Lá em casa em casa vive uma senhora
De um rosto, tão lindo, fechado.
Perguntas-me porque ela está brava,
E então lhe respondo:
- Queres saber?... Mas será que não sabes?
Pois vou lhe dizer:
- Ela não está brava, ela somente usa essa expressão para afugentar as pessoas más e me proteger.
Digo-lhe que não há braveza alguma em seu coração.
Na verdade há angústias.
E você me pergunta quais angústias?
E lhe respondo com aspereza e indignação:
- Como não sabes quais são tais angústias?
- Tu também convives com uma senhora que vive as mesmas angústias que ela.
- A angústia de ter que ir trabalhar todos os dias, sem saber, somente imaginar, as privações e perigos que o filho sofre em casa e na rua.
- A angústia de ao final do dia, mesmo cansada do trabalho, ter ainda que trabalhar em casa.
-A angústia de não ter com quem conversar sobre as privações e humilhações que sofre do mundo.
- Pois o marido doente, as crianças sem entenderem reclamam.
O pior de tudo e mais humilhante é quando os filhos lhe pedem coisas em datas comemorativas.
E ela tem que dizer não.
Um não seco e cheio de emoção.
Eu a admiro.
Quantas vezes, não a vi, dá a sua própria comida só para que os filhos pudessem comer um pouco mais.
Quem sabe o que se passa em seu coração...
Não sei como pode haver gente que fale mal de minha Mãe... Eles não a conhecem como eu.
Eu por muitas vezes também a reneguei...
E qual filho nunca o fez?...
Mas nunca é tarde para o arrependimento.
Por isso Mãe, minha Mãe, eu te peço que me perdoes.
E quero que saibas aquilo que poucas vezes lhe disse...
Que te amo muito, muito, muito...
Perdão!


Solange da Cruz Alves