A Reforma Vista Como Produto Político do Estado Moderno.

No início do século XVI, aconteceu uma grande revolução cultural na Europa, que desencadeou num processo de mudança, esse movimento foi denominado de reforma religiosa, o qual levou ao surgimento do protestantismo. A igreja católica onipotente foi duramente criticada, seu poder foi extremamente limitado.

Naturalmente que a instituição não estava em sintonia com seu tempo histórico, tudo que não está em conformidade com a história destrói ou se reformula, a natureza da questão religiosa era política.  O que estava em jogo era o modelo de dois Estados, o Feudal e o Moderno em processo de gestação naquele momento histórico.

Um dos interesses veemente que estava em jogo, não interessava a burguesia nascente o princípio da fé defendido pelo catolicismo que contrariava fundamentos econômicos, dado a condenação ao luxo e usura como formas de pecado.

Além dessas questões em referencia, a Igreja recebia críticas dado a corrupção do alto clero, como vida sexual desregrada, a ignorância religiosa de padres comuns e por outro lado, novos estudos de teologia e outros conhecimentos que chegavam ao publico leigo.

 Principalmente  a influência da Filosofia iluminista, mas isso era apenas uma questão de fundo, se a Igreja Católica desejasse conservar a unidade, não poderia defender naquele instante o Estado Feudal, mas o clero não teve essa percepção, motivo político da razão da ruptura do sistema religioso.  

Tudo isso e, sobretudo o interesse dos príncipes que não desejavam sofrer intervenção do Vaticano ao poder local, Cidades Estados, provocou uma ruptura da unidade cristã: a reforma Protestante.

Naturalmente como estou descrevendo, o movimento de contestação religiosa, vai muito além do motivo religioso, o pano de fundo podemos dizer que é essencialmente político.

 Era necessário a uma nova mentalidade que favorecesse ao surgimento do capitalismo e logicamente do Estado Moderno, o protestantismo cumpriu essa função, exatamente a razão do próprio sucesso da reforma.  

Surgiu uma nova mentalidade da individualidade típica da sociedade capitalista, o livre exame das escrituras sagradas, diversas interpretações da doutrina, dentro do próprio catolicismo, uma visão de fé sustentada em Santo Agostinho, à defesa ideológica que a salvação do homem seria alcançada somente pela fé.

Ao passo que Santo Tomás de Aquino, fazia à defesa teológica a salvação não poderá ser alcançada só pela fé, mas as obras são fundamentais, para poder chegar a Deus.

 O que prevaleceu para os reformistas foi o que de pior existia a respeito da valoração humana, os princípios de fé como salvação do homem, sendo essa mediação associada à graça, a riqueza como benção de Deus.  Tudo o que interessava as ideias iluministas associadas às ideologias burguesas.

Muitos cristãos condenavam o Vaticano e o clero de modo geral, por prática de corrupção, o que era muito natural no meio do clero, fazia da religião um grande comercio, a prática de simonia, eram muito comuns, espinhos falsos usados na crucificação de Cristo, pano embebido com suposto sangue de Cristo, tudo isso entre outras práticas condenáveis estritamente comerciáveis.

 Passou também a vender as indulgencias mediante o pagamento destinado a construir Igrejas os fieis poderiam comprar a salvação. Padres com escândalos religiosos, monges bêbados, o clero era apresentado como intermediário entre os homens e Deus.

 O  povo tinha muito medo de ir para inferno, motivo pelo qual a invenção do diabo, sempre deu muito lucro a Igreja, aliás a criação do diabo por parte dela, tinha exatamente esse propósito, enriquecer a própria instituição, o que ainda é muito usado nos dias de hoje.  

A burguesia nascente tinha necessidade de uma nova ética adequada ao desenvolvimento do capitalismo, essa necessidade da burguesia foi atendida com a ética protestante, colocando no enriquecimento a garantia de salvação da alma, foi com esse espírito que surgiu a reforma.

Na medida em que o espírito liberal avançava no processo de industrialização da sociedade, o conceito de um novo modelo econômico, e a destruição do Antigo Regime, como a reforma defendia todos esses ideários, na reformulação da nova sociedade, a ética do liberalismo passou a ser essencialmente a ética protestante.

 Não como Max Weber defendeu ideologicamente em sua obra magnífica, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, como se o capitalismo fosse um produto histórico do protestantismo, pelo contrario, o protestantismo que é produto histórico do capitalismo e dessa forma pode viver como institucionalização de Estado.

Edjar Dias de Vasconcelos.