A velhice se avizinha
As coisas são diferentes
De quando a gente tinha
Na família todos parentes
E se sentia decente

Eu guardava um segredo
Agora não mais guardado
Da velhice tenho medo
Por que os sonhos, já foram sonhados
E os amores, findados

Na velhice não há ilusão
Os amigos já se foram
Só nos sobra à solidão,
Daqueles que nos escolheram
Os laços da amizade já se romperam

Os caminhos tornam-se íngremes
As noites muito mais longas
Tudo que há, a gente teme
Por qualquer motivo, a gente tomba
Uma pequena espoleta
Aos nossos ouvidos estoura como uma bomba

Lágrimas às vezes escorrem pelo rosto
Saídas dos olhos, sem brilho opaco
Claro que não é de alegria é de desgosto
Em um organismo já fraco
Enrugado, pálido, flácido

Aquele sol no horizonte
De tantas idas e vindas
Que pro velho já foi fonte
De vida. Rima. Alegria
Em época de alta estima

Poderia ele, hoje, nesta passagem
Ir diretamente a Deus
Levar minha mensagem
Um pedido meu
Com sua permissão, o meu adeus

Leva-me Senhor
Por que hoje
Esqueceram-me no sol
Ontem na chuva.

Quem restou
Esqueceu minha labuta
Desfizeram dos meus bens
Sou um peso nas costas
Destes filhos de não tão boa conduta.

A velhice pode tardar
Mas vai chegar
Acautele-se
Lute
Fuja
Corra
Faça tudo, tente esconder
Fique velho ou morra
Quiçá pudéssemos escolher.