ABRANGÊNCIA DO FOCO – “UMA VIA DE MÃO DUPLA”.

 

Interessante como os executivos estão direcionando parte de sua atenção à gestão de setores até então deixados em segundo plano.

 

Recentemente, em um evento na Fiep-Curitiba, ouvi um Gestor da área de Transportes elogiar a postura de seu Cliente, o qual vinha contribuindo para a melhoria da margem de lucro de sua empresa.

Confesso que achei o comentário um tanto quanto inusitado, afinal de contas não é comum, principalmente neste segmento, o Contratante contribuir para melhoria na margem de lucro do seu Contratado.

 

Tal situação me remeteu a questioná-lo quanto à proeza.

A resposta foi mais inusitada ainda:

“A gestão administrativa dele alavancou a minha produtividade, por conseqüência a minha margem de lucro.”

 

Segundo esse transportador, seu cliente mudou o conceito aplicado a toda gestão envolvendo os carregamentos, tornando-os mais rápidos e práticos. Com isso o tempo de coleta foi reduzido consideravelmente, possibilitando o aumento do faturamento com o mesmo custo operacional.

 

A abordagem dada ao assunto me chamou a atenção, ainda mais vinda de um segmento um tanto quanto discriminado. Tomei a liberdade de solicitar a esse interlocutor o contato do seu cliente, pois havia me interessado pela postura adotada.

 

Passados alguns dias, fiz contato com o responsável pela área de logística desta empresa. Dizia respeito a uma Indústria de Embalagens Plásticas instalada na CIC.

Já no início da conversa pude constatar que se tratava de um conceito próprio, com objetivos bem definidos. Abertamente o Gerente me explicou que:

“O conceito se resume em atender da melhor maneira possível meus fornecedores, afinal de contas estamos em uma via de mão dupla.”

 

Segundo ele, o processo é simples de ser entendido, mas complicado de ser implantado:

“O principal obstáculo que surge, quando da implantação de um novo conceito, são os paradigmas internos, vincos de estruturas já estabelecidas. Para que o conceito fosse entendido e por conseqüência virasse uma realidade, nós tivemos que ampliar o foco. Até aquele momento estávamos totalmente voltados para o carro chefe da estrutura, ou seja, para a Produção. Precisamos, definitivamente, entender que em um mercado competitivo, onde as margens de lucro estão cada vez menores, uma gestão eficiente nos processos de entrada e saída pode significar a sustentação do carro chefe. O que quero dizer com isso é que precisamos nos tornar especialistas em tudo, inclusive no atendimento de nossos fornecedores. Nem que para isso seja necessário investir.”

 

Comentou que entre uma série de medidas, tiveram que reestruturar a expedição e remodelar a forma de carregamento para 100% palletizado. Citou que tem muito ainda a ser feito, mas que já estavam colhendo resultado. Como exemplo, apontou que antes de ampliarem o foco a coleta de 01 volume na modalidade fracionado durava em média 8 segundos, o que segundo ele está dentro da média de mercado para esse tipo de produto. Hoje esse tempo está em 3 segundos. Ou seja, as possibilidades de produtividade do fornecedor foram consideravelmente ampliadas.

 

Continuou:

“Em paralelo, lançamos a BID* com o propósito de fidelizar praças. Com isso concentramos os carregamento a um determinado e controlado número de fornecedores, alavancando suas operações bem como contribuindo para a otimização dos seus veículos.”

 

Cada vez ficava mais claro as razões que levaram o Gestor da Transportadora a tecer comentários positivos quanto à postura parceira de seu Cliente.

Mas qual seria o resultado prático dessa mudança de conceito para a Estrutura do Contratante?

Percebendo minha ansiedade ele concluiu:

“Como disse, é uma via de mão dupla, ou seja, tudo o que vai, volta! Transparecemos ao nosso fornecedor a necessidade da troca, da contrapartida. O retorno que nos compete são as tabelas de frete diferenciadas, suportadas não apenas pela quantidade movimentada, mas principalmente pela eficácia da operação. Estamos falando de uma economia média de 36% no custo do frete em comparação ao que praticávamos anteriormente. Não posso deixar de comentar que nosso parâmetro não é apenas esse, uma vez que buscamos referencias no mercado para avaliar nossa performance. A qual, a exemplo dos nossos fornecedores, vai muito bem. Por falar nisso, recentemente uma empresa especializada em Sistemas de Gestão nos procurou para oferecer um programa para Gerenciamento de Frete que, dentre outras coisas, garantia reduzir drasticamente as despesas com fretes. Após algumas simulações os relatórios apontaram que não havia margem para redução.”

 

O objetivo de compartilhar tal vivência se deve ao fato de que muitas organizações insistem na importância de documentar o aprendizado e a experiência para futura referência. Porém, na realidade, muitos relatórios são salvos, arquivados e nunca realmente lidos.

 

Fica a dica: AMPLIE SEU FOCO !

 

 

*BID: concorrência