A vírgula não foi feita para atrasar a vida de ninguém. Mas os imprudentes, ensina a gramática, devem tomar muito cuidado, pois estão propensos a levar um belo tombo. Quanto a nós, que somos inteligentes o bastante para sacar a importância destas minúsculas pausas, vamo-nos dar muito bem. Até porque nunca iremos abrir mão de criaturinha tão especial, não é mesmo?

 

Faz-se necessário, portanto, virgular tanta coisa que anda dispersa por aí. É um vocativo daqui, é um aposto dacolá. Com um detalhe: tudo devidamente virgulado, visto que a coma constitui um fenômeno mais gramatical do que vocal. E, depois, a regra convence: é preciso separar para unir ainda mais. Afinal, bem pausada, até a vida da gente fica mais agradável, leve e solta.

 

Mesmo porque uma vírgula pode criar heróis: “Isso só, Neco resolve. Isso só Neco resolve”. Ou vilões: “Esse, prefeito, é corrupto. Esse prefeito é corrupto”.

 

Moral da história: quando nós – jornalistas, escritores, poetas, redatores e aprendizes (profissionais ou amadores) de palavras – empregamos corretamente a vírgula, valorizamos as pequenas coisas da vida, como uma lista de compras, um bom dia, dona Maria, e uns meios justificando uns fins.

 

(A. Zarfeg)