A Religião Comportamental
Publicado em 09 de fevereiro de 2010 por Riva Moutinho
Depois de conviver por mais de duas décadas com a
religião, hoje, faço questão de deixar claro que não faço parte de qualquer
religião bem como não tenho que isto seja algo vital para o ser humano, uma vez
que a religião serve apenas para afastar os homens de Deus e aliená-los de
várias maneiras sórdidas desenvolvidas ao longo do tempo.
Não vou repetir coisas que já escrevi antes, pois
pretendo aqui ter outro foco e espero deixar isto claro.
A religião educa (esta é uma maneira educada de falar)
o ser humano a criar hábitos religiosos. É o cara que sempre que passa em
frente a uma igreja católica faz o chamado “nome do Pai”, ou o espiritualista
que tem um incenso na casa para cada momento, ou o espírita que adorna os
cômodos com imagens, ou o evangélico que ouve apenas músicas do seu grupo
religioso, ou os macumbeiros que carregam seus patuás... E por ai vai. Mas a
religião faz muito mais que isto, ela cria um comportamento religioso que
ultrapassa a realização de rituais ou ritos e vão compor o caráter, a
personalidade no indivíduo.
Vou me basear na religião evangélica na qual convivi
mais proximamente, no entanto percebe-se que todas as demais promovem a mesma
coisa.
O conjunto de regras impostas, às vezes, de maneira
bem sutil pelas igrejas evangélicas moldam o caráter dos seus seguidores,
promovendo ao final uma verdadeira lavagem cerebral. Digo isto porque
percebe-se que tal seguidor abandonou o raciocínio racional e passou a defender
o enriquecimento ilícito, por exemplo, como se fosse algo absolutamente normal
de se fazer. Chega a tal nível de alienação que se o seu líder for preso pela
polícia de algum país vizinho, o seguidor acredita que o que está acontecendo é
uma conspiração, uma perseguição religiosa. Coisa esta que já se extinguiu (ao
menos aqui no Brasil) há um bom tempo.
Deixando um pouco a análise comportamental entre o
seguidor e o seu líder de lado, gostaria de analisar a religião comportamental
que acontece entre os seguidores.
Os evangélicos sentem um prazer (quase um orgasmo) por
não praticarem o que, eles chamam de “mundo”, pratica. Algumas destas eles
mesmos estabeleceram como regras de conduta. Logo eles não bebem, não fumam,
não ouvem música secular, não praticam o sexo antes do casamento (ao menos
fazem disso um padrão moral); e se sentem acima dos que tais coisas praticam.
Definitivamente, eles buscam viverem separados no mundo. Não se misturam. Tal
comportamento demonstra que, de fato, o que eles seguem é a religião ou a
cabeça (muito das vezes louca) de seu líder religioso. Isto pra mim é fato por
um motivo muito simples: Na Bíblia vejo Jesus fazendo justamente o contrário.
Ele se mistura, não faz distinção de nenhuma criatura e não se sente melhor do
que ninguém, antes, procura ajudá-los em suas necessidades. Jesus não cria uma
religião e nem procura adeptos para ela. Ele apenas busca estar e ajudar as
pessoas.
Ultimamente entre os evangélicos o verbo “prosperar”,
ganhou ares de objetivo único em vida e uma demonstração clara que, se você o
alcança, então, de fato, você é um filho de Deus. E o que se estabelece de
maneira bem silenciosa é uma concorrência com o chamado irmão ou irmã. Ciúmes,
invejas, iras, mentiras, ganância, usurpação... Vale qualquer coisa desde que
seja feita de maneira sutil e, principalmente, “com todo amor”. Aliás, os
pastores são, de fato, mestres em ensinar tais comportamentos para suas
ovelhas.
As amizades geradas, normalmente, são tão firmes
quanto um cata-vento em um furacão. É por isto que se você comete o pecado de
se “desviar do caminho” ou de desenvolver idéias que contrariem a instituição
ou a vaidade de seus líderes; olhares tortos surgem, a pessoa é posta de lado
e, dependendo do nível que atingir, poderá ser colocada na “fogueira” e receber
o seu comunicado de exclusão. Digo isto por experiência própria, pois não
apenas fui excluído da última instituição religiosa a qual pertencia há algum
tempo atrás, como fui ameaçado de surra e de morte pelo líder de lá que é visto
como um santo perante os seus numerosos seguidores.
De fato, o que se percebe é que a religião moldou o
caráter e a personalidade do indivíduo, o qual dificilmente conseguirá extrair
toda esta maldade de si, ou antes, dificilmente conseguirá perceber o cheiro
fétido dos seus próprios excrementos.
Quando percebem, os religiosos de ontem tendem a virar
os não-religiosos de hoje e, com isto, ganham asas que tanto queriam e começam
a fazer coisas que antes a religião os proibiam. “Ah!!! Finalmente a
liberdade!!!” Por um lado, de fato ganharam a liberdade, mas por outro,
dificilmente perceberão que o seu comportamento religioso permanecerá agarrado em
suas entranhas, mesmo que já tenham deixado de praticar os antigos rituais.
Dessa maneira, permanecem ciúmes, invejas, iras,
mentiras, ganância, usurpação... Permanecem com a capacidade altamente
desenvolvida de falarem mal de outrem pelas costas, de levantar falso para o
diabo e para Deus contra alguém e, quando são instigados a pedir perdão,
escolhem o subterrâneo escuro para realizarem tal ato a fim de manterem seus “status quo”. Sobem em edifícios
grandiosos a fim de ecoarem falsas verdades como penas ao vento, mas em seus
atos de arrependimentos são incapazes de resgatar uma pena que seja. São homens
viris em promoverem o caos e se safarem com extrema esperteza, mas são frangas
cacarejantes em assumirem seus atos.
Fica extremamente claro que a sordidez existente nos
ambientes religiosos se derrama sobre os chamados não-religiosos simplesmente
porque a grande maioria ou acredita que a questão é simplesmente abandonar
rituais, ou porque, de fato, não são homens (independente do sexo)
suficientemente capazes de abandonarem a mentalidade infantil e o estado
degenerativo de suas personalidades.
A verdade, então, permanece sempre sendo disfarçada
porque os conchavos permanecem existindo e a transparência continua sendo
abnegada.
Seja qual for o lado: religioso ou não-religioso todos
carecemos de uma dose cavalar de vergonha na cara, de hombridade. Coisas que,
de fato, nos façam abandonar tais meninices.
Caso contrário, salve-se quem puder! Porque ser
diferente por aqui é ser anormal.
Riva Moutinho 25/01/2010