Vá embora solidão... Deixe-me só... Preciso mergulhar em minh'alma, tomar posse de mim novamente, para que eu deixe de olhar mais para fora do que dentro de mim... Que é o que você me ensina solidão. O procurar o outro para que minh'alma se aquiete ou se inquiete. O outro que em mim desperta a compaixão por mim mesma, me faz um coitadinho da vida.

Preciso fazer uma introspecção e resgatar-me para que eu possa ser minha novamente. Não me permito mais ilhar-me de mim. O resgate se faz premente. Não posso, não devo, não quero mais continuar a nadificar-me. Quero voltar a bastar-me e assim o fazendo, permitir que minha alma se manifeste e segure o leme de minha vida, não mais a deixando à deriva. Eu, um ser-só. Quero ouvir meu coração há tanto tempo sufocado... Ele que pulsa para que eu viva, para que eu viva plenamente, para que eu protagonize minha história.

Quero ir ao encontro de minha paz interior, de perceber as pequenas nuances que a vida a mim se apresenta, e que eu, em minha solidão, não mais conseguia ver, não mais conseguia sentir.

Preciso voltar a alegrar-me com minha presença, a fazer de mim minha melhor companhia e a não mais vestir a máscara da solidão para esconder-me. Quero ser feliz comigo, sabendo-me um ser finito.

Ai de mim... Que me descentralizei e assim o fazendo me tornei órfã e me entreguei à madrasta solidão, que fez de mim um fantoche, um joguete. E eu consenti... Consenti que minha vida ao outro fosse atrelada para que sentido tivesse. Ai de mim... Que tola fui em não perceber que para interagir com o mundo precisava primeiro interagir comigo mesma. Ser plena, dar-me em plenitude. Um ser humano capaz de amar incondicionalmente, de dar a mão a quem preciso for, uma palavra amiga, um gesto de solidariedade, de carinho, sem esperar nada em troca, a não ser conciliar-me com o outro, sem nunca esquecer minha importância e do dever comigo mesma, o quão sou importante para que eu exista de fato e de direito.

Heloisa Pereira de Paula dos Reis