A Reforma Protestante e suas Contribuições

No dia 31 de outubro de 1517 um monge agostiniano por nome Lutero afixou na porta da catedral de Witttenberg 95 teses. Estas tinham por finalidade contrapor as vendas de indulgências que seria usada na construção da basílica de São Pedro em Roma e mostrar a salvação somente pela fé. Este ato ficou marcado na história como o dia da Reforma Protestante. Dia este que, marca um novo período na história da igreja e do mundo. Mas por qual motivo este ato marcou tanto a história?

A partir do momento em que o imperador Constantino no século IV faz com que o Cristianismo tornasse a religião oficial do império, os ensinos deixados por Cristo e pelos apóstolos começa a sofrer distorções. Não demora muito para que praticas pagãs comecem a serem praticadas em nome de Deus. A exemplo disso foi as imagens dedicadas aos “deuses” pagãos que eram adoradas pelas suas religiões, sendo substituídas pelos apóstolos e mártires cristãos e até mesmo por volta dos anos 500 d.C. Maria começa ser adorada pelos cristãos. O resultado disso foi uma paganização do cristianismo, todas as práticas idolatras cometidas pelos pagãos, agora está no meio dos cristãos.

Não demora muito e a corrupção, imoralidade dentre tantas outras práticas ficassem cada vez mais comum na igreja. A podridão moral e espiritual agora toma conta do povo e dos sacerdotes. Por mais de mil anos a igreja se encontra em decadência de todas as maneiras possíveis.

É no meio desta perversidade espiritual e moral que Deus começa a levantar homens como os valdenses que afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, sendo esta a fonte de toda autoridade eclesiástica. Homens como João Wycliffe, que Deus usou para pregar contra abusos do papa, centrava-se na autoridade das Escrituras em detrimento do papa, traduziu a Bíblia para o inglês para que o povo tivesse acesso a Bíblia em seu idioma. Homens como João Huss, que Deus levantou para protestar contra as indulgências, para pregar que a autoridade final é Palavra de Deus. Homens como Jerônimo Savonarola, mais um que Deus levanta para pregar contra a vida pagã, contra a autoridade do papa dentre outras coisas abomináveis pelas Escrituras. Estes homens ficaram conhecidos como os pré-reformadores.

Se passando alguns anos desde os pré-reformadores, Deus agora levanta Martinho Lutero. Lutero foi um monge agostiniano e professor de teologia que tornou-se uma das figuras centrais da Reforma Protestante. Levantou-se veementemente contra diversos dogmas do catolicismo romano, contestando sobretudo a doutrina de que o perdão de Deus poderia ser adquirido pelo comércio das indulgências, essa conclusão ele chega através de seus estudos na carta de Paulo aos Romanos. Esta discordância inicial resultou na publicação de suas famosas 95 Teses em 1517, em um contexto de conflito aberto contra o vendedor de indulgências Johann Tetzel. Além de sua grande contribuição para a teologia, igreja, chegando a ser o principal nome da Reforma, ele contribuiu a partir de sua cosmovisão centrada em Deus, para a sociedade, politica, música, educação. Citando a contribuição para a educação, ele foi um dos responsáveis pela concepção de ensino público que serviu de modelo para a escola moderna no Ocidente, foi dele a ideia de dividir a educação em três grandes ciclos: fundamental, médio e superior. Lutero viam na educação um assunto do interesse dos governantes. “A maior força de uma cidade é ter muitos cidadãos instruídos”, escreveu Lutero. Para isso, foi criado um sistema que atendia à finalidade de preparar para o trabalho e à possibilidade de prosseguir os estudos para elevação cultural. O currículo era baseado nas ciências humanas, com ênfase na história. Lutero também escreveu sobre a educação. Alguns dos seus escritos são: À Nobreza Cristã da Nação Alemã, acerca da melhoria do Estamento Cristão, de 1520; Aos Conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs, de 1524 e Uma Prédica para que se mandem os filhos à Escola, de 1530.

Outro grande nome da reforma foi João Calvino. Calvino certamente é o mais importante sistematizador da teologia protestante no séc. XVI. Nasceu em Noyon, na França em 10 de julho de 1509. Estudou em Paris, completando seus estudos em 1529, quando completou seu mestrado. Pela vontade do pai foi estudar Direito em Orleães, mas nunca deixou de preferir a teologia. Inicialmente Calvino preparava-se para ser padre, enveredaria pelo estudo do Direito, mas acreditava que Deus o havia trazido de novo ao caminho da Teologia. Em 1532, foi doutorado em Direito em Orleães. Se sentia chamado a dedicar-se ao estudo e às obras literárias. Seu objetivo não era ser uns dos líderes da Reforma, mas encontrar um lugar tranquilo onde pudesse estudar as Escrituras e escrever sobre sua nova fé. Acreditava que sua tarefa consistia em escrever tratados para aclarar a fé da igreja. Calvino propunha cobrir o vazio de outras doutrinas com um breve manual. Sua maior obra teológica sem dúvida é as institutas da religião cristã. Nesta obra Calvino fala sobre o conhecimento de Deus, a justificação, a lei, dentre outros pontos importantes da teologia.

Muitas foram as contribuições de Calvino. Dentre algumas pode-se destacar sua influência na cidade de Genebra. Os impactos foram na política, na transformação social e econômica. Dentre as quais podemos destacar

Assistência social aos necessitados sem discriminação de nacionalidade.
Ajuda e cuidado com a saúde popular através de um programa de visita médica domiciliar.
Esforços do governo na capacitação profissional.
Combate ao desemprego com oferta de trabalho pelo governo.
Ênfase no amparo aos pobres, idosos e desamparados.
Luta contra a insolência do luxo em relação aos pobres.
Exemplo de simplicidade por parte dos reformadores-líderes públicos.
Limitação dos juros nos empréstimos.
Forte combate à especulação.
Ataque frontal à escravidão.
Combate a bebedice e proliferação das tavernas.
Grande esforço na educação de todos.

Na educação sua grande marca ficou indelével através da criação da Academia. Essa escola possuía dois níveis, o fundamental que era conhecido como escola superior ou pública, e o segundo era o inferior ou escola privata equivalente ao nosso terceiro grau. A Academia de Genebra foi fundada em 1559 e Calvino convidou Teodoro Beza para ser o seu primeiro reitor. Essa escola veio a tornar-se o seminário do calvinismo e o modelo para várias outras universidades que foram lideradas por grandes nomes, ex-alunos da Academia de Genebra. No ano da morte de Calvino a escola tinha 1.500 alunos matriculados, onde a maioria era de estrangeiros. A escola de primeiro grau possuía 1.200 alunos, e a universidade 300 estudantes de teologia, direito e medicina.

Dentre os reformadores, Lutero e Calvino certamente foram os mais destacados, mais isso não significa que não exista outros grandes nomes que abalaram a Europa e o mundo com suas pregações, com suas vidas, com seus princípios pautados nas Escrituras sagradas. Para citar alguns: Ulrico Zuíglio, Guilherme Farel, Teodorode Beza, John Knox, entre outros.

Para resumir, a Reforma Protestante foi um redescobrimento das Escrituras. Num momento em que a Palavra de Deus era desprezada, deixada de lado, onde não era fonte de autoridade nem de fé e prática, também não era suficiente, os reformadores reafirmaram que somente as Escrituras é a revelação de Deus para a vida.

Diante disso surgiram posteriormente aquilo que se chama os pilares, ou os cinco solas, que são eles:

Sola Escriptura. Em latim “somente as Escrituras”. Refere-se ao conceito da Reforma de que só a Bíblia pode servir como autoridade final para a igreja.
Solus Christus. Em latim “Somente Cristo”. Refere-se ao conceito da Reforma de que à Escritura e sua doutrina sobre a graça e fé enfatizam que a salvação é solus Christus, “somente por Cristo”, isto é, Cristo é o único Salvador.
Sola Gratia. Em latim “Somente a graça”. É uma referência à convicção da Reforma de que a salvação acontece exclusivamente por meio da graça (favor imerecido), e não pode ser uma conquista humana meritória.
Sola Fides. Em latim “Somente a fé”. Refere-se à doutrina da Reforma de que a salvação procede totalmente da fé e de forma alguma é resultado de boas obras ou de indulgências.
Soli Deo Gloria. Em latim “Glória somente a Deus”. É o princípio segundo o qual toda a glória é devida a Deus por si só, uma vez que salvação é efetuada exclusivamente através de sua vontade e ação.

Concluo reafirmando que somente Cristo salva, por meio da fé, por sua graça que nos é revelada nas Escrituras. Que nos dias atuais possamos novamente reafirmar os cinco solas, haja vista o contexto de devassidão espiritual que assola muitos.

Que o Senhor e Salvador Jesus Cristo reine em nossos corações.