A vida do outro

Como quem não quer nada vai tentando saber da vida do outro, enquanto esconde a sua para que dela não saibam, não comentem, não julguem. Imagina poder esquivar-se de quem o espreita.

Opina, questiona, imaginando que o outro não percebe suas intenções, demonstradas através de mensagens não verbais e palavras reticentes. Ponderações éticas não fazem parte de seu dia a dia, inconsciente que é de seu agir curioso e maledicente. Pensa-se certo por ser assim.

Vê a vida alheia com estranhamento. Distorce-a e pensa-se o mais esperto, o mais tudo que o outro.

O não se importar com o que pensam a seu respeito, passa ao longe...  Perguntas o acompanham dia e noite, fazendo com que a raiva, a desconfiança, o julgar-se preterido, façam morada em sua vida. Precisa e quer reconhecimento e valorização e não se dá conta do quão transparente se mostra. Quer ser aquele que se destaca entre todos, fazendo da sua verdade a verdade universal. É o que é e ponto. Não se atem a que seus pequenos sinais o denunciam com mais veemência do que ele imagina.

Está sempre atento a cada palavra dita, para saber a quem ela é direcionada. Que seja ao outro. A ele nunca, pois se julga merecedor de todos os elogios que ao outro não cabem. Isola-se, sem perceber, numa vida que pensa ser sua. Mas que é de todos, pois as palavras uma vez ditas, passam a ser de domínio público e quem as ouve faz dela o que quiser, dando-lhes um significado diferente do que se pretendia.

Mas acontece que existem pessoas que querem o mesmo e assim o que é seu e do outro passa a ser de domínio público. Quer queira ou não. Comenta-se a “boca pequena”.

A vida desnuda que pretendia fosse do outro, deixa a sua vulnerável, quando vista por olhos alheios. Como os meus, que me julgo no direito de pensar sua vida com meus parâmetros, sem me dar conta que nela me projeto.

Ou não?