Vivemos em uma época que terceirizar tornou-se a palavra da moda e percebe-se, já faz algum tempo, que os pais estão terceirizando a educação dos filhos para escolas e psicoterapeutas. Muitos referem aos psicoterapeutas o que eles têm que dizer para os seus filhos, demonstrando a sua total incapacidade de serem pais.

Cabe aos pais a educação, a transmissão de valores, de limites, de ética e não aos educadores e profissionais da saúde mental. Sempre que me deparo com estas situações, fico pensando o que realmente motivou essas pessoas a terem filhos, pois é notório que não são capazes de gerirem suas vidas, muito menos a de terceiros. Entregam os filhos para que os profissionais tomem conta, resolvam seus problemas, como se esses fossem um objeto entregue em uma loja de conserto e quando estiverem “prontos”, o profissional os chamem para fazer a entrega dos filhos. O mais interessante é que muitas vezes, os pais interferem no tratamento do filho, de forma negativa, cobrando do profissional os resultados.

Muitos pais se sentem incomodados e não atendem a solicitação do psicoterapeuta ou do educador, quando estes os chamam, porque acham muito chato terem que escutarem a fala dos profissionais. O que é perfeitamente compreensível, pois irá validar o sentimento de incompetência que já carregam consigo.

No processo psicoterápico, a presença da família quando solicitada, independente da idade do paciente, deve ser atendida, porque provavelmente o profissional quer saber algo ou informar algo, porém, muitos pais acham que o filho já completou dezoito anos e que não precisam mais interferir na caminhada terapêutica do filho. Agora, quando algo de errado acontece com o filho, são os primeiros a ligar e quererem um horário urgente para conversar com o profissional.

O grande problema deste comportamento das figuras parentais é a consequência que isto vem tendo na vida dos filhos. Nunca tivemos tantos adolescentes fazendo ingesta de álcool como temos tido nos últimos tempos. Muitos fazem esta ingesta na frente de seus genitores, que não contestam o comportamento do filho, mas querem que o profissional o questione, ou seja, transferem a responsabilidade para os outros, atestando sua negligência.

O índice de suicídio de jovens cresce de modo lento, mas constante no Brasil. Pesquisas mostram que a taxa de suicídio na população entre 15 e 29 anos aumentos nos últimos doze anos de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2014, o que significa um aumento de quase dez por cento. Estes números podem ser compreendidos quando escutamos pais dizerem que não invadem a privacidade dos filhos; que preferem que eles bebam na sua frente, do que na rua; que não sabem com quem seus filhos falam na internet e muito menos o que falam; que acreditam que controlam seus filhos pelo celular, pelo whatsap. Esta é uma bela forma de se enganarem, até o momento que algo acontece com o filho e aí se desesperam, buscam culpados, tentam responsabilizar terceiros, quando na realidade os únicos responsáveis são eles, os pais que não tiveram um olhar atento para os filhos, que os negligenciaram; que não tiveram tempo para escutá-los; que não se interessaram em escutar o que os profissionais tinham para lhes dizerem; que não se interessaram em saber com quem seus filhos andavam e por onde andavam.

Muitas coisas podem ser terceirizadas, mas o olhar atento, a educação, os valores éticos e morais, o limite que precisam ser passados para os filhos, estes não podem ser terceirizados.

Portanto, é importante que os pais revejam a maneira como estão criando seus filhos e se for necessário repensar sobre este isto e quiçá até mudar, antes que seja tarde.

Referência:

ESCÓSSIA, Fernanda. Crescimento Constante: taxa de suicídio entre jovens sobe 10% desde 2002. <http://www.bbc.com/portuguese/brasil-3967251> Consultado em 25.06.2017 às 17h50m.