Qual deve ser a posição, ou qual é o comportamento do homem moderno diante da iluminação mística antiga, hoje relegada de sua glória de outrora para planos secundarios ... Abandoná-la por completo como doutrina ultrapassada ou, pelo contrário, tentar adapt-a-la como  ultrapassada ou, pelo contrário, tentar adaptá-la de alguma forma, inteiramente ou em partes, à atualidade, aproveitando-se-lhe eventuais benefícios ...  Não  que se pretenda por programa de ação tornar presente o passado cabalístico e angariar-lhe sequazes. Tal atualização ou renovação ativa não teria sentido, nem viabilidade. Aqui trata-se antes de indagar o modo como já se produziram os seus vestígios em nossos tempos, por evolução histórica  natural de idéias antigas, e sua projeção no plano da  vida moderna.

                                 Nos  vários decênios do nosso século, a resposta  a tal indagação tem sido dada  por segmentos da sociedade que se interessam ainda pela matéria de várias formas. Alguns, do ângulo puramente acadêmico, ouros dando-lhe um colorido algo prático. Estes últimos, representativos de diversificadas seitas ou missões, cujos devotos ou crentes atraídos por esoterismo de raízes antigas do Extremo Oriente, como hinduísmo e semelhantes, são vistos formando círculos de curiosos em seu redor, nas praças e ruas de Amsterdã, Lisboa, Paris ou Londres.


                                 Há mesmo, nos grandes centros ocidentais, sociedades teosóficas, filosóficas e esotéricas que representam o ocultismo exercido  contemporâneamente por frateres, irmãos e outros que acenam aos irmãos, frateres e sorores com os mistérios confusos de mundos atraentes, inexplfincadasorados, com as raízes em remotos  tempos e longínquscetíveisuos países, mas suscetíveis de produzir frutos em nossa época.


                                    Outros, como os adeptos do yoga hindu, vinculam a influência de tais doutrinas ao domínio da saúde física e mental mediante a prática de exercícios rítmicos e respiratórios que se destinam alegadamente à purificação e ao aperfeiçoamento das virtudes morais do homem, bem como à sua confusão com Deus através de contemplação intuitiva e austeridade. Como, por exemplo, os vários sistemas filosóficos yogues da Índia difundidos m nossos dias, cujos adeptos se entregam àquelas práticas acreditando que à força de concentração espiritual conseguiriam livrar-se da existência material e seus inconvenientes para entrarem em contato com a vida superior.

 

                                   Ora, tais exercícios e finalidadesencontram paralelonas doutrinas cabalísticas de Rabi Abrahamben  Abuláfia que viveu no século XIII. O misticismo experimental desse célebre cabalista, a que já se fez menção, é uma tentativa de reaproximação entre  criador e a sua criatura dele fastada na sucessão dos tempos medidos astronomicamente.

                                    Para iniciar-se nesses segredos e viver tal experiência mística, Abuláfia prescreve aos discípulos uma técnica de meditação que consiste na manipulação das letras do alfabeto hebraico em sua nudez alegórica, destituídas de seu sentido fonético comum. Tais manipulações alfabéticas, segundo ensina nos manuais que compôs, devem vir acompanhadas  de movimentos e gestos rítmicos e respiratórios do corpo, a fim de permitir ao exercitante tornar-se pto às percepções abstratas.

                                     Essa técnica de meditação e contemplação seria suscetível, na expressão de Abuláfia, de desatar a alma de seus laços físicos, esvaziá-la das sensações terrenas ateriais, quando então se formam as condições para o seu retorno à fonte de sua riação, ou seja, para a união renovada entre a criação e seu criador, entre uma parcela profana e limitada da terra e a infinita vida cósmica divina.