A RELAÇÃO ENTRE LINGUAGEM, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM

Luciana Rodrigues Maciel

Érica Patrícia dos Reis Oliveira

Kédma Macêdo Mendonça

Sibele Silva Leal Rodrigues,[1]

 

 

 

A linguagem é o modo de reprodução e expressão dos pensamentos dos sujeitos, porém esta não se limita somente a representações ela se une aos pensamentos e conhecimentos adquiridos transformando-os e definindo o caráter do indivíduo.

Kristeva (1969) propõe reflexões sobre quais são as funções da linguagem, produzir um pensamento ou a de comunicar?

Se a linguagem é a matéria do pensamento, é também o próprio elemento da comunicação social. Não há sociedade sem linguagem, tal como não há sociedade sem comunicação. Tudo que se produz como linguagem tem lugar na troca social para ser comunicado. (KRISTEVA, 1969 P. 18).

            No ponto de vista da autora, a linguagem se caracteriza não apenas pela função de comunicação e transmissão de mensagens, mas também como a construção do pensamento humano.

Bakhtin (1992) concebe a linguagem como um processo interativo permeado por uma relação dialética entre o indivíduo e a sociedade, numa dimensão onde se interpenetram o individual e o social.

Abstraindo-se a necessidade de comunicação do homem, a língua lhe é indispensável para pensar, mesmo que tivesse de estar sempre sozinho. [...] A língua se deduz da necessidade do homem de se expressar-se, de exteriorizar-se à criatividade espiritual do indivíduo. [...] A língua só requer o locutor – apenas o locutor – e o objeto de seu discurso, e se, com isso, ela também pode servir de meio de comunicação, esta é apenas uma função acessória, que não toca a sua essência. (BAKHTIN, 1992 p. 289)

 

A linguagem humana, sistema simbólico fundamental na medição entre sujeitos e objetos de conhecimentos, tem por Vygotsky, duas funções básicas: a de intercâmbio social e a de pensamento generalizante. Isto é, além de servir ao propósito de comunicação entre indivíduos, a linguagem simplifica e generaliza as experiências, ordenando as instâncias do mundo real em categorias conceituais cujo significado é compartilhado pelos usuários dessa linguagem. Ao utilizar a linguagem para nomear determinados objetos estamos, na verdade, classificando esses objetos numa categoria, numa classe de objetos que tem em comum certos atributos. Atualização da linguagem favorece, assim, processos de abstração e generalização. ( Oliveira, 1992, p27)

Conforme Dicionário Global escolar, Silveira Bueno da língua portuguesa, 2009, p. 424, Linguagem é “1. Qualquer meio pelo qual se exprime o pensamento ou sentimento, com o qual se fazem representações: linguagem musical, linguagem verbal. 2. Expressão do pensamento pela palavra; fala. 3. (Inf.) Conjunto de elementos lógicos e regras de sintaxe com que se escrevem programas de computador”.

Desenvolvimento quando relacionado ao sujeito é o ato de mudanças que ocorre desde a geração de um indivíduo, tendo em vista que mesmo no ventre de sua mãe o bebê vai crescendo e se desenvolvendo, quando este nasce aos poucos vai reconhecendo o meio o qual foi inserido e aprendendo a sobreviver, com o choro aprende a pedir ajuda e daí por diante vai respondendo aos estímulos, ações e objetos oferecidos e começa a reagir de diferentes maneiras.

Conforme Dicionário Global escolar, Silveira Bueno da língua portuguesa, 2009, p. 212, Desenvolvimento é “1. Ação de desenvolver; crescimento; progresso. 2. Ampliação; expansão; propagação”.

Aprendizagem é o processo de mudança do sujeito para que este adquira novos comportamentos, habilidades, conhecimentos cognitivos e valores que completam sua essência e redesenham pensamentos por meio da descoberta do novo. A aprendizagem acontece no cotidiano do indivíduo de forma singularizada e a sua acomodação depende da necessidade e objetividade do sujeito, ligadas ao seu estado físico e mental.

Conforme Paín:

(...) a aprendizagem é um processo dinâmico que determina uma mudança, com a particularidade de que o processo supõe um processamento da realidade e de que a mudança no sujeito é um aumento qualitativo em sua possibilidade de atuar sobre ela. Sob o ponto de vista dinâmico a aprendizagem é o efeito do comportamento, o que se conserva como disposição mais econômica e equilibrada para responder a uma situação definida.

De acordo com isto, a aprendizagem será tanto mais rápida quanto maior for à necessidade do sujeito, pois a urgência da compensação dará mais relevância ao recurso encontrado para superá-la (PAÍN, 1985 p. 23 Apud. Revista de Educação do Ideau, 2014, ALGERI, Marinês Serro, p. 2).

 

De acordo com Flowler p.8, 1994, Vygotsky trata da linguagem no meio social como resultado entre raciocínio e pensamento em nível intelectual. Piaget considera que a linguagem é falada como manifestação da função simbólica, quando um indivíduo utiliza o símbolo para representar o que reflete o desenvolvimento intelectual, mas não o produz. Para Piaget a linguagem interfere, mas não produz inteligência. A maneira de avançar um nível intelectual, mais elevado não é a linguagem com sua representação e sim através da ação.

A interação e a linguagem têm uma importância muito grande no pensamento de Vygotsky e isso irá contribuir no desenvolvimento psicológico. A linguagem além da função comunicativa é essencial no processo de transição do interpessoal em intramental na formação do pensamento e da consciência.

Vygotsky e Piaget consideram o conhecimento como uma construção individual defende que a construção é mediada pelos fatores externos sociais, ou seja, o meio social interfere no desenvolvimento intelectual do indivíduo, porém a criança desenvolve o seu conhecimento próprio a partir do que lhe é oferecido.

Conforme Vygostky (1998) o aprendizado não começa na escola, o sujeito possui uma história de aprendizagem prévia, este destaca a relação de zona de desenvolvimento proximal com aprendizado.

De acordo com Flávia Sayegh, para Vygotsky (1987), a zona de desenvolvimento proximal representa o espaço entre o nível de desenvolvimento real, ou seja, aquele momento, onde a criança era apta a resolver um problema sozinho, e o nível de desenvolvimento potencial, a criança o fazia com colaboração de um adulto ou um companheiro.

Assim vemos que é o intervalo entre o que a criança já sabe e o que esta tem capacidade para aprender.

Zona de desenvolvimento proximal é a distância entre as práticas que uma pessoa já domina e as atividades que ela ainda precisa de ajuda para desenvolver. O desenvolvimento real se dá a partir da interação e troca de experiências que ocorrem no intervalo entre estes dois pontos.

“O nível de desenvolvimento real caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento mental prospectivamente” (VYGOTSKY, 2007).

Para Vygotsky (1991), o desenvolvimento ocorre em função da aprendizagem, estes estão relacionados desde o nascimento da criança, sendo que esta desenvolve a aprendizagem tendo relação com o meio físico e social.

No seu cotidiano, observando, experimentando, imitando e recebendo instruções das pessoas mais experientes de sua cultura, aprende a fazer perguntas e também obter respostas para uma série de questões. Como membro de um grupo sociocultural determinado, ela vivencia um conjunto de experiências e opera sobre todo o material cultural (conceitos, valores, ideias, objetos concretos, concepção de mundo, etc.) a que tem acesso. Deste modo, muito antes de entrar na escola, já construiu uma série de conhecimentos do mundo que a cerca. (1991, p.76)

 

Compreendemos a partir dos estudos de Piaget, que os indivíduos desenvolvem a aprendizagem de maneira singularizada, tendo em vista que o fator genético e a interação com meio influenciam na construção e ampliação das suas capacidades psicomotoras.

Piaget destaca que o desenvolvimento cognitivo no indivíduo é uma progressão de estágios e subestágios, onde as representações se organizam e se ajustam entre si, desenvolvendo estruturas. Desta forma nascem teoricamente, os estágios de desenvolvimento: sensório-motor; pré-operacional, operatório-concreto e operatório-formal.

Estágio sensório-motor (do nascimento aos dois anos). Neste período a criança conhece o mundo por meio do contato, “ou seja, conquista através da percepção e dos movimentos todo o universo que a cerca.”   (MAIA, 2008, p. 56)

Estágio pré-operacional (dos dois aos sete anos). Para Piaget este período é marcado pelo surgimento da linguagem, que desdobrará avanços nas áreas cognitiva, afetivas e social.

Estágio operatório-concreto (dos sete aos onze anos).Nesta fase ocorre a construção lógica, isso significa que a criança “consegue realizar uma ação física ou mental dirigida para um objetivo, revertendo-a para seu início” (MAIA, 2008, p. 57), esta necessita ter contato com o concreto.

Estágio operatório-formal (a partir dos doze anos). Neste último estágio o sujeito abre mão dos objetos e passa a utilizar o pensamento formal indo em busca de valores morais e sociais, nesta fase a linguagem e a afetividade estão sempre em desenvolvimento.

 

Leontiev ao analisar os estágios de desenvolvimentos e as atividades que as crianças desenvolvem dentro destes, acredita que alguns tipos de atividade são os principais em um certo estágio, e são da maior importância para o desenvolvimento subsequente do indivíduo, e outros tipos são menos importantes. Alguns representam o papel principal no desenvolvimento, e outros, um papel subsidiário. Diante disso podemos dizer que cada estágio do desenvolvimento caracteriza-se por um relação explícita entre a criança e a realidade principal naquele estágio e por um tipo preciso e dominante de atividade.

É preciso compreender e ter muito cuidado ao determinar uma idade limite para inicio e fim dos estágios, uma vez que estes recebem influências externas que dependem de seu conteúdo e este, por sua vez, é governado pelas condições históricas concretas nas quais está ocorrendo o desenvolvimento da criança. Assim, não é a idade da criança, que determina o conteúdo de estágio do desenvolvimento e os próprios limites de idade de um estágio, pelo contrário, dependem de  seu conteúdo e se alteram com a mudança das condições histórico-sociais.

Levando em consideração os estudos realizados por Piaget sobre a Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, vemos que o indivíduo desde o nascimento até sua autonomia, experimenta os mais variados tipos de atividades e instrumentos, os quais possibilitam aprendizagem. Assim sua observação e contato com o meio favorecem para adquirir conhecimento do que lhe rodeia. Por meio do manuseio dos objetos é que “o pensamento e o aprendizado da criança desenvolvem-se ligados à observação e a investigação do mundo. Quanto mais a criança explora coisas do mundo, mais ela é capaz de relacionar fatos e idéias, tirar conclusões.” (EDUCAR ICMC/USP p. 01) 

                Conforme Flávia Sayegh, a aprendizagem, e o desenvolvimento são adquiridos por modelos e, claro, pela motivação da criança. A mediação é a forma de conceber o percurso transcorrido pela pessoa no seu processo de aprender.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992

BARBOSA, L. M. S. Psicopedagogia : um diálogo entre a psicopedagogia e a educação. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro, 2006.

BUENO, Silveira, da língua portuguesa . Dicionário Global escolar, 2009.

Desenvolvimento Infantil. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/desenvolvimento-infantil/. Acesso em: 20/05/2015.

DOLLER, J. M. Para além de Freud e Piaget. Petrópolis, vozes, 1993.

FEIL, Iselda Terezinha Sausen. Alfabetização – um desafio novo para um novo tempo. 4ª Ed. Ijuí, VOZES/FIDENE, 1984. 188p. il. 21 cm.

FOWLER, R. Piagentiana Versus Vygostskyana perpectivas on development and education. Estudo apresentado na reunião anual da América educacional Resachassociation. New Orlens, 1994.

KRISTEVA, J. História da linguagem. Lisboa: edições 70, 1969.

LEONTIEV Alexis N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil In.   Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem/ Lev Semenovich Vigotskii, Alexander Romanovich Luria, Alex N. Leontiev; tradução de: Maria da Pena Villalobos. -  São Paulo: ícone, 2010. P.59-83.

MIRANDA, M. I. Crianças com problemas de aprendizagem na alfabetização : contribuições da teoria piagetiana. Araraquara: JM Editora, 2000.

PIAGET, Jean. Aprendizagem e conhecimento. São Paulo: Frutos Bastos, 1974.

SANTANA, Kimberly Daniela de Souza, CAMPOS, Maria Aparecida Ribeiro, CUNHA, Ismarlene Bomparto Gama, MORAES, Rosimeire de Souza. A Ludicidade e a Aprendizagem: Caminhos que e encontram. 2014.

SAYEGH, Flávia. Artigo: As Relações entre Desenvolvimento e Aprendizagem para Piaget e Vygotsky.

ULBRA, Universidade Luterana do Brasil. Ludicidade e Psicomotricidade. Curitiba: Ibpex, 2008.

ULBRA, Universidade Luterana do Brasil. Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. Curitiba: Ibpex, 2008.

VYGOTSKY, Lev S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

_____. A formação social da mente: O desenvolvimento dos processos Psicológicos Superiores. Editora Martins, 2007.

 

 

[1] Licenciadas em Pedagogia- Professoras da Rede Municipal de Rondonópolis/MT.