto, ela precisa ser muito bem recebida, pois é um rompimento do conforto e proteção da família para inserção em uma nova experiência, a qual deve ser agradável, assim a criança precisa sentir que o professor dispensa afeto, paciência, dedicação e carinho, dessa forma a adaptação e consequentemente a aprendizagem é facilitada. 

Portanto, para que haja adaptação à escola e interação entre o professor e a criança é fundamental que o afeto esteja presente no dia a dia, assim a construção do conhecimento e a socialização ocorrerão de forma prazerosa. Outro fator que deve ser levado em consideração pelo professor é que existem muitos motivos e significações para os comportamentos que as crianças apresentam na escola. Cabe ao professor conhecer a realidade e verificar as condições e a história de vida de cada criança, assim pode compreender as atitudes e optar pela melhor metodologia, além disso pode adaptar o currículo de acordo com a necessidade de cada um. De acordo com Chalita (2003) “ódio não se combate com ódio, agressividade não se combate com agressividade, violência não se combate com violência”, ou seja, quanto mais rebelde e problemática for a criança maior será a necessidade de tratá-la com afeto e carinho, só assim ela compreenderá e poderá internalizar que pode agir de forma diferente de sua realidade.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O estudo demonstrou que a relação entre a afetividade e a aprendizagem são concomitantes e tem influência na socialização da criança. Afeto, amor, carinho e compreensão são a base para aprendizagem, os professores precisam estar atentos para que o fator afetivo entre as crianças e professores seja essencial para que o próprio sujeito envolva valores para o pleno desenvolvimento do sujeito. Também cabe aos professores o incentivo para que as crianças sejam críticas, solidárias, atuantes, criativas e felizes, em que os vínculos afetivos representem pontos positivos no processo de aprendizagem e socialização.

Portanto o vínculo, o afeto entre professor e criança é concretizado e estimulado no decorrer do dia a dia, através da convivência. É preciso também integrar a participação dos pais e da família na vida escolar da criança e trabalhar o afeto nas relações familiares.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

AURÉLIO. Disponível em: https://www.google.com/search?q=afetividade+significado+aur%C3%A9lio&ei=eknKZN7YLcTZ5OUP0. Acesso em: ago. De 2023.

 

CHALITA, Gabriel. Pedagogia do Amor. São Paulo, Gente. 2003.

 

PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1985.

 

PIAGET, VYGOTSKY, WALLON: Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo, 1992. Disponível em: http://nuted.ufrgs.br/oa/pi/html/afetiv_edinf.pdf. Acesso em jul. de 2023.

 

WALLON, Henri. Les mileux, les groupes et la psychogenèse de L’enfant. Enfance. 1954. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/44/afetividade-nas-relacoes-educativas-uma-abordagem-da-educacao-infantil. Acesso em jul. de 2023.

 

 

1Professora de Educação Infantil, com formação em Licenciatura em Pedagogia Séries Iniciais e Educação Infantil – UCS. Pós-Graduação em Inclusão – UNICID.

2Professora de Educação Infantil, com formação em Licenciatura em Pedagogia Séries Iniciais e Educação Infantil – UCS. Pós-Graduação em Psicopedagogia Institucional – UNICD.