Será que é possível colocar-se no lugar do outro? Tentar entender como o outro pensa? O que o outro precisa? Buscar o caminho do encontro? São perguntas que ficam no ar. Podemos constatar hoje que as pessoas não estão parando para refletir, para ver o outro.

É a criança no semáforo, o deficiente que não consegue se locomover por causa das barreiras, o idoso que não tem mais a agilidade nos passos. Por que a pressa, a ganância, a compulsão, a necessidade de competir, ter mais e ser maior? Por que a necessidade de se apossar do que ainda não nos foi permitido possuir?

Em pleno terceiro milênio, a selvageria deveria ter sido deixada junto ao túmulo de nossos ancestrais Homo sapiens. Em um momento no qual a ciência mais avança, o ser humano descobre o que outrora estava oculto; terrivelmente a depressão, a tristeza, a solidão mais grassam e desgraçam a alma humana.

Por que não voltar à simplicidade?

Voltar a perceber a beleza e o encantamento do pôr do sol, a alegria do amanhecer ensolarado após uma noite chuvosa, o murmurar tranquilo do rio que segue inexorável o seu curso, a leveza e despercebimento dos primeiros passos do bebê, a descoberta estampada no rosto da criança que explora o mundo a seu redor, o sabor do doce favorito, o aconchego do abraço de quem se reencontra após um tempo longe, o som da voz do ente querido distante que se queria perto.

Fatos, eventos e gestos que após segundos não são mais, assim como transitória é a vida e o que se leva dela.

Saiamos à rua contra a indiferença, o preconceito, a caretice.

Caretice, sim!, porque ter boas atitudes e ser um ser humano atinge os caretas de plantão, que pregam que nada deve ser estabelecido, que tudo deve ser aniquilado e que a ética não deve existir.

São caretas, sim!, pois essas coisas não deveriam sair de moda: o respeito pelos mais velhos, a alegria de ajudar o necessitado, o fervor de que algo pode ser feito. O que vale muito mais do que figurar em peças publicitárias tocantes com cenas e imagens escolhidas.

Abaixo a ditadura do egoísmo!

Abaixo os grilhões que impedem a gentileza e a empatia das pessoas!

Que nós possamos encostar nossas cabeças no travesseiro e, sim, dormir, e não descansar em paz.