Para alguns, um shopping é apenas um centro comercial, um lugar para onde nos dirigimos quando queremos fazer compras, com certa tranquilidade. Isto porque é um lugar que concentra um número considerável de empresas, notadamente lojas, que vendem mercadorias e serviços.

O que observamos, sem muita dificuldade, é que, nos dias de hoje, os estacionamentos dos shoppings estão sempre cheios, lotados. E a briga quando um motorista coloca seu carro numa vaga que outro motorista estava esperando? Você já viu a confusão que dá? Isto nem sempre quer dizer que muitas lojas estão vendendo e muitas pessoas estão comprando.

Você já observou o quanto de pessoas espera pela abertura dos shoppings? Faça essa experiência, passe por perto e observe. Você verá que muito mais pessoas esperam pela abertura dos shoppings do que esperam pela abertura de igrejas.

Até parece que, para algumas pessoas, o shopping é um substituto, bastante normal, de uma igreja. São pessoas que não têm aquela necessidade de busca de um ser superior, como nos parecia, a nós mais antigos, que isto seria uma coisa natural.

Na realidade, temos, hoje em dia, os adoradores de shoppings. São aquelas pessoas que parecem não ter qualquer espiritualidade. Não têm, nem mesmo, a necessidade de um ser superior; não dão qualquer valor a Bíblia, nem a Deus, nem a Cristo, nem a qualquer outro líder espiritual. Além disto, têm uma necessidade, fora do normal, de estar em um shopping, de passear no shopping, de respirar o ar do shopping, de ver o que está acontecendo no shopping.

A galera, as baladas, as selfies, “o curtir” e o “comentar selfies e vídeos” nas redes sociais, “o mostrar-se sempre feliz”, “o apresentar-se sempre com um sorriso no rosto”, enfim, “o compor cenas”, “o estar ligado”, são valores dessa nova geração. São pessoas que pouco conversam, porque estão sempre ligadas ao celular, ou melhor, às redes sociais, pessoas altamente egoístas, que não têm qualquer sentimento social, que não têm memória, porque tudo está no google, e que não se importam de a todo momento estarem atropelando a língua portuguesa.

Nesse contexto, destacam-se os Nem Nem, aquelas pessoas jovens, sadias, que teoricamente deveriam estar em plena atividade, mas que NEM Estudam e NEM Trabalham. Pessoas, que, simplesmente, não podem terminar o dia sem ir a um shopping. A necessidade de ir a um shopping é implacável, irresistível, muito mais forte do que a vontade de ir a igreja, vontade esta, que, aliás, nem existe.

“Ajudar as pessoas”, “contribuir com a sociedade”, nem pensar; são valores totalmente fora do contexto de vida deles e delas. Todos estão “focados” (palavra que, normalmente, utilizam) apenas em querer aparecer. Afinal de contas, parece até que as redes sociais vieram aproximar pela distância e afastar pela proximidade.

Toda essa mudança estrutural, com o desaparecimento dos nobres valores, parece estar, simplesmente, passando desapercebida, como se fora algo sem qualquer importância. A mudança é real. Hoje em dia, os valores, sem dúvida, estão mudando.

Se você conversar com alguém, dizendo que está com algum problema, ou alguma preocupação, ou com depressão (doença do momento), não raro, você ouvirá a seguinte sugestão: vá a um shopping, divirta-se!

Parece até que existe uma shoppingterapia.

O que poderemos fazer? Será que podemos fazer alguma coisa? Ou melhor, será que devemos fazer alguma coisa?

A palavra “liquidação” parece ter um conteúdo mágico.

Até parece que a regra é viver de futilidade. Sem qualquer plano a curto, médio ou longo prazo. A exceção é ter algum objetivo, alguma meta na vida. O normal, hoje, parece ser ficar horas e horas no shopping, gastando, mesmo sem puder; apenas pelo prazer de mostrar-se; pelo prazer de compor cena de felicidade, mesmo que por poucos instantes.

Para essas pessoas, a ditadura da moda, tem muitíssima força. Ainda mais quando fulano de tal tem, quando fulano de tal conseguiu. O raciocínio é: se tal fulano de tal conseguiu, porque não posso conseguir?

E tem aqueles que não têm condições financeiras de comprar mas nem por isso deixam de frequentar os shoppings. Aliás, a ideia é que, estar com os “vitoriosos” – e essas pessoas entendem que os adoradores de shoppings são “vitoriosos” – também os tornam vencedores. A prova disto está nos “rolezinhos”, jovens que vão para o shopping fazer verdadeiros arrastões.

É isso, é nossa realidade!

CARLOS MENDONÇA
15/06/2015