Revelação do mal


Um pingo sequer de água espelha o infinito e o nada junto.
Somos iguais na mais ultima divina afinidade.
Na mais ínfima centelha alojada no coração.
Na mais preciosa e absoluta qualidade.
Somos os únicos filhos de tal divindade.

Opostos um ao outro, Eu desejo, ele me dá.
Duas forças primordiais e Eu no meio.
Eu recebo, ele me serve, até o ponto restringido.
Até que finalmente estamos por nossa conta.

Por um instante agora estamos divididos.
Em, Eu, Você e os outros.
E só basta isto para sermos os nossos maiores inimigos.
Eu te odeio tanto que não tem nem como ter duvidas.
E percebo o mesmo vindo de você mesmo que não saiba.
Todas as guerras do passado do presente e do futuro.
Foram, é, e serão lutadas em nosso nome.
Essa é força do ódio e de tudo mais que disto advem.

Contra toda nossa infortunada vontade temos que nos unir.
Essa é a solução que foi revelada.

Não parece a mais obvia?
Achamos que estava tudo resolvido.
Medirmos os nossos egos pela força do ódio.
Estamos sendo informados que temos de fazermos o contrario.
Unirmos mesmo com todo esse fervoroso ódio.
Pegar todo esse mal e usa-lo como se fosse a única saída.
Usa-lo como ele nos usa para mantermos alerta um contra o outro.
Se pudermos medir a força que vem do ódio o que teríamos?
Podemos vigiá-lo, surpreende-lo e vence-lo?


O ódio ferve esquentando o sangue vil do coração de pedra.
Há um passo do não retorno no absoluto obscuro da ira.
No lado sombrio de uma versão perversa de si mesmo.
Onde a sombra perpassa momentaneamente a luz.
Te encerra no casulo da morte do outro da vida.
Te curva diante de uma mesquinha vontade.
Tudo pode acontecer e vai seguindo a risca o pedido.
Manifesta-se prontamente sem nenhuma cerimônia.
Assume e controla tudo, cada ato, dita o começo meio e fim.
Cada passo, cada lamento, cada respiro.
Faz-te absoleto e anula a tua vontade.
Faz-te passageiro numa arriscada viajem sem destino definido.
É o que sobrou boiando na superfície da nossa realidade.
Vontades e desejos insatisfatórios, arrogância e descaso.
Ignorância total de nossa própria essência.
Que nos empurra, nos sufoca, nos aterroriza.
Que joga o tempo todo com todos e com tudo.
Cada passo do caminho se transmuta em um diferente monstro.
Enquanto nos agarramos nos resquícios ínfimos de sanidade.
Tentamos em vão desvendar todos esses mistérios.
Quem ou que sou Eu? Quem ou o que me criou e por quê?

A pergunta é básica e imatura?
Nada é básico e imaturo com a intenção certa.
O que é a intenção então?
A intenção não nasce do nada.
Nasce da vontade de atingir o verdadeiro ser.

A essência de sua essência que nada mais é que puro desejo.
Desejo de receber o que emana de uma fonte oculta.
E nem isso muitos poucos sabem de onde tal fonte jorra.
E todas as suas paranóias têm aí suas raízes fundadas.
Acham que se refestelando acumula de alguma forma.
Que lhe prendendo em seus cérebros alcançam o seu propósito.
Que lhe venerando conquista os seus segredos ilimitados.
Que lhe profanando lhe desperta para a batalha.
Que lhe ignorando ela vai chamar.
Que lhe odiando ela prestará atenção aos seus rancores mimados.

O desejo é somente um, mas cria infinitas maneiras de querer.
E eis o tempo que nada mais preenche tal desejo insaciável.

Sabendo o que se verdadeiramente é a busca termina.
E aí que se começa a usar a sua força em prol de si mesmo.

Tudo que for e esta além do ninho providencial do ego.
O ego é exaurível, mas a intenção permanece após a sua extinção.
A intenção de existir contra toda a parafernália que rodeia o ser.
A intenção de unir forças com a força semelhante ou similar a sua.
A intenção de alcançar a intenção da intenção ultima da criação.
O primeiro e ultimo ato de toda a manifestação totalmente intencionada.
Que inevitavelmente tem que ser revelada e como depende somente da criação.
De montar o quebra cabeça que vai dar exatamente a imagem do principio ao fim.

Tudo borbulhando prestes a explodir e mergulhar no caos.
Quer mais uma palavra reconfortadora?
O que de pior que nos acontecer ainda é o melhor e o mais certo.
O que fizer para esconder a dor o engano e o desapontamento...
Não vai adiantar, não mais agora, não existe solução a negociar.
O tempo acabou e tudo começa a se desmanchar, a partir de si mesmo.
O nosso mundo criado a partir de nós mesmos começa a se desintegrar.
Partes por partes, atônitos não conseguimos acreditar no que presenciamos.
Começou quase que sem querer, mas tomou proporções monumentais.
Como um gigante tsunami que veio do nada engolfa tudo e nada fica de pé.
Como a natureza, vinda do interior a nossa se precipita de dentro para fora.
Apagando tudo tal qual a morte corpórea, é a morte interna que acorda.
Deixando de sobreaviso a mente que reina na superficialidade.
Do cotidiano Eu que se reafirma a cada segundo devorando tudo a sua volta.
Ao demoníaco ego que se apropria da centelha herdada divina e a escraviza.
Aos amontoados de seres que labutam como escravos na babilônia moderna.
Ninguém está salvo das correntes e elos e genes e propriedades.
Da devassa força que nivela tudo até ao absoluto nada.
Da marcha que não pára sem querer saber do gênio ou do medíocre sua opinião.
Dos milhões de lamentos que ecoam no ar, cínicos, inteligentes ou modernos.
Desesperados, confusos, ameaçadores, simplórios, infantis, esperançosos e confiantes.
Nada vai parar esta vontade que vem de onde não conseguimos nem cogitar, alcançar.
Estamos fadados a ver, poupar, fundir, ultrapassar, ir além dos caminhos que se abrem.

De uma aparente realidade o todo pode ser revelado.
Revelado na efêmera realidade da matéria.
Entre, fora e dentro dos seres.
O todo vai aparecer do nada.
De onde tudo começou até a aparente realidade.

A cara do infinito e tudo mais, mas isso é outra historia.
Por quanto mesmo sorvemos do mais doce fel.

Mire no olho algo que desconhece.

Em tudo que vê, vê agora a mesma coisa help me!
O céu azul já não fica mais azul.
E quando fica ninguém olha para cima.
Todos curvam reverencia de vermes.
Verme reverenciando verme = verme feliz.
Os olhos nada enxergam além.
Limitadamente quase cego tateia em volta.
O precipício espreita com a boca arreganhada.
E a voz da morte se faz ouvida.
As nuvens parecem já não estarem mais vivas.
Os pássaros despencam do céu.
A natureza chora e embrutece.
E os peixes já não querem mais viver nos rios e mares.
Tudo parece fora de ordem e estranho.
O que pensava que era amor é pura dor.

O improvável penetra o louvável.

Mãe atira seu recém nascido filho no esgoto.
Pai abusa de filha e culpa a cachaça.
Dá na primeira pagina do jornal, mas nada mais choca.
Apesar de não parecer nada mais transpõe a carapaça.
Morte, velório, enterro, cemitério tudo parece mais um enredo.
Enquanto a morte ávida ceifa milhares em uma só foiçada.
O macabro, o inacreditável, o impensável e o inimaginável.
Tudo agora soa normal e queremos mais e mais e mais.
No fundo queremos que tudo acabe estamos enojados.
De toda essa farsa, existência psicótica, alienação e entrega.
Saciados de tanta insanidade, enfastiados de nós mesmos.
Por não achar o remédio que cura a si mesmo.
De todos os fantasmas criados esse é o mais perigoso.
O que acredita que acredita na dita e cuja verdade da vida.
Essa vida moderna e seus afazeres exóticos.
Todos compenetrados em fazer o seu papel direitinho.
Cumprir os horários seguir a cartilha dos normais.
Dos serenos e cultos, inteligentes e sentimentais.

Queremos entrar em uma caverna e dormir para sempre.
Mas algo nos diz que não vai ser por aí.
Não tão fácil assim meu caro amigo.
Querer desaparecer depois de tudo?
Ser engolido nas trevas de si mesmo.
No limbo viscoso, rançoso do escuro.
Voltar ao nada, nada vezes nada igual a nada?
Matemática profana e sagrada?
É! Mas é a mais pura visão dos dias que passam.

Um aviso: aproveite enquanto pode, tudo pode mudar rapidamente.
Sopra ao contrario para uns e a favor para outros por mais estranho que pareça.
Podem parecer duas medidas, mas o que é realmente é a expressão da individualidade do uno.

Espezinhando-te como se pisa uvas no tacho.

Em fragmentos diminutos de um ego fraturado.
Enquanto ecoas sinistros urros de contrariedade.
Rangidos de uma velha barcaça à beira do naufrágio.

Sementes quase invisíveis, mas mortíferas e letais.
Que quando vem à tona revela toda a sua dor oculta.
Em erupção descontrolada todo o mal é ejetado de dentro para fora.
Deixando um vazio pesaroso e inconfortável ao seu redor.

Queimando por dentro e por fora para iluminar as trevas da existência.
Sem opção de se redimir muitos desconhecem a versão real dos fatos.
Não entendem que mesmo achando que estão certos nada podem mudar.
Estão destinados a fracassarem para renascerem de novo e poder mudar.
Como a forma de desejo indesejado, para se rejeitar, excluir o ego.

Do seu posto avançado vigia as massas.
Vigia-te singularmente, no seu mais privado momento.
Acompanha-te sem parar de interferir.
Ainda está em tempo de descobrir, ou melhor, descobri-lo fazendo o seu jogo.

Ninguém pode estar certo o tempo todo o erro é necessário.

E das trevas que se admira a luz.
É acorrentado que a liberdade lhe é cara.
É vazio que percebe o preenchimento que não veio.
É vazio que se anseia por ser preenchido.
É estagnado que percebe o movimento.
É estagnado no desejo de receber que finge que quer doar.
E fingindo que chama a atenção para si mesmo para o outro lado.
É se achando pronto que se vê numa armadilha.
E descobre que não tem para onde ir.
É da mais superficial dor que se depara com a mais profunda.
E a mais profunda constatação de sua inutilidade.
É quando daí surge algo do nada da mais profunda qualidade e doa.
O mais preparado ser carnal é apenas um bebê na escola do infinito.
O mais despreparado ser também é um bebê nos degraus do infinito.
Do mais ignorante ao mais sábio todos terão a sua vez de provar que pode.
De se corrigir, assimilar a verdadeira qualidade do criador.

Ninguém pode interferir no que está traçado.

Atordoado, intrigado com tal desfecho que veio ao avesso sempre inesperado?

Depois de tudo de tudo vivido acha difícil não errar.
Mas dado o salto só resta avaliar o tamanho do abismo.
No vazio se encontra frágil e fora de controle.
Recluso e escravo de uma força desconhecida.
Quase extinto, encurralado em si mesmo.
Sendo arrastado inconsciente, Sonâmbulo assustado.

Capturado vivo.

Acorda do sonho petrificado.
Porque este é feito com base na sua realidade.
Que agora se confunde com o sonho.

E em Mínimos detalhes a imagem se desfaz.

Veja! Em meus olhos o terror de te ver.
Veja! Em meus olhos o terror de não te ver.
Vejo o que não podemos entender.
Sinto o que sentimos quando opostos.
Colocados juntos se definhando.
Amarrado juntos afundando.
A conta gotas.
Quanto tempo leva para esquecer?
Leve o tempo que levar.
Não há nada a fazer.


Justamente no mesmo ponto de ebulição
O outro extremo da mesma escuridão...

08-03-2011

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