Se quisermos analisar a tradição no contexto da religião, e mais especificamente no cristianismo, devemos definir um bom conceito; defino tradição religiosa como todos os elementos anexados ao conteúdo original de um sistema religioso, cujo critério está apoiado, na autoridade humana; elementos estes que são transmitidos de geração em geração, e aceitos pelas pessoas, pelo critério da tradição mesma, não pela sua verdade ou originalidade de sua fonte primária. A tradição em si, não é pecado, mas deve ser evitada ao máximo. Deve ser evitada no sentido de alterar o conteúdo essencial da fonte primária, ou quando adiciona princípios dogmáticos dissociado do sistema original, ou com base muito fraca nele.

O senhor Jesus, quando palmilhou entre nós, e pudemos ver sua glória, condenou com grande veemência a tradição dos fariseus. Os fariseus, nos seus dias, era o grupo, sem dúvida, mais ortodoxo, tanto que o Senhor disse que os judeus deveriam fazer o que mandavam, pois criam diferentemente dos saduceus, na ressurreição dos mortos, e na imortalidade da alma. O grande problema apontado pelo Senhor, não foi a doutrina extraída coerentemente das escrituras, mas suas tradições  humanas; por exemplo, quanto ao sábado, o quarto mandamento do decálogo, os fariseus haviam construído um edifício de preceitos puramente humanos, e exigiam que os homens praticassem ao pé da letra, de forma que o mandamento divino, a muito tempo tinha perdido seu sentido original,  causado pelo conteúdo da tradição. Certa feita, o senhor estava caminhando com seus discípulos, tendo eles fome, debulharam algumas espigas de trigo, fizeram uma pasta e comeram, os fariseus ao verem isto, interpelaram o Senhor dizendo que os discípulos faziam algo contrário a tradição, e qual foi a resposta do Senhor? O senhor disse: “Mas se vós soubésseis o que significa, misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes. Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor”.( Ver Mt. 12.1-8). Outra passagem, se encontra em Mateus 15.1-20, na qual os fariseus criticam os discípulos de Cristo por não lavarem as mãos antes da refeição. Ao que em certa altura do discurso o Senhor diz: “ Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens”. Em que parte da escritura diz não poder comer pão antes de um ritual de purificação? Em parte alguma, foi a tradição que havia criado esta norma, e o pior, a partir dessa norma humana condenava-se inocentes.

O catolicismo, infelizmente caiu no mesmo erro dos fariseus, ao criarem uma série de tradições infundadas e as colocaram ao lado das escrituras, como se tivessem o mesmo valor que o texto sagrado. Que blasfêmia! Assim como os fariseus tinham uma tradição oral, fora das escrituras, e de mesmo peso de autoridade, registradas no que chamam de Talmude, o catolicismo possui sua tradição. Quando um católico é questionado sobre a base sobre a qual ele acredita que Maria era virgem, foi assunta aos céus, e é mediadora dos crentes, para o que apelam? Para a tradição, nunca para as escrituras, pois nas escrituras não há menção alguma, nem de longe, sobre tais dogmas humanos. Poderíamos falar da infalibilidade papal, que é um dogma da tradição católica, segundo o qual em matéria de doutrina o papa é infalível; veja só o círculo vicioso, o papa por ser infalível confirma a tradição, mesmo que seja estúpida e infundada, pelo que também, sua infalibilidade é confirmada pela tradição, que se estriba na autoridade do papa e dos concílios. Não é a toa que estão se aniquilando em escândalos, e caindo em total descrédito pelo mundo ocidental e pelos próprios católicos, cuja causa reside no fato de não terem as escrituras como regra de fé e prática para suas vidas e acreditarem cegamente no “braço do homem”, mesmo as escrituras advertindo:” maldito o homem e confia no homem, e faz  da carne o seu braço”. Não é à toa que a igreja evangélica brasileira crescerá até alcançar 50 % do Brasil até 2020, segundo estudos feitos por sociólogos, pois tem sempre mantido suas portas abertas para os católicos desiludidos com sua religião de homens, para acolhê-los com amor e verdadeira doutrina.

Os cristãos evangélicos também têm de ter vigilância para não enveredar-se por tradições humanas, por exemplo, imagine uma igreja histórica, como a batista, menonita e presbiteriana; possuem-nas uma tradição, e um modo de vida peculiar; em suas reuniões, a ênfase é dada ao estudo da escritura, e a ordem no culto, o que é louvável, mas há certa reticência quanto a manifestações dos dons espirituais, mas por que disso? Ora, se desde o começo de um dado movimento, como um desses citados, a liturgia sempre foi assim, logo o que passa disso, é um grande erro, poder-se-ia pensar assim, não é? Não é este pensamento também uma espécie camisa de força da tradição, impedindo o agir livre de Deus na sua igreja? Se Martinho Lutero nunca falou em línguas na igreja, nem fez nenhuma profecia, o que também não aconteceu nos anos seguintes do movimento, poderá pensar algum ingênuo luterano, que não deve acontecer nos nossos dias. É justamente este apego ao passado, e a tradição, que deve ser também destruída das nossas mentes. Ou poder-se-ia pensar assim: Se até o século XVI havia uma só igreja, e se a igreja representa Deus na terra, logo o movimento protestante não é algo aprovado por Deus, pois a igreja católica não poderia estar errada por mil e quinhentos anos. Porventura não é assim que pensam os católicos? Porventura, não é assim que pensam muitos cristãos tradicionais? Amados, acordemos do nosso sono, e nos convertamos para as escrituras: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformais-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”( Rm. 12.2 ).