ANA DE SOUSA CELESTINO SILVA SANTOS e NEIDE FIGUEIREDO DE SOUZA.

O binômio cuidar/educar é tratado, no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, como aspecto responsável pelo desenvolvimento integral da criança. Depende tanto dos cuidados relacionais que envolvem a dimensão afetiva, como dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a qualidade da alimentação, e dos cuidados com a saúde, assim como da forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimentos diversificados.

A educação infantil exige que os seus profissionais estejam preparados para o trabalho junto às crianças atribuindo na sua ação pedagógica o binômio cuidar e educar. Apesar de existir todos esses discursos referente a integração do cuidar e educar a criança pequena.

No entanto, não é bem isso que acontece, uma vez que muitos professores infantis acreditam que o cuidado está desvinculado do educar, já que o cuidado revela-se como uma simples atividade que deve ser realizada por profissionais com formação diferenciada (COSTA, 2006, p. 65).

O educar/cuidar faz parte de atividades rotineiras de quem trabalha com crianças pequenas. Essas pequeninas ainda estão desvendando o mundo, tudo é novo para elas, estão conhecendo, estabelecendo relações, construindo suas conjecturas sobre o mundo em que estão inseridos e a presença de um adulto, que os apoie, auxilie, oriente, é fundamental. Porém, fica clara a diferença da preocupação e do encaminhamento das atividades desenvolvidas com crianças de 03 e 04 anos.

Conforme trazido anteriormente por Silva, Pasuch e Silva (2012), que, em cada tempo, as preocupações, as ênfases e os aspectos destacados são outros, alguns podem ganhar ou diminuir de importância diante de outras necessidades que vão surgindo, no decorrer do desenvolvimento das crianças.

Algumas questões ainda são a tônica das rotinas com crianças de 03 e 04 anos, como, por exemplo, ir e vir do banheiro, tomar banho, ir ao bebedouro, alimentar-se, escovar os dentes, dormir, são conquistas que precisam ser adquiridas com a ajuda do adulto, que deve orientar, acompanhar, encorajar, auxiliar.

As ações desenvolvidas durante a alimentação e escovação sugerem que não se restrinjam meramente a ações físicas, a professora, a todo o momento, conversa, as crianças conversam, participam, apesar de terem entre 03 a 04 anos, já vão ao banheiro e voltam sozinhas, vão ao bebedouro, que fica na parte externa, no corredor, vão escovar os dentes seguindo explicitação da professora na sala e com palestras de dentista sobre a escovação (a ajudante fica lá no banheiro para ajudar no enxágue, por serem apenas pias grandes). Assim, também a demarcação das trajetórias a serem seguidas pelas crianças, para irem e virem do banheiro à sala, e também ao bebedouro, podem ter contribuído para que elas se localizassem na escola.

A observação apontou um aspecto importante para o desenvolvimento das crianças, que elas estejam juntas com os seus pares, ainda que não fique explícita a concepção de que as professoras pensem conjuntamente em oferecer experiências significativas, diversificadas e integradoras para todas as crianças. Porém, elas trabalham por Projetos com as colegas de turmas de mesma faixa etária e sinalizam para o entendimento de que a criança precisa ser vista, trabalhada e estar na instituição em sua “inteireza”, ou de forma inteira, ou seja, “não olhar a criança de modo fragmentado” (Silva, Pasuch e Silva, 2012, p.105). A proposta de desenvolver projetos é uma das possibilidades de envolver atividades rotineiras que devem e precisam ser trabalhadas o ano inteiro com crianças pequenas.

É conveniente destacar, também, a importância da ação conjunta que deve haver entre a professora e a apoio, integrando as ações de cuidar/educar que, historicamente, foram gestadas como ações dissociadas, separadas e que merecem atenção em nossas reflexões; uma vez que as crianças não podem ser tratadas de formas compartimentadas. Outro aspecto que precisa ser destacado referem-se aos cuidados com o corpo, unhas, cabelos, piolhos, roupas, nariz, dentes, mastigação, dentre outras, enfim, são ações que necessitam ser trabalhadas com as crianças pequenas; elas precisam de um adulto que lhes ensine a cuidar de si, são, de acordo com Barbosa (2009), “cuidados educativos”.

As ações do cuidado são integradas e trabalhadas na rotina, são atividades pedagógicas, não são atividades dissociadas, separadas, fazem parte das atividades curriculares na Educação Infantil.

As vivências cotidianas são pontos de partida para as práticas significativas, nas quais se respeitem e reconheçam relações que não sejam centradas por relações adultocêntricas, atravessadas de poder; mas que essas relações também sejam entendidas, segundo Barbosa (2009), como relações com a infância, de diferença etária, uma forma de respeito à diversidade.

A Política Nacional de Educação Infantil também vai nessa direção e parte dessa finalidade para estabelecer como uma de suas diretrizes a indissociabilidade entre o cuidado/educação, no atendimento às crianças da Educação Infantil (BRASIL, 2006a). As ações do cuidado com as crianças devem ser pensadas como direito delas, uma necessidade humana ou de fator de humanização (KRAMER, 2003).

Cuidar/educar, nesse sentido, devem caminhar juntos. Refletir sobre o cuidado é ter claro que essas ações não se restringem àquelas atividades e ações meramente motoras, físicas. Com relação à autonomia, ela se desenvolve quando, à criança, são colocadas situações desafiadoras, quando o adulto a encoraja a agir, tomar decisões, participar de sua rotina, aprender a cuidar de seu corpo, uso de banheiro, durante a alimentação, de como vai se dar essa nova caminhada, longe da família, rumo à sua independência.

Porém, percebe-se que somente quando as crianças brincam no pátio, elas são livres para correr, brincar, pular, conversar. Esses são, segundo Benjamin (2009), momentos de “libertação”; momentos em que a criança reorganiza, transforma, reinventa o mundo para satisfazer seus desejos, necessidades e vontades, mesmo que seja nas brincadeiras em espaços restritos, modestos, no tanque de areia, com brinquedos sucateados.

Nas brincadeiras, expressam-se as ações de carinho, cuidado e formas como as crianças são tratadas pelas professoras, e entre elas mesmas.

Pode-se dizer que o brincar é uma maneira pela qual a criança possui de se relacionar com o mundo, ou seja, a criança sempre está em busca de descobrir e de ordenar as situações ao seu redor (PASCHOAL; MACHADO, 2008, p. 53).

De acordo com Maldonado (2003), é por meio das brincadeiras que a criança aprende, exercita suas novas habilidades, percebe (fascinadas) situações novas, dirige medos e angústias, repete o que gosta, explora e pesquisa o que há de novo ao seu redor.

Deste modo, entende-se que é na infância que a criança tem a oportunidade de querer brincar, é nesse momento de sua vida que tem o maior contato com o lúdico, por meio de brincadeiras, de jogos e de brinquedos. Em contato com o lúdico, a criança aprende de forma mais prazerosa, isto é, por meio das brincadeiras, a criança desenvolve muitas habilidades, como: a criatividade e sua capacidade de autonomia.

Segundo Oliveira (2008), o brincar é visto como uma fonte inspiradora para o desenvolvimento e aprendizado infantil, pois, resulta em benefícios fundamentais, como: criatividade, prazer, alegria, espontaneidade, criticidade, autonomia e a busca do conhecimento.

 

é brincando que as crianças constroem conhecimentos e desenvolvem atenção, agilidade, associação, coordenação motora, etc. Ao brincar, as crianças ativam sua imaginação, criam sua própria maneira de brincar, desenvolvem-se sem perceber, o que contribui primordialmente para sua autonomia e personalidade (MANES; BONIN apud PEREIRA, 2009, p. 8).

 

Portanto, o lúdico também é visto como um ato de educar, pois se trata de uma maneira que a criança tem de aprender se divertindo e interagindo mediante a fantasia e o encanto.

De acordo com Dallabona e Mendes (apud PEREIRA 2009, p. 7),

 

o lúdico demonstra sua importância no desenvolvimento infantil e dentro da educação como uma metodologia que possibilita mais vida, prazer e significado ao processo ensino aprendizagem, tendo em vista que é particularmente poderoso para estimular a vida social e o desenvolvimento construtivo da criança.

 

Deste modo, pensando na contribuição que o lúdico tem em relação ao crescimento do ser humano, MALUF (apud PERREIRA, 2009, p. 20) explicita que

 

a busca do saber torna-se importante e prazerosa quando a criança aprende brincando. É possível, através do brincar, formar indivíduos com autonomia, motivados para muitos interesses e capazes de aprender rapidamente. É só acreditar, fazendo do brincar momentos de grandes conquistas!

 

Desta forma, por meio do lúdico, pode-se adquirir conhecimentos e o professor deve estar ciente da importância deste elemento para a vida da criança. Entendendo o brincar como um “ato fundamental, juntamente com outras formas de representação, deve-se considerar o brincar como objeto de interesse tanto das crianças, como dos profissionais envolvidos no processo educacional” (OLIVEIRA, 2008, p. 89).

O que mais desenvolvem em sala, nesse sentido, são atividades que envolvem musicalidade e brincadeiras que não necessitam de materiais mais elaborados, contação de histórias, uso de fantoches e leituras de histórias e, ainda, as atividades e brincadeiras livres ou direcionadas. Lembrando que são atividades importantes para as crianças e seu desenvolvimento, pois exigem o uso da criatividade, tomada de decisões, autonomia, interações, diálogos. Mesmo que sejam atividades que se repetem, são fundamentais, pois estão ligadas à satisfação, possibilidades de organizar seu mundo, suas vidas e rotinas.

A imitação e o faz de conta são características das crianças enquanto brincam; e entender o que elas significam para o desenvolvimento das crianças é muito importante.

Destaca-se que a professora da Educação Infantil representa um dos adultos referência para as crianças, o repertório inicial de suas brincadeiras, que, a princípio, são reproduzidas e depois vivenciadas por meio de um adulto ou seus pares, são incorporadas e, posteriormente, modificadas por elas, recriadas e usadas em outros contextos lúdicos. Sempre partindo do princípio de que uma cultura lúdica maior influencia a constituição da cultura lúdica das crianças, Núnez (2009) acentua que o contexto histórico, social e cultural influencia e são potencializadores da constituição da cultura lúdica pelas crianças. 

REFERÊNCIAS 

KRAMER, S. Direitos da criança e projeto político pedagógico de Educação Infantil. In: BASILIO, L. C., KRAMER, S. Infância, Educação e Direitos Humanos. São Paulo: Cortez, 2000 a, p. 51-82.+

OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002, p. 92-95.

PASCHOAL, Jaqueline Delgado; MACHADO, Maria Cristina Gomes. A História da educação infantil no Brasil: avanços, retrocessos e desafios dessa modalidade educacional. Revista HISTERDBR On-line. Campinas, n.33, p. 78-86, mar. 2009.

PEREIRA, Cristiane Maria. A Importância do Lúdico na Educação Infantil. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia)- Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2009. p. 07-20.

SILVA, A.P.S.da. PASUCH, J. SILVA, J.B.da. Educação Infantil do Campo. 1ª ed. – São Paulo: Cortez, 2012. – (Coleção Docência em formação: Educação infantil / Coordenação Selma Garrido Pimenta).

_____. MEC/SEF. Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: 1998.