Elizandro Mesquita Magalhães¹ 

 

1. INTRODUÇÃO

 

O objetivo principal deste estudo é fornecer evidências empíricas sobre a relação entre o ciclo de vida de uma empresa e a qualidade dos relatórios financeiros. A abordagem será dupla: primeiro, começar-se-á com um análise da qualidade da correspondência entre receita e despesa contemporânea em todos os estágios do ciclo de vida. Esta análise fornece evidências sobre a qualidade de um dos conceitos básicos essenciais em contabilidade, ou seja, correspondência, que tem um grande impacto na qualidade (informatividade) dos ganhos.

Em segundo lugar, o trabalho será concentrado, especificamente, na probabilidade de distorções materiais em dados financeiros declarações e investigar se a probabilidade varia com os estágios do ciclo de vida. Uma das intenções do trabalho diz respeito a analisar o exposto na primeira etapa atrelado, juntamente, ao delineamento dos vários estágios do ciclo de vida de uma empresa: introdução, crescimento, maturidade e declínio.

 

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

O ciclo de vida de uma empresa é composto de estágios distintos: introdução, crescimento, maturidade e declínio. Esses estágios são induzidos por ambos os fatores internos (como escolhas estratégicas, recursos e capacidade gerencial) e fatores externos (como competitividade ambiente e fatores macroeconômicos). (AMIRAM; BOZANIC; ROUEN, 2015).

Em pesquisas anteriores relacionadas à contabilidade de decisões ou outros fenômenos relacionados à contabilidade, o estudo sobre os ciclos de vida tem ganhado força na última década, o que faz sentido se atrelado com as mutações que ocorrem com os relatórios financeiros. No presente estudo, buscar-se investigar se a qualidade dos relatórios financeiros da empresa depende de seu estágio de ciclo de vida. (AMIRAM; BOZANIC; ROUEN, 2015). Para Amiram, Bozanic e Rouen (2015):

A pontuação da Divergência das Demonstrações Financeiras captura a divergência da empírica distribuição dos dígitos iniciais dos números das demonstrações financeiras de uma empresa a partir de uma distribuição teórica postulado pela Lei de Benford, e pode ser usado como um indicador importante para identificar não intencionais e erros intencionais. Se não houver erros, preconceitos ou manipulação no estimativas dos números financeiros reportados, a distribuição dos números nas demonstrações financeiras deve seguir a Lei de Benford.

O conceito de ciclo de vida da empresa fornece uma maneira eficaz de classificar as empresas em diferentes estágios, que refletem circunstâncias muito diferentes. Algumas dessas circunstâncias, sem dúvida, desempenham um papel particularmente relevante na formação da qualidade dos relatórios financeiros; em particular, intensidade de investimento, disponibilidade de recursos e oportunidades e incentivos para discrição gerencial. (JIANG; WANG; WANG, 2018).

É plausível esperar que essas circunstâncias se manifestam em diferenças na qualidade dos relatórios financeiros das empresas. Até a presente data, no entanto, estudos anteriores não examinaram que tipo de diferenças de qualidade existem entre os estágios. (HASAN; AL-HADI; TAYLOR; RICHARDSON, 2016).

Para abordar esta questão de forma abrangente, será analisado no presente trabalho os seguintes elementos relacionados de qualidade dos relatórios financeiros: i) a qualidade contemporânea da correspondência entre receita e despesa; e ii) a probabilidade de distorção relevante nas demonstrações financeiras. (LISIC; MYERS; SEIDEL; ZHOU, 2019).

A qualidade da correspondência é um elemento crítico subjacente à qualidade dos relatórios financeiros, quando visto da perspectiva da demonstração de resultados. Em um caso de perfeito correspondência, todas as despesas relevantes seriam comparadas com a receita associada, enquanto em combinar a correlação contemporânea entre receitas e despesas é baixa. (BROWN; ELLIOTT, 2016).

Hasan, Al-Hadi, Taylor e Richardson (2016) enfatizam a importância do princípio de correspondência com base em entrevistas com CFOs, e também apontam que, comparada ao valor justo e à contabilidade conservadora, as pesquisas sobre a correspondência é esparsa.

Na fase de introdução, espera-se que os gerentes tenham incentivos para gerenciamento de resultados. As operações ainda não estão gerando muito fluxo de caixa, e o valor da empresa depende muito de oportunidades de crescimento. Uma empresa na fase de introdução precisa de financiamento e começa acessando a dívida bancária. (BROWN; ELLIOTT, 2016).

No estágio de declínio, uma empresa experimenta taxas de crescimento e preços em declínio. Externo desafios e a falta de inovação causa queda na lucratividade e oportunidades de financiamento são mais limitado ou caro. Existem incertezas sobre os fluxos de caixa futuros, ganhos, investimentos e inovações. (LISIC; MYERS; SEIDEL; ZHOU, 2019).

No estágio maduro, por sua vez, as atividades de investimento das empresas e o crescimento das vendas diminuem, o objetivo é mais na suavidade e eficiência, os ganhos são mais persistentes e os fluxos de caixa são menos voláteis. O risco reduzido e a incerteza sobre ganhos e caixa futuros os fluxos também podem indicar que as empresas maduras têm menos incentivos para gerenciar os lucros, embora firmas maduras também sofrem pressão de mercado para cumprir metas de lucro. No entanto, em equilíbrio, o estágio maduro deve representar as circunstâncias em que a correspondência é o mais bem sucedido. (LISIC; MYERS; SEIDEL; ZHOU, 2019).

Como percebe-se, é necessário uma correlação entre os ciclos de vida e os relatórios financeiros a fim de apresentar a procedência da hipótese levantada no presente trabalho, que é a existência de variações destes documentos em cada fase. Um delineamento maior será apresentado na parte de resultados e discussões.

 

3. METODOLOGIA

 

 O método pretendido para a criação e elaboração do estudo será qualitativo e, para que haja uma real clareza e entendimento do tema, buscar-se-á investigá-la por meio de pesquisa bibliográfica e documental, com o uso de referências teóricas, como livro, artigos científicos, monografias, dissertações, teses, ensaios virtuais e documentos conservados em arquivo de instituições púbicas e privadas, seja de forma virtual ou física. 

A pesquisa não tem como objetivo enumerar ou medir eventos, mas sim obter informações descritivas que expressem as possíveis soluções acerca das lacunas apresentadas no presente trabalho e, para isso, faz-se necessário um levantamento de fontes relevantes sobre o tema para analisar as viáveis respostas da problemática aqui apresentada.  

Ademais, para compreender as estruturas arraigadas do tema, a abordagem da pesquisa deverá ser feita de forma investigatória, dado aos meios de busca de referências, bem como conhecimento acerca do assunto. A técnica utilizada para a pesquisa será qualitativa, visto que será necessária uma vasta investigação acerca do conteúdo a fim de correlacionar suas abordagens e perspectivas.  

No tocante à utilização dos resultados, a pesquisa irá buscar, precipuamente, conhecimento acerca das vantagens que o tema abrange, tanto para conhecimento didático, como para a uso diário, pois buscará aprimorar ideias que descrevem a situação do momento em que se ocorre a investigação, classificando e interpretando fatos. Quanto aos fins, a ampliação do conhecimento sobre a temática também se inclui nesta obra, tendo em vista sua importância no mundo atual.

 

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

A fundamentação teórica apresentou os ciclos de vida da empresas e apresentou de maneira introdutória a ideia de que estes podem impactar nos resultados financeiros. A má qualidade dos relatórios financeiros, não obstante, devido ao gerenciamento de resultados, pode ser grave o suficiente para se manifestar em distorções relevantes nas demonstrações financeiras. (LISIC; MYERS; SEIDEL; ZHOU, 2019).

Por conseguinte, discute-se por qual motivo a probabilidade de distorções materiais em geral depende do estágio do ciclo de vida da empresa. Em outras palavras, se uma empresa tem material fraquezas nos controles internos, isso indica que os controles não são suficientes para prevenir ou detectar distorções nas demonstrações financeiras. (HASAN; AL-HADI; TAYLOR; RICHARDSON, 2016).

Em primeiro lugar, as empresas na fase de introdução têm maior probabilidade de ser mais jovens e crescer rapidamente, e seus padrões de fluxo de caixa mostram fluxos de caixa operacionais negativos. Algumas pesquisas anteriores sugerem que essas empresas jovens e de crescimento rápido têm mais dificuldades em manter um bom sistema de contabilidade da qualidade. (HASAN; AL-HADI; TAYLOR; RICHARDSON, 2016).

No estágio de declínio, as empresas apresentam desempenho insatisfatórios, e essas companhias com baixo desempenho financeiro podem não ser capazes de investir tempo e dinheiro em sistema de controle interno adequado. No estágio de crescimento, por sua vez, tem-se percebido uma geração de fluxos de caixa positivos, porém uma incerteza quanto ao crescimento futuro oportunidades, as quais tendem-se a serem diminutas. (HANSEN; HONG; PARK, 2018).

No entanto, considerando que o a complexidade das operações aumenta conforme as empresas crescem, embora a previsibilidade seja maior, as empresas em crescimento podem ter dificuldades em manter um controle interno eficaz sistema, e mais tempo é necessário para estabelecer novos procedimentos. (DOU; THOMAS, ZOU, 2013).

Portanto, conjectura-se que as empresas de introdução, declínio e crescimento têm fraquezas materiais nos controles internos, o que os torna mais propensos a ações não intencionais e distorções intencionais nas demonstrações financeiras. Isto acaba se tornando um incentivo para que sejam gerenciados ganhos de estágios dos ciclos de vida, para que haja uma potencialidade maior na eficácia dos relatórios financeiros. (DOU; THOMAS, ZOU, 2013).

Consequentemente, espera-se que distorções materiais sejam menos prováveis no firmas maduras em comparação com firmas nos outros estágios. Enquanto os gerentes em empresas maduras também podem gerenciar ganhos, as oportunidades e incentivos para fazê-lo são menores em relação às empresas em outras vidas etapas do ciclo. (DICKINSON; KASA; SCHABERL, 2018).

Por exemplo, empresas maduras são mais propensas a investir em controles internos e, portanto, mitigar o risco de erros de contabilidade não intencionais, bem como gerenciamento de ganhos em relação a empresas em outras fases do ciclo de vida. (DICKINSON; KASA; SCHABERL, 2018).

Outrossim, empresas em estágio de crescimento têm maior probabilidade de atingir ou superar os benchmarks de ganhos, implicando manipulação de lucros. Surpreendentemente, também percebe-se que as empresas maduras são mais propensas a atender ou bater benchmarks de lucro em comparação com a introdução e declínio de empresas. (CHOI, CHOI, LEE, 2016).

No entanto, considerando que todos os outros resultados indicam melhor qualidade por empresas maduras (por exemplo, menor probabilidade de atualizações), presume-se que as metas de ganhos são alcançadas usando métodos de gerenciamento de resultados dentro do GAAP. (BROWN; ELLIOTT, 2016).

Na medida em que gerencial discrição também desempenha um papel, os investidores de renda variável devem ser sensíveis ao fato de que a qualidade dos relatórios, especialmente durante a fase de introdução, sendo estes prejudicados devido à má correspondência de despesas com receitas correntes, onde os  CFOs e CEOs devem tomar medidas para melhorar o associação contemporânea entre receitas e despesas correntes. Isto pode ser realizado através da adoção de políticas contábeis, bem como estimando acumulações mais precisas que promover uma melhor correspondência. (JIANG; WANG; WANG, 2018).

Uma vez que as empresas maduras têm a mais alta qualidade de relatórios financeiros em relação às empresas nos estágios de introdução, crescimento e declínio, os resultados com base em uma amostra que inclui principalmente empresas maduras podem produzir uma conclusão diferente daquela que inclui empresas de outro ciclo de vida estágios.

Assim, na construção de uma amostra combinada, a combinação do tamanho da empresa e da indústria pode não ser suficiente dada a variação na qualidade dos relatórios financeiros ao longo dos ciclos de vida e pesquisadores deve considerar as etapas do ciclo de vida como um controle adicional.

 

REFERÊNCIAS

 

AMIRAM, Dan; BOZANIC, Zahn; ROUEN, Ethan. Financial Statement Irregularities: evidence from the distributional properties of financial statement numbers. Ssrn Electronic Journal, Washington, v. 5, n. 8, p. 327-345, nov. 2015. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2374093. Acesso em: 28 nov. 2020.

 

BROWN, Nerissa C.; ELLIOTT, W. Brooke. What are You Saying? Using Topic to Detect Financial Misreporting. Ssrn Electronic Journal, Washington, v. 9, n. 5, p. 123-143, ago. 2016. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2803733. Acesso em: 28 nov. 2020.

                

CHOI, Jeongmi; CHOI, Wooseok; LEE, Eunsuh. Corporate Life Cycle and Earnings Benchmarks. Australian Accounting Review, Canberra, v. 26, n. 4, p. 415-428, 31 out. 2016. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/auar.12100. Acesso em: 29 nov. 2020.

 

DICKINSON, Victoria; KASSA, Haimanot; SCHABERL, Philipp D.. What information matters to investors at different stages of a firm's life cycle? Advances In Accounting, New York, v. 42, n. 9, p. 22-33, set. 2018. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/327205536_What_information_matters_to_investors_at_different_stages_of_a_firm%27s_life_cycle. Acesso em: 25 nov. 2020.

 

DOU, Yiwei; HOPE, Ole-Kristian; THOMAS, Wayne B.; ZOU, Youli. Blockholder Heterogeneity and Financial Reporting Quality. Ssrn Electronic Journal, Hartford, v. 6, n. 7, p. 376-392, nov. 2013. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2283839. Acesso em: 27 nov. 2020.

 

HANSEN, James C.; HONG, Keejae P.; PARK, Sang-Hyun. Accounting conservatism: a life cycle perspective. Advances In Accounting, New York, v. 40, p. 76-88, mar. 2018. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/320863049_Accounting_conservatism_A_life_cycle_perspective. Acesso em: 29 nov. 2020.

 

HASAN, Mostafa Monzur; AL-HADI, Ahmed; TAYLOR, Grantley; RICHARDSON, Grant. Does a Firm’s Life Cycle Explain Its Propensity to Engage in Corporate Tax Avoidance? European Accounting Review, London, v. 26, n. 3, p. 469-501, 23 jun. 2016. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/303749648_Does_a_Firm%27s_Life_Cycle_Explain_Its_Propensity_to_Engage_in_Corporate_Tax_Avoidance. Acesso em: 29 nov. 2020.

 

JIANG, John (Xuefeng); WANG, Isabel Yanyan; WANG, K. Philip. Big N Auditors and Audit Quality: new evidence from quasi-experiments. The Accounting Review, Netherlands, v. 94, n. 1, p. 205-227, 1 mar. 2018. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/324094703_Big_N_Auditors_and_Audit_Quality_New_Evidence_from_Quasi-Experiments. Acesso em: 26 nov. 2020.

 

LISIC, Ling Lei; MYERS, Linda A.; SEIDEL, Timothy A.; ZHOU, Jian. Does Audit Committee Accounting Expertise Help to Promote Audit Quality? Evidence from Auditor Reporting of Internal Control Weaknesses. Contemporary Accounting Research, Maryland, v. 36, n. 4, p. 2521-2553, 31 ago. 2019. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/333083552_Does_Audit_Committee_Accounting_Expertise_Help_to_Promote_Audit_Quality_Evidence_from_Auditor_Reporting_of_Internal_Control_Weaknesses. Acesso em: 01 dez. 2020.