Fábio A. Jacob*

 O recente acidente com a aeronave A-320 da empresa aérea alemã Germanwings trouxe à lembrança outro acidente aéreo que repercutiu em todo mundo. Em 14 de março de 2014, um Boeing 777 da Malaysia Airlines sumiu após ter decolado de Kuala Lumpur na Malasia, em direção à Pequim, na China. Neste mês, um ano após o sumiço do avião, as autoridades da Malasia anunciaram que apesar de não ter sido encontrado nenhum indício, oficialmente o caso passa a ser tratado como acidente.

No caso do avião da Malasia, aparentemente alguém deliberadamente desviou a aeronave de seu caminho, colocou-a em direção a uma área remota do oceano e aguardou o combustível acabar, fazendo com que ela e seus 239 ocupantes se perdessem, sem deixar sinal.

Com a caixa preta recuperada, o acidente com o avião da Germanwings, acontecido em março, teve seus últimos momentos conhecidos. Segundo indícios, o copiloto Andreas Lubitz trancou-se na cabine e voou a aeronave em direção aos Alpes franceses. Todos os 150 ocupantes morreram no acidente, inclusive o Capitão da aeronave, que tentou retornar para a cabine, mas foi impedido pelo trancamento da porta.

Os dois acidentes revelam os riscos que envolvem uma atividade tida como de alta segurança. Mesmo se utilizando de equipamentos tecnológicos de última geração, sistemas duplicados de segurança e alarmes de todo tipo, as aeronaves ainda são passíveis de falhas. São realmente máquinas maravilhosas, que evoluíram de forma incrível desde sua invenção há um século, mas ainda são máquinas.

No entanto, não são as aeronaves as principais causadoras dos acidentes aeronáuticos: são as pessoas. Mas por que a intervenção humana tem causado tantos acidentes se o investimento em treinamento é enorme? Serão as máquinas muito avançadas para o controle dos pilotos? Há excesso de carga de trabalho? O estresse da vida moderna está afetando o desempenho das tripulações?

Estas questões não são simples de serem resolvidas, mas as respostas podem incluir fatores conhecidos. A cada instante, milhares de aeronaves estão em voo em todo globo, envolvendo ampla infraestrutura. Além disso, nem sempre as condições de trabalho das tripulações são as ideais, penalizando horas de descanso. Mesmo assim, as estatísticas indicam a aviação como meio de transporte mais seguro.

Em nosso dia a dia cometemos erros, mas os resultados podem ser prejuízos para nós mesmos ou afetar um pequeno número de pessoas. Por outro lado, há profissionais com um grande número de vidas sob sua responsabilidade, sem a possibilidade de falhar. Comandantes de aeronaves, de grandes embarcações, maquinistas e mesmo motoristas de ônibus precisam de algo mais. Além do treinamento, devem ter acompanhamento médico e psicológico constante, pois seu erro pode se reverter em tragédia.

Nos dois acidentes aéreos, o fator humano parece ter tido peso decisivo. Assim, é fundamental que haja acompanhamento médico das tripulações. Se não é possível evitar completamente o erro humano, nem seu eventual comportamento insano, deve-se procurar reduzir ao máximo estes eventos trágicos, ao ponto que estejam descritos apenas nos livros de história e não mais nos jornais.

* Fábio Augusto Jacob é coordenador e professor da Academia de Ciências Aeronáuticas Positivo (ACAP) do Centro Tecnológico Positivo e Oficial-Aviador aposentado da Força Aérea Brasileira.