A eleição do 45ª presidente americano, o republicano e magnata Donald Trump causou perplexidade. A imprensa e os institutos de pesquisa davam como certa a vitória da candidata democrata Hillary Clinton. Ela sofreu um duro golpe praticamente no final da campanha, quando o FBI anunciou a reabertura das investigações sobre o uso de um servidor particular de e-mails, durante sua gestão como Secretaria de Estados, entre 2009 e 2013, e que sugeriu que a candidata teve a intenção de não compartilhar assuntos de interesse público.
O republicano saiu vencedor, em uma das eleições mais acirradas da história dos Estados Unidos, desde a eleição ocorrida em 1960 entre Kennedy e Nixon, em que o primeiro foi eleito com uma vantagem de 0,1% do voto popular. As eleições de 2000 também foram marcadas por uma grande disputa entre Bush e Al Gore, em que o vencedor Bush ganhou as eleições por uma margem estreita - 271 votos no Colégio Eleitoral ao passo que seu opositor teve 266 votos.
Outro aspecto curioso na eleição americana deste ano é que pela quarta vez na história dos Estados Unidos que o vencedor não teve maioria do voto popular. Trump que nunca teve experiência política anterior surpreendeu a todos. Durante sua campanha, muitas vezes não foi levado a sério por conta das suas declarações polêmicas. O politicamente incorreto se tornou sua marca. Não sabemos confirmar se funcionou apenas como retórica de campanha.
A vitória de Donald Trump, além do fator surpresa, nos remete ao discurso utilizado pelo candidato, com um viés populista, de direita. Após o resultado das eleições, as análises politicas, confirmam o teor populista no jeito de fazer política de Trump. Com um discurso nacionalista, separatista, de resgatar a América para os americanos, ele conseguiu arrebatar a classe média, que olharam para ele como o possível salvador – o messias – com força capaz tirar o país da zona nebulosa em que se encontra. O crescimento econômico não é tão vigoroso, apesar de ainda ser uma das economias mais fortes do mundo.
Um tipo de super-herói a lá Capitão América da Marvel. Então, seria Trump um neopopulista? Sim, possivelmente. Afinal com suas propostas protecionista em que defende a deportação de imigrantes - pois estes retiraram empregos dos americanos - encontra eco em uma parcela da população que desempregada, que tem o sonho americano de que se houver trabalho e vontade de vencer, tudo é possível.

****Em suas propostas há também um ataque as elites. Trump defende que pessoas que ganham até determinado limite US$ 25 mil não paguem imposto sobre a renda. O populismo fenômeno político geralmente associado à América-Latina ressurge com novas configurações e adaptando-se a novos contextos. Como todo conceito, evolui. Temos a velha prática de fazer política mesclada com novos aspectos, com discursos caracterizados por antipolítica, nacionalismo e um estado de negação a integração global.
Na Europa também uma onda populista varre a Espanha, França, Itália, Áustria e Suécia. Na França a ultradireitista Frente Nacional segue tendo sucesso e de acordo com as pesquisas, sua líder, Marine Le Pen, passará ao segundo turno nas eleições presidenciais de 2017. Associa-se a isso a crise das instituições politicas representativas, que não é algo exclusivo do contexto americano. Esta crise também facilita a origem de lideranças caracterizadas como populistas. São lideranças que extrapolam as instituições representativas, por trazerem o que as pessoas acreditam ser sangue novo para a política com discurso salvacionista. Em todo o mundo as demandas sociais tem se avolumado, devido ao aumento complexidade das relações entre o Estado e os mercados. Um Estado que reduz sua influência na condução das politicas sociais e desemparada grande parte da população, gerando o descredito dos eleitores. Por outro lado uma economia globalizada, que aspira por lideranças que transfiram para o âmbito privado setores essenciais. Lideranças que sejam menos rigorosas com questões ambientais e com politicas de proteção ambiental. Para o jornalista americano John Judis e autor do livro “A explosão populista”, a crise financeira que há uma década assolou o mundo, influenciou enormemente na ascensão de lideranças consideradas populistas. A desaceleração e o aumento das desigualdades levaram os eleitores a desacreditarem em seus governantes, para Judis. Ainda na perspectiva do jornalista, o populismo e mais do que uma ideologia, é sobretudo uma lógica política: um confronto entre o povo e a elite em que o líder carismático defende o primeiro contra os alegados abusos da segunda. Trump tipifica apenas a última versão de um fenômeno que sempre emergiu em situações de crise. E agora o que esperar? A imprevisibilidade é a palavra para definirmos o momento atual. Afinal não sabemos será o seu governo, se as propostas feitas serão efetivamente colocadas em prática, ainda mais diante do discurso conciliador e moderado adotado pelo presidente eleito. É precisa se recuperar do impacto causado pela vitória de Donald Trump e aguardar os próximos passos do novo homem mais poderoso do mundo. Sua vitória mexeu com o mercado. No dia 09⁄11 houve a desvalorização das principais bolsas no mundo, desvalorização de moedas como peso mexicano. A bolsa de valores de Tóquio perdeu mais de 5% e, na Europa, os principais índices abriram o dia em forte queda. O índice geral da Bolsa de Valores de Londres, o FTSE-100, por exemplo, abriu em baixa de 2,12%.
Inegável é o fato de que o mundo está em uma onda conservadora muito forte é que preciso urgentemente converter o discurso nacionalista que desconstrói o projeto civilizatório da modernidade fundamentado em conceitos como universalidade, individualidade e autonomia. E adotando a perspectiva do filósofo Sergio Paulo Rouanet, o sufrágio universal, ainda não é capaz de gerar “as transformações sonhadas pelos democratas”. A autonomia política dos eleitores na leitura do autor não é suficiente para uma efetiva transformação dos status quo, pois há a autonomia econômica que é base para ação no espaço público.