Afetividade e auto-estima na educação infantil
Por Keila Patricia Cordeiro dos Santos | 01/09/2016 | EducaçãoA grande maioria das pessoas reconhece a importância da autoestima e da afetividade quando questionados, porém são poucos os que sabem verdadeiramente a relevância e, principalmente, a dimensão que este tema pode trazer para uma criança. A fase em que uma criança se desenvolve é um momento crucial, sendo que a autoestima e a afetividade com relação às demais pessoas propulsionam suas aprendizagens e os rumos que toma seu desenvolvimento, podendo isso ser refletido por toda sua vida. O comportamento da criança na maioria das vezes é dirigido pela linguagem que o adulto utiliza e sabemos que a criança pode internalizar muito do que um adulto diz, tomando como verdade para si. Por isso, a relação com os adultos desde seu nascimento é crucial para a formação do seu autoconceito e de sua autoestima. Buscando compreender como o adulto pode afetar a autoestima de uma criança no período pré-escolar, essa pesquisa foi desenvolvida com objetivo principal de instigar os leitores sobre a importância da autoestima e da afetividade na educação infantil, apresentando o embasamento teórico de diversos autores sobre o assunto, bem como os resultados de uma pesquisa de campo com profissionais da área de Educação Infantil. O objetivo da pesquisa empírica foi fazer um levantamento do que as professoras entendem por afetividade e autoestima, e como trabalham isso em seu dia a dia. Os resultados obtidos mostram que todas as profissionais demonstram interesse por esse assunto, porém muitas não detêm conhecimento teórico-prático sobre ele, inclusive sobre a importância das relações afetivas e a influência que o professor pode ter na vida de uma criança; vindo, assim, ao encontro do que pesquisamos em nossa revisão de literatura.
INTRODUÇÃO
A afetividade está inserida no nosso dia a dia desde que nascemos, pois ela resume tudo o que afeta o ser humano e como este afeta o ambiente. Dentro dessa ampla temática utiliz amos termos como cuidado, afeto, amor, entre outros sentimentos e emoções
.
A forma como se dá a re lação de afetividade entre duas ou mais pessoas, pode interferir muito em sua vida. Podemos perceber essa interferência na sala de aula , por exemplo , seja com crianças da educação infantil ou adolescentes. Quando por algum motivo gostam de seus professores , seus comportamentos tendem a ser positivos. Os pequenos deixam o colo dos seus pais com mais facilidade, e os maiores podem se dedicar mais à disciplina ministrada por esse professor, por exemplo. Se o sentimento for contrário, os menores poderão chorar intensamente no momento em que se separam dos pais para ficar na escola, e os maiores poderão apresentar comportamento s inadequados.Contudo, segundo aponta Guimarães (2004, p.180) ,
"a principal preocupação da escola é com o domínio de conteúdo e c om o re ndimento dos alunos" e, com isso, esquece que o aluno é afetivo e não se permite percebe r o quanto a relação entre professor e aluno pode infl uenciar em seu desenvolvimento e aprendizagem.
Outro fator que pode interferir no desenvolvimento da criança é sua autoestima, que também depende de como se dá a relação dela com as outras pessoas. A começar em sua própria família
. Se apenas seus defeitos forem ressaltados pelos pais, a tendência é que ela aprenda a se ver de uma forma negativa, crie um autoconceito n egativo de si e já chegue
à escola duvidando de sua s capacidades
.
E caso o professor con tinue ressaltando características negativas e não prestando atenção nas qualidades que essa criança traz, ela acaba por internalizar essas ideias negativas que os adult os mostraram para ela, tomando como verdade absoluta as incompetências que lhe são atribuídas e podendo apresentar uma autoesti ma negativa por toda sua vida.
Foram preocupações dessa ordem que nos levaram a elaborar esse trabalho, visando reunir mais infor mações sobre o quanto e como as relações afetivas podem 15 influir no desenvolvimento de uma criança, a poiando nos nas pesquisas de diversos autores e realizando, por fim um a pequena pesquisa de campo com algumas professoras da Educação Infantil.
4 REVISÃ O DE LITERATURA
Este capítulo apresenta a percepção de diversos autores sobre o tema abordado neste trabalho , visando explorar o conteúdo da forma mais abrangente possível (considerando o momento e os propósitos deste estudo), com a finalidade de estabelec er pressupostos acerca da importância da afetividade nas relações educativas
4.1 AFETO E EMOÇÃO
A partir das primeiras r elações sociais, que geralmente ocorrem c om os familiares, as crianças passam a perceber o mundo de acordo com as perspectivas e olhar es destas pessoas. P or exemplo, o contato com " pessoas negativas
", que tendem a achar a vida difícil, influenciará o olhar de mundo que a criança irá internalizar e levar consigo durante grande parte de sua vida.
Merleau Ponty (1990) , cita do por Camargo (1 999) , explica que as relações com os pais são mais do que relaç
ões com duas pessoas: vão mais além, pois são relações com o mundo, sendo os pais mediadores dessas relações.
Um adulto tende a repassar para os filhos a relação que teve com seus pais durante sua infância.
Por isso, a tendência é que a mãe aja com o seu filho d a mesma maneira que sua mãe agiu com ela, ou por acreditar ser essa a melhor maneira, ou por que essa relação foi prejudicada por algum motivo, ficando marcada até a sua vida adulta. Se qu ando criança, por exemplo, essa pessoa teve uma boa relação , com troca de carinhos e afetos, a tendência é que ela tran smita sentimentos semelhantes para a relação com seu filho, pois, agora ela é a mãe e a vida emocional de seu filho dependerá desta relação. De acordo com Camargo (1999, p. 3), "A necessidade do outro também depende das ações e dos afetos recebidos. As primeiras relações, geralmente com a mãe, são permeadas pela história pessoal dela." 17 Ainda segundo Camargo (1999, p.
2), "O estudo da emoção , em particular, tem se submetido a esta regra que remonta aos tempos em que se separavam as
"faculdades da alma", e estas, do corpo, da matéria, e não levavam em conta as interações sociais." Pensava
se que o indi víduo nos processos de aprendi zagem, por e xemplo, não passava por um processo afetivo e sim somente cognitivo.
Porém, com os avanços dos estudos sobre tais assuntos, se entend eu que uma pessoa não pode ser separada em categorias
. Todos os processos , inclusive os de aprendizagem, estão interligados com as emoções e experiências, que se tem durante toda a vida, estas por sua vez, estão inseridos e entrelaçados no histórico particular de cada um.
Então, porque atualmente não presenciamos mudanças significativas
? P orque ainda hoje, passados tantos ano s, a emoção é deixada de lado em inúmeros aspectos da vida , i nclusive em sala de aula? Será por falta de interesse dos professores
? O u porque não encontram tempo para tratar esta questão
? Para C amargo (2005 ), a emoção se encontra presente em todos os proce ssos de aprendi zagem, quando não existe emoção , não existe aprendizagem , afinal a emoção é o que nos move.
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