Paulo de Tarso, um dos grandes personagens do livro dos Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas, tem em destaque três narrações de sua conversão. Isso não somente embasado na importância que a conversão do perseguidor despertou na Igreja antiga, mas também no papel fundamental que ele teve na economia de Atos.

Assim, as Sagradas Escrituras, no livro dos Atos dos Apóstolos, narram a primeira conversão, escrita em At 9, 1-19a: 

Saulo, respirando ainda ameaças de morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao Sumo Sacerdote. Foi pedir-lhe cartas para a sinagoga de Damasco, a fim de poder trazer para Jerusalém, presos, os que lá encontrasse pertencendo ao Caminho, quer homens, quer mulheres. Estando ele em viagem e aproximando-se de Damasco, subitamente uma luz vinda do céu o envolveu de claridade. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saul, Saul, por que me persegues?” Ele perguntou: “Quem és, Senhor?” E a resposta: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Mas levanta-te, entra na cidade, e te dirão o que deves fazer”. Os homens que com ele viajavam detiveram-se, emudecidos de espanto, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém. Saulo ergueu-se do chão. Mas, embora tivesse os olhos abertos, não via nada. Conduzindo-o, então, pela mão, fizeram-no entrar em Damasco. Esteve três dias sem ver, e nada comeu, nem bebeu. Ora, vivia em Damasco um discípulo, chamado Ananias. O Senhor lhe disse em visão: “Ananias!” Ele respondeu: “Estou aqui, Senhor!” E o Senhor prosseguiu: “Levanta-te, vai pela rua chamada Direita, e procura, na casa de Judas, por alguém de nome Saulo, de Tarso. Ele ora e acaba de ver um homem chamado Ananias entrar e lhe impor as mãos, para que recobre a vista.” Ananias respondeu : “Senhor, ouvi de muitos, a respeito desse homem, quantos males fez a teus santos em Jerusalém. E aqui está com autorização do chefe dos sacerdotes para prender a todos que invocam o teu nome”. Mas o Senhor insistiu: “Vai, porque este homem é para mim um instrumento de escol para levar o meu nome diante das nações pagãs, dos reis e dos israelitas. Eu mesmo lhe mostrarei, quanto lhe é preciso sofrer em favor do meu nome.” Ananias partiu. Entrou na casa, impôs sobre ele as mãos e disse: “Saul, meu irmão, o Senhor me enviou, Jesus, o mesmo que te apareceu no caminho por onde vinhas. É para que recuperes a vista e fiques repleto do Espírito Santo”. Logo caíram-lhe dos olhos umas como escamas, e recuperou a vista. Recebeu, então, o batismo e, tendo tomado alimento, sentiu-se reconfortado.[2] 

Já a segunda conversão é assim narrada, em At 22, 3-21:

“Eu sou judeu. Nasci em tarso, da Cílicia, mas criei-me nesta cidade, educado aos pés de Gamaliel, na observância exata da Lei de nossos pais, cheio de zelo por Deus, como vós todos nos dias de hoje. Persegui de morte esse Caminho, prendendo e lançando à prisão homens e mulheres, como o podem testemunhar o Sumo Sacerdote e todos os anciãos. Deles cheguei a receber cartas de recomendação para os irmãos em Damasco e para lá me dirigi, a fim de trazer algemados para Jerusalém os que lá estivessem, para serem aqui punidos. Aconteceu que, estando eu a caminho e aproximando-me de Damasco, de repente, por volta do meio-dia, uma grande luz vinda do céu brilhou ao redor de mim. Caí ao chão e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saul, Saul, por que me persegues?’ Respondi: ‘ Quem és, Senhor?’ Ele me disse: ‘Eu sou Jesus, o Nazareu, a quem tu persegues’. Os que estavam comigo viram a luz, mas não escutaram a voz de quem falava comigo. Eu prossegui: ‘ Que devo fazer Senhor? E o Senhor me disse, :’ Levanta-te e entra em Damasco, lá te dirão tudo o que te é ordenado fazer’. Como eu não enxergasse mais por causo do fulgor daquela luz, cheguei a Damasco levado pela mão dos que estavam comigo. Certo Ananias, homem piedoso segundo a Lei, de quem davam bom testemunho todos os judeus da cidade, veio ter comigo. De pé, diante de mim, disse-me: ‘Saul, meu irmão, recobra a vista’. E eu, na mesma hora, pude vê-lo. Ele disse então: ‘O Deus de nossos pais te predestinou para conheceres a sua vontade, veres o Justo, e ouvires a voz saída de sua boca. Pois tu hás de ser sua testemunha, diante de todos os homens, do que viste e ouviste. E agora, que esperas? Recebe o batismo e lava-te dos teus pecados, invocando o seu nome!’ Depois, tendo eu voltado a Jerusalém, e orando no Templo, sucedeu-me entrar em êxtase. E vi o Senhor, que me dizia: ‘ Apressa-te, sai logo de Jerusalém, porque não acolherão o teu testemunho a meu respeito’ Retruquei então: ‘Mas, Senhor, eles sabem que era eu que andava prendendo e vergastando, de sinagoga em sinagoga, os que criam em ti. E quando derramaram o sangue de Estevão, tua testemunha, eu próprio estava presente, apoiando aqueles que o matavam, e guardando suas vestes’. Ele, contudo, me disse: ‘ Vai, porque é para os gentios, para longe, que quero enviar-te’”.[3]

Ainda a terceira narrativa de conversão, encontrada em At 26, 9-18:

Quanto a mim, parecia-me necessário fazer muitas coisas contra o nome de Jesus, o Nazareu. Foi o que fiz em Jerusalém: a muitos dentre os santos, eu mesmo encerrei nas prisões, recebida a autorização dos chefes dos sacerdotes; e, quando eram mortos, eu contribuía com o meu voto. Muitas vezes, percorrendo todas as sinagogas, por meio de torturas, quis forçá-los a blasfemar; e, no excesso do meu furor, cheguei a persegui-los até em cidades estrangeiras. Com esse intuito encaminhei-me a Damasco, com a autoridade e a permissão dos chefes dos sacerdotes. No caminho, pelo meio-dia, eu vi, ó rei, vinda do céu e mais brilhante que o sol, uma luz que circundou a mim e aos que me acompanhavam. Caímos todos por terra, e ouvi uma voz que me falava em língua hebraica: ‘Saul, Saul, por que me persegues? É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão.’ Perguntei: ‘Quem és, Senhor?’ E o Senhor respondeu: ‘Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Mas levanta-te e fica firme em pé, pois, este é o motivo por que te apareci: para constituir-te servo e testemunha da visão na qual me viste e daquelas nas quais ainda te aparecerei. Eu te livrarei do povo e das nações gentias, às quais te envio para lhes abrires os olhos e assim se converterem das trevas à luz, e da autoridade de Satanás para Deus. De tal modo receberão, pela fé em mim, a remissão dos pecados e a herança entre os santificados.[4]

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