A REPRESENTAÇÃO DO FEMININO NA SUBJETIVIDADE COMTEMPORÂNEA

                                                     Alec Morone Gonçalves Souza Felipe

                                                                      Orientador: Wellington Luis Cardoso Bessa

RESUMO

Este artigo tem a propostar de realizar uma análise sobre a construção do subjetivo feminino durante a passagem de tempo da humanidade até a contemporaneidade, no pressuposto de entender as mudanças que ocorreram na constituição da mulher e na sua contrução de sua identidade e subjetividade sob a visão da psicanálise.

Após se entender como a subjetividade feminina foi construída e moldada pelos costumes das sociedades ocidentais, é feita uma análise em comparação com uma série espanhola chamada “As Telefonistas” que é ambientada nos anos de 1920, retratando a trajetória de mulheres para dentro do mercado de trabalho e sua luta por independência em seus primeiros movimentos feministas. O artigo fez uma assimilação com a teoria e a série, buscando fazer uma discussão entre ambas as partes e entender os problemas que a mulher enfrentou para conseguir sua independência e como estas lutas e mudanças de paradigmas afetaram diretamente como a subjetividade das mulheres começaram a serem moldadas, utilizando alguns elementos da série para embasar esta pesquisa.

Palavras-chave: Subjetividade; psicanálise; feminismo; contemporaneidade.

ABSTRACT

This article has the proposal to accomplish an analyze about the construction of feminine subjectivity during the passage of time for humanity until the contemporary, in presupposition to understand the changes that happened in the constitution of women and in your construction of identity and subjective under the vision of psychoanalyses.

After understanding how the feminine subjectivity was constructed and molded by the costumes of western society, an analysis is made in comparation with a Spanish TV series called “As Telefonistas” set on the 1920s, portraying the journey of women to labor market and your fight for independence ins yours first feminist movements. The article made an assimilation whit the theory and TV series, seeking to do an discussion between the two parts to understand the problems that women has facing to get your independence and how theses fights and changes of paradigms directly how the subjectivity of women starts to being mold, using elements of the TV series to base the research.

Keywords: Subjectivity; psychoanalysis; feminism; contemporaneity.

RESUMEN

Este artículo propone realizar un análisis sobre la construcción de lo subjetivo femenino durante el paso del tiempo desde la humanidad hasta los tiempos contemporáneos, bajo el supuesto de comprender los cambios que ocurrieron en la constitución de las mujeres y en su construcción de su identidad y subjetividad bajo la visión. del psicoanálisis.

Después de comprender cómo la subjetividad femenina fue construida y moldeada por las costumbres de las sociedades occidentales, se realiza un análisis en comparación con una serie española llamada "As Telefonistas" que se desarrolla en la década de 1920, que retrata la trayectoria de las mujeres en el mercado laboral. trabajo y su lucha por la independencia en sus primeros movimientos feministas. El artículo hizo una asimilación con la teoría y la serie, buscando hacer una discusión entre ambas partes y comprender los problemas que enfrentaba la mujer para lograr su independencia y cómo estas luchas y cambios de paradigma afectaron directamente cómo la subjetividad de las mujeres comenzó a ser moldeado, utilizando algunos elementos de la serie para apoyar esta investigación.

Palabras clave: subjetividad; psicoanálisis; feminismo; contemporaneidade.

RÉSUMÉ

Cet article propose de mener une analyse sur la construction du subjectif féminin au cours du passage du temps de l'humanité à l'époque contemporaine, sous l'hypothèse de comprendre les changements intervenus dans la constitution des femmes et dans leur construction de leur identité et de leur subjectivité sous la vision de la psychanalyse.

Après avoir compris comment la subjectivité féminine a été construite et façonnée par les coutumes des sociétés occidentales, une analyse est effectuée en comparaison avec une série espagnole intitulée «As Telefonistas» qui se déroule dans les années 1920, décrivant la trajectoire des femmes sur le marché du travail. travail et leur lutte pour l'indépendance dans leurs premiers mouvements féministes. L'article assimilé à la théorie et à la série, cherchant à faire une discussion entre les deux parties et à comprendre les problèmes rencontrés par les femmes pour atteindre leur indépendance et comment ces luttes et changements de paradigme ont directement affecté la façon dont la subjectivité des femmes a commencé à être moulé, en utilisant certains éléments de la série pour soutenir cette recherche.

Mots-clés: subjectivité; psychanalyse; féminisme; contemporanéité.

  1. Introdução

Sabe-se que hoje as mulheres estão cada vez mais independentes e passaram a exercer grandes e notórios papéis na sociedade. A visão que temos hoje e a representação feminina contemporânea são diferentes de alguns anos atrás. Nestes termos, coloca-se o questionamento: como é o processo de construção da subjetividade feminina contemporânea?

A Subjetividade é entendida pela Psicanalise como a realidade psíquica, emocional e cognitiva do ser humano. Sendo assim, para Vieira (2005), a alteração global não fica restrita somente ao externo, ela também influencia aspectos da intimidade do sujeito e consequentemente muda vidas e o modo de ser de cada um. Como consequência dessas modificações, as relações sociais transformam-se em sua essência, o que acarreta em dificuldades para a definição identitária em geral e, principalmente para o gênero feminino, pois mesmo que as identidades estejam sempre em construção e em um processo muito rápido, ainda fica um descompasso em relação a essa mudança em conjunto com a evolução global, que dificulta a construção identitária da mulher da pós- modernidade. Por isso é possível falar de mudanças na subjetividade feminina contemporânea.

Sendo assim este estudo está direcionado objetivamente a estudar e compreender a história do feminino, observando seu impacto na atualidade. Propondo como objetivos específicos: analisar a história do feminino, assim como observar elementos contemporâneos que demonstrem a constituição da subjetividade feminina na atualidade e com isso identificar alguns conceitos ligados à feminilidade.

Para tal buscamos explicar a história do feminino, abordando os papéis sociais que essas mulheres ocupavam antigamente e a partir disso relacioná-los com a atualidade descrevendo o que mudou e o que ainda sofre influências do passado. Posteriormente foi abordado o Feminismo[1] a partir do referencial psicanalítico. Buscamos também trazer alguns conceitos psicanalíticos ligados à subjetividade feminina, como a histeria e por fim trazer explicações do que é contemporaneidade e como ela afeta a subjetividade feminina.

Tomou-se como objeto de estudo uma série espanhola chamada As Telefonistas, ambientada nos anos de 1929 e que retrata como se constituía a subjetividade feminilidade nos anos 20. Ela aborda as relações de poder estabelecidas entre homens e mulheres, o modo como às mulheres eram tratadas em uma época com características machistas[2] e autoritárias, ou seja, os homens tinham poder sobre tudo e influenciavam a sociedade na tentativa de manter esse poder entre eles. [3]Ela expõe também a entrada da mulher no mercado de trabalho e as dificuldades relacionadas a essa questão, assim como mostra detalhadamente o surgimento de revoluções que hoje são conhecidos como movimentos feministas.

É uma série rica em informações para que se entenda como foi à constituição da subjetividade feminina nesse período característico da modernidade e o processo histórico que proporcionou às mulheres construírem seu espaço na sociedade atual bem como a luta para que homens e mulheres tenham os mesmos direitos e poderes.

A partir da análise dessa série será possível comparar com elementos contemporâneos característicos da subjetividade feminina, aqui chamada de pós- modernidade. Para Giddens (1991) citado por Borges (2009), a pós-modernidade se caracteriza no estilo, costume de vida ou organização social que surgiram na Europa, a partir do século XVII, e que foram se tornando mundiais. Porém o autor afirma que em vez de estarmos entrando na pós-modernidade, estamos em um período em que as consequências dessa modernidade estão cada vez mais se tornando radicalizadas e universalizadas (Borges, 2009).

Para Pinto (1999, p. 77) citado por Guerra (2001, p.86) “na pesquisa psicanalítica há uma postura de abrir o poder do significante até um ponto em que sua maestria possa ser ao menos vislumbrada. ” Ou seja, trata-se de levar o efeito do significante ao seu extremo, ao ponto no qual um obstáculo ao saber possa ser entrevisto, uma questão possa ser formulada, provocando deslocamentos nos efeitos de verdade que as afirmações teóricas produzem no exercício de sua maestria. A verdade, nesse contexto, estaria na questão e não na resposta (Guerra, 2001, p.86).

Esse trabalho utiliza-se de uma pesquisa documental. Segundo Gil (2008):

A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. (Gil, 2008, p.51).

 

Sendo assim, essa pesquisa tem como primeiro passo a exploração de fontes documentais. Utiliza-se por um lado documentos de primeira mão, tais como: reportagens de jornal, cartas, filmes, fotografias, séries etc. e por outro lado documentos de segunda mão, tais como: relatórios de pesquisa, tabelas estatísticas, relatórios de empresa etc. (GIL, 2008).

A amostra desta pesquisa é composta por uma série de televisão espanhola de drama e romance. Ela pode ser localizada no site eletrônico https://www.netflix.com pois, é considerado uma plataforma de filmes e séries mais acessada do Brasil. A série As Telefonistas possui três temporadas de oito episódios cada, contendo de 40 a 64 minutos cada episódio. Sendo a primeira temporada produzida e apresentada em 2017, uma criação de Ramón Campos, Gema R. Neira

Inicialmente foi acessado o site https://www.netflix.com, sendo que o mesmo oferece uma diversidade de séries. Foi realizada uma busca, dentro do site, apenas de séries que abordassem um contexto em que as mulheres eram vistas socialmente inferiores aos homens e também um cenário que houvesse a luta dessas mulheres para construir seu espaço na sociedade atual, pois, está pesquisa buscou descrever a subjetividade feminina na contemporaneidade fazendo uma ligação com os elementos históricos que constituíram a mesma.

Uma vez selecionada, a mesma foi assistida pelos pesquisadores separadamente buscando-se apreender diferentes pontos de vista sobre o tema.

A série escolhida será analisada a partir do referencial teórico que foi utilizado para construção deste trabalho. Todos os episódios serão assistidos de forma exaustiva e analisados de forma qualitativa através dos conceitos da metapsicologia freudiana.

Pela lógica freudiana, os restos deixados como traços 'sucessivamente' (ou superpostos) seriam os elementos estruturais sobre os quais um discurso se organizaria. Assim, aplicando a proposta teórica de Freud à idéia de análise de um discurso no campo científico, poderíamos conjeturar, possibilitados por esse método, que o processo metodológico de análise inevitavelmente, e por conta dessa questão estrutural, permitiria mapear esses pontos nodais do discurso, construindo uma rede subjacente de sentido (Guerra, 2000, p. 145).

 

Para Pinto (1999b, p. 77) citado por Guerra (2001, p.86) “a pesquisa psicanalítica há uma postura de abrir o poder do significante até um ponto em que sua maestria possa ser ao menos vislumbrada.” Ou seja, trata-se de levar o efeito do significante ao seu extremo, ao ponto no qual um obstáculo ao saber possa ser entrevisto, uma questão possa ser formulada, provocando deslocamentos nos efeitos de verdade que as afirmações teóricas produzem no exercício de sua maestria. A verdade, nesse contexto, estaria na questão e não na resposta (Guerra, 2001, p.86).

Tomamos como interesse pessoal entender como é vista essa subjetividade feminina hoje e como o passado pode influenciar em algumas questões que podem ser observadas atualmente, como o machismo.Tendo uma visão mais ampla desse assunto, poderíamos entender como justificativa social as mudanças e influências da representação do feminino na subjetividade contemporânea e criar situações propícias para a estruturação de umpensamento mais amplo e igualitário, priorizando o entendimento histórico e como ele pode influenciar na subjetividade feminina atual.

Como justificativa científica, esta pesquisa tem como objetivo ampliar, compreender e analisar sobre a representação da subjetividade feminina na atualidade, sendo assim, tem como fundamento auxiliar cientistas em suas pesquisas e/ou trabalhos científicos.

 

 

 

2.A REPRESENTAÇÃO DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE FEMININA CONTEMPORÂNEA

 

2.1A história do feminino

Segundo Nunes (2000) a mulher durante o século XIX e a partir dos discursos médicos enfrentava a construção de duas imagens, sendo que a primeira se baseava na ideia de casamento e esfera doméstica, em que ela era um ser frágil, sensível e dependente, um modelo de mulher passiva e assexuada. E a segunda imagem tinha a ideia de uma mulher portadora de uma organização física e moral de fácil degeneração. Diante disso, qualquer comportamento feminino que fugisse do ideal de esposa e mãe seria patologizado e denominado como algo antinatural e antissocial. Sendo assim, a mulher era vista como alguém que não tinha condições de manter seus pensamentos e sentimentos sob controle. A partir dessa visão, elas eram julgadas como criminosas, prostitutas, loucas, ninfomaníacas e histéricas.

Durante toda a Idade Média, a mulher era vista como ameaçadora. Isso acontece a partir da crença que era universalmente aceita, a qual diz que elas têm a inferioridade inerente e insuperável, em que a mulher é herdeira da Eva, fonte do Pecado Original e instrumento do diabo. Com isso ela era considerada inferior, pois foi criada da costela de Adão e diabólica por ter se rendido a serpente. Os padres dessa época diziam que as mulheres eram propensas a luxuria e aos excessos sexuais. (Nunes,2000).

De acordo com Nunes (2000) durante o século XIX as mulheres ganham uma representação da Madona com o Menino Jesus, representando o que há de mais glorioso, elevado e santo na feminilidade. O papa Pio IX em 1854 proclama o dogma da Imaculada Conceição em que ocorre a glorificação da Virgem e o sucesso do Sagrado Coração nas escolas para meninas. A partir disso, as mulheres que se tornarem mãe serão então comparadas a uma santa, como Maria, que dedica toda sua vida ao filho. A maternidade passa a ser uma função sagrada da mulher.

O cristianismo desarticulou os registros do prazer e da reprodução, considerando o primeiro como da ordem do pecado. Constituiu-se, assim, a diabolização do desejo feminino, que poderia desviar as mulheres da existência casta e do caminho virtuoso da maternidade. Enfim, na ética cristã a relação sexual só seria permitida e reconhecida com fins reprodutivos, devendo ser silenciada qualquer dimensão de gozo no corpo feminino. (Birman, 2001, p. 64-65).

Birman (2001) diz que no século XIX houve uma grande expansão da prática da prostituição. Nesses espaços os homens poderiam satisfazer seus desejos eróticos, o que não era possível totalmente no casamento. Mas a prostituição era muito regulada pelo Estado, pelos instrumentos da medicina social, para que isso não colocasse em risco a reprodução da família. Assim, somente em alguns quarteirões e bairros essa pratica era permitida. A partir disso, esses lugares passaram a ser amaldiçoados e proibidos pela sociedade, representando sempre a desordem, presença do mal emorte.

Ao longo da Idade Média, se tinha a crença na possessão pelo demônio e espíritos, envolvendo a bruxaria. As mulheres que eram tomadas pelo desejo e as que contrariavam as obrigações familiares eram julgadas por terem algum pacto com o diabo. Por isso, eram queimadas vivas em praça pública nas fogueiras da virtude, tal pratica tinha a intenção de fazer com que as outras mulheres não seguissem o mal exemplo. (Birman, 2001).

No domínio científico, a ideia da existência de um desejo de submissão inato nas mulheres e de que elas seriam dotadas de maior capacidade de sacrifício ganha cada vez mais adeptos. Para Michelet apud Nunes (2000), o desejo de ser dominada está inscrito na natureza feminina. Ela sentirá prazer tendo um homem forte no qual poderá apoiar sua fragilidade, em ter para si um marido em quem se apóie confiante. Sob essa condição, de bom grado, ele será seu senhor e ela uma esposa obediente, “sentindo prazer na obediência, a qual quando se ama é volúpia”. Para o autor, é aí que se inscreveria o prazer feminino, devendo a mulher obtê-lo por meio dessa dominação. (Nunes, 2000, p.78).

Nunes (2000) explica que para a medicina oitocentista o marido é o senhor supremo da mulher, a qual cumpre o papel de escrava satisfeita que encontra nisso uma fonte de prazer. A mulher deve se submeter feliz e passivamente ao casamento. O ideal materno entra como uma possibilidade da condição de sacrifício e submissão. A prova disso seria a destinação natural de maternidade, que no século XVIII é entendida como algo que traz felicidade, mas que também implica dores e sofrimentos.

As mulheres que não seguiam esse ideal de esposa e mãe eram duramente criticadas, como aquelas que não cuidam bem do filho, de má índole, egoístas, negligentes, que se preocupavam mais com os prazeres da vida mundana, sejam porque abandonam seus filhos em nome do trabalho ou de uma atividade intelectual. (Nunes, 2000).

Ainda sobre Nunes (2000), nesse século XIX começa a intensa medicalização do corpo feminino que acontece devido à expansão dos estudos da diferença entre os sexos. A partir disso, inicia-se a análise dos ossos, pele, músculos, cérebro e órgãos de modo geral, a intenção nessas analises são de apontar diferenças emocionais, nervosas e morais, diferenças que irão adquirir caráter patológico. Os discursos psiquiátricos irão patologizar aquelas mulheres que não estejam voltadas ao casamento e a reprodução.

Pode-se perceber através dos apontamentos teóricos de alguns autores, que a mulher esteve condenada ao espaço privado, e se situar no espaço público acarretaria encarnar o estigma imoral, pois, não se enxergavam na mulher outra função a não ser aquela exercida dentro do lar. Sendo assim, o gênero é entendido como constituinte do sujeito, o que supera a ideia de mero desempenho de papéis femininos ou masculinos (Strey, Cabeda & Prehn, 2004).

Em relação ao masoquismo feminino, no final desse século XIX isso passa a ser um problema e ameaça a transmissão dos bens e a honra familiar. As mulheres que iriam se entregar a esse masoquismo seriam consideradas perigosas porque avançariam atrás de uma busca desenfreada pelo prazer, o que levariam elas a abandonar suas obrigações domésticas, destinando sua vida aos vícios perturbadores da harmonia familiar e social. (Nunes, 2000).

As concepções psiquiátricas do século XIX tiveram mudanças importantes sobre a sexualidade através da teoria freudiana, trazendo assim aspectos revolucionários e inovadores. A questão do prazer foi trazida pelo Freud no conceito de pulsão, diferente de instinto. Retirou também a sexualidade do domínio da biologia para o domínio do psiquismo. Freud afirmou que o sexual como uma associação de particularidades faz parte do desenvolvimento normal dos indivíduos, o que consequentemente retirou a ideia de naturalismo que governa nossos corpos. (Nunes, 2000).

De acordo com Probst (2003), a entrada da mulher no mercado de trabalho teve como motivo a I e II Guerra Mundial, (1914 – 1918 e 1939 – 1945), em que os homens iam para a batalha e as mulheres tiveram que assumir a posição do homem nesses serviços. Após o termino das guerras, muitos homens haviam sido mutilados e impossibilitados de voltar ao trabalho. Nesse momento as mulheres foram obrigadas a deixarem de cuidar somente da casa e dos filhos para ocupar o trabalho realizado pelos maridos.

Ainda sobre Probst (2003), no século XIX, o sistema capitalista estava crescendo e com isso aconteceram mudanças na produção e na organização do trabalho feminino. Houve um grande avanço no desenvolvimento tecnológico e forte crescimento da maquinaria, com isso a mão de obra feminina foi transferida para as fábricas.

2.2O feminino na atualidade

A ideia da diferença sexual é algo recente na história do Ocidente. Teve efeito no final do século XVIII e início do século XIX em que ocorreu um discurso sobre esta diferença, pois até nessa época os sexos eram tratados como uma forma hierárquica, em que o modelo masculino se sobressaia, visto como o sexo perfeito. Essa ideia de sexo único foi dominante até que se formou o pensamento de existir dois sexos, distintos e bastante diferenciados. (Birman,2001).

De acordo com Birman (2001) para sustentar esse discurso de dois sexos diferentes ocorreu à leitura naturalista dessa diferença, ou seja, só existe uma diferença sexual porque isso foi concebido como algo de ordem biológica. A biologia nos aspectos anatômico e fisiológico seria a grande responsável da diferença de macho e fêmea. Portanto, a essência natural projeta as possibilidades e finalidades sociais diversas para ossexos.

Birman (2001) diz que depois dessa mudança do sexo único para dois sexos, um questionamento surgiu: como é possível manter a hierarquia entre homem e mulher, enquanto se discutiam a igualdade de direitos entre todos? Aqueles que eram iguais diante a lei deveriam ter as mesmas oportunidades, como as mulheres ter a mesma educação que os homens para adquirirem às mesmas habilidades e ter acesso às mesmas posições. Para isso, o que os homens tinham de privilégios deveriam ser perdidos. Porem foram precisos mais de dois séculos para essa ideia ser transformada em normas sociais.

Nunes (2000) afirma que a partir do século XIX ocorre uma mudança na visão do sexo feminino, ele passa a ser visto como ambíguo, podendo assim assumir diferentes formas. A mulher pode assumir uma postura fiel ou adultera santa ou prostituta, mãe dedicada ou infanticida. Um novo perfil feminino, virtualmente ameaçador. Léopold Sacher diz que a natureza da mulher carrega mais perigos do que  se possa imaginar. Qualquer mulher pode ter pensamentos, ações e sentimentos mais diabólicos ou também os mais divinos, os mais sórdidos ou mais puros. Ela é como os animais selvagens, pode se mostrar segundo os sentimentos que adomina.

Com base às questões sexuais do passado, a repressão e a anulação da mulher foram substituídas pela liberação e pela independência dos dias atuais. Assim, a mulher contemporânea, com base em novas redes de poder, aparece na sociedade em diferentes áreas, até mesmo na sexual, tendo espaço para preferencias e vontades em assuntos que antes não podiam ser mencionados em discurso privado, quanto mais ser objeto de discurso público (Vieira,2005).

2.3O Movimento Feminista

Alves e Alves (2013), dizem que no início do século XIX houve as tendências do movimento feminista as quais se estenderam pelas três primeiras décadas do século XX. Bertha Lutz3 esteve a frente do movimento sufragista nessa primeira tendência. Essa fase do movimento, o feminismo era “bem-comportado” o que mostrava um caráter conservador. Aqui ainda não se era questionada a opressão da mulher.

Alves e Alves (2013) relatam que já na segunda tendência, esse feminismo aparece como uma forma “mal comportada”, e tinha como integrantes mulheres intelectuais, anarquistas e líderes operárias. Nesse momento era defendido o direito a educação e abordado temas como dominação masculina, sexualidade e o divórcio. Na terceira tendência, o feminismo era o “menos comportado de todos”, e se mostrava através do movimento anarquista e do Partido Comunista.

Após o terceiro momento feminista, pode ser observado que a mulher passa a ser vista como Universal, o que abre espaço para uma articulação de gênero/classe/raça, ou seja, o multiculturalismo. Muda-se dos di-mórficos aos plurais, da diferença sexual para a diferença de gênero, desta diferença para as diferenças. (Magnabosco,2003).

O movimento feminista se apresenta fortemente na década de 60, tendo influência da onda revolucionaria que percorre a Europa, a China, a América Latina e os Estados Unidos, com os grandes movimentos estudantis e a contestações dos costumes. No Brasil, a partir da definição pela ONU (Organização das Nações Unidas) de 1975 como o Ano internacional da Mulher, e como ano de início da década da mulher, aconteceu o ressurgimento do movimento feminista “organizado”. Este teria sido inaugurado com uma reunião, ocorrida em julho de 1975, na ABI Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, e com a constituição do Centro da Mulher Brasileira. A partir de então, teria ocorrido o aparecimento de outros espaços de união e movimento feminista em outros lugares do Brasil (Rangel, Sorrentino, 1994 & Pedro, 2006).

O feminismo pode ser considerado um movimento político, pois reivindica uma modificação na esfera do pensamento da sociedade em relação à mulher: seus direitos e deveres. Esse movimento questiona a opressão feminina  vivida ao longo de sua história, a falta de liberdade de pensamento, de colocação e de voto e a igualdade de direitos com o sexo masculino. As mulheres reivindicaram a possibilidade de trabalho intelectual, o direito à licença maternidade e fizeram com que a sociedade olhasse para funções tipicamente femininas, como os trabalhos domésticos, com dignidade (Teles, 1993 citado por Carvalho; Paiva, 2009, p. 226).

Segundo Duarte (2003), a palavra Feminismo tem uma forte resistência. O movimento feminista transformou as relações entre homens e mulheres e atravessou várias décadas. Visto que a vitória do movimento feminista foi inquestionável tornando a mulher em si parte da sociedade como, por exemplo, a mulher frequentar a universidade, escolher sua própria profissão, ter igualdades salariais, poder participar do queelaquiseretc.Observa-se que todo sesses acontecimentos já foram um absurdo  sonho de fantasias, mas, hoje faz parte do dia a dia e nem se imagina em um mundo diferente que possa voltar a ser o que era antes.

A partir desses conceitos Sarti (2001) acrescenta que o feminismo conviveu com as diversidades sem omitir sua particularidade. No entanto o “ser feminista” tinha uma conotação pejorativa. Naquele tempo, para muitos homens e até mulheres, independentemente de sua ideologia, o feminismo tinha um entendimento como anti-feminina.

O desenvolvimento de um novo perfil feminino deu-se juntamente com a modificação profunda na forma de pensar quais eram as diferenças entre os homens e as mulheres, partindo do século XVIII, essas diferenças passaram a serem vinculadas as diferenças sexuais. Para Aristóteles, o macho, seria o gerador do feto, sendo ele o progenitor das crianças, que em seu sêmen estão presentes as características da criança, onde no sexo, a mulher seria passiva e fria, apenas um solo fértil para acolher a semente do homem, que em seu sexo é quente e ativo, o que faz o sangue correr, sendo assim a submissão da mulher a um estado passivo e frio perante o homem (Nunes, 2000).

O século XVIII trouxe algumas novas luzes sobre os problemas da diferença de gênero estabelecidos na sociedade, explicando tais diferenças por uma biologia a qual o homem e a mulher eram tratados radicalmente diferentes. Com a premissa da biologia pode-se usa-la como desculpa para mascarar os problemas sociais desta diferença de gênero, e assim começaram a propor inserções sociais diferentes para os dois sexos (Nunes, 2000).

Rousseau foi um dos pesadores mais importantes na articulação de tais ideais. Ele pressupunha uma divisão de papéis diferentes e complementares para homens e mulheres. Para ele a esfera de atuação feminina seria a doméstica e a masculina, a pública. A mulher deveria “reinar” no lar, devendo abrir mão de qualquer pretensão e desejo pessoal de outra ordem. Sua vida deveria permanecer completamente vinculada à de seu marido. (Nunes, 2000, p. 37).

 

Mulheres que compartilhavam das ideias rousseaunianas de um retorno à vida “natural” em que abdicavam seus direitos sociais, seus ideais e desejos, para se voltarem especificamente aos filhos e o marido; algumas como Madame D’Epinay começaram a propagar esta ideia, deixando com que os homens tomassem conta dos papéis da ciência, se apoderando de um papel simbólico há muito tempo vago, o de mãe. (Nunes, 2000).

Porém outras mulheres as quais pensavam diferentes e não queriam deixar seus desejos e seus direitos sociais apenas para os homens, mulheres como Madame Châtelet, Mary Wollstonecraft, Madame Roland e Olympe de Gouges, protestaram e advogaram seus direitos em uma tentativa de demonstrar que eram tão capazes quanto os homens de exercer certas atividades intelectuais que na época eram exclusivas apenas para os homens. Muitas destas mulheres que lutavam por seus direitos foram punidas, afinal, em uma época onde era exclusivo o domínio masculino sobre a mulher, estas que lutavam eram tomadas como ameaças (Nunes,2000).

Na virada do século XIX, Nunes (2000) descreve que as mulheres não absorveram os ideais domésticos e maternos, a sua presença no cenário político ainda é bastante significativa, passando pelos salões, a ciência e literatura, a mulheres continuam a lutar por seus direitos como cidadãs. Na França revolucionária, esse debate ganha proporções grandes, discute sobre elas, os seus direitos, suas associações sociais, seu poder na família e submissão ao pai. No fim deste processo elas eram silenciadas, espoliadas de seus direitos civis e políticos, e, em alguns dos casos mais graves, estas mulheres eram condenadas a guilhotina.

As mulheres nesta época não eram consideradas responsáveis para subirem as tribunas, porém eram consideradas responsáveis para assumir seus crimes e morrerem por eles, tratadas apenas como um objeto submisso ao homem. Ao final deste período, os ideais sonhados por Rousseau, um projeto de reorganização da ordem familiar, começam a ganhar força na lei, então assim a mulheres francesas precisariam esperar em torno de 150 anos para que então finalmente conseguissem seu estatuto de cidadãs. (Nunes,2000).

2.4Conceitos ligados aofeminino

De acordo com Nunes (2000) o estudo sobre histeria é bastante intenso e significativo, pois está voltada a compreensão da neurose, onde coloca uma discussão sobre a constituição feminina. No século XIX, a histeria é vista como uma sintonia de ser mulher. De acordo com Cattoné, concebe a forma clássica da histeria como uma manifestação da submissão à qual o sexo feminino estava exposto e que foi desaparecendo a partir do momento de emancipação das mulheres, ou seja, para ele é como uma doença da opressão da mulher.

Foucault nomeou a “histerização do corpo da mulher” com:

Um tríplice processo pelo qual o corpo da mulher foi analisado – qualificado e desqualificado – como corpo integralmente saturado de sexualidade; pelo qual este corpo foi integrado, sobre o efeito de uma patologia que lhe seria intrínseca, ao campo das práticas médicas; pelo qual enfim foi posto em comunicação orgânica como o corpo social (cuja fecundidade regulada deve assegurar), como o espaço familiar (do qual deve ser elemento substancial e funcional) e com a vida das crianças (que produz e deve garantir através de uma responsabilidade biológico-moral que dura todo o período da educação): a Mãe, com sua imagem em negativo que é a mulher nervosa, constitui a forma mais visível dessa histerização. (Nunes, 2000, p.96).

Quando Freud deu início aos estudos sobre histeria, uma de suas grandes preocupações era que a histeria não seria uma doença de causa orgânica, ao contrário, seria o resultado de um conflito psíquico entre a sexualidade e as exigências da realidade externa e de uma cultura moral. Para Freud, uma de suas pacientes, Frau Emmy, é um exemplo de histeria que pode ser compatível com um bom caráter e bom modo de vida. Sua seriedade moral, inteligência, e amor à verdade impediam-no de considerá-la uma degenerada. (Nunes,2000).

Entre 1880 e 1900 a histeria abandonou o elemento que a associava à epilepsia e à hipocondria. Em 1878, Charcot postulava que, em vez de uma visão entre o corpo e a consciência, entre a natureza e a pessoa, o que se observa é uma nova forma de se pensar adivisão histérica, que apontaria para uma divisão da consciência. Essa divisão passa a ser pensada como uma divisão da pessoa. Onde, para Gladys Swain, essa mudança da compreensão da histeria é correlativa de uma mudança maior relacionada ao corpo, quando há passagem entre corpo e sujeito para uma clivagem que será subjetiva, cada vez mais desprovida de dimensão corporal (Nunes,2000).

Nunes (2000) diz que a concepção da histeria, sendo uma entidade ligada aos órgãos reprodutivos femininos, perde força na segunda metade do século XIX, a partir da teoria de Briquet, que situa a sede da histeria no sistema nervoso central. O mesmo situa que sua concepção de histeria seria fruto da existência na mulher de sentimentos nobres e dignos de admiração, a qual procura aliar o romantismo dos primeiros anos com a medicina moderna. Por meio da histeria procura-se apreender a feminilidade que, aos olhos da ciência, parecia tão incompreensível.

Gladys Swain citada por Nunes (2000) mostra como a histeria se inscreve na perspectiva, em que coloca a mulher como pertencente à natureza. É como se a mulher fosse um ser virtualmente desdobrado entre sua propriedade subjetiva, pessoal e a natureza que se apropria e étrabalhada.

No século XIX, consolida-se a ideia de que a histeria é hereditária e uma forma degeneração mental, e a histérica vai ser colocada do lado daqueles personagens sociais consideradas degenerados, ou seja, loucos, prostitutas, homossexuais, perversos, criminosos, entre outros (Nunes,2000).

G. De laTourette afirma que:

A histérica é de uma natureza essencialmente perversa, destaca-se por ser espírito duplo, mentira e simulação. Procurar prejudicar àqueles que a cercam, rouba, acusa injustamente. Para Tardieu, um traço comum às histéricas é a simulação instintiva, a necessidade incessante de mentir, sem interesse, sem objetivo, só por mentir. (Nunes, 2000, p.150).

 

Sendo assim a histérica ficou sendo como o oposto da mulher tranquila e ponderada que ataca a opinião do marido, discreta, generosa, capaz de suportar sacrifícios sem reclamar. A descrição do caráter histérico estendida para todas as mulheres, numa demonstração clara de que o adestrar era um problema e que o sexo feminino muitas vezes parecia indomável (Nunes, 2000)

Há discussões entre médicos, onde pontuam que a histeria diz respeito às questões médico-legais. Isso ocorre exatamente porque ela concilia um caráter duvidoso com uma lucidez irretocável. Portando não sendo vista como uma alienação mental, como as outras onde o doente perde sua capacidade racional (Nunes, 2000)

Na segunda metade do século XIX, houve uma grande “guerra” contra as histéricas, onde o principal alvo eram as mulheres. Apesar do fato de a concepção neurológica da histeria ser o mesmo para uma incidência de histeria em homens, não era a eles que as estratégias de intervenção médica se dirigiam (Nunes, 2000).

Segundo Nunes (2000) havia uma preocupação em comprovar a resistência de histeria em homens, mas é como se a importância maior nos discursos médico sobre histeria masculina se desse em relação à necessidade de demonstrar que a etiologia da neurose não é estava vinculada aos órgãos reprodutores femininos. O homem histérico não se constituía no problema social importante. Era a mulher o objeto de intervenção privilegiado na estratégia de controle da histeria.

Para Pierre Janet, diante de uma histérica, o papel do médico deve ser uma ascendência absoluta e a perda do controle sobre a doente coloca em risco quer possibilidade de cura. Trava-se então uma batalha onde o médico não pode arriscar-se a perder o lugar de domínio na relação. É nesse espaço que Charcot se coloca em suas sessões clínicas da Salpetrière, onde se desenrola uma encenação de seu poder sobre as clientes. Cattoné descreve essas sessões como um teatro, onde se representa a posição de poder do médico sobre a paciente (Nunes,2000).

“O mestre proporcionava um espetáculo dramático produzindo à vontade crises nas pacientes histéricas que faziam acrobacias, imitavam cenas passionais, desesperadas, e eróticas (...) Com a ajuda da hipnose podia-se assistir uma demonstração de dores imaginárias, contraturas e anestesias”. (Nunes, 2000, p.211).

A histérica submetida ao poder do médico responde sedutoramente as demandas dele, ganhando assim um papel de protagonista nesse teatro perverso. No entanto nem sempre essa representação alcança sucesso, Pois é histérica pode de repente não responder ao comando médico, denunciando a fragilidade da encenação. As três últimas décadas e os transtornos colocados pelas histéricas as colocaram na mão do cirurgião. Dois tipos de cirurgias eram adotados: a clitoridectomia, de maior difusão. A justificativa para essas cirurgias, no momento em que as teorias que colocam a gênese da histeria no momento nervoso vão se tornando hegemônicas, é a ideia de excitabilidade reflexa. Baker-Brown argumentava então que é excitação dos nervos pubianos, pela masturbação, estava na origem danceteria e proponha como remédio a ablação do clitóris (Nunes, 2000)

Nunes (2000) relata que a castração feminina foi um recurso ao qual a medicina lançou mão para dominar a sexualidade das mulheres desviantes. Essas esterilizações não visavam há uma diminuição da natalidade; ao contrário, o que estava em jogo nessas intervenções cirúrgicas era fixar essas mulheres nos casamentos na maternidade, por via do controle do prazer e do adestramento do corpo feminino.

2.5Subjetividade e historiedade.

Rolnik (1997) citado por Boris e Cesídio (2007), a subjetividade é um modo de ser, de sonhar, de agir, de pensar, de amar, entre outros aspectos do subjetivo humano. Estes que delimitam o interior e exterior do ser humano. A subjetividade é o resultado da interação do indivíduo com as influências socioculturais, sendo moldadas de acordo com os comportamentos, com os valores e com os sistemas políticos e econômicos de cadasociedade.

Ainda com os pensamentos de Boris e Cesídio (2007) o sujeito constrói a sua subjetividade dada pela sua relação com o mundo e com outros indivíduos que nele vivem, inseridos em um mesmo contexto e em determinado período sócio-histórico. Durante o processo de construção da subjetividade são incorporados pela sociedade e pelo mundo em que se vive partindo da influência da cultura, modos de linguagem, hábitos e costumes padrões de comportamentos e valores, inclusive modelos de apreciação estética, isto é, do que é belo ou feio, principalmente com relação ao corpo.

Muitas vezes, quando uma mulher não entende bem suas verdadeiras necessidades, ela as tenta suprir com alternativas, como consumir roupas e outros objetos, fazendo com que, posteriormente, elas apareçam novamente, pois não foram de fato satisfeitas, mas estavam apenas associadas ao produto. A mulher pode então chegar a não saber mais quais são suas próprias características e quais são apropriadas as da sociedade. Sendo assim as mulheres ao consumirem novos produtos crêem que acrescentam algo novo a sua personalidade, portanto a mídia é uma manifestação cultural que tem o objetivo de influenciar intencionalmente não apenas o comportamento das mulheres, mas os dos homens também, inferindo na maneira de organizar a sua subjetividade e atingindo questões peculiares ao seu gênero, principalmente em relação a sua representação corporal (Boris, Cesídio, 2007).

A subjetividade é construída a partir das relações interpessoais, se manifesta de forma singular, individual, pertencendo ao mundo particular de cada sujeito, ela vai permitir a qualidade do desenvolvimento individual. De acordo com algumas abordagens, a subjetividade é entendida como o lugar íntimo e individual onde cada pessoa experiência as suas experiências de vida, mundo e do outro, atribuindo sentidos as essas experiências (Carmo, 2011, p.3).

Flecha (2011) cita que o terreno da modernidade e de sua herdeira, a pós- modernidade ou contemporaneidade, implica nas transformações que têm seus efeitos sobre os modelos instituídos de subjetividade. O psicanalista Joel Birman (1999) citado por Flecha (2011) em sua obra Mal-estar na atualidade: a Psicanálise e as novas formas de subjetivação, chama a atenção para tais efeitos, já que, segundo ele, em uma ordem social tradicional, o sujeito seria transformado pelas grandes durações das instituições, também como permanência de suas regras insistentes que traziam mais conforto e segurança.

Ainda segundo Vieira (2005), frente das questões sexuais do passado, a rejeição e a anulação da mulher foram substituídas pela liberação e pela independência dos dias atuais, ainda que prevaleça os aspectos preconceituosos do passado. Ainda sim, a mulher contemporânea, com base em novas redes de poder, impõe-se na sociedade em várias áreas públicas, inclusive na sexual, tendo espaço para impor suas preferências e vontades em assuntos que antes não podiam sequer serem mencionados em discurso privado, a única área a qual a mulher era destina, um objeto privado, quanto mais ser objeto de discurso público.

Vieira (2005) ressalta que, é na família que a identidade da mulher e do homem recebe as primeiras influências culturais, pois é nela que se constroem diversos tipos de relações, onde se aprendem comportamentos e condicionamentos culturais e sociais. A divisão dos papéis entre o casal para a educação dos filhos, que geralmente era atribuída somente a mulher, reflete os valores e as crenças da instituição familiar, estas crenças passadas aos filhos, que provavelmente poderão seguir os mesmos valores dos pais. Em geral, a esposa cuida do funcionamento do lar enquanto o marido trata da obtenção dos recursos materiais e financeiros para a sua manutenção, este modelo moderno do passado, interferia na formação da subjetividade da mulher.

A subjetividade feminina vem sendo construída ao longo da historia, do desenvolvimento social, cultural e histórico de forma submissa, as mulheres eram educadas para servir aos outros, renunciando elas próprias. Podemos perceber uma mudança grande na subjetividade feminina na atualidade em relação à sexualidade, pois em outrora a sexualidade para as mulheres era tratada como um tabu, era somente permitido sexo dentro do casamento, com a finalidade de procriação, sendo o ato de sentir prazer proibido as mulheres (Carmo, 2011).

Um dos sistemas de vigilância e controle, que ganharam força com os  estudos de Sigmund Freud, foi a fixação da mulher no espaço doméstico. Circunscrevê-la neste espaço foi a condição obrigatória para protegê-la, por sua fragilidade e sensibilidade, e, ao mesmo tempo, para proibi-la de possíveis desvarios sexuais, já que, pela fragilidade, a mulher era portadora de uma organização física e moral degenerável. Mediante tal concepção ambígua da mulher (perigosa e frágil), qualquer comportamento feminino  que não se enquadrasse nas representações de gênero da época (mulher como boa mãe e esposa) era lido pelos estigmas de degeneração, isto é, prostituta, desvairada, louca, histérica, desnaturada. (Magnabosco, 2003, p. 431).

Carmo (2011) pauta que através dos movimentos feministas as mulheres ganharam força e passaram a reivindicar seus direitos, renegados em outrora, e agora passaram a exigir igualdade entre os gêneros. A abertura do mercado de trabalho as mulheres as permitiram a possibilidade de autonomia, socialmente ultrapassaram as perspectivas de cuidadoras, passando a merecerem respeitos e reconhecimento por seus esforços. Durante as décadas de 80 e 90, as mulheres estabeleceram a ocupação dos espaços públicos, porém estas conquistas femininas não se deram igualmente na sociedade, onde a mentalidade humana ainda se encontrava condicionada por doutrinas e teorias preconceituosas. O trabalho possibilitou a saída da mulher da posição de cuidadora e procriadora, mas na contemporaneidade é com que as mulheres enfrentam duplas jornadas de trabalho, tendo que deixar a maternidade por último na intenção de se especializarem e se adequarem ao mercado de trabalho, mas ainda sim se era cobrado das mulheres a exercerem o papel de cuidadoras da família.

O modelo de mulher para a sociedade pós-moderna é visto como um modelo múltiplo, tal modelo deixa de lado a liberdade feminina que era sonhada pelos movimentos feministas. Se anteriormente as mulheres lutaram para enfim se libertar das amarras do sistema social patriarcal, atualmente se encontram aprisionadas pelas amarras do mercado de trabalho (Carmo, 2011,p.5).

Segundo Braga (2006) citado por Carmo (2011), nossa sociedade nos últimos séculos vem se destacando pelas referências feitas à associação feminina direto a maternidade, sendo uma condição de uma para a outra, sendo o feminino obrigatoriamente relacionado a maternidade. Freud (1976) citado por Carmo (2011) em sua teoria não fala do que é a mulher, mas como ela se forma e desenvolve para ele a feminilidade se estabelece apenas como um contato da mãe com o filho, a feminilidade antiga e até mesmo moderna foi construída dentro da maternidade-feminilidade.

Um relato de Braga (2006) citado por Carmo (2011), o feminino na contemporaneidade, vai apontar para esse “demais” e esse “de menos”, que se traduz em uma multiplicidade de lugares, de papéis, de funções, numa junção que forma um feminino incansável (mas exausto), 25 horas por dia, 8 dias por semana. A maior característica da contemporaneidade é a pluralidade, a mulher sentiu a sua necessidade de emancipar, mas traz em seu inconsciente o papel de mãe e dona de casa, impregnados pela modernidade patriarcal que mantinha sobre ela esse papel durante séculos de dominaçãomasculina.

3.Analise e Discussão

  1. Mulheres no mercado detrabalho

No período da Segunda Guerra Mundial e também da Revolução Industrial, Vicceli (2011), citado por Silva fala que tiveram algumas mudanças em relação a visão da mulher com o trabalho, nesse período o mesmo tiveram um aumento significativo no mercado, aproximando-se da participação masculina. Por outro lado, o fator que somou para essa participação foi a necessidade de provimento familiar, a mulher busca trabalho fora de casa sentindo-se na necessidade de ajudar no complemento da renda. Contudo, teve que administrar seu tempo a favor de suas atividades, tornando essa jornada de trabalho dupla ou até mesmo tripla. Um exemplo disso é a personagem da série “as telefonistas” Ángeles, a esposa ideal, mãe de família, tinha um marido dos seus sonhos, e que seguia as regras que a sociedade atribuía para as mulheres naquela época, no ano de 1928 antes da promoção do seu esposo, Ángeles vê a necessidade de sair de casa  para poder ajudar nas despesas, até que tudo se estabilize, mais depois de um tempo, ele consegue a sua promoção e Ángeles se vê em um confronto, ou ela continua a fazer o que gosta, ou obedece ao seu marido e para de trabalhar e volta para casa. Acaba não aceitando e passar a conviver com um relacionamento abusivo. Ela não quer largar o trabalho e é agredida pelo marido, que não aceita sua liberdade, e chega a sofrer um aborto em uma das situações de violênciadoméstica.

Já para Hirata e Le Doaré (1999), citado por Silva, embora as diferenças da globalização enquanto ao sexo, estão por serem analisadas. Portanto, uma das evidências que são analisadas em quase todas as pesquisas, é a disparidade existente diante ao salário masculino e feminino." Sobretudo o mercado globalizado, para a mulher poder conquistar o seu espaço, tende a presta serviços de porte masculinos, por um preço abaixo ao que é pago ao homem, diante disso a grande maioria, encontram-se muita das vezes especializadas para ocupar o cargo, mas recebem a baixo para tanto. Isso acontece diante a concorrência e pela discriminação em relação à mulher.

Castells (2000), citado por Silva, ressalta que grande parte das mulheres não estão sendo remanejadas a realizar alguns cargos que tem um índice menor especialização: Normalmente elas possuíam serviços em todos os níveis da estrutura e o crescimento,  de acordo com o número de cargos que são ocupados por mulheres é maior na camada superior da estrutura organizacional. Diante de tal fato que existe a discriminação: Normalmente as mulheres tem cargos que necessariamente exigem qualificações semelhantes em casos de troca por salários menores, com situação de falta de segurança no emprego e menores oportunidades de chegar em níveis mais elevadas.

Assim sendo, a mulher pode ocupar cargos diferentes e que as envolvam em um maior prestígio, mas terá alguns fatores em jogo, como a idade, classe, raça, preferência sexual e, principalmente, o status geopolítico. É notável, então, que as desigualdades nas experiências femininas no seu âmbito do trabalho, são profundamente marcadas por alguns traços que são históricos do tempo do colonialismo e imperialismo, sendo que a diferença no nível de renda, segundo a classe social determinava o curso provável do caso: subordinação ou não (Brito, 2000 citado por  Silva). Consequentemente esta assertiva, Bastos (1990), citado por Silva, relata que as ações que ocorrem no mercado, são recorrentes é baseada em decisões políticas, que necessariamente podem ser conscientes ou não. Sendo assim, as atitudes não estão isentas de uma carga ideológica e política implícita. Na série Carlota, tinha um pai militar, desde que nasceu sempre foi controlada por ele, que era uma pessoa muito autoritária, não permitiam em sua casa que Carlota e sua mãe pudesse ter voz, diante disso, Carlota que sempre possuiu um espírito defensor, quase sempre batia de frente com seu pai, para que outras mulheres não permitissem ter as suas vidas controladas por nenhum homem. Com isso, ela passa a ir trabalhar em uma companhia telefônica. Carlota foi expulsa de casa pelo pai machista e altamente rigoroso, por continuar trabalhando na empresa de telefonia. Ele não queria que sua filha trabalhasse, julgando que não seria algo aceitável para uma mulher digna. Mas ela não abaixa a cabeça e se mostra uma personagem ativista pelos direitos dasmulheres.

Pierucci citado por Silva, fala que a diferença pode vir a criar ainda mais diferença (pautada em um dado visível e natural). A divisão de pensamentos pode ter o poder de reforçar as ideias aceitas e estratificadas. Um momento deste fenômeno seria as mulheres não-brancas, que passam por tentativas de reafirmação não mais pautada no gênero, mas na etnia. Em relação a isso Fonseca (2005) citado por Silva, aponta os fatores que pode contribuir para a precarização social das mulheres: a separação sexual do trabalho; quase nada de oportunidades relacionadas à educação; trabalhos que são informais, mal remunerados; pouco cuidado com a saúde e bem-estar; baixa participação nas negociações; e autonomia pessoallimitada.

Desta maneira, Aquilini e Costa (2003), citado por Silva, falam que a taxa de desemprego entre as mulheres sempre foi superior à dos homens. Elas são mais facilmente descoladas do desemprego para a inatividade, pois normalmente as representações sociais “normalizam” a concepção feminina de cuidar da casa (“dona de casa”). D’Alonso (2008), citado por Silva, relata que a mulher normalmente assumiu uma profissão quando ela deixou o seu espaço privado (ex.: casa) para poder conquistar o espaço no meio público. Na série temos o exemplo de Alba e Marga. Alba, era uma mulher do interior que sonhava em ter muitas conquistas na cidade grande, porém quando chega a conhecer a cidade grande vê que o seu sonho não era possível para as mulheres naquela época. Alba é presa acusada de assassinato. Por sua liberdade, aceita o acordo que um policial corrupto faz para que ela vá para Madri e roube informações de uma rica família que está abrindo uma companhia telefônica. Correndo o risco de enfrentar a pena de morte, ela não tem escolha senão concordar. Alba que troca de nome para Libia, a fim de esquecer seu passado conturbado, isso acontece quando ela vai na companhia telefônica e fica sabendo de vagas para as telefonias, se esbarra em uma mulher e acaba pegando o nome dela, e o seu currículo. Já Marga, veio do interior, traz com ela a sua ingenuidade que as mulheres são criadas, não conhecia o lado ruim da cidade grande, com a sua ida a cidade de Madrid é confrontada para perder os seus medos para ajudar a sua família financeiramente. Marga enfrentam as dificuldades de ser mulher em uma cidade grande, ao se depararem com grandes limitações e obstáculos impostos pela sociedade naquele tempo, como a lei sempre a favor do homem e a repreensão policial contra movimentos a favor das mulheres. Diante disso começou a trabalhar na companhia telefônica para conseguir o seu espaço nacidade.

Uma destas conquistas foi o setor da Educação. Portanto Bruschini (2007), apud Silva, fala que o ingresso da mulher no mercado de trabalho foi possível, pela expansão da mulher no meio acadêmico como na escola e a sua ingressão nas universidades da população feminina.

3.2Os direitos (não direitos) dasmulheres

As mulheres que viviam durante aquele tempo tinham o dever de viver por conta de serviços domésticos, não tinham o direito de poder trabalhar fora e nem de poder expressar suas opiniões. Conforme isso, as mulheres também tinham que manter- se firmes em seus casamentos respeitando e obedecendo ordens de seus maridos assim, não podendo exercer nenhuma profissão a não ser à do lar sendo, uma mulher passiva e assexuada. As mulheres precisavam manter um padrão de uma boa mãe sem possuir nenhuma patologia que pudesse passar para os filhos. Elas também não podiam expressar o que sentiam e nem de dar opiniões para serem ouvidas e levadas em consideração, se elas fugissem foram desse padrão elas não eram bem vistas pela sociedade assim, a mulher tinha que se manter feliz e satisfeita com casamento (Nunes, 2000). Na série este aspecto poder ser observado ao analisar o cotidiano de algumas personagens de maneiras diferentes, como Àngeles Vidal, que entrou no mercado de trabalho para ajudar o marido com as contas, tendo uma filha com ele, porém quando seu marido Mario ganha uma promoção ele exige que ela saia do emprego e se dedique a ser somente mãe, que o lugar dela é em casa, cuidando da filha e dele, separando ela apenas pela definição da diferença de sexo, iniciando brigas constantes para que Àngeles deixe seu emprego, usando de chantagens emocionais e até mesmo agressões físicas para persuadir e controlar Àngeles, forçando ela a tomar a decisão de sair de seuemprego.

O feminino naquela época era um motivo de grande envolvimento com a política, pois, envolvia nos pensamentos da sociedade em relação da mulher em termo do seus direitos e não direitos. Esse envolvimento questiona o quanto a mulher vivia em uma opressão constate durante aquele tempo, não tinham liberdade para nada. A mulher não tinha o direito de votar e nenhuma igualdade com os direitos do sexo masculino. As mulheres cogitaram possibilidades de trabalhar com o que elas quisessem e de fazerem com que a sociedade definissem as obrigações femininas de outros modos e assim podendo lutar para conseguirem diretos iguais com dignidade. (Carvalho, Paiva, 2009).

A série retrata bem como ser mulher naquela época era algo limitado a vários aspectos, os cargos dentro das empresas todos de maior grau eram ocupados somente por homens, na empresa de telefonia as mulheres eram submetidas a cargos baixos e pouco remunerados, como secretária ou telefonistas, não havia mulheres dentro da área de contabilidade da empresa, limitando o sexo feminino a somente estarem presentes em uma área da empresa, das telefonistas.

3.3Odivórcio

No que tange a história do divórcio, o que mais leva a isso é o fato dos cônjuges  não saber valorizar o que precisa e permanecer em uma relação abusiva onde ocorrem agressões físicas e verbais; o relacionamento não possui o respeito da individualidade um do outro e com isso, a mulher se sujeita a viver em uma relação onde não correspondem suas expectativas por motivo de medo da pressão que a sociedade oferecia naquela época. (Rolim, Wendling, 2013).

Àngeles e Mario retratam bem este relacionamento, onde ela vive um relacionamento abusivo, vivendo para servir seu marido e seus gostos, enquanto ele traí sua mulher,mas exige que elas sirva a ele com fidelidade e respeito, usando de artimanhas desleais como agressões e chantagens para colocar Àngeles sobre o controle dele, chegando até mesmo ameaçar tomar a filha dela, como forma tentar trazer a “antiga” e submissa Àngeles de volta.

O divórcio ocorria por motivos de muitas mulheres não aguentarem a viver nessemeio de sofrimento. O homem muitas vezes após uma separação, ou seja, um desentendimento em uma relação procura outras mulheres para se divertir e com isso alega estar em seu direto e não era prejudicado em nada. (Rolim, Wendling, 2013). Durante o período da série, o divorcio ainda era algo inexistente como direito feminino, uma mulher somente se separaria de seu cônjuge sob a morte de um dos dois, Àngelesapós viver um relacionamento perigoso com Mario, depois de episódios de agressão e até mesmo perder o filho que esperava dele, decidiu buscar ajuda, para se livrar dascorrentes que o matrimônio colocava nas mulheres, dada início então em busca de ajuda, Carlota, Alba e Marga tentam ajudar Àngeles, porém a lei não estava ao seu lado, na segunda temporada após o desenrolar da trama, Mario acaba morrendo, fruto de umconfronto entre Àngeles, Alba e Mario, enfatizando os meios extremos que uma mulher naquela época teve de chegar para se livrar da perseguição e impunidade de um homem. O requerimento do divórcio colocavam em risco a vida de muitas mulheres pois, osmaridos não aceitavam a separação e chegavam a agressões e até em morte. Após um divórcio a mulher encontra uma maior dificuldade para entrar emumnovo relacionamento por conta de uma sociedade extremamente doentia que regulava o direito delas serem livres. Na maioria das vezes o divórcio não era o fim de uma união e sim, um motivo para que refletissem o que sentia um pelo o outro. (Rolim,Wendling, 2013). A visão de uma mulher divorciada era retratado como algo absurdo e muitas das vezes anormal, onde o matrimônio era para ser prolongado paratoda a vida do casal, usando novamente o relacionamento de Àngeles e Mario, percebemos que nem mesmo agressões físicas que punham em risco a vida de uma mulher levariam a justiça a permitir o divórcio, trancafiando a mulher em uma vida sem liberdade, submetida ao marido e ao risco de até mesmo ser morta por ele, na série Mario se torna extremamente agressivo, resultando em um relacionamento de perseguição e ameaça para com Àngeles, que busca de todas as maneiras se livrar disto.

3.4As Sufragista

No início do século XIX até as três primeiras décadas do século XX, aconteceram as tendências do movimento feminista. O movimento sufragista teve como líder a Bertha Luz[4], e esse fez parte da primeira tendência. Nessa fase pode-se entender um feminismo “bem comportado”, ou seja, se tinha um caráter conservador. Nesse momento não se havia preocupações com a opressão da mulher. (ALVES; ALVES, 2013). Na primeira temporada da série se mostra a participação de duas mulheres, Sara e Carlota em palestras fechadas de mulheres, essas as quais se tratavam de assuntos feministas, porem de forma discreta. Ocorre também uma denuncia sobre esse acontecimento e a polícia faz a invasão, prendendo as mulheres presentes. Sara foi presa, mas Carlota consegue escapar e faz de tudo para tirar Sara da cadeia, em que só consegue com ajuda de homens influentes da sociedade.

No que diz respeito a segunda tendência, o movimento feminista se mostra de uma forma mais “mal comportada”. Ele era composto por mulheres intelectuais, anarquistas e líderes operárias. Aqui já era defendido alguns direitos, como ao da educação, assim como se falavam de temas que envolviam a dominação masculina, sexualidade e o divórcio. O feminismo da terceira tendência se diferencia por ser considerado o “menos comportado de todos” e estava atrás do movimento anarquista e do Partido Comunista. (ALVES; ALVES, 2013). Conforme o tempo vai passando esses movimentos na série se intensificam, ao ponto que as mulheres começam ocupar esse movimento menos comportado. Um episódio da quarta temporada da série mostra algumas integrantes das Sufragistas abordando um juiz que havia condenado a morte uma mulher por adultério. Elas jogam latas de tintas sobre ele enquanto gritam por igualdade e em seguida conseguem escapar dos guardas. Em uma das reuniões, Carlota que havia recebido uma herança, doa esse dinheiro para o movimento, a fim de terem mais recursos para lutarem por seus direito.

Sabe-se que as mulheres que pesavam diferentes e não deixavam seus desejos e direitos nas mãos dos homens, que protestavam e tentavam provar que eram capazes de ocupar as mesmas atividades intelectuais na época exclusiva somente para os homens, eram punidas de diversas formas, pois em uma época exclusiva do domínio masculino, estas que lutavam eram vistas como ameaças. (NUNES, 2000). Durantes as temporadas da série, as mulheres que iam contra a sociedade eram presas, mortas e ameaçadas. Carlota que se torna líder do movimento fazendo palestras nas rádios é vítima de tentativa de abuso por homens que se opunham aos ideais do feminismo, quando procuraram ajuda dos polícias para fazer denuncia, Carlota se passa de vítima para culpada, ouvindo dos policias que elas devem parar de “provocar” os homens com esse programa, o que se torna evidente a visão de mulheres como uma ameaça.

 

 

 

 

3.5Sexualidade feminina

No começo do século XIX se inicia uma intensa medicalização do corpo feminino, que se dá pelo início dos estudos em relação as diferenças entre os sexos. As análises têm como objetivo apontar as diferenças entre homens e mulheres que serão usadas mais tarde para tornar patológicos os comportamentos femininos. Logo os discursos psiquiátricos começarão a patologizar as mulheres que fogem do modelo de matrimonial e de mãe (Nunes, 2000). Sara na segunda temporada começa a se questionar de sua própria sexualidade, sobre seu próprio gênero, mesmo recebendo apoio de Carlota e Miguel, quando ela inicia seu tratamento para se redescobrir, sendo submetida a tratamentos torturantes para suprimir algo que é tratado como uma doença, isso só mostra como “ser” uma mulher e como ela constituída nos termos da medicina era algo ainda obscuro e preconceituoso, permitindo que os tratamentos aos quais Sara foi submetida fossem desumano, capaz de prejudicar não somente o corpo mas psique deSara.

O masoquismo feminino no final do século XIX começa a ser um problema que ameaça a transmissão dos bens e a honra familiar. Na concepção da época a mulher que se entregava ao masoquismo começaria a ser considerada perigosa, pois começaria uma busca desenfreada por prazer, resultando no abandono de suas obrigações domésticas, uma mulher masoquista para a época destinaria sua vida para os vícios perturbadores da harmonia social e familiar (Nunes, 2000). Há um exemplo na série que se encaixa no termo “masoquista”, a personagem Carlota, filha de um ex-integrante do exército estava destinada a vida perfeita que um homem daquela época poderia imaginar para sua filha, bem criada, a casar com um bom partido e a mesma ter uma vida conjugal para servir seu marido e filhos, porém Carlota revolucionária e decidida não se prendeu as vontades do pai e transgrediu tudo, buscando trabalho, independência, iniciando seu próprio relacionamento, para Carlota, uma libertação de suas próprias vontades, para seu pai, um risco a honra da família e a sua própriaimagem.

Através da teoria freudiana, as concepções psiquiátricas do século XIX tiveram mudanças fundamentais sobre a sexualidade, trazendo aspectos inovadores. O conceito de prazer foi apresentado por Freud como uma pulsão, diferente de instinto, o que veio tirando a sexualidade do domínio biológico e inserindo isto no meio psíquico, Freud afirmou que o sexual fazia parte do desenvolvimento normal dos indivíduos, tirando a ideia de naturalismo que governava nossos corpos (Nunes, 2000). O sexual na série vem sendo construído como algo novo para alguns personagens, Carlota se inicia em um relacionamento poliamoroso, descobrindo que ela não sentia atração somente por homens, que o prazer não era somente existente no falo, mas que as  pulsões sexuais tinham um objeto, para Carlota, uma mulher também agora lhe despertava prazer. Marga na terceira temporada da série aborda este tema, quando se casa com Pablo, ela toma coragem para questioná-lo sobre a sua falta de prazer durante as relações sexuais, assunto este polêmico na época, uma vez que dentro de um matrimônio somente o homem tinha prazer, limitando a mulher a ser somente um objeto que não precisava ter prazer, assim abordando os temas de um descobrimento sexual da personagem.

Partindo do século XIX mudanças na visão do sexo feminino começam a ocorrer, se tornando ambíguo e por isto volátil, podendo assumir diferentes formas, assumindo então que a mulher poderia variar entre fiel ou adultera, mãe ou infanticida e santa ou prostituta, relacionando os comportamentos da mulher que fugia do padrão de família tradicional a algo ruim e doentio, considerando bons somente aqueles comportamentos que na visão do homem, eram dignos de uma mulher para se casar. Transformando a mulher em um animal selvagem, onde ela se mostra segundo os sentimentos que a domina, sejam eles sórdidos ou puros (Nunes, 2000). Nesta época só existiam duas versões da mulher, a pura, destinada ao lar e aquela que se sujeitava as noiteseaosbordéisporpuroprazer,vemosasmulheresnasériecomoumtodoserem vistas de várias maneiras, Alba, quando adentra a família de Carlos Cifuentes é afrontada pela mãe do mesmo, sendo taxa de interesseira e oportunista, não vindo de família digna ou se portar como uma“mulher de classe” deveriaseportar,vemos Carlota ser também alvo deste pensado, quando ela inflige todas as normas de seu pai para viver sua vida como ela pretendia, uma mulher livre para os homens era assustador. Comparando a sexualidade feminina no passado, que se resumia a um relacionamentoprivado com o marido, somente com fins de procriação, impedindo a mulher de ter prazeres e desejos; com a liberdade sexual dos dias atuais, a evolução noscomportamentos femininos vem sofrendo um grande avanço, as mulheres não mais são restringidas a somente o discurso privado, podendo se tornarem objetos de discursopúblico, impondo sua sexualidade, sua transformação sexual, que permite explorar o prazer corporal com liberdade, não somente resumindo as relações sexuais com  o marido, permitindo que a mulher atualmente tenha uma grande liberdade sexual, mas ainda sim, não estará livre das críticas sociais, uma vez que o machismo impregnado na sociedade vem trazendo as sequelas das décadas passadas (Vieira, 2005). A libertação sexual é bem exposta na série, a primeira temporada conta com um desenvolvimento grande do descobrimento de Carlota para com sua bissexualidade,experimentando logo de cara um relacionamento poliamoroso, Sara e Miguel agora fazem parte de seu círculo amoroso, mas não fica somente aí, Sara começa a expor que se sentia em um “corpo errado” dando evolução a personagem em sua descoberta da transexualidade, até mesmona atualidade, assumir a transexualidade é algo corajoso e alvo de muitas críticas, o processo de Sara demonstra como uma mulher é recebida diante desteaspecto não explorado e bastante discriminado na sociedade, sendo submetida a uma série de procedimento desumanos para extirpar de seu corpo a sua transexualidade.

 

  1. Subjetividade feminina

As mulheres durante o sistema patriarcal, além de lutarem pela igualdade de direitos, elas também lutavam pela libertação do sofrimento psíquico, o qual era fortemente observado, isso acontecia, pois eram marginalizadas da sociedade, incluindo seu corpo e desejos. (Boris, Cesídio, 2007). Na série se tem vários exemplos dessa afirmação, um deles é o da Marga, a qual seguia um modelo rígido e tradicional, com medo do pecado e tendo o sonho do casamento perfeito. Ela passa por situações em que se sente extremamente culpada, mostrando o sofrimento psíquico que as mulheres tinham quando assumiam seus desejos ou quando lutavam pela sua liberdade.

Acontece uma mudança na visão do sexo feminino, em que esse começa a ser visto de certa forma ambíguo, assumindo assim diferentes formas. Essa mulher poderá assumir um papel de fiel ou adultera, santa ou prostituta, mãe dedicada ou infanticida. É então construído um novo perfil feminino ameaçador (Nunes, 2000). Essa ideia de mulher como algo perigoso  e ameaçador fica muito nítida com duas personagens da série, a protagonista Alba e a Ángeles. Alba é a personagem que adota uma postura de mulher misteriosa, sempre envolvida com muitas mentiras, em que a principal é a utilização de um nome falso para conseguir emprego como telefonista, com isso ela passa a se denominar como Lidia. Uma mulher dona de si, independente e empoderada, que sempre se mostra forte e inteligente, ajudando suas amigas com seus diversos problemas. Ela vive um triangulo amoroso em que fica indecisa durante toda a série entre seu amor do passado, o Francisco e o encanto pelo Carlos. Essa indecisão faz com que eles durante vários momentos disputem o amor dela, ficando sempre aos seuspés.

Já Ángeles começa como vítima de um relacionamento abusivo, em que sofre um aborto após ser espancada pelo seu marido. Após a morte dele ela assume um papel diferente, agora como uma mulher perigosa, ela se junta com Victoria, outra mulher poderosa. Ángeles usa do seu poder de sedução para conseguir privilégios. Ela começa dar aulas para as telefonistas e aproveita dessa posição para fazer com que algumas mulheres trabalhem para ela, escutando chamadas importantes. Ela é quem esta por trás de uma organização criminosa e se passa como homem para ser respeitada, o qual se chama Mirlo. No final da quarta temporada ela morre ao tentar tirar sua amiga Carlota da cadeia e da condenação a pena de morte.

Com os estudos de Sigmund Freud, o sistema de vigilância e controle que ganhou força foi a questão da fixação da mulher no espaço doméstico. Limita-las a esse espaço foi a condição para protege-las, justificando por sua fragilidade e sensibilidade, e além desses argumentos, essa restrição também servia para proibi-las de possíveis desvarios sexuais. Com esse discurso ambíguo da mulher (perigosa e frágil), qualquer comportamento que não estivesse de acordo com as representações de gênero da época, eram denominados como degeneração, ou seja, prostitutas, desvairadas, loucas, histéricas, desnaturadas. (Magnabosco, 2003). Em cada uma das mulheres da série se tem um exemplo dessas representações. Uma delas é a Elisa, jovem filha de uma família influente na sociedade que era submetida a tomar medicamentos e posteriormente foi internada por sua própria família, tida como histérica e que trazia vergonha para a reputação da família pelos escândalos já feitos. Ela oscila nesse papel de uma mulher frágil e ao mesmo tempo louca.

4.Considerações finais

Essa pesquisa teve como norte a busca por conhecimentos que são as vezes não entendidos de maneira clara e precisa, como a falta de liberdade das mulheres perante as esferas sociais das quais estavam inseridas e como essa falta fizeram-nas lutarem por seus direitos.

Podemos observar que os discursos femininos diante da sua história são baseados na liberdade e igualdade, tal discurso ainda continua presente na atualidade. A partir disso, este estudo mostra que a sociedade atual foi construída e alicerçada sobre a renuncia da mulher sobre o seu desejo e que o modelo que as mulheres viviam antigamente ainda influencia em certos valores da sociedade que vivemos hoje.

Sendo assim, fica evidente que a construção da subjetividade feminina tem respaldos nas limitações impostas ao seu ser, como a maternidade e matrimonio, quando se pensa fora dessas possibilidades pensa-se também que ocorre uma transgressão a natureza da qual estava condenadas, ficando claras então essas limitações.

Quando se analisa todo o histórico da subjetividade feminina e sua construção e modificação ao longo dos séculos, se percebe que no começo era natural inferiorizar a figura da mulher em relação ao homem, sempre limitando o sexo feminino a tarefas de cuidado e procriação, mesmo este sendo um papel importante era visto como algo muito inferior e somente passível da mulher realizar, este antigo discurso criado pela igreja católica a muitos séculos sobreviveu até os dias atuais, impregnado na subjetividade feminina, que mesmo com as enormes transformações da modernidade ainda sente as sequelas dos séculos de inferiorização e repressão pela esfera masculina, porém a luta dos movimentos feministas estão conseguindo diminuir estas influências machistas através dos movimentos de libertação que trazem para aquelas mulheres que ainda são conduzidas pela ideia de que a mulher é inferior ao homem o conhecimento necessário para se libertar das amarras criadas pelo machismo. A subjetividade feminina já foi muito alterada ao longo dos anos, porém se faz necessário ainda mais modificações, até que a mulher consiga com plenitude exercer seus direitos na sociedade.

 

 

Referências

 

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[1] Segundo o dicionário Aurélio o “ Feminismo é um sistema que preconiza a ampliação legal dos direitos civis e políticos da mulher ou a igualdade dos direitos dela aos do homem”.

[2] Segundo o dicionário Aurélio, “machista pode ser definido por aquele que age e pensa em função  da ideia que o homem domina socialmente a mulher e que, por tal motivo, tem direito a privilégios dedono”.

 

[4] Bertha Maria Júlia Lutz é conhecida como uma das maiores líderes na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras. Zoóloga de profissão, Bertha foi educada na Europa, onde entrou em contato com a campanha sufragista inglesa.