Se vc é um treinador ou condutor experiente em Campo Grande MS ou no campo ou na cidade. Cidade grande ou pequena, sabe que esta afirmação é extremamente importante no seu dia-a-dia de trabalho com cães de detecção. Uma redução na velocidade da condução, um passo à esquerda, à direita, uma leve e sutil inclinação, um simples toque na guia, etc etc etc... São os mais diversos tipos de interferência que o cão pode "ler" e acabar sendo influenciado "negativamente" nos treinos.

Lembro-me de assistir parte de uma aula de um instrutor onde este colocava o vídeo de um cão sem uso da guia à procura de um odor alvo. Na aula, este instrutor falava para seus novos alunos (alguns bem iniciantes na atividade de detecção) observarem como o cão trabalhava sozinho. O animal ia de um lado para outro em meio a alguns carros, procurando o odor, mas nitidamente estava perdido. Foi qdo seu condutor começou a caminhar e parou em frente a determinado veículo (este com o odor). O cão, percebendo sua posição, foi direto até o carro, investigou e encontrou o odor alvo.

Talvez o próprio instrutor acredite q não teve influência direta no cão. Este é o efeito "Clever Hans". Aqui, uma breve explicação sobre este fenômeno na psicologia animal:

"Kluge Hans ou Clever Hans (o Inteligente Hans) era um cavalo que podia responder a perguntas e cálculos complexos, batendo com a pata no chão, de forma impressionante. Perguntas eram feitas e o cavalo sempre respondia corretamente, para qualquer pessoa. Pesquisadores estudaram o cavalo de muitas formas, e muitos concluíram que ele realmente era um prodígio, possuía uma inteligência quase humana, conseguia entender conceitos matemáticos difíceis, bem como responder perguntas, conscientemente.

Até que um investigador chamado Oskar Pfungst resolveu analisar Clever Hans com mais ceticismo e rigor. Ele começou percebendo que, se nenhum dos presentes sabia a resposta, Hans também não sabia. Mas muitos cientistas observaram as exibições e não haviam percebido nenhum truque, sinal ou sinalização dos participantes.

Então Oskar fez algo simples, algo que deveria estar no protocolo de rigor do teste, mas que não havia sido feito antes: ele impediu Clever Hans de ver a platéia ou o treinador. Imediatamente, Hans parou de responder e de saber a resposta. Ao retirar o impedimento da visão, o cavalo “voltou a saber” matemática.

O que Oskar descobriu é que o cavalo respondia a sutis, muito sutis, manifestações inconscientes do treinador e até da platéia. Ligeiros enrijecimentos musculares, quando ele começava a bater os cascos; relaxamento, quando atingia a resposta correta, entre outros sinais, induziam o cavalo a agir, para agradar o dono (ou em resposta tipo pavloviana, ainda se discute isso).

Este estudo (1907) e esta descoberta levaram pesquisadores a desvendar, mais tarde, a comunicação não-verbal entre seres humanos e outros animais."

Voltando à realidade prática no treinamento com cães de detecção, não importando qual é o objetivo (drogas, explosivos, pessoas etc), devemos inserir nos treinamentos o "double blind" ou seja, dupla cega: condutor e cão não devem conhecer o local da fonte do odor. Isso vale, como já dito, para qualquer atividade de detecção.

Compreender e perceber a mudança de comportamento do seu cão sem que você saiba onde está o odor alvo (figurante, drogas, explosivos, etc) é de extrema importância para a sua evolução como condutor. Lembre-se, a comunicação deve ser feita de maneira assertiva, evitando-se interferências demasiadas e equivocadas, mudanças nas expressões corporais e, consequentemente, criando-se comportamentos indesejáveis no cão.