A RELAÇÃO FASCISTA DO DISCURSO DE ÓDIO COM A MASSA

 

Márcio Honorato de Sousa Filho

 

RESUMO: Diferentes sociedades civilizadas passaram pelo pavor do fascismo, que infelizmente continua a ser um tema bastante atual. É necessário entender as motivações que resultaram nessas mentalidades reacionárias que têm potencial para desembocar no etnocentrismo, ódio a grupos historicamente perseguidos ou até inimigos criados por via de discurso de ódio. Rupturas democráticas deste nível podem causar traumas históricos, como em um dos maiores exemplos deste tipo representado pelo nazifascismo da Alemanha de Hitler. Discursos fascistas são comumente guiados por líderes agitadores de grupos ou massas que podem ser facilmente identificáveis por seu padrão de ação. Destarte, este artigo tem a intenção de abordar as possíveis formas que o fascismo tem de penetrar em sociedades, a princípio, democráticas por uma perspectiva de psicologia social e psicanálise. Para sua produção, foram realizadas pesquisas em artigos disponíveis em acervos digitais e obras clássicas a respeito do tema. Visto que é um tópico atualíssimo, é importante e justificável a execução do presente artigo.

 

Palavras chave: Psicanálise. Fascismo. Discurso de Ódio. Autoritarismo.

 

ABSTRACT: Different civilized societies have gone through the dread of fascism, which unfortunately remains a very current topic. It is necessary to understand the motivations that result in these reactionary mentalities that have the potential to lead to ethnocentrism, hatred of historically persecuted groups or even enemies created through hate speech. Democratic breaks at this level can cause historical trauma, as in one of the greatest examples of this type represented by Hitler's Nazi fascism. Fascist speeches are commonly guided by agitating group or mass leaders, who can be easily identified by their pattern of action. This article intends to address the possible ways that fascism has to penetrate societies, at first, democratic from a perspective of social psychology and psychoanalysis. In order to carry out the research, research was carried out on articles available in digital collections and classic works on the subject. Since it is a very topical topic, it is important and justifiable to execute this article.

 

Keywords: Psychoanalysis. Fascism. Hate Speech. Authoritarianism.

 

 

1INTRODUÇÃO

 

 

Sem liberdade de expressão, não há democracia. Ela ocupa o centro nevrálgico de uma estrutura democrática (GARGARELLA, 2011, p. 30) e, por isso, no Brasil1 , foi inscrita topograficamente em posição de destaque na Constituição Federal (art. 5o , IX). A liberdade de expressão apresenta a mesma relevância no plano dos tratados internacionais, especialmente dentro do Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Em uma democracia, no entanto, buscando-se o manto da proteção da própria liberdade de expressão, podem ocorrer manifestações de intolerância e discriminação contra grupos vulneráveis, como negros, indígenas, homossexuais, mulheres e minorias religiosas.

Ao longo da história diferentes civilizações conviveram com o fantasma do fascismo, que é um movimento originado na Europa no início do século XX e que prega a soberania de um grupo em relação a outrem, seja por raça, religião, ideologias, entre outros motivos. Movimentos assim costumam ser guiados por líderes que se tornam símbolo desses ideais. Este artigo dialogará a respeito das consequências que esse discurso de ódio pode provocar nos grupos, tendo como base a psicologia social e estudos psicanalíticos.

Estes agitadores fascistas costumam seguir repetidos padrões e por esse motivo podem ser facilmente identificáveis como elucida ADORNO (1951, s/p.) dizendo que “a similaridade dos proferimentos dos vários agitadores é tão grande que, em princípio, basta analisar as afirmações de um para conhecer a de todos os demais”.

Extrapolando a análise e traçando um paralelo com o contexto específico do conhecido regime nazifascista alemão, no livro Psicologia de Massas do Fascismo, o questionamento sobre os motivos do porque um cidadão médio comum aderir a um regime totalitário é trazido por Reich (1933, p. 38) quando questiona que "o que não se pode compreender de um ponto de vista estritamente econômico é que, embora economicamente na miséria, ele receie o progresso e se torne mesmo extremamente reacionário".

Isto posto, o presente artigo possui o objetivo: esmiuçar as motivações que levam um cidadão médio a abraçar um discurso fascista e reproduzi-lo, entendendo que o fato dele estar em grupo é principal motivador. Como objetivos específicos, este artigo elucida o que é uma massa e como ela influencia psiquicamente o indivíduo, compreender o papel da figura do líder no discurso de ódio e entender se o contexto socioeconômico é papel facilitador para a ascendência de discursos fascistas.

Direcionando a discussão a respeito da temática, este estudo traz a seguinte problemática: porque o cidadão médio em crise tende ao autoritarismo? A hipótese levantada para a questão pressupõe existem uma série de fatores para esta possível inclinação como a identificação com um grupo que te defina como sujeito, falta de poder de compra e falta de confiança no poder do estado.

O que justifica esta pesquisa em caráter pessoal é a compreensão do atual momento histórico e político do Brasil, além do ganho de conhecimento teórico acerca do tema, abrindo espaço para pesquisas subsequentes. Como justificativa social, o estudo apresentará, numa perspectiva psicanalítica e de psicologia social, quais os caminhos que um discurso fascista percorre até angariar poder e como detectá-lo para combatê-lo. Como Justificativa científica, contribuirá bibliograficamente com os acervos relativos a estudos acerca do discurso fascista e a psicanálise, trazendo uma perspectiva mais atual para o tema.

 

2FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

 

  1. O Discurso Fascista e a Construção do Nacionalismo

 

 

O discurso de ódio está dirigido a estigmatizar, escolher e marcar um inimigo, manter ou alterar um estado de coisas, baseando-se numa segregação. Para isso, entoa uma fala articulada, sedutora para um determinado grupo, que articula meios de opressão. Os que não se enquadram no modelo dominante de “sujeito social nada abstrato: masculino, europeu, cristão, heterossexual, burguês e proprietário” (RIOS, 2008, p. 82) são os potenciais inimigos.

Quanto aos envolvidos, especialmente no tocante aos grupos atingidos pelo discurso do ódio, de fato, o discurso invariavelmente é direcionado a sujeitos e grupos em condições de vulnerabilidade, que tratamos como grupo não dominante, dentro da perspectiva fornecida pelo Direito da Antidiscriminação, o que torna importante analisar a perspectiva fornecida pela Convenção Interamericana contra Toda Forma de Discriminação e Intolerância.

O conceito de política nacionalista compreende a vontade de manter uma unificação nacional, um culto à tradição, à cultura do país e de seu povo. A preservação da identidade- nação muitas vezes entra em contradição às novas configurações sociais que rompem com essas tradições entrando em um ciclo de estranheza e ausência de reconhecimento, sobretudo da diversidade e pluralidades que estão buscando visibilidade social (MERELES, 2017).

Nesta perspectiva nacionalista é importante ponderar os papéis que as lideranças políticas possuem e suas responsabilidades na disseminação de desinformação, bem como falas odiosas sobre temas que ferem o direito da existência de uma pessoa ou grupo. Assim como fala o renomado professor DUNKER (2018), que faz um paralelo com a obra de FREUD em Psicologia de Grupo e Análise do Ego, onde observa em algumas lideranças atuais apontamentos e falas que comprometem a integridade moral de indivíduos com falas adoecidas que escarneiam tragédias, descredibilizam a leitura e a educação pública, negam a pesquisa e a ciência, desrespeitam de forma escancarada mulheres e LGBTQI+ e pessoas racializadas.

No livro de FREUD (2011), é levantada a questão: “o que mantém coesa uma massa de pessoas?”. Nessa obra, o olhar do psicanalista perpassa a ciência antropológica e a psicologia


 

 

 

 

dos povos. Para isso, a obra utiliza conceitos voltados para a identificação, regressão, idealização, libido e recalque. Em um diálogo intimista é colocada a função dos grandes grupos e mecanismos inconscientes, que avaliados conjuntamente podem influenciar o grupo a atribuir a uma pessoa a liderança. É dada a confiança plena a esse líder e muitas vezes, essas atribuições são conquistadas de formas questionáveis. O mesmo acontece com as lideranças políticas, líderes religiosos ou cargos superiores no exército.

A obra de FREUD (2011) foi escrita em um período de conflitos políticos, guerras e com aspirações nazifascistas, num contexto social que desvalorizava as individualidades, com o pensamento católico que refletia diretamente no sentido do pensamento da humanidade no ocidente.

A citação exemplifica melhor em sentido e reflexão:

“Quando se fala de psicologia social ou de massas, existe o hábito de abstrair dessas relações, e isolar como objeto de investigação a influência que um grande número de pessoas exerce simultaneamente sobre o indivíduo, pessoas às quais ele se acha ligado de algum modo, mas em muitos aspectos elas lhe podem ser estranhas. Portanto, a psicologia de massas trata o ser individual como membro de uma tribo, um povo, uma casta, uma classe, uma instituição, ou como parte de uma aglomeração que se organiza como massa em determinado momento, para um certo fim. Após essa ruptura de um laço natural, o passo seguinte é considerar os fenômenos que surgem nessas condições especiais como manifestações de um instinto especial irredutível a outra coisa, o instinto social — herd instinct, group mind [instinto de rebanho, mente do grupo] —, que não chega a se manifestar em outras situações. ( FREUD, 2011, p,15).

 

 

É importante para o aspecto analítico da psicologia considerar o efeito manada que a ideia compartilhada pode causar nas pessoas principalmente se essas ideias são disseminadas por sujeitos que possuem espaços importantes de atuação ou cargos de poder e lideranças. Vale fazer aqui um contraponto sobre o pensamento da antropóloga e ativista negra Lélia Gonzalez pela perspectiva do teórico Jacques Lacan, onde o Brasil assenta dentro da dinâmica das relações que está presente as neuroses culturais brasileiras imbuídas nas práticas patriarcais, onde as estruturas de poder sobre as massas são evidentemente desiguais, injustas e preconceituosas.

É preciso observar de perto a personalidade autoritária e os contextos históricos sociais que contribuem e dão campo para florescer este tipo de personalidade. A teoria crítica da sociedade é importante para a reflexão acerca destas questões fundamentais que podem levar ao entendimento da gênese dessas aspirações reacionárias que têm potencial para ascender na esfera social e política. Tal compreensão é necessária para superar as tendências regressivas e primitivas de violência na sociedade para o fortalecimento de um conjunto de instituições norteadas por leis nacionais que integram a noção de personalidade autoritária, que geralmente podem alçar-se por meio de representações icônicas ou na própria política.

Para compreender esse fenômeno, é necessário ter em mente certas recentes descobertas psicológicas. Sabemos hoje que, por diversos processos, um indivíduo pode ser colocado numa condição em que, havendo perdido inteiramente sua personalidade consciente, obedece a todas as sugestões do operador que o privou dela e comete atos em completa contradição com seu caráter e hábitos. As investigações mais cuidadosas parecem demonstrar que um indivíduo imerso por certo lapso de tempo num grupo em ação, cedo se descobre – seja em consequência da influência magnética emanada do grupo, seja devido a alguma outra causa por nós ignorada – num estado especial, que se assemelha muito ao estado de ‘fascinação’ em que o indivíduo hipnotizado se encontra nas mãos do hipnotizador. (…) A personalidade consciente desvaneceu-se inteiramente; a vontade e o discernimento se perderam. Todos os sentimentos e o pensamento inclinam-se na direção determinada pelo hipnotizador. (FREUD, 1921 p.05).

 

Dado o contexto histórico social autoritário e a coletividade de valores regressivos e primitivos, vale relatar a psicologia de massas do fascismo, das origens do totalitarismo da grande classe subjetiva dos trabalhadores e o caráter como se originado da dominação da hierarquia da distinção de gênero e classe que componha a identidade humana e a construção da noção de poder, de solvência e de pertencimento social.

A combinação desses elementos dá um sentido muito importante para entendermos a formação da personalidade autoritária. Esse é o gás da psicologia de massas do fascismo associada patologicamente a atrofia completa do narcisismo da hipertrofia, do erro da insurgência de uma série de discursos de autoritarismo, de violência e discursos de ódio. Acontece principalmente em tempos de crise e contextos de competição que não se pode colocar o estado contra e acima dos demais. Então esse universo egocêntrico, que parece orbital, as ações competitivas na sociedade não conseguem exercer suas características mais cotidianas as que são mais cobradas, as garantias de direitos dos indivíduos são ocultadas por ideias deturpadas e odiosas. Se existem indivíduos na condição de exclusão ou impedidos de se posicionarem socialmente, isso evidencia a fragilidade das planificações próprias do narcisismo social.

 

2.2Reflexões Teóricas Sobre a Função Política do Discurso de Ódio

 

 

Em teoria, quando o discurso de ódio não pode ser exercido em um contexto de crise ou em um momento de falta de explicação para ruptura de problemáticas, é aí que ele enraíza suas origens e estirpes para oferecer soluções fáceis retomando discursos de ódio, preconceito e exclusão que estão sempre à mão daqueles que apropriados pela crise, encontram compradores desses posicionamentos odiosos.

A peculiaridade mais notável apresentada por um grupo psicológico é a seguinte: sejam quem forem os indivíduos que o compõem, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento. Há certas idéias e sentimentos que não surgem ou que não se transformam em atos, exceto no caso de indivíduos que formam um grupo. O grupo psicológico é um ser provisório, formado por elementos heterogêneos que por um momento se combinam, exatamente como as células que constituem um corpo vivo, formam, por sua reunião, um novo ser que apresenta características muito diferentes daquelas possuídas por cada uma das células isoladamente.’ (LE BON, 1920, p. 29).

 

Uma sociedade que se baseia em estruturas hedonistas, pelo cálculo utilitário e pela participação das satisfações pessoais traz um contraponto interessante para a percepção de como determinados indivíduos fragilizados pelas crises sociais históricas aderem a grupos. Porque no grupo, “juntos seremos mais fortes” a própria ideia de coletividade é carregada do sentimento de não solidão concentrado na ideia de situações passageiras. O Brasil está passando por uma considerável e profunda crise política e social, vários eventos aconteceram contrapondo grupos de filiação política diversos discursos de ódio dos mais diversos possíveis, manifestações com características autoritárias que são potencializados nas redes sociais.

É perceptível que indivíduos fragilizados pelas crises sociais históricas aderem a grupos porque em grupo a possibilidade de passar por adversidades em um contexto de profunda crise política nacional e social pode ser mais amena.

Em qualquer lugar a discriminação e o discurso de ódio fazem com que seja observado o ponto em que este discurso quando compartilhado em contextos muito propícios para o desenvolvimento da personalidade e das práticas autoritárias assenta-se em raízes da genealogia do fascismo de caráter autoritário como a transmissão radiofônica caminha para impactos astronômicos nos rumos sociais da nação brasileira.

Um grupo é impulsivo, mutável e irritável. É levado quase que exclusivamente por seu inconsciente. Os impulsos a que um grupo obedece, podem, de acordo com as circunstâncias, ser generosos ou cruéis, heroicos ou covardes, mas são sempre tão imperiosos, que nenhum interesse pessoal, nem mesmo o da autopreservação, pode fazer-se sentir (ibid., 41). Nada dele é premeditado. Embora possa desejar coisas apaixonadamente, isso nunca se dá por muito tempo, porque é incapaz de perseverança. Não pode tolerar qualquer demora entre seu desejo e a realização do que deseja. Tem um sentimento de onipotência: para o indivíduo num grupo a noção de impossibilidade desaparece. (FREUD, 1921 p.06)


 

 

 

 

Ao analisar essa citação de FREUD (1921) pode-se perceber a questão que polemiza centralizada na expressão “direitos humanos para humanos direitos”, quando então atitudes e movimentos autoritários vindos à tona obviamente chocam quando por sua movimentação. Mas não se deve colocar surpresa, porque essa análise veio justamente para colocar compreensão na genealogia do cotidiano e da noção histórico-filosófica de banalidade do mal com conformidade da personalidade autoritária.

Em situações de crise é necessário que a ação coletiva interaja por intermédio de reivindicações e manifestações por meio das instituições democráticas. Essas atividades promovem fortalecimento da sociedade como um todo de maneira igual para manutenção ativa na supressão e combate efetivo a qualquer possibilidade de rompimento democrático. Uma vez que o acesso à informação e educação ofertada com qualidade tende a fragilizar esse sistema de manutenção de poder.

Embora, dessa maneira, as necessidades de um grupo o conduzam até meio caminho ao encontro de um líder, este, contudo, deve ajustar-se àquele em suas qualidades pessoais. Deve ser fascinado por uma intensa fé (numa ideia), a fim de despertar a fé do grupo; tem de possuir vontade forte e imponente, que o grupo, que não tem vontade própria, possa dele aceitar. Le Bon discute então os diferentes tipos de líderes e os meios pelos quais atuam sobre o grupo. Em geral, acredita que os líderes se fazem notados por meio das ideias em que eles próprios acreditam fanaticamente. (FREUD, 1921 p.08).

 

No que diz respeito as intelectualidades permanece o fato que as grandes decisões no domínio do pensamento e as descobertas momentâneas são possíveis ao indivíduo que atua sozinho. Contudo, mesmo a mente coletiva é capaz de desenvolver conhecimento criativo no campo da inteligência.

De acordo com FREUD (1921), a questão intelectual permanece aberta, sobretudo, saber quanto o pensador ou o escritor, individualmente, deve ao estímulo do grupo em que vivem e se eles não fazem mais do que aperfeiçoar um trabalho mental em que os outros tiveram parte simultânea. Diante disso essas descrições completamente contraditórias, talvez poderiam insinuar que o trabalho da psicologia de grupo estivesse fadado a chegar a um fim infrutífero, porém é possível encontrar uma saída mais esperançosa para o dilema.

Uma série de estruturas bastante diferentes provavelmente se fundiram sob a expressão ‘grupo’ e podem exigir que sejam distintas. As assertivas de Scipio Sighele e Le Bon referem- se a grupos de caráter efêmero, que algum interesse passageiro compartilhou rapidamente diversos tipos de indivíduos. As opiniões contrárias devem sua origem à consideração daqueles grupos ou associações estáveis em que a humanidade passa a sua vida e que se incorpora nas instituições da sociedade.


 

 

 

 

Ainda sobre a teoria de FREUD (1921), é possível identificar quatro fases fundamentais para o entendimento da Psicologia de Grupo e a Análise do Ego, sendo a primeira delas pautada sob “a condição é que haja certo grau de continuidade de existência no grupo. Esta pode ser material ou formal: material, se os mesmos indivíduos persistem no grupo por certo tempo, e formal, se desenvolveu dentro do grupo um sistema de posições fixas ocupadas por uma sucessão de indivíduos”.

Por esta vez, a segunda fase mostra que “a condição é que em cada membro do grupo se forme alguma ideia definida da natureza, composição, funções e capacidades do grupo, de maneira que, a partir disso, possa desenvolver uma relação emocional com o grupo como um todo”.

Na terceira fase, “o grupo deva ser colocado em interação (talvez sob a forma de rivalidade) com outros grupos semelhantes, mas que dele difiram em muitos aspectos”. Finalmente, a quarta é que “o grupo possua tradições, costumes e hábitos, especialmente tradições, costumes e hábitos tais, que determinem a relação de seus membros uns com os outros. A quinta é que o grupo tenha estrutura definida, expressa na especialização e diferenciação das funções de seus constituintes”.

A questão é, ao analisar essas fases existe um impasse, em saber como conseguir para o grupo tenha exatamente aqueles aspectos que eram característicos do indivíduo e nele se extinguiram pela formação do coletivo, “pois o indivíduo, fora do grupo primitivo, possuía sua própria continuidade, sua autoconsciência, suas tradições e seus costumes, suas próprias e particulares funções e posições, e mantinha-se afastado de seus rivais”.

Entrar em um grupo pouco organizado faz com que o indivíduo perca suas especificidades por certo tempo. É reconhecido então que o objetivo de coletivizar é aparelhar o grupo com os atributos do indivíduo, lembrando que esta ação é de uma valiosa observação de Trotter (1919/1953), no sentido de que a tendência para a formação de grupos é, biologicamente, uma continuação do caráter multicelular de todos os organismos superiores. É importante também relatar que Freud faz uma rápida menção a esse autor em Psicologia de Massas e Análise do Eu.

A importância da disciplina Psicologia Social, para essa tessitura onde defende a existência de uma nova forma de configuração dos indivíduos, expressada por atitudes e comportamentos individuais padronizados por um ego frágil, facilmente formalizado por movimentos sociais totalitários. É importante ressaltar que em uma sociedade caracterizada por uma forma de dominação relacionada com a racionalidade administrativa e tecnológica. Então,


 

 

 

 

este artigo visa neste momento esclarecer sobre a dissiminação de movimentos sociais irracionais, a exemplo no facismo, que segundo ADORNO (2008, p.227) “a determinação desses movimentos não é individual, mas social”.

 

2.3Sociedades Autoritárias e Totalitárias na Psicanálise e Psicologia Social

 

 

De acordo com a psicologia social, na sua visão, ADORNO (2008) “indica a relação entre o indivíduo e a sociedade”. Sendo assim, o aspecto pessoal está intimamente ligado com a psicologia bem com a sociologia. No entendimento de ADORNO (2008) essa relação coexiste de maneira a não impedir que ocorra ‘interação simétrica’ entre dois fenômenos. Segundo, Adorno (1968/1996):

“Deveria ser parte, mas comportamentos irracionais manifestados em massas, e massas entendidas nos múltiplos sentidos atribuídos por Freud (1921/1993): multidão, grupos, instituições. Não é a preocupação com as massas o que diferencia o objeto dessa disciplina do que é estudado pela psicologia, e, sim, tipos de comportamentos expressados em sentimentos, pensamentos e tendências para a ação uniformes, padronizados (ADORNO, 2008, p.228).

 

É importante frisar que, para ADORNO (2008) “o fascismo é conseqüência inevitável do capitalismo dos monopólios, assim como a perseguição dos judeus foi consentida também pelo enfraquecimento da esfera de circulação de mercadorias”, em análise o autor cita a associação essencial no desenvolvimento das ideias de movimento que identifica: ‘Reflexões sobre a teoria das classes’, Adorno (1942/2004) também diz, que reflexões dessas conjecturas não devem reduzir, como veremos, no seu entendimento do fenômeno a determinações econômicas, posto que desenvolve uma teoria da dominação que se expressa também pelo capital lucrativo, mas não se reduz a ele.

Nas sociedades autocráticas o facismo se instala como mecanismo de controle, com objetivo de movimentar o cenário político e filosófico ou até como referencia ao regime (estabelecido por Benito Mussolini na Itália, em 1922), que faz prevalecer os conceitos de nação e raça sobre os valores individuais, centralizado na figura de um ditador. REICH (1933, p.8) define o facismo como “a expressão da estrutura irracional do caráter do homem médio, cujas necessidades biológicas primárias e cujo impulsos têm sido reprimidos há milênios”

Oferecer receitas tem escassa utilidade. Mas quem teve em conta os feitos a que os agitadores são propensos e adquiriu consciência disso talvez já não sucumba ingenuamente aos seus falsos apelos; e o que conhece as motivações ocultas do preconceito resistirá a ser um joguete nas mãos dos que, para libertarem-se do peso que os oprime, voltam-se contra os que são mais débeis do que eles. Brochuras esclarecedoras e objetivas, a colaboração do rádio e do cinema, a elaboração dos resultados científicos para ensino nas escolas, poderiam ser medidas práticas de


 

 

 

 

combate ao perigo da loucura totalitária da massa. (Horkheimer; Adorno, 1956/1978b, p. 182).

 

A proposta aqui explicitada induz a ideia de que se alinhar aos conceitos fascistas afetaria com grande risco o âmbito social retardando por sua vez a noção de civilidade e cidadania assistida, também podendo expandir significativamente o abismo das desigualdades econômicas de classe e de cor. A personalidade autoritária (ADORNO, 1950/1965) traz como hipótese central a existência de uma mentalidade que contemplaria simultaneamente a posição política individual e preconceitos contra minorias.

De acordo com as leituras, se percebe a identificação de uma mentalidade adiquirida que conduz a personalidade construída e desenvolvida por intermédio das instituições sociais. É percebido nos estudos clássicos que o autores levantam questionamentos psicanalísticos e suas originalidades, bases teóricas e experimentações basilar ao desenvolvimento das mesmas. No livro ‘Dialética do esclarecimento’ de HORKHEIMER; ADORNO (1947/195) é elaborado conceitos de demarca a função da indústria cultural e do antisemitismo, versa também sobre pontuações próprias da psicologia social, as novas configuração do individuo da

atualidade, historicamente civilizatória.

Podemos caracterizar o pensamento em blocos, onde o indivíduo sendo ele nacionalista será também anti-semita. Nessa perspectiva é apontado nesta referida obra abordagens que aponta para a transformação da sociedade liberal para a administrada, ou seja, p fortalecimento do capitalismo de monopólios. Nessa onda, a relação ‘natureza-cultura’ nesse caso se refere propriamente sobre a dominação a nível maior que a própria economia. Ao passo que a dominação da natureza e dos próprios homens não é vista pelos autores estudados aqui como atrelado aos homens, mas ao movimento social, representado pelo esclarecimento, o que pode por tanto desaparecer quando é finalmente conquistado seus objetivos originais.

O que chama atenção para os mecanismos psíquicos é a ‘mentalidade do ticket’ que configura uma forma de categorização que associa superficialmente diversos elementos como parte de uma mesma pauta. E como aponta HORKHEIMER; ADORNO (1947/1985) “antes dos mecanismos psíquicos entrarem em ação, os dados já são preparados socialmente para serem apreendidos dessa forma”. Sendo assim, instrumento modelador da mentalidade autoritária e superficial dos sujeitos simpatizantes de políticas conservadoras e liberais. O que demostra a fragilidade da constituição do ‘eu’ em relação aos indivíduos que constituem a sociedade e suas adaptações subjacentes.


 

 

 

 

A fragilidade do indivíduo pode ser compensada pela adesão a uma ilusão coletiva representada por um líder e/ou ideal, tal como descreveu Freud (1921/1993). “O sentimento de onipotência gerado por fazer parte de um grupo, que se julga perseguido e que supostamente detém a verdade, compensa a percepção da própria fragilidade”. A ferida narcísica serve ao narcisismo coletivo. Naqueles que são ressentidos, nasce a ‘opinião não-pública’, mantida em sigilo, por meio das diversas seitas e organizações clandestinas até o momento de ocupar o poder, quando a loucura coletiva se preserva pela racionalidade que não se volta para os fins, mas somente para os meios.

Além de propenso ao autoritarismo, o homem contemporâneo é dotado de frieza, quase não é mais capaz de identificação, de amar o outro, de ter experiências. Essas características são atribuídas pelo autor também à fragilidade da formação do eu, devida, por sua vez, quer à organização racional da sociedade que pode prescindir do pensamento individual, quer à ameaça existente de ser deixado de lado, caso não se siga o que todos seguem. O comportamento cada vez mais padronizado dos indivíduos, o que é fruto da superficialidade com a qual se desenvolvem, é como assinalado antes, o objeto novo, o qual Adorno defende seja estudado pela Psicologia Social.

De acordo com FREUD in ADORNO (1951), “o problema da psicologia de massa está intimamente relacionado com um novo tipo de padecimento psicológico, característico de uma era que, por motivos socio-econômicos, testemunha o declínio do indivíduo e seu inevitável enfraquecimento”. O indivíduo, acaba por elaborar os traços de sua crise profunda e de sua vontade de inquestionavelmente se entregar as agências coletivas e poderosas que coexistem no mundo moderno.

Os agitadores seguem essa linha ao usar o conhecido "truque da unidade". Eles salientam suas diferenças em relação aos de fora e as minimizam dentro de seu próprio grupo, tendendo a nivelar suas qualidades distintivas, com a exceção daquelas hierárquicas. "Estamos todos no mesmo barco"; "ninguém deve ser melhor": o esnobe, o intelectual, o hedonista sempre são atacados. A corrente subterrânea do igualitarismo malévolo, da fraternidade dos comprometidos com todo o tipo de humilhação, é um componente da propaganda fascista e do próprio fascismo. O Eintopfgericht, o famoso comando de Hiltler, é seu símbolo. Quanto menos os fascistas querem mudar a estrutura social que lhes é inerente, mais eles tagarelam sobre a justiça social, querendo dizer com isso que nenhum membro da "comunidade popular" deve se entregar aos prazeres individuais. Ao invés de, suprimindo a repressão, realizar a verdadeira igualdade, o igualitarismo repressivo faz parte da mentalidade fascista e, como tal, ele se reflete no expediente do "se vocês soubessem", que, sob forma vingativa, promete a revelação de todos os tipos de prazeres proibidos que os outros desfrutam. Freud interpreta psicologicamente esse fenômeno como caso de transformação dos indivíduos em membros de uma "horda fraternal", cuja coerência se encontra em sua condição de formação reativa à inveja primária de seus integrantes, desse modo posta a serviço da coerência do agrupamento. (ADORNO, 1951, s/p).


 

 

 

 

O conceito unificador suprime as diversidades que eventualmente surgem em uma sociedade autocrática, descaracteriza os grupos e desqualifica as execções, no mesmo passo que exauta a hierarquização das relações de poder. Uma vez que o significado de igualdade é refletida de forma distorcida e prejudicada. Os idearios de justiça social são subterfujos para favorecer vontades individuais. O uso da repressão reflete a transformação dos individuos em credores da obediência afetiva ao líder como contribuição ao bem maior “patriotismo e nacionalismo”.

Mas vale lembrar que os instintos arcaicos e pré-individuais sobreviveram e por isso, “é preciso explicar ainda por que o homem moderno regride a padrões de conduta que contradizem de modo flagrante seu nível racional e o presente estágio da civilização tecnológica iluminista”. Sob essa ótica, Freud tenta descobrir quais são as forças psicológicas que resultam na transformação do indivíduo em massa. "Se os indivíduos de um grupo combinam-se em uma unidade, precisa haver algo que os una, e esse laço precisa ser a coisa que caracteriza o grupo". A presente pesquisa se vale da exposição do problema fundamental da manipulação fascista. Afinal de contas, o demagogo fascista, que conquista o apoio de milhões de pessoas para fins amplamente incompatíveis com seus interesses racionais, só pode fazer isso se, artificialmente, criar um vínculo com as masssas. Se a abordagem dos demagogos é de todo realista, seu sucesso popular não deixa dúvida, então poderia ser hipotetizado que o vínculo em questão é a própria coisa que o demagogo procura produzir sinteticamente; efetivamente, é ela

o princípio unificador por detrás de todos os caminhos possíveis que resulta no autoritarismo.

É de suma importancia mencionar as características misteriosas e coercitivas das formações grupais, presentes nos fenômenos de sugestão que as acompanham, podem assim, com justiça, ser remontadas com objetivos saudosistas de tempos outrora vistos por um grupo como prósperos.

O líder dentro do grupo é temido e amado ao mesmo tempo. O grupo deseja ser governado pela força irrestrita desse líder, adiquirindo uma paixão extrema pela autoridade; na expressão de Le Bon, tem sede de obediência. O líder autoritário é o ideal para o grupo, que transporta o eu para o lugar ideal do eu. Realmente é isso que define a natureza e conteúdo da propaganda fascista.

Sendo assim, a propaganda facista é psicológica, por causa dos objetivos autoritários irracionais, que não podem ser alcançados por meio de convicções racionais mas só através do habilidoso despertar de "uma parcela da herança arcaica do sujeito". A agitação fascista está centrada na idéia do líder, não importando se ele realmente lidera ou não passa do delegado de


 

 

 

 

grupos de interesse, porque, psicologicamente, somente a imagem do líder está apta a reanimar a ideia de grande Líder.

A formação imaginária de uma figura paterna onipotente e violenta, altamente capaz de transcender o pai real e, com isso, crescer até se tornar um ego coletivo ("group ego") é a única maneira de promulgar "a atitude passivo-masoquista, a que a vontade tem de se render", uma atitude exigida do seguidor do fascismo à medida em que seu comportamento político é inconciliável com seus próprios interesses racionais como pessoa privada tanto quanto do grupo ou classe a que ele de fato pertence. O redespertar da irracionalidade do seguidor é, portanto, totalmente racional, do ponto de vista da liderança: trata-se de algo que necessariamente tem de surgir como "uma convicção que não se baseia na percepção e raciocínio mas, antes, no campo dos desejos".

 

3METODOLOGIA

 

 

  1. Tipo de estudo

Para a construção deste artigo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, onde foram utilizados artigos científicos de acordo com o conteúdo do tema sugerido. Evidenciou-se o discurso de ódio sob a perspectiva da psicanálise de Freud como base de estudo para tratar do tema; procurou-se também explanou-se a noção do discurso fascista, ou de ódio, pela perspectiva psicanalítica e social. Por fim, apresentou-se as consequências desse discurso de ódio, que posteriormente resultariam na mentalidade reacionária ou fascista.

Segundo Lima e Mioto (2007, apud PIZZANI; et al, 2012), a pesquisa bibliográfica é uma peça fundamental que antecede a elaboração ou construção de um estudo, artigo, tese ou dissertação. É necessário desenvolver uma série de métodos de busca e consulta aplicados ao objeto de estudo para dar conta desta primeira parte da pesquisa. A pesquisa bibliográfica quando é bem desempenhada, é capaz de trazer suposições de diferentes pontos, hipóteses ou interpretações; sobretudo em temas ainda pouco abordados. Posteriormente, estes meios podem servir de ponto de partida para a demais pesquisas.

 

3.2Amostra, local e período de pesquisa

Para a realização do presente artigo foram realizadas consultas e leituras de artigos encontrados a partir de pesquisas feitas no Google Acadêmico e demais acervos digitais. Além disso foram utilizadas obras clássicas de autores de renome na temática, como Psicologia de


 

 

 

 

Grupo e Análise do Ego de Sigmund Freud, Teoria Freudiana e o Modelo da Propaganda Fascista de Theodor Adorno e Psicologia de Massas do Fascismo de Wilhelm Reich. O periodo de elaboração da pesquisa se deu no início do verão de 2020, terminando no outono de 2021.

 

3.3Critérios de inclusão e exclusão

Os critérios utilizados para a inclusão foram a seleção de tópicos que trouxessem compreensão ao assunto e tema principal da pesquisa; aos objetivos específicos assim como às palavras-chave Psicanálise, Fascismo, Discurso de Ódio e Autoritarismo, eliminando todo artigo que não se relacione diretamente ao contexto da pesquisa.

 

3.4Procedimentos de Coleta de Dados

A coleta de dados foi feita através da leitura de obras clássicas e artigos acadêmicos de níveis de mestrado e doutorado; selecionados a partir de título da obra, ano, resultados e discussões e, principalmente, sua relevância teórica, em alguns casos, até histórica. Todos os critérios utilizados estão diretamente ligados com a temática proposta para este artigo.

 

3.5Procedimentos de Análise de Dados

A análise dos dados foi baseada em um julgamento qualitativo, que aponta um desenvolvimento a partir da temática apresentada, na qual foi permitida uma compreensão cabível a partir da leitura realizada durante o prosseguimento deste artigo.

 

4RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

 

Os apontamentos desta pesquisa trilhou os caminhos de analise crítica sobre ideologias nazifascistas e a partir disso, observar as consequencias e práticas desses regimes autoritários e totalitários na manunteção do comportamento humano. Sobretudo no aspecto psicológico que aplificado por discursos de lideranças políticas, alinhados a postura de “agitador de massas”, como aponta ADORNO (1951). Observada na crítica, de existência de similaridade em comportamentos replicados de personalidades que expõe abertamente sua simpatia por ideologias nazistas e fascitas em sua atuação, bem como em seu governo. A dicotomia eu x outro não deve enaltecer e tampouco subjulgar ninguém (PIOVESAN, SILVA; 2008). Nesse sentido:


 

 

 

 

Enquanto a igualdade pressupõe formas de inclusão social, a discriminação implica violenta exclusão e intolerância à diferença e diversidade. Assim, a proibição da exclusão, em si mesma, não resulta automaticamente na inclusão. Logo, não é suficiente proibir a exclusão, quando o que se pretende é garantir a igualdade de fato, com a efetiva inclusão social de grupos que sofreram e sofrem um consistente padrão de violência e discriminação. (PIOVESAN, SILVA: 2008; p. 12).

 

REICH (1933) ao criticar o nazismo na Alemanha, reconhece em sua obra a realidade de cidadãos médios que adota esse sistema autoritário, auxilia também na reverberação ideológica e alimenta a manunteção de discursos ódios sobre determinados assustos e exclui qualquer possibilidade de diálogo com a democracia. Contribuindo que ideias reacionárias se popularize no âmbito social, facilitando a divulgação e sustentando conservadorismo político, bem como social.

Como discussao a oposição entre a psicologia individual e a psicologia de grupo, que de forma simples pode parecer completo de significado, perde grande parte de sua compreensão quando examinado mais de perto. “É verdade que a psicologia individual relaciona-se com o homem tomado individualmente e explora os caminhos pelos quais ele busca encontrar satisfação para seus impulsos inconscientes”; Mas é preciso levar em consideração que em certas condições excepcionais, a psicologia individual se acha em posição de desprezar as relações desse indivíduo com os outros.

Ainda, devemos pensar que algo mais está invariavelmente envolvido na vida mental do indivíduo, como um modelo, um objeto, um auxiliar, um oponente, de maneira que, desde o começo, a psicologia individual, nesse sentido ampliado mas inteiramente justificável das palavras, é, ao mesmo tempo, também psicologia social. É importante lembrar que essa teoria está pautada na obra “A psicologia de Grupo e Análise do Ego” de FREUD (1937).

Nesse caso LE BON (1920) diz: ‘A peculiaridade mais notável apresentada por um grupo psicológico é a seguinte: sejam quem forem os indivíduos que o compõem, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento’. Há certas ideias e sentimentos que não surgem ou que não se transformam em atos, exceto no caso de indivíduos que formam um determinado grupo.

Ainda teorizando LE BON (1920): “o grupo psicológico é um ser provisório, formado por elementos heterogêneos que por um momento se combinam, exatamente como as células


 

 

 

 

que constituem um corpo vivo, formam, por sua reunião, um novo ser que apresenta características muito diferentes daquelas possuídas por cada uma das células isoladamente.” (1920, 29).

Nesse conceito, “se os indivíduos do grupo se combinam numa unidade, deve haver certamente algo para uni-los, e esse elo poderia ser precisamente a coisa que é característica de um grupo”. Mas LE BON (1920); escolhe considerar a alteração que o indivíduo experimenta quando pertence a um grupo e a descreve em termos que se harmonizam bem com os postulados fundamentais de nossa própria psicologia profunda.

Nessa intenção é possivel versar que exite uma disparidade entre o valor moral individual e o valor moral coletivo. ‘É fácil provar quanto o indivíduo que faz parte de um grupo difere do indivíduo isolado; mas não é tão fácil descobrir as causas dessa diferença.’ Os sentimentos de um grupo são sempre muito simples e muito exagerados, de maneira que não conhece a dúvida nem a incerteza. Ele vai diretamente a extremos; se uma suspeita é expressa, ela instantaneamente se modifica numa certeza inquestionável; um traço de antipatia se transforma em ódio furioso ( FREUD, 1997, p.56).

Nesse momento, é preciso focar no pensamento teórico ADORNO (1951) e como o enfoque dos agitadores é verdadeiramente sistemático e se baseia em um conjunto-padrão, rigidamente delimitado, de "expedientes". Tal conjunto não pertence apenas à unidade última de seu propósito político: a abolição da democracia, através da mobilização de apoio popular contra seu princípio de existência. Pertence ainda mais à natureza intrínseca do conteúdo e forma de sua propaganda.

ADORNO (1951) continua a argumentação com a similaridade dos proferimentos dos vários agitadores “é tão grande que, em princípio, basta analisar as afirmações de um para conhecer a de todos os demais; isso é algo vale para os pequenos e insignificantes mercadores de ódio provincianos, tanto quanto para as figura de maior publicidade.

O fascismo é segundo o dicionário, um movimento político e filosófico ou regime (como o estabelecido por Benito Mussolini na Itália, em 1922), que faz prevalecer os conceitos de nação e raça sobre os valores individuais e que é representado por um governo autocrático, centralizado na figura de um ditador. Fascismo é uma ideologia política ultranacionalista e autoritária caracterizada por poder ditatorial, repressão da oposição por via da força e forte efeito da sociedade e da economia.

O procedimento parece ser o mais apropriado porque de outro modo a interpretação psicanalítica desses expedientes individuais continuaria de algum modo sujeita ao acaso ou à arbitrariedade. Agora é preciso pois recorrer a algum tipo de quadro teórico de referência. Levando em conta que os referidos expedientes praticamente exigem uma interpretação psicanalítica, é totalmente lógico apontar que esse quadro deverá resultar da aplicação mais aberta de algumas idéias básicas da teoria psicanalítica ao conjunto da maneira de agir desses agitadores.

Esse quadro de referência foi fornecido por FREUD (1922) no livro Psicologia de Massa e Análise do Ego. O perigo do fascismo italiano ter se mostrado tão agudo. Mesmo pouco interessado no aspecto político do problema, é certo que não é exagero afirmar que FREUD (1922) vislumbrou claramente a ascensão e a natureza dos movimentos de massas fascistas com suas categorias puramente psicológicas. Se é verdade que o inconsciente do analista percebe o inconsciente do paciente, pode-se presumir também que suas intuições teóricas são capazes de antecipar tendências que, embora ainda estejam latentes no plano racional, já se manifestam noutros mais profundos. Pode não ter sido acaso que, finda a I Guerra, Freud tenha virado sua atenção para o narcisismo e os problemas do ego de maneira mais específica. Isso confirma a hipose de que é preciso que o líder fascista crie um vínculo com as massas e geralmente esse vículo é estabelecido através do discurso de ódio.

É preciso explicar ainda a hipótese do por que o homem moderno regride a padrões de conduta que contradizem de modo explicito, seu nível racional e o modus operante da política facista. Isso se resume na célebre frase de FREUD (1922) na tentativa de indentificar quais são as forças psicológicas que resultam na transformação do indivíduo em massa. "Se os indivíduos de um grupo combinam-se em uma unidade, precisa haver algo que os una, e esse laço precisa ser a coisa que caracteriza o grupo".

Na intenção de uma exposição do problema fundamental da manipulação fascista. O demagogo fascista, que conquista o apoio de milhões de pessoas para fins amplamente incompatíveis com seus interesses racionais, só pode fazer isso se, artificialmente, criar o vínculo procurado por Freud. Se a abordagem dos demagogos é de todo realista e isso seu sucesso popular não deixa dúvida, então poderia ser hipotetizado que o vínculo em questão é a própria coisa que o demagogo procura produzir sinteticamente; efetivamente, é ela princípio unificador por detrás de todos os seus vários próposito.

De acordo com a teoria psicanalítica, Freud acredita que o vínculo que integra os indivíduos na massa é de natureza energética. Eventualmente os primeiros estudiosos do tema abordado neste artigo aponta o aspecto da psicologia de massa como “grupo das emoções dos homens” e que raramente atingem sob outras condições e constitui experiência agradável para os interessados entregar-se tão distante “as suas paixões, e assim fundirem-se no grupo e perderem o senso dos limites de sua individualidade”.

FREUD (1922) explica a coerência de conjunto das massas em termos de princípio do prazer, isto é, das gratificações reais que os indivíduos obtêm de sua rendição à massa. Observe- se que Hitler mostrou possuir boa noção da fonte energetica desse processo de formação das massa, é que os aspectos geralmente atribuídos às massas perdem seu caráter enganosamente primitivo e irredutível, refletido nos conceitos um tanto arbitrários de instinto de massa ou rebanho. Os últimos são muito mais efeitos do que causas.

Segundo FREUD (1922) o que é peculiar às massas não é tanto uma nova qualidade quanto a manifestação aberta das velhas. "Do nosso ponto de vista não é preciso atribuir muita importância ao aparecimento de novas características. Para nós, bastaria dizer que, em meio a um grupo, o indivíduo é submetido a condições que lhe permitem desembaraçar das repressões impostas aos seus instintos inconscientes". O entendimento não somente dispensa hipóteses auxiliares, ao simples fato de que aqueles que se perdem nas massas não são homens primitivos mas, antes, homens que demonstram atitudes primitivas, opostas a seu comportamento racional.

A problemática desse artigo expõe nitidamente à possibilidade de rapidamente converter a violência emocional em ações violentas, sustendas pelo vasto aparato teórico composto nesta pesquisa que escreve sobre psicologia de massa. Em termos de teoria, o ressurgimento de políticas fascistas na atualidade deve ser entendido como resultado de um conflito histórico estabelecido pela próprica contradição humana. Esse conceito ajuda a explicar algumas manifestações da mentalidade fascista que seria muito difícil de entender, sem a postulação de um antagonismo entre as várias forças psicológicas. Nesse sentido, deve-se pensar acima de tudo na categoria psicológica da destrutividade da humanidade, que é melhor explicado por FREUD em “O Mal-estar na Civilização”.

 

5CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 Esta pesquisa se propôs, como objetivo, elaborar uma compreensão dos contornos do fascismo nas massas, traçando paralelos históricos, psicológicos e sociais. Com isso, pôde-se apurar a existência de uma dualidade expressive na conduta do indivíduo em grupo em detrimento de indivíduo for a dele. Embora não há como realizar uma análise isoladas destas duas esferas, já que estão intrinsecamente ligadas.

Bertolt Brench expressa em seu famoso aforismo que “a cadela do fascismo está sempre no cio”. Essa reflexão é importante para configurar o sentido desta pesquisa, que evidencia a latência do racionalismo em diferentes tipos de sociedades a partir do início do século passado até os dias atuais.

Diante deste estudo é possível considerar que a mente grupal não se distingue, pelo menos na sua essência, da psiquê individual. Desde o nascimento, o indivíduo está em contato com algum tipo de grupo, começando pela família, posteriormente a escola e assim por diante. Assim, é praticamente impossível que se estude um indivíduo desconsiderando o fator social inserido em seu contexto. Como também não há estudo de massas sem uma análise do papel de cada indivíduo se propõe a atuar no grupo.

O sujeito separado do grupo tende a ser mais ameno, racional, passivo, ponderado e centrado. Em teoria, o grupo tende a rebaixar seus níveis de racionalidade a um grau praticamente débil. É no grupo onde ele encontra conforto em atenuar suas inclinações mais reacionárias. Alinhado a este pensamento conservador que prevalece as estruturas políticas e sociais estagnadas que dificulta o acesso de diálogos democráticos, assim como o entendimento e o respeito à diversidade reforçando estereótipos relacionados a temas contemporâneos.

Outra característica significativa para manter o grupo coeso em suas convicções regressivas é o ódio a um inimigo comum, por vezes fantasiado por seus líderes e replicados pelas massas. Hitler, em seu Mein Kampf (Minha Luta), comenta que “se não houvesse o judeu, ele teria que ser inventado”, reforçando a sua ideologia nazifascista de que existe uma superioridade racial que justificaria o ódio ao inimigo comum que deveria ser destruído ou exterminado.

Historicamente, o “Holocausto” evidência a crueldade que a massa pode atingir por linhas extremas a uma completa barbárie grupal sustentada pela banalização da humanidade sobre um inimigo compartilhado sob pretextos pífios. Por este fundamento é dada a relevância dos estudos acerta das pequenas chances do surgimento de discursos de cunho fascista para que não haja a mínima possibilidade de sua ascensão.

É relevante considerar o papel que as mídias sociais têm sobre a difusão deste assunto no dia-a-dia, fundamentando a discussão pública. É preciso falar, discutir e significar sobre temas relevantes para ressignificar os impactos causados pelos resquícios do fascismo na contemporaneidade, contribuindo assim para o pragmatismo político. É necessário também combater proliferação de mentiras compartilhadas ao passo que elas têm força de movimentar grupos extremistas.


 

 

 

 

Em conclusão, é necessário que aconteça uma assimilação no que diz respeito ao bem estar social, fortalecendo as instituições e com isso, garantindo a possível integralidade democrática. A universidade aponta caminhos para estas discussões, sendo necessário também o debate social fora do âmbito acadêmico levantando considerações na sociedade sobre a relação fascista do discurso de ódio com a massa.

É preciso dizer que, muitas vezes, esses discursos feitos por parlamentares podem apresentar uma estratégia de ataque coordenado, com afinidades ideológicas compartilhadas sob o argumento da proteção moral da família tradicional, provocando ataques constantes à dignidade de grupos não dominantes ou vulneráveis. A construção de uma “sociedade livre, justa e solidária”, “sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, passa também pelo combate a discursos – seja na esfera parlamentar, seja em outra esfera – que infrinjam esse mandamento constitucional.

 

REFERÊNCIAS

 

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