A curiosidade humano sempre esteve voltada para compreensão do que é, essencialmente, ser humano. Nesse sentido voltamos nosso olhar na busca da compreensão do por que pensamos, agimos ou nos comportamos de determinada forma. O psicanalista Erik Erikson desenvolveu a Teoria do Desenvolvimento Psicossocial, explicando por meio da mesma as crises do ego, que constituem estágios de desenvolvimento psicossocial. O presente trabalho apresenta, de forma simplificada, esta teoria. Palavras-chave: crises do ego, Teoria Eriksoniana, desenvolvimento psicossocial. 

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  1. A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DE ERIK ERIKSON

A Teoria do Desenvolvimento Psicossocial foi desenvolvida por Erik Erikson. Nascido na Alemanha em 1902 e faleceu aos 92 anos de idade nos Estados Unidos. É considerado o primeiro psicanalista infantil americano. Tornou-se psicanalista após trabalhar com Anna Freud, porém, em seus estudos, não focou no id e nas motivações conscientes como os demais psicanalistas, mas nas crises do ego no problema da identidade.

Rabello (2001) mostra que a Teoria Eriksoniana do desenvolvimento humano é dividida em oito fases, mas com algumas características peculiares:

·O ego é o foco, ao invés de Freud que focava o id;

·Outras etapas do ciclo vital são estudadas. Freud valorizou a infância e Erikson reconhece o grande valor dessa etapa sem desvalorizar as demais como adolescência, idade adulta e velhice;

·Em cada um dos oito estágios o ego passa por uma crise. O desfecho da crise pode ser positivo (ritualização) ou negativo (ritualismo);

·De um desfecho positivo surge um ego mais forte e estável, enquanto o desfecho negativo gera um ego mais fragilizado;

·Ocorre a reformulação e reestruturação da personalidade após cada crise do ego.

Os estágios supracitados são chamados Estágios Psicossociais e correspondem às oito crises do ego que servem para fortificá-lo ou fragilizá-lo, dependendo do desfecho. Os termos - forte e frágil - utilizados por Rabello (2007) são usados no sentido freudiano.

As crises dão nome aos estágios psicossociais que, segundo RABELLO (2007), são:

1Confiança básica X Desconfiança básica

2Autonomia X Vergonha e Dúvida

3Iniciativa X Culpa

4Diligência X Inferioridade

5Identidade X Confusão de Identidade

6Intimidade X Isolamento

7Generatividade X Estagnação

8Integridade X Desespero

1.1 Confiança básica x Desconfiança básica

Esta fase é análoga à fase oral da Teoria de Freud. Nela o bebê mantém seu primeiro contato social – com seus provedores – que, geralmente é a mãe. Para ele, a mãe é um ser supremo, mágico, aquele que fornece tudo o que ele necessita para estar bem.

Quando a mãe falta, o bebê experimenta o sentimento de esperança. Ele começa a esperar que sua mãe volte e, quando isso ocorre com freqüência, há o desfecho positivo e a Confiança Básica é desenvolvida. Do contrário, se a mãe não retorna ou demora a fazê-lo, o bebê perde a esperança. É o desfecho negativo e o que se desenvolve é Desconfiança Básica.

É necessário, portanto, que os provedores tratem a criança com muita atenção, carinho e paciência para que a confiança, a segurança e o otimismo se consolidem. Sem esses sentimentos, a criança crescerá insegura e desconfiada.

Para Erikson, de acordo com Rabello (2007), o excesso de carinho e cuidado podem ser maléficos pois, a criança visualiza sua mãe como algo muito superior, muito boa, perfeita, algo que jamais poderá ser e, assim, desenvolve a agressividade e desconfiança que, no futuro, se transformam em níveis baixos de competência, entusiasmo e persistência.

A Confiança Básica é importante porque é quando a criança aprende a confiar nos provedores externos e também na sua capacidade interna, em seus órgãos para buscar saciar seus desejos.

1.2 Autonomia x Vergonha e Dúvida

Com o controle de seus músculos a criança inicia a atividade exploratória do seu meio. É neste momento que os pais surgem para ajudar a limitar essa exploração. Há coisas que a criança não deve fazer. Então os pais se utilizam de meios para ensinar a criança a respeitar certas regras sociais. Esta crise culminará na estruturação da autonomia e pode ser comparada à fase anal freudiana.

Os pais fazem uso da vergonha e do encorajamento para dar o nível certo de autonomia à criança enquanto aprendem as regras sociais. Rabello (2007) esclarece que se a criança é exposta a vergonha constante ela pode reagir com o descaramento e a dissimulação e tornar-se um adulto com o sentimento freqüente de vergonha e dúvida sobre suas potencialidades e capacidades.

O sentimento que se desenvolve nesta etapa é a vontade. À medida que suas capacidades físicas e intelectuais se desenvolvem ajudando-a na atividade exploratória, a criança tende a ter vontade de conhecer e explorar ainda mais. Porém, como também começa a assimilar as regras sociais, é necessário cuidado para que a vontade não seja substituída pelo controle.

O controle sobre as regras, que devem ser cumpridas a qualquer preço, é algo ruim. É quando a criança se sente bem ao ver outras pessoas (colegas, por exemplo) serem punidas pelo descumprimento das normas. Ela pode se sentir bem até em ser punida. Neste momento dizemos que a criança está se tornando legalista. (Rabello, 2007).

Rabello (2007) diz que:

"Neste estágio, o principal cuidado que os pais têm que tomar é dar o grau certo de autonomia à criança. Se é exigida demais, ela verá que não consegue da conta e sua auto-estima vai baixar. Se ela é pouco exigida, ela tem a sensação de abandono e de dúvida sobre suas capacidades. Se a criança é amparada ou protegida demais, ela vai se tornar frágil, insegura e envergonhada. Se ela for pouco amparada, ela se sentirá exigida além de suas capacidades. Vemos, portanto, que os pais têm que dar à criança a sensação de autonomia e, ao mesmo tempo, estar sempre por perto, prontos a auxiliá-la nos momentos em que a tarefa estiver além de suas capacidades." (RABELLO, 2007, p. 6).

Quando a criança começar a perceber de onde vem a sua vergonha (pais, objetos, adultos), ela vai evitar expressar-se diante deles. Cabe então às pessoas que convivem com ela explicar carinhosamente o que pode e o que não pode fazer.

1.3 Iniciativa x Culpa

Comparada à fase fálica freudiana, neste período é somada à confiança e à autonomia, adquiridas nas etapas anteriores, a iniciativa. Esta se manifesta quando a criança deseja alcançar uma meta e, planejando sua ação, utiliza-se de suas habilidades motoras e intelectuais para tal.

A iniciativa surge para atingir metas que, muitas vezes, tornam-se fixação. Na Teoria de Freud a principal fixação ocorre neste período. É o Complexo de Édipo, caracterizado pela fixação genital pelo progenitor do sexo oposto. Assim, meninos nutrem verdadeira paixão por suas mães enquanto as meninas identificam-se mais com seus pais. Rabello (2007) esclarece que, para Erikson, assim como para Freud, as metas elaboradas são impossíveis. Então toda a energia despendida em busca de algo socialmente inalcançável é revertida para outras atividades. É nesse período que as crianças ampliam seus contatos, fazem mais amigos, aprendem a ler e escrever... fruto da energia proveniente da iniciativa.

O senso de responsabilidade também pode ser desenvolvido durante esta terceira crise do ego. Nela, a criança sente a necessidade de realizar tarefas e cumprir papéis. Os pais devem dar oportunidade aos filhos para que eles realizem tarefas condizentes com seu nível motor e intelectual. É necessário que a tarefa seja possível de ser cumprida. Outras, como desafio, podem ser mais complexas, porém devem ser realizadas como apoio de alguém.

1.4Diligência X Inferioridade

Quando a criança se torna confiante, autônoma e desenvolve a iniciativa para objetivos imediatos, passa à nova fase do desenvolvimento psicossocial – aquela que na Teoria Freudiana (fase de latência) teve menos destaque – onde a criança aprende mais sobre as normas sociais e o que os adultos valorizam.

Aqui, tarefas realizadas de maneira satisfatória remetem à idéia de perseverança, recompensa a longo prazo e competência no trabalho. O ego está sensível, uma vez que se falhas ocorrerem ou se o grau de exigência for alto, ele voltar a níveis anteriores de desenvolvimento, implantando o sentimento de inferioridade na criança.

Surge o interesse pelas profissões e a criança começa a imitar papéis numa perspectiva imatura, mas em evolução, de futuro. Por isso, pais e professores devem estimular a representação social da criança a fim de valorizar e enriquecer sua personalidade, além de facilitar suas relações sociais.

1.5 Identidade x Confusão de Identidade

A adolescência é o período no qual surge a confusão de identidade. Questões como: O que sou?O que serei? Sou igual a meus pais? são levantadas e, somente quando forem respondidas, terá sido superada esta crise do ego.

O adolescente se influencia facilmente pelas opiniões alheias, isso faz com que ele assuma posições variadas em intervalos de tempo muito curtos. Este estágio pode fazer o ego regredir como forma de fuga ao enfrentamento desta crise. Rabello (2007) diz que, na Teoria Eriksoniana, quanto mais bem vividas as crises anteriores, ou seja, quando a Confiança Básica, a Autonomia, a Iniciativa e a Dilligência têm desfechos positivos, mais fácil se torna a superação da Crise de Identidade.

Lealdade e fidelidade consigo mesmo são características do desfecho positivo desta etapa. Estes sentimentos sinalizam para a estabilização de seus propósitos e para o senso de identidade contínua.

1.6 Intimidade x Isolamento

A identidade está estabilizada, o ego fortalecido e o indivíduo agora aprenderá a conviver com outro ego. As uniões, casamentos, surgem nesta fase. Se as crises anteriores não tiveram desfechos positivos,a pessoa tende ao isolamento como forma de preservar seu ego frágil.

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