O que esperar da nova presidente?

Começo citando Maquiável: A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam. Não que eu ache Maquiável um exemplo a ser seguido em todas as situações, mas em matéria de política e manutenção de poder, ele é um dos grandes pensadores.
Esta simples máxima pode representar muito o futuro da nossa presidenta eleita quando a equipe dela estiver formada e conhecermos o núcleo duro do poder.
Não votei em Dilma, mas como acabou a eleição, agora é dar chance a ela para mostrar sua capacidade. Ela não está ali por acaso, assim como Lula. Todos têm vícios e virtudes, defeitos e qualidades e a emoção e o ódio que surgiram na campanha devem agora ficar fora da mente e coração de todos nós, vencedores e derrotados. O interesse da sociedade tem que se sobrepor a tudo, inclusive a ideologia.
Dilma ganhou em 16 estados, Serra em 11. Ela teve 55,7 milhões de votos, Serra 43,7 milhões. Foi equilibrado o resultado com 56% x 44% dos votos válidos. Se considerarmos a aprovação de Lula, 83% e o total de votos, 135 milhões, na verdade grande parcela não votou nela, 79,3 milhões na verdade. Lula foi o responsável pela eleição dela, ele tem estrela e sorte e soube capitalizar os ventos favoráveis da conjuntura. Loas a ele e bom para milhares de pessoas que tiveram ascensão social e melhoraram a renda. Como economista, eu não posso deixar de dizer que o sofisma de que tudo foi feito pelo governo do PT e nada pelos outros acabou ajudando Dilma.
Acho que alguns ainda buscam o terceiro turno e não é recomendável isso. Temos que dar crédito a ela. Dilma tem sim experiência e preparo, além de formação acadêmica. Pode não ter a experiência e a malandragem política de Lula, mas tem outras qualidades.
Na minha visão, gestor, comandante em chefe de governos, empresas e entidades deve ter como base de sua capacidade a humildade, saber se cercar de pessoas boas, ter equipe multidisciplinar, enfim, ele deve saber delegar e ouvir seus auxiliares. A probidade e honestidade não são valores que podem ser negociados em nome da competência, são pilares de qualquer trajetória, ou pelo menos deveriam ser. Com isso não quero dizer que precisamos ter a vestal da pureza. Algumas decisões e ações do dia a dia podem demandar comportamentos que podem ferir princípios, mas sempre digo, alguns são inegociáveis.
Vários filósofos, de Kant a Constant e outros mais, dissertam sobre a questão da verdade e da mentira, mas a transparência deve ser outro pilar da gestão pública. O clichê que política se faz com mentira é um erro. O desgaste da classe política passa por isso.
Agora é hora de conciliação e equilíbrio. Dilma mostrou um espírito conciliador, dosou a emoção e soube manter o equilíbrio como convém a uma presidente. Não é porque não votei nela que dão daria uma trégua para esperar suas primeiras ações, a nomeação de sua equipe e seus primeiros passos na gestão do Brasil.
A oposição marcou presença governando estados importantes, os mais importantes excetuando o Rio de Janeiro. O equilíbrio dos votos mostra que uma grande parte da população está atenta e vigilante. Uma democracia precisa de uma oposição forte, aguerrida, que fiscalize, combata, aponte erros e não deixe o fisiologismo e a politicagem, no senso ruim, tome conta dos poderes constituídos.
Acho que a presidente terá percalços, principalmente pela falta de experiência na questão política, mas sua equipe e pessoas de confiança devem e podem suprir esta deficiência. Se ela tiver humildade, serenidade e tranqüilidade, ela vai levar bem o seu termo.
As condições conjunturais no cenário mundial são todas favoráveis, o Brasil está maduro em muitos fundamentos macroeconômicos e só deixar o barco ir que não teremos sustos. O meu receio são os embates e as crises institucionais e a falta de responsabilidade de alguns que podem querer inventar coisas heterodoxas.
A ideologia de alguns com um viés radical pode ser armadilha para Dilma, mas acho que a maturidade do Brasil não vai deixá-la embarcar na nau dos insensatos.
Não existe receita de bolo, mas algumas premissas são milenares: Cercar-se de boas pessoas, humildade, serenidade e equilíbrio. Saber delegar e honrar os mais primitivos princípios da ética. Espero que a presidente siga a linha básica, a força da nação, do nosso povo e da democracia farão o restante.
Como Brasileiro, só posso desejar a presidente muito sucesso e felicidade. Vamos dar o crédito que ela precisa e o Brasil merece, mas vamos ficar atentos e vigilantes. O preço da liberdade é a eterna vigilância. Termino aqui com esta máxima, de autoria controversa, mas sendo um dos possíveis autores Tomas Jeferson, terceiro presidente americano que pode ser um ótimo exemplo de homem público a ser seguido.