A QUEDA DO JUDAS NA PRAÇA DA VÁRZEA EM SOBRAL!

                                    ¹ José Wilamy CArneiro Vasconcelos

Década de 60,70,80 em Sobral, inicia a Semana Santa.

Familiares de toda região se preparam para o início dos atos litúrgicos da Igreja Católica.

Tudo pronto!

Familiares à espera de seus filhos que estudam fora, vindo do Rio de Janeiro, da Cidade do Recife, Fortaleza, Teresina, São Paulo, Acre, Tocantins, dos quatro cantos do país. Rodoviária lotada. Parentes e amigos chegam à cidade Januária (Sobral) para seguir os atos da Igreja e matar a saudade dos familiares e parentada.

Por outro lado!

Os mais desavisados, se encontram nos botecos e nas esquinas matando a saudade e contando anedotas, vantagens e pabulagem de como é a vida lá fora. A fofoca vira o dia e a madrugada chega.

A noite cai, as esquinas da Rua do Oriente, hoje Rua Oriano Mendes, no coração da cidade fervilha com os primeiros preparativos e apetrechos para o que chamam "A Queda do Judas"

Vem gente de todo lugar. Local de encontro: Praça da Várzea.

Os papudinhos se aglomeram na famosa mercearia (bodega do Sr. Enoque) Tradição e encontro de amigos e das personalidades políticas da Zona Norte,e do Estado do Ceará que até hoje perdura por lá.

O população inteira de Sobral espera a montagem do Pau do Judas ser fincado na parte frontal da Praça da Várzea,com ajuda do carro quincho na Rua do Oriente. Multidão querem ver como fica. No chão uma enorme árvore medindo aproximadamente mais ou menos de 9 a 10 metros e extraído da Meruoca ou adjacências, é descascada e logo mais preparada com óleo queimado e sebo de gado para dificultar a subida do corajoso que se habilita ganhar a premiação do ano. Uma boa quantia a espera no bolso do paletó zeradinho do Judas. Oferta dada dos logistas de Sobral. Um deles Camisaria Elegante que ficava na Rua Domingos Olímpio. Os sapatos, doação pelo comerciante TIMBAL MODAS.

O traje completo: Paletó com gravata, sapatos novos e uma boa grana para quem chegar até o final e derrubar o Judas. O dinheiro arrecadado era feito uma "Vaquinha Gorda" que muitos comerciantes compartilhavam com quota. Casa Samuel, Casa Conrado, Pharmácia Drograjafre, Padaria Colombo,Silvana Presentes, Farmácia Santa Terezinha, Lojas o Camocim, Macrol Modas, Sandra Novo Mundo, Ótica Santa Luzia, Aba Film, Foto Coelho e outras tantas: Mercadinho São Luiz, Germana Confecções, Mercadão do Povo. Entre outras participavam do bolo também Galeria Sena, LVC (Locadora Vídeo Center),Livraria Colegial, Livraria Zé Osmar, Xepão, Veroneza Lider, Mercadinho o JÓIA. Assis Auto Peças.

A tradição do ano era as caricaturas (cara do Judas feito de madeira) de algum filho de Sobral que estava em evidência.Era o Judas mais elegante de toda região do Ceará. Não era qualquer Judas que andava com tanta pompa.

Enquanto os preparativos estavam em andamento, de madrugada, após muitos se deleitarem em seus lares, uma turma de arruaceiros, se preparavam para a chamada do Judas nas casas, correndo, arrastando latas nas calçadas, batendo nas portas, chamando e aportunando os que já dormiam na Rua do Feijao, Rua Cordeiro de Andrade, Rua da Palha, Rua São José (Cachorra Magra). Dr. Monte, Rua Maria Tomásia e outras.O centro era virado de cabeça para baixo.

Tinha um jeito traquino de chamar. Segurava no glotes com a mão, apertava e chamava o dono da casa para o pau. Era uma forma de não conhecer a voz do arruaceiro da noite, pois muitos eram os próprios vizinhos. e gritavam o nome:

- ZACARIAS VEM PRO PAUAAAAUUUU!

Muitos saiam de suas casas feridos de raiva e todos davam no pé, dando rumo ignorado.Meia hora depois a turma do barulho estava reunida novamente. Outros pulavam o muro e subtraiam as melhores galinhas do poleiro do seu vizinho, para servir de tira-gosto no dia seguinte.

De manhã cedo o vizinho tomava conta que suas aves desapareceram do galinheiro e suspeitava da turma na noite passada. .

Lembro que certa vez Sr. Sânzio Andrade, irmão de Sr. Hélio Andrade que tinha uma mercearia na mesma rua e outros foram no sertão de um dos amigos chamado Zé Firmino e pegaram uma de suas ovelha do seu cercado o convidando para um churrasco com os amigos. Era tradição fazer presepada com os próprios amigos na época. Mas, tudo saía bem, resultando de uma boa gozação e gargalhada que virava o ano inteiro.

Até que no próximo ano mais um caísse na presepada dos amigos do Judas.

- Tudo pronto para a derrubada do Judas. Feita uma seleção dos candidatos, fazia-se uma fila. Uns mais afoitos, tentavam e ao chegar menos da metade, deslizavam como sabão. O povo aclamava. Incentivava e após três, quatro, cinco tentativas, já exaustos desistiam frustrados e decepcionados.

-Próximo participante! Uma voz chamava. Era um dos organizadores da queda do JUDAS.

Novas tentativas, já passadas das 17hs e uma multidão tomava conta de toda Várzea e Rua do Oriente.

Tinha gente até nos telhados das residências, trepados em árvores, em cima dos carros, nas varandas e sobrados.

Após muitas tentativas, pelos concorrentes, um desafiava A Lei da Gravidade e vencia com o prêmio na mão.

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José Wilamy Carneiro Vasconcelos é professor, escritor, poeta, cordelista, pesquisador, historiador e cronista. Formado em Direito pela Faculdade Luciano Feijão em Sobral no Ceará.Tem Pos-graduação em Construção Civil e Ciências (MATEMÁTICA) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú em Sobral, no Ceará.