O assombro das elites coronelistas, do período histórico da Velha República, perpassa, de maneira lamentável, seu legado pela sociedade moderna, realçando, sobretudo, ramificações da violência institucional — dentre as quais encontra-se a corrupção. Tal problemática advém da permanência, ao longo da História, de relações de poder baseadas em uma estrutura social que sustenta esses projetos de corruptibilidade — ironicamente, dentro de um Estado Democrático, cuja legislação pune a prática. Mesmo sendo um entrave sistêmico, contudo, não é inerente ao ser, sendo possível um combate através de um rígido controle social, garantindo mudanças na base moral da sociedade.

   O controle social é responsável pela adequação do comportamento da sociedade às normas sociais vigentes. Por meio da correta e diligente aplicação de seus mecanismos, principalmente na fase de maturação das ideias — como na primeira infância —, evitar-se-ia a lastimável continuidade da corrupção sistêmica neste país. Inegavelmente, trata-se de uma falha na estrutura social: feitos menores, mas ainda corruptíveis, são “normalizados” pela Sociedade Civil; quando alinhados ao poder, vê-se formas nefastas de atuação da corrupção. O modo de como esse mal é banalizado contribui para sua perenidade, que deve ser cessada através do controle social, nos núcleos mais simples de socialização, tais como família e escola, para a promoção de mudança comportamental. É um passo preponderante para a erradicação do legado coronelista no Brasil atual.

   Haverá, como consequência desse viés combativo do controle social às pequenas práticas corruptíveis, mudança na estrutura de pensamento da sociedade brasileira. Uma vez que essa estrutura coordena o comportamento dos indivíduos, é indiscutível que dela provêm lições de moralidade, nada mais que construções sociais que moldam a vivência segundo a conformidade do que é certo ou errado.  A ação de combate, desse modo, provocaria uma reação moral negativa acerca da corrupção banalizada, aquela que está emaranhada no âmago da coletividade, maquiada, por muitas vezes, de “jeitinho brasileiro”. A corrupção endêmica, análoga, segundo a teoria do filósofo Michel Foucault, às relações de poder, está polarizada nas esferas sociais, contribuindo para o seu fortalecimento. Com um bom julgamento moral, é possível extirpar essa patologia social.

   É evidente que a corrupção não é inerente ao ser, já que não está em sua base de constituição enquanto ser, mas é fruto das relações de poder que o permeiam, associadas a um determinado caráter moral. Espera-se que os mecanismos de controle social consigam combater tais práticas, começando pelas ações normalizadas pelo coletivo e, assim, reduzindo, quiçá extirpando, essa endemia. Caso contrário, o terrível fantasma das elites coronelistas continuará assombrando o presente Brasil.