RESUMO 

O presente artigo analisa a psicossomática como possibilidade de formular uma nova teoria de abordagem em acupuntura, a teoria psicoenergossomática. A partir da revisão a da leitura crítica das obras selecionadas de vários autores relacionadas com a temática do presente trabalho, doenças somáticas, psicossomática, psicoterapias, terapia sistêmica, traços de personalidades, terapias pós-modernas com perspectiva multidisciplinar, aspectos filosóficos da medicina tradicional chinesa-acupuntura, psicologia psicossomática e abordagens psicoenergossomática em acupuntura, no sentido de contribuir com o processo terapêutico ao integrar a Psicologia Psicossomática com o sistema energético estudado na medicina chinesa. Organizado em quatro capítulos, este trabalho tem início com um breve histórico da psicologia psicossomática quanto seus processos e aspectos relevantes sobre as doenças, personalidades e psicologia psicossomáticas. O segundo capítulo apresenta casos clínicos em psicoterapias, recursos e técnicas da terapia sistêmica. O terceiro capítulo temos os aspectos relevantes sobre as teorias da personalidade e do temperamento e terapias pós-modernas multidisciplinares. O último capítulo analisa os aspectos psicológicos e o sistema energético do organismo segundo o entendimento da Medicina Chinesa e a contribuição da teoria Psicoenergossomática em uma abordagem no tratamento com acupuntura. Pretende-se um olhar da mente capaz de aproximar a filosofia da medicina chinesa e a psicologia psicossomática. Emoções  como a alegria, o medo, a tristeza, a preocupação, a ansiedade, a raiva, dentre outras, quando experimentadas por longos períodos e com grande intensidade, se não forem processadas devidamente, possivelmente levará a alguma situação de lesão fisiológica e/ou transtornos de ordem psicossomática e ainda psicofisiológicas, aspectos afetivos  conscientes ou inconscientes, formadores da subjetividade e da personalidade.

Palavras-chave: Acupuntura, medicina chinesa, psicologia, teoria psicoenergossomática, psicossomática.

 

INTRODUÇÃO

 

Neste trabalho traçou-se como objeto analisar a Psicologia Psicossomática e a possibilidade de associá-la à MTC-Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura com vistas ao enfrentamento dos desafios do bem atender o paciente em um processo psicoterápico. Para isso, considerou-se a Psicossomática e a MTC desde as práticas recorrentes em suas origens bem como suas expansões para outros continentes até a chegada ao Brasil. O interesse pelo tema parte de algumas inquietações. Há cerca de dez anos este aluno exerce funções na área da saúde física e mental, tendo ampliado sua formação inicial de Educador Físico para o campo das Práticas Integrativas e Complementares através da Formação e Pós-Graduação em Acupuntura. Ao conhecimento prévio do pós-graduando durante seu próprio processo terapêutico como acupunturista, foram somadas as experimentações de técnicas de curas típicas da medicina chinesa. Desde então, a abordagem considerando o sistema energético da MTC tem sido uma prática integrada à vida do aluno, assim como as leituras da filosofia da acupuntura, buscando incorporar seus valores e práticas no dia a dia.

 

No decorrer do curso de Psicologia Psicossomática, foi identificado um conjunto de conceitos e elementos que relacionam a somática à acupuntura. A presente discussão parte da percepção deste aluno no decorrer de mais de 6 anos de atuação com práticas de acupuntura, e a partir de seu olhar empírico, a elaboração da seguinte questão: Na prática da acupuntura é possível uma abordagem Psicoenergossomática?

 

Para consecução do objetivo proposto neste trabalho, o procedimento metodológico utilizado foi a pesquisa bibliográfica em textos, artigos e livros que tratam da somática bem como da acupuntura com a finalidade de construir seu arcabouço teórico.

 

O presente artigo está estruturado em quatro partes, sendo que no primeiro capítulo “teorias psicossomáticas: histórico, doenças somáticas, personalidade psicossomática e psicologia psicossomática” procurou-se analisar a psicossomática quanto a sua história e aspectos relevantes sobre as doenças e personalidades e psicologia psicossomáticas. Desde a antiguidade que surge a noção psicossomática do adoecer, no entanto, é através de filósofos gregos que o ser humano é visto de modo mais amiúde sob o aspecto de uma visão global, em que  a dimensão funcional é o corpo, e a psique tem a função de manter o controle regular destes aspectos funcionais. Essa visão de médico e filósofos gregos se divide em duas linhas de pensamentos, o todo holístico representado por Hipócrates e a dissociação mente-corpo representado pelo dualismo de Galeno.  

 

Em tese toda doença é resultado de um desequilíbrio em algum sistema no organismo, sendo que a condição necessária para a sobrevivência dos seres vivos consiste no equilíbrio e harmonia dos elementos em oposição dinâmica, a esse fenômeno chamamos de homeostase. Portanto, a saúde depende de um equilíbrio harmonioso dos elementos e da qualidade de vida e doença como desarmonia sistemática destes elementos, assim sendo, temos a explicação biológica e neurofisiológica em psicossomática para as doenças.  

 

Os traços específicos de um indivíduo fornecem uma descrição da sua personalidade. E teóricos tentam encontrar uma forma de caracterizar as pessoas pela referência a alguns traços básicos subjacentes, e descrever as divergências entre indivíduos usando um contíguo padrão de atributos.

 

Os traços de personalidade têm ligação com o comportamento embora varie o modo como traços e comportamentos se relacionam Os traços são tendências gerais de comportamento que, em última instância, influenciam na organização biológica do indivíduo, mas estes podem evoluir ao longo do tempo com a experiência e podem mudar à medida que o indivíduo aprende novas maneiras de se adaptar ao seu mundo.

 

No segundo capítulo “casos clínicos em psicoterapia, psicoterapias, recursos e técnicas da terapia sistêmica” vimos em psicanálise os estudos de casos tem suas origens nos relatos de sessão anotados por Freud, que construiu progressivamente sua teoria em cima das observações e anotações feitas durante as sessões de terapia. Já a psicoterapia teve suas origens na medicina antiga, na religião, na cura pela fé, no hipnotismo e era relacionada à cura da alma, o que se dava através do uso da palavra e de rituais. Vimos também que na terapia sistêmica, o terapeuta precisa estar inteiramente aberto para ouvir e compreender o outro, aceitando-o como ele se apresenta. Nesse tipo de técnica terapêutica o profissional deve estar acessível ao outro como ser humano numa abordagem terapêutica que pode ser realizado de modo individual, com casais, ou familiar, portanto, pode ser indicado para todas as faixas etárias, sendo que tal trabalho pode ser realizado por meio de reflexões acerca de questões individuais, convivência familiar ou conjugais.

 

O terceiro capítulo, “teorias da personalidade e do temperamento e terapias pós-modernas multidisciplinares”, temos que os traços com base biológica interagem com o ambiente social para orientar o nosso comportamento a cada instante.

 

No desenvolvimento da personalidade encontramos a influência de fatores hereditários (genéticos), e a influência do meio, bem como das experiências anteriores do sujeito. É no jogo das interações entre os diferentes e variáveis fatores biológicos e influências sociais que se compreende o comportamento atual das pessoas. Em suma, podem-se definir que o desenvolvimento humano pode ser, então, o conjunto de processos através dos quais as particularidades da pessoa e do ambiente interagem para produzir constância e mudança nas características da pessoa no curso de sua vida.

 

Os traços da personalidade são o  conjunto de características que herdamos: fisiológicas, morfológicas e sexuais, que vão influenciar a personalidade. O temperamento se refere a dimensões gerais de comportamento representando padrões universais de desenvolvimento, se manifesta já durante a infância e constitui biologicamente a personalidade, é relativamente estável ao longo do tempo, apresenta substrato biológico e os fatores do contexto podem influenciar as expressões temperamentais. 

 

Na atualidade, ou seja, o cenário pós-moderno de profundas transformações econômicas, sociais e políticas, incrementadas especialmente a partir do último quarto do século XX, é ladeado por intenso debate paradigmático, levando ao ceticismo quanto a princípios e metanarrativas da modernidade. Dentre as mais variadas terapias da pós-modernidade, destaca-se a influência do construcionismo social como metateoria em duas abordagens: terapia narrativa e terapia colaborativa.

 

No quarto capitulo “aspectos históricos, filosóficos e a abordagem psicoenergossomática na medicina chinesa-acupuntura” foi considerada a possibilidade de utilização da MTC com suas técnicas, dentre as quais a acupuntura no atendimento ao paciente em uma abordagem psicoenergossomática, e assim considerando o indivíduo na sua totalidade, suas cinco emoções: raiva, alegria, preocupação, tristeza e medo e seu ciclo energético dentro dos cinco elementos: madeira, fogo, terra, metal e água. 

 

A acupuntura, que é parte da medicina tradicional chinesa, é uma técnica praticada desde a antiguidade. Em seu sentido maior, acupuntura significa a arte da cura por meio da inserção, no paciente, de agulhas específicas com objetivo de promover a saúde do doente. Ela não trata necessariamente a doença, e sim o doente, equilibrando energeticamente o seu corpo para promoção da autocura.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 1

 

TEORIAS PSICOSSOMÁTICAS: HISTÓRICO, DOENÇAS SOMÁTICAS, PERSONALIDADE PSICOSSOMÁTICA E PSICOLOGIA PSICOSSOMÁTICA

 

Desde a antiguidade que surge a noção da psicossomática do adoecer, no entanto, é através de filósofos gregos que o ser humano é visto mais a miúde em uma visão global, em que a dimensão funcional é o corpo, e a psique tem a função de manter o controle regular destes aspectos funcionais. Essa visão de médico e filósofos gregos se divide em duas linhas de pensamentos, o todo holístico representado por Hipócrates e a dissociação mente-corpo representada pelo dualismo de Galeno. 

 

Segundo Mello Filho (1992), foi em 1818 que o J. C. Heinroth, psiquiatra alemão, cria o termo “psicossomático” que evidencia a importância dos aspectos físicos e subjetivos no processo do adoecer, então a psicossomática surge como proposta holística na forma de olhar a doença. Um século depois, o termo “psicossomática” ressurge, agora influenciado pelo desenvolvimento da psicanálise e o modelo freudiano, dando início à sua estruturação nos moldes atuais. Portanto, durante a idade Média ocorre o desprezo pelo corpo com a valorização exacerbada da visão espiritual. Aos poucos, com o movimento cultural promovido pelo Renascimento, a ciência médica, mesmo que em fase inicial, promove a volta da visão holística, valorizando as interações mente-corpo para melhor compreensão dos aspectos do adoecer.  

 

Por volta dos anos 30 surge na América o interesse pela psicossomática, por meio da Escola Psicossomática Americana, consolidando-se em meados do século 20 com Alexander e Dunbar da Escola de Chicago. Para estes autores, os transtornos psicossomáticos seriam “consequência de estados de tensão crônica, relativa à expressão inadequada de determinadas vivências, que seriam derivadas para o corpo”. (Cardoso, 1995, p.10). Defendem que de acordo com a hipótese da especificidade, “as diferentes doenças psicossomáticas corresponderiam diferentes ‘fatores psicológicos’, que para Dunbar seriam os tipos de personalidade e para Alexander os conflitos ou ‘situações de vida significantes’” (Cardoso, 1995, loc. cit.).

 

Já a Escola Psicossomática de Paris defende que na utilização de uma “escuta analítica” destes sujeitos, ao invés de escutar “o sujeito via órgão”, diferenciaram-se substancialmente da escola psicossomática americana. Ao realizarem esta forma de escuta, “Marty e seus colegas” se surpreenderam, pois descobriram que estes sujeitos “não estavam falando de nada”. No entanto, este nada “possibilitou aos investigadores franceses a formulação de uma gigantesca negatividade simbólica, aonde o pensamento operatório, a precariedade onírica e a ausência de fantasia se impunham como esfinges aos decifradores do enigma psicossomático” (A. Dias, 1992, p.40).

 

As emoções quando não são devidamente processadas, podem provocar complicações patológicas, nas palavras de uma emoção não liberada adequadamente, seguramente vai desequilibrar o funcionamento de alguns órgãos. O desgosto que se pode exprimir por meio de gemidos e lágrimas é rapidamente esquecido, enquanto que, o sofrimento mudo, que remói incessantemente o coração, acaba abatendo-o por exemplo.

 

Temos na   Psicologia, a área que estuda as influências dos processos psicológicos nos processos biológico-físicos, as chamadas doenças psicossomáticas que segundo os psicólogos e psicoterapeutas, são aquelas patologias que têm suas origens na mente. Como ciência, a psicossomática estuda as doenças orgânicas com descarga no corpo, ou seja, uma lesão em um determinado órgão e/ou sistema provocado por desequilíbrio nervoso, onde na unidade devem ser considerados os aspetos biológicos e psicológicos em perfeita interação causa e efeito.

 

Na psicossomática o ser humano deve ser entendido na sua totalidade sua perspectiva biológica e relacional, isto é, a entidade biológica e a entidade psicológica devem ser estudadas considerando as complexas relações mente/corpo para explicar a patologia somática através de uma proposta de assistência integral e uma leitura pormenorizada da linguagem psicológica dos sintomas corporais.

Para Alexander (1989) em tese, toda doença é psicossomática se considerarmos que fatores emocionais influenciam todos os processos do corpo, por meios do sistema nervoso humoral. Ao atender um paciente, o terapeuta deve compreender o possível significado do sintoma exposto uma vez que o organismo está sujeito a sofrer agressões dos meios interno e externo que perturbam a sua homeostase, gerando então a doença de acordo com órgão afetado pela agressão sofrida. Sendo assim, a abordagem psicossomática privilegia o doente, e não a doença. O profissional deve entender que uma doença muitas vezes é uma escapatória de uma situação de conflito ou aparece pela necessidade de atenção e carinho, necessidade de ser cuidado, situação facilmente entendida quando se faz uma abordagem psicossomática, e com isso diminui o tempo de tratamento, evita exames complementares desnecessários e abrevia o sofrimento do paciente.

 

Cada pessoa tem uma forma especifica de reagir e consequentemente somatizar seus traumas que dependem de sua história de vida e da carga genética. Como um ser de sistema complexo de interações, o humano, em determinados momentos pode estar em equilíbrio ou desequilíbrio. Na abordagem psicossomática busca-se dar ênfase não só aos sintomas que levaram o paciente ao serviço de saúde, mas com a compreensão do seu conteúdo latente. A anamnese da consulta clínica com abordagem psicossomática objetiva conhecer o máximo a respeito do paciente, da sua doença e também do ambiente em que vive, por exemplo.

 

Para Balint (1988), dentre outros aspectos, em uma abordagem psicossomática deve-se considerar alguns aspectos relevantes para o paciente, tais como: o que o paciente acha que tem, qual a possível causa de sua doença; o que ele acha que o faz melhorar e o que piora os seus problemas; quais as consequências em sua vida pessoal a doença tem causado;  investigar os vínculos mais significativos do paciente: mãe, pai, irmãos, amigos, companheiros(as); perguntar sobre o cotidiano em família, na escola e comunidade em que vive; e investigar os modelos de somatização e de desordem orgânica familiar. Com esse tipo abordagem, o paciente se torna corresponsável pelo tratamento, deixando sua postura passiva para agir ativamente na sua melhora e proporcionar um menor custo da terapia, com menos medicamentos e exames quase sempre complexos e dispendiosos.

A relação entre emoções e alterações fisiológicas e hormonais são formas que os organismos possuem para enfrentar as solicitações ou agressões externas.

 

A psicossomática visa a promoção de saúde, postulando uma visão “integrada, na sua unidade irredutível corpo-mente”, uma vez que corpo e mente representam um contínuo e são inseparáveis anatômica e funcionalmente. Campos e Rodrigues (2005, p. 299).

 

Seja qual for o fator da causa preponderante na doença, ela acontece em um ser humano detentor de vida mental, social e biológica, portanto, passa a ser um fenômeno psicossomático.

 

Segundo a compreensão atual, especialmente na MTC, toda doença, em tese, é psicossomática. Entendemos que a doença expressa e revela a forma de um indivíduo viver a sua interação com o mundo, obedecendo a fatores bio-físico-químicos, bem como a fatores psíquicos e sociais que comprometem uma pluridimensionalidade nos níveis somático, mental e social. CAMPOS; RODRIGUES, (2005).

 

A Escola de Psicossomática de Paris, por exemplo, entende que os seres humanos se confrontam a todo momento com um afluxo de excitações, pensamentos, desejos, necessidades e conflitos e que temos a possibilidade de descarregá-los por três possíveis vias: a orgânica (somática), a ação (comportamento) e o pensamento (psiquismo, representações psíquicas, fantasias etc.) E é aí que o terapeuta é acionado a facilitar a fala do paciente, estimulando nele toda manifestação subjetiva para integra-lo na sua história.

 

Para (CAPITÃO; CARVALHO, 2006), como um campo de compreensão, a psicossomática busca um entendimento na relação mente-corpo e dos processos de adoecimento, partindo da observação dos distúrbios físicos nos quais processos emocionais desempenham um papel importante. Situações observadas nas diversas clínicas hospitalar, psicológica, médica etc., nas quais uma perturbação psicológica aumenta o risco de se desenvolver ou agravar doenças físicas.

A psicossomática diz respeito ao:

“estudo sistemático das relações existentes entre os processos sociais, psíquicos e transtornos de funções orgânicas ou corporais. Consiste em um ramo do conhecimento que estuda e trata de questões humanas, ou seja, promoção da saúde que pertence, num só tempo, ao orgânico, ao psíquico e ao social. (RODRIGUES, CAMPOS; PARDINI, 2010. P. 131).

 

A Concepções de Somatização se desenvolveu em 3 fases, sendo a primeira a inicial, ou psicanalítica, a intermediária ou behaviorista, e a atual ou interdisciplinar, em que se põe em destaque a importância do social e da interdisciplinaridade (MELLO-FILHO, 2010). Desse modo, os mencionados autores entendem que toda doença é psicossomática. Essa visão contribuiu para que se instalassem os modelos multicausais e integrais, que imperam na fase atual dos estudos psicossomáticos.

 

Em uma abordagem psicossomática deve-se observar a confluência de múltiplos fatores, tais como os filosóficos, políticos, teológicos, biológicos, psicológicos e relacionais como um todo. Homem como ser biopsicossocial onde biologicamente deve ser entendido segundo sua natureza e saúde física, sua hereditariedade, seu espaço físico, em termos sociológicos o homem deve ser entendido em seus valores, normas e cultura; e psicologicamente o ser humano deve ser entendido pala sua personalidade. 

 

Estudos recentes apontam para uma elevada relação entre somatização e procura de cuidados médicos primários. Apontando também, correlação entre somatização e traços de personalidade como a conscienciosidade, obsessão, sensibilidade, insegurança, ansiedade, alexitimia, baixa autoestima, vulnerabilidade ao estresse, hostilidade e supervalorização do tipo físico e da atividade (perfis atléticos). Indicam, ainda, o abuso sexual como um dos fatores de risco para o desenvolvimento de somatização, e a necessidade de se dizer doente como fator de manutenção do quadro somático (CARDOSO, 1995).

 

Para Fortes; Tófoli; Baptista, (2010), quase sempre, ao apresentar queixas somáticas, o sujeito tenta receber mais atenção. O comportamento somatizador passa a ser uma forte alternativa de comunicação do sofrimento e da reivindicação de cuidado. Considera-se que os sintomas corporais apontam para conflitos psíquicos, que permeiam a existência humana e que são inerentes às relações que o homem estabelece com o meio social, cultural, espiritual e com suas instâncias psíquicas.

 

Para Paim (2008), a personalidade de um ser humano vem a ser o sentido que a pessoa dá às diferentes experiências da sua vida, isso passa pela comunicação, pelas relações interpessoais e o comportamento social, envolvendo a pessoa na sua totalidade. Nota-se que a formação da personalidade é um processo gradual, complexo e único para cada indivíduo.

 

Os elementos que estruturam uma personalidade são de origens diversas dependentes de variados fatores, tanto biológicos, quanto psicológicos e sociais. Sendo assim, a personalidade vem a ser o modo de existir como pessoa, são as características próprias e particulares definidoras da moral do ser humano. Embora a personalidade seja aquilo que nos torna únicos e diferentes dos outros, ela engloba traços gerais semelhantes às de outra pessoa. E são os pontos comuns de comportamento encontrados em um indivíduo ou num grupo de indivíduos. A personalidade de cada um torna a pessoa única.

 

Pessoas com características semelhantes podem ter reações diferentes numa mesma situação, tendo em vista a intensidade e o significado que determinada situação tem para a pessoa que vai orientar a sua forma de agir, bem como todo um conjunto de experiências anteriormente vivenciadas por cada sujeito.

 

Cada pessoa é única e reage aos acontecimentos de forma particular, uma vez que o ser humano configura características genéticas, fisiológicas, emocionais, cognitivas e sociais que funcionam de modo diferenciado em diversificados cenários e contextos (Fernandes Filho, 1992, cit in Paim, 2002).

 

Num sentido mais amplo, só os genes e cromossomos é que são herdados, tudo o mais é adquirido pelo indivíduo durante o desenvolvimento espacial através das suas interações.

Com a sua Teoria Analítica, Jung arquitetou a personalidade, ou psique, como um sistema de energia parcialmente fechado. O entendimento de que é parcialmente fechado se deve ao fato de que para o autor, energia de fontes exteriores precisa ser acrescentada ao sistema orgânico do ser humano, através de alimentação, por exemplo. A energia também é subtraída do sistema pela realização do trabalho muscular. Vale destacar o seu conceito do inconsciente coletivo com os seus arquétipos, a sua ênfase no carácter revolucionário do desenvolvimento da personalidade.

 

As Teorias da Personalidade entendem que a forma de agir do ser humano, incluído seu estado de saúde e/ou de doença, é influenciado pela personalidade, que em tese, é de compreensão complexa tendo em vista que envolve fenômenos bio-psico-sociais. A Teoria Psicanalítica de Sigmund Freud chegou a conclusão que todos os seres humanos passam por uma sucessão de ocorrências significativas, bastante semelhantes no início da vida, e que é este passado da infância, que molda a nossa personalidade no futuro (Freud, 1905, cit in Gleitman et al, 2003).

 

Carl Rogers (2001) com sua Teoria da Terapia Centrada na Pessoa defende o uso de técnicas baseando em atitudes terapêuticas que proporcionem ao paciente a compreensão de que uma mudança terapêutica depende essencialmente de si mesma.

  

Com o seu Modelo de Personalidade, Millon (2005) apresenta uma teoria biopsicossocial, uma vez que este modelo considera os fatores biológico, psicológico, social e cultural como influenciadores da personalidade humana. A maioria das teorias nos remete ao fato de que a personalidade depende dos seguintes fatores: influências hereditárias, as influências do meio e as experiências pessoais.  Sendo assim, numa situação de doença, sob a influência do estilo de personalidade, pode ser determinante no curso da doença e dos cuidados terapêuticos.

 

Já em seus primeiros trabalhos, Freud apresentou o rompimento com dualismo corpo-mente de Galeno e Descartes, resgatando a noção hipocrática, que valoriza a pessoa do doente e não somente doença, e defendeu que a historicidade do indivíduo tem ligação direta com seu estado de equilíbrio (saúde/doença). O ser humano deve ser entendido na sua totalidade, onde o equilíbrio geral serve para o início no processo da compreensão dos movimentos que cada indivíduo faz, levando-o a situações psicossomáticas, podendo colocá-lo em situações de homeostase ou desequilíbrio.

 

Franz Alexander (1989) considera o processo do adoecer entendendo que os efeitos dos processos não devem ser vistos como locais e tão pouco isolados, mas prioritariamente integrados em termos das dimensões: biológica, social e psicológica.

 

Na dimensão biológica compreende as características físicas genéticas ou adquiridas durante a vida. Inclui tudo que está relacionado, ao corpo, num sentido orgânico, seus sistemas, seu metabolismo, suas resistências e vulnerabilidades, órgãos e funções fisiológicas.

 

Já na dimensão social temos que na relação que estas pessoas estabelecem com o meio em que vivem e a sua cultura. Crenças e valores morais, aspectos de relacionamento familiar, trabalho e círculos de amizade, dinâmicas em seus grupos, e basicamente tudo que as cercam e de alguma forma as ligam a outras pessoas. Já a dimensão psicológica trata-se de todos os aspectos cognitivos e comportamentais segundo.

 

Corroborando com as diversas teorias psicossomáticas, a psicanálise entende que “qualquer que seja o momento de sua elaboração, a teoria psicossomática permanece estreitamente ligada à psicopatologia e mais especialmente à noção de psiconeurose, o que continua sendo a norma mesmo quando dela nos afastamos deliberadamente” (Sami-Ali, 1993, p.86).

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 2

 

PSICOTERAPIAS, CASOS CLÍNICOS EM PSICOTERAPIAS, RECURSOS E TÉCNICAS DA TERAPIA SISTÊMICA 

 

Sabemos da experiência subjetiva que temos uma mente e um corpo. Nos transtornos psicossomáticos, pode igualmente haver uma dissociação entre mente e corpo, embora permaneça inconsciente. Tanto na saúde quanto na doença há uma interação vital entre a mente e o corpo, e nós terapeutas, estamos conscientizados da nossa própria existência psicossomática bem como dos nossos pacientes. As emoções estão em contínua interação com o corpo. Quase sempre, as doenças orgânicas, com seus efeitos no cérebro, produzem distúrbios emocionais e alterações principalmente no pensamento, até mesmo na consciência. E ainda, com relação as doenças mentais, tais como a depressão ou a ansiedade, há muitas mudanças profundas na função corporal.  

 

A abordagem psicossomática visa resgatar o doente como pessoa, portanto não visa dar maior importância para a doença. E tanto o aspecto físico quanto o aspecto psíquico são tratados cuidadosamente como uma só unidade. Esta abordagem trata as relações e interconexões entre mente e corpo. É possível afirmar que antes do adoecimento se manifestar pode ser percebida uma falha no fluxo assimilado pela consciência.

 

Na sua origem na medicina antiga, na religião, na cura pela fé, no hipnotismo, a psicoterapia era relacionada à cura da alma, através da palavra e de rituais, a psicoterapia, a partir do século XIX, tornou-se uma atividade restrita aos médicos psiquiatras na cura dos transtornos mentais e doenças nervosas

 

Freud contribuiu grandemente para avanços da clínica psicológica ao introduzir novas técnicas, através da mudança do paradigma, passando da observação para o da escuta atenta do paciente, dando a devida importância no tratar do paciente considerando-o dono da sua dor, o sujeito ativo de sua história de adoecimento, e não como mero objeto que está prostrado ali para ser estudado pelo terapeuta.

Vale ressaltar que foi só em 1879 que a psicologia é reconhecida como ciência, sendo que a psicoterapia foi reconhecida como um método que possibilita conhecer em profundidade o funcionamento da mente humana, o que proporciona ao indivíduo conhecimento profundo sobre si mesmo. Segundo o CFP-Conselho Federal de Psicologia, na sua Resolução CFP-010/2000, atualmente no Brasil, a psicoterapia, mesmo sendo praticada quase que na sua totalidade por psicólogo, pode ser praticada por qualquer profissional, desde que não se intitule psicólogo.  E ainda, o CFP não reconhece terapias alternativas como prática da psicologia, excluindo totalmente a possibilidade do uso de terapias alternativas enquanto técnica principal ou complementar no tratamento psicoterápico.

 

O espaço no qual a relação entre paciente e terapeuta acontece delimita a área de atuação de cada sujeito, bem como as regras que configuram a relação psicoterápica. O espaço oferecido para criar uma estruturação simbólica dos processos subjetivos inconscientes (setting) deve ser organizado em um ambiente físico; e o contrato que pautará o processo psicoterápico e estabelecer o tipo de relacionamento entre os sujeitos desse processo, ou seja, o analista e o paciente. É sempre bom ter em mente que antes do estabelecimento do contrato e das regras serem fundadas, necessário se faz que o paciente e o terapeuta se encontrem para uma ou mais entrevista inicial, para que o terapeuta possa conhecer a condição mental, emocional e material do paciente, além de entender o motivo que o levou a buscar a psicoterapia. Assim, o profissional pode perceber se está apto a atender o paciente ou definir por encaminhá-lo para outro terapeuta.

 

Sabemos da existência de uma enorme diversidade de modelos e concepções em psicoterapia, pode-se dizer que as mesmas apresentam alguns importantes elementos comuns, a saber: a necessidade de uma relação de confiança emocionalmente carregada em relação ao terapeuta; a crença por parte do paciente de que o terapeuta irá ajudá-lo e de que os objetivos serão alcançados; e  a pressuposição da existência de uma modelagem conceitual que prevê uma explicação possível para o sintoma/problema e um procedimento para ajudar o paciente a resolvê-lo. Já quanto as diferenças podem-se ressaltar os modelos referenciais teóricos, tais como: as teorias psicanalíticas, as teorias comportamentais, as existenciais-humanistas, as psicodramáticas, as sistêmicas, as construtivistas, as narrativas e as do construcionismo social.

 

As principais modalidades em psicoterapia são: individual, Casal/Família e a Psicoterapia de Grupo. A individual ocorre numa interrelação entre terapeuta e paciente geralmente em ambiente privado. Enquanto que a Psicoterapia de Casal e Família, pontua-se que o objetivo da mesma, é facilitar a compreensão dos membros da família ou casal, em relação à significação dessas estruturas. A psicoterapia de grupo vê o mundo interno composto e afetado pelas relações com exterior, por exemplo, com as famílias, sociedades, e principalmente com os padrões culturais. A  Organização Mundial de Saúde (OMS), no ano de 2003, definiu como Medicina Tradicional outros tipos de abordagem, a saber: alopatia, Medicina Tradicional Chinesa e Indiana, bem como as técnicas com recursotipo: plantas, animais ou minerais, desde que a sua utilização seja no sentido da manutenção do bem-estar, tratamento, diagnóstico ou prevenção da doença.

 

Na terapia sistêmica, o terapeuta precisa estar inteiramente aberto para ouvir e compreender o outro, aceitando-o como como ele se apresenta. Neste tipo de técnica, o  terapeuta deve estar acessível ao outro como ser humano numa abordagem terapêutica que pode ser realizade de modo individual, casais, familiar, portanto, pode ser indicado para todas as faixas etárias, sendo que tal trabalho pode ser realizado por meio de reflexões acerca de questões individuais, convivência familiar ou conjugais. Determinados dados pessoais, psicossociais, a árvore familiar, são relevantes, tais como: o sexo, doenças, causas de morte, datas de nascimento, óbito, separações dentre outros. Também são relevantes outras informações como as suas origens, de onde vieram os pais, os avós, tipo de migrações escolaridade e perfil profissional e os acontecimentos marcantes. É importante que o uso de perguntas ocorra no sentido que as respostas sejam geradoras de reflexões e novas perguntas. Brun e Rapizo (1998), dizem que o ser humano para se manter coerente e organizado, procura selecionar e editar aspectos da realidade que se encaixem com suas explicações prévias. Portanto, o trabalho terapêutico torna-se, então, dirigido a criar perguntas que facilitem estas novas articulações. O terapeuta pode ter algumas coisas para dizer, mas tem muito mais a perguntar.

CAPÍTULO 3

 

TEORIAS DA PERSONALIDADE E DO TEMPERAMENTO, TERAPIAS PÓS-MODERNAS E PERSPECTIVA MULTIDISCIPLINAR

 

A Psicologia entende o temperamento tendo como referência o aspecto da personalidade que está mais voltada às disposições e reações emocionais, e ainda sua velocidade (rápido ou lento) e intensidade. Já a personalidade é vista como um conjunto de características que identifica cada um e que foram geneticamente herdadas ou apreendidas do seu meio social, e tudo isso forma o mundo particular psíquico do indivíduo, e é consideravelmente estável com o passar do tempo. Portanto a personalidade é formada a partir dos genes, experiências particulares, percepções individuais, com o envolvimento de fatores diversos, tais como: biológico, social e psicológico, o físico, o temperamento e a inteligência, são componentes da personalidade, na verdade são a matéria prima da personalidade, e são influenciados, durante a vida, pela nutrição, pela saúde, pela doença e pelo ambiente. É especialmente interessante  observar que vários autores falam sobre o temperamento como sendo a característica da personalidade e ao mesmo tempo colocam a emocionalidade como características as peculiaridades das emoções, dentre outras emoções temos a alegria, a mágoa, o medo, a tristeza e a cólera.

 

A constituição é o aspecto físico-morfológico da personalidade, sendo esta, constituição é objetivo da Biotipologia, que se trata ciência que estuda os diversos tipos humanos com suas particularidades somáticas e psíquicas, que são intimamente ligadas. Portanto pode-se afirmar que há uma estreita relação entre a forma e o espírito, a figura e o caráter, entre o corpo e a psique. A tipologia da constituição se trata de uma abordagem ao estudo da relação entre características físicas e psicológicas. Teorias estas, mais compartilhadas e utilizadas por outros autores como Kretschemer e Sheldon (DAVIDOFF, 1983).

 

Uma das primeiras teorias a propor uma explicação do temperamento dos quatro humores aconteceu na Grécia Antiga por intermédio de Hipócrates. Bem mais tarde, na verdade alguns séculos depois, tomando como referencial teórico esta classificação hipocrática, Galeno de Pérgamo tratou de categorizar o ser humanos levando em conta os seus temperamentos que foram classificados em quatro tipos de pessoas, a saber: colérico, melancólico, fleumático e sanguíneo.

 

O primeiro se trata das pessoas apaixonadas e enérgicas, que se irritam com facilidade.

 

O segundo tipo diz respeito aos indivíduos tristes, fáceis de comover e com grande sensibilidade artística.

 

O terceiro são os sujeitos frios e racionais.

 

O quarto e último tipo é aquele representado pelas pessoas alegres e otimistas, que expressam carinho pelos demais e se mostram seguras de si.

 

Sobre os temperamentos temos que os mesmos segue agora a ordem peculiar.

 

O fato é que dois deles sempre são de polos opostos excluindo-se mutuamente. Por exemplo indivíduo fleumático dificilmente apresentará sinais de um temperamento colérico, e mesma forma, um indivíduo sanguíneo e o melancólico são incompatíveis.

 

Cada temperamento tem, no entanto, dois companheiros, os quais variam em intensidade e aparência. Vale ressaltar que os temperamentos estão sempre associados a um dos quatro elementos da natureza representados pela terra, pelo fogo, pela água e pelo ar.

 

O indivíduo pertencente ao elemento terra se caracteriza pela demonstração de seriedade na expressão, tristeza nos olhos, caminhar inclinado para frente e com vagarosidade, introspectivo, sincero e exigente principalmente consigo mesmo, perfeccionista e critico com as opiniões dos outros.

O indivíduo cujo elemento é o fogo possui olhar fogoso, bastante ativo, impositivo e com ideias elevadas, senso de justiça aguçado, proativo, exageradamente impulsivo.

 

O indivíduo do elemento água, expressa com olhar amigável, satisfeito, andar lento, detalhista, prazer na alimentação, fala pausadamente, devagar e sempre sem se expor.

 

Já o indivíduo do elemento ar tem olhos brilhantes, bastante simpático, pisa macio, é uma pessoa bastante nervosa, confunde sonho com realidade, não conclui facilmente, e é extremamente sociável e inovador. Segundo essa teoria, todo indivíduo carrega no seu íntimo todos os quatro tipos de temperamentos supracitados, sendo que somente um dos quatro que é destacado e os demais as vezes aparecem em alguma situação especifica.

 

O que se tem notícia sobre o que teria da personalidade do indivíduo, vimos que ela tem passado por significativas mudanças desde a sua origem. Carver et Scheier (2000, cit in Hansenne, 2003) procuraram sintetizar o máximo dentro do possível, destacando alguns pontos julgados mais importantes, a saber: a personalidade representa um processo dinâmico e intimamente para cada indivíduo; trata-se de um conceito psicológico cujas bases são fisiológicas; é uma força determinante no comportamento de cada indivíduo; é constituída por padrões de respostas recorrentes e consistentes; reflete para variadas direções, da mesma forma que acontece com os sentimentos, pensamentos e comportamentos.

 

Na perspectiva psicanalítica de Freud temos que a personalidade é um conjunto dinâmico constituído por componentes em conflito, dominadas por forças inconscientes, e a sexualidade tem um papel crucial nesta teoria. Refere também ao inconsciente (Eu), o pré-consciente (Id), consciente (Superego).

 

Jung, na Perspectiva Neoanalítica, não considera a teoria da sexualidade e realiza uma interpretação dos sonhos de forma diferente. Um ponto primordial desta teoria é o de o inconsciente ser dividido em duas entidades diferentes: o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo, sendo que o inconsciente coletivo é constituído por padrões emocionais e comportamentais (arquétipos).

 

Para Hansenne (2003), em perspectiva cognitiva, os processos representam a característica dominante da personalidade, e ser humano formula suas expectativas individuais (construtos pessoais). Segundo esta teoria, no caso da depressão, por exemplo, um doente deprimido passa por distorções cognitivas, e estas distorções fazem com que este doente descodifique a realidade inadequadamente.  

 

A psicologia pós-moderna que na verdade vem a ser uma aplicação de um novo discurso, ou seja, um pensamento pós-moderno articulado com as mudanças nos paradigmas culturais da segunda metade século XX, principalmente no campo das ciências humanas e sociais, mas não se trata de uma nova teoria em psicologia, e sim  novas ideias para concepções já consolidadas.

 

Como prática social transformadora, a terapia deve ser compreendida a partir dos contextos locais e das histórias culturais das suas distintas “comunidades linguísticas”. Ela não deve servir de instrumento de controle e da normatização dos sistemas e instituições, portanto, a terapia deve estar sempre voltada para mudanças sociais.

 

O terapeuta deve sempre levar em consideração o conjunto de elementos formadores do caráter individual, ou seja, a particularidade psíquica de um indivíduo (idiossincrasia), observando sempre as noções tradicionais de cultura, raça, gênero, classe social, com ênfase na complexidade, para além dos modelos e com espaço para inclusão de questões de espiritualidade.

 

Os desafios da pós-modernidade apresentados ao terapeuta são grandes, convidando-o a humildade no enfrentamento das demandas vindas do campo da saúde mental e das instituições encarregadas dos cuidados ao ser humano. E isso exige  desses profissionais uma  constante construção do conhecimento cada vez mais voltado para a transdisciplinaridade numa perspectiva de trocas colaborativas de conhecimentos e construção terapêutica, uma vez que os contextos políticos e sociais afetam severamente a vida das pessoas, incluindo aqui, tanto paciente quanto terapeuta, e essas condições os levam à terapia.

 

Atualmente tem-se o entendimento da ideia de que o terapeuta é coautor e o paciente é a autoridade máxima de sua vida, a crença de que o diálogo é uma prática social transformadora, o uso de questionamentos para gerar transformação e mudança e a escolha de uma postura hermenêutica, vista aqui como o campo da atitude propriamente dita, como pré-disposição interior a agir (Grandesso, 2001).

 

Para Gergen (1992), com a evolução dos sistemas de comunicações atualmente ocorreu uma saturação social do eu, condição em que a pessoa se vê mergulhada numa rede complexa de interações, multiplicando-se entre atividades, interesses e estilos de viver que afetam a própria experiência do self.

 

Com relação ao  self citado por Gergen, trata-se de um dos arquétipos junguianos, que significa a unificação do consciente e do inconsciente em um indivíduo, a psique como um todo.

 

Dentre as mais variadas terapias da pós-modernidade, destaca-se a influência do construcionismo social como metateoria em duas abordagens: terapia narrativa (White & Epston, 2008) e terapia colaborativa (Anderson & Goolishian, 1989).

 

Para  (Avdi & Georgaca, 2007) o viés consrutivista-cognitivo ou experiencial-processual tem como foco as micronarrativas de pacientes, defendendo que a realidade individual é construída na linguagem, sendo que através de narrativas, o indivíduo é construtor ativo e (re)significador do seu mundo interior, a sua realidade é fruto da construção da mente de cada indivíduo. Já as de influência sócio-construcionistas defendem as macronarrativas e redes de sentido mais amplas em que estão imersas as histórias pessoais. Propõe que as histórias dos pacientes são os resultados de produções negociadas, de forma contingente, nas interações sociais.  

 

Tanto a terapia narrativa quanto a terapia colaborativa comungam da mesma ideia de que a realidade é sempre construída nas relações através da linguagem, sendo que linguagem constrói os significados e esses são histórica e culturalmente situados. Diferentemente de narrativas anteriores, no discurso pós-moderno a existência do objeto do conhecimento implica necessariamente a presença do sujeito, ou seja, o indivíduo capaz de adquirir o seu próprio conhecimento e ser protagonista da sua história.

 

As abordagens terapêuticas pós-modernas críticas são organizam em torno de conceitos de equidade e justiça social, considerando que muitos dos problemas de saúde mental e de relacionamentos, decorrem das consequências das diferenças de poder e de injustiças sociais.

 

 O pós-modernismo pode ser considerado como um posicionamento crítico, uma postura filosófica que propõe uma nova visão da pessoa humana e do mundo em que estamos inseridos, onde o homem deve ser considerado no seu todo holístico. Aqui o diálogo é a ordem do dia e deve ser compreendido como um cruzamento de perspectivas, sendo uma prática social transformadora independentemente do seu lugar de fala, podendo ser tanto na situação de terapeuta quanto como cliente.

 

Atualmente o conhecimento passa a ser compreendido como uma prática discursiva e construída socialmente, cujo caráter local e contextual serve para legitimar múltiplas narrativas, resultando no multiperspectivismo de diferentes abordagens, dirigidas para a construção de significados úteis para os propósitos de cada indivíduo.

 

A medicina e a filosofia chinesa defende que tudo resulta da energia, o sopro. Da energia original surgem outras duas energias, a energia Yin e a energia Yang que estão presentes em tudo no universo, e cada corpo é classificado como Yin ou Yang de acordo com a quantidade de cada tipo de energia que possui.

 

O homem se inicia pelo mecanismo do nascimento. Inicialmente forma “a essência (jing), ao se formar, o jing produz a medula do cérebro”. Os ossos constituem o escudo (gan), a ossatura. Os vasos carregam o nutriente (ying), os tendões (jin) asseguram a resistência. A carne (rou), os músculos representam a muralha protetora: a pele, a pureza; os pelos e os cabelos, o crescimento. Os “grãos penetrando no estomago, o trajeto está livre”. BORSARELLO (1995, p. 135). A circulação do sangue e da energia (qi) é então assegurada. A acupuntura não se resume na inserção de agulhas, e sim, num conjunto de técnicas específicas tais como massagem chinesa, naturoterapia, fitoterapia chinesa, exercícios físicos, exercícios mentais, orientação de alimentação, moxabustão, dentre outros. A acupuntura e parte de “um conjunto que corresponde a uma concepção de vida” BORSARELLO (1995, p. 23). Sendo assim, em um pensamento numa concepção pós-moderna que considera o sistema energético como o começo de tudo e de todos, podemos estar aproximando-nos de uma nova “teoria” de abordagem, a “energopsicossomática”. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 4

 

ASPECTOS HISTÓRICOS, FILOSÓFICOS E A ABORDAGEM PSICOENERGOSSOMÁTICA NA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA-ACUPUNTURA

 

Após mais de quatro mil anos na China, a MTC-Acupuntura, que atualmente também é muito praticada no Japão, Coréia, Taiwan, dentre outros países, ultrapassa as fronteiras asiáticas e chega ao ocidente pela Europa, precisamente na França pelos jesuítas. Bem mais tarde, segundo Cordeiro e Cordeiro (2009), já no início do século XX, nas décadas de 1920 a 1930, o médico e sinólogo francês George Souloé de Morant, depois de mais de 20 anos, retorna de sua viagem à China e começa a introduzir o estudo e a  prática da Acupuntura no mundo ocidental, sendo ele, o responsável pela tradução dos textos antigos da medicina tradicional chinesa para o idioma francês.

 

A MTC é uma abordagem terapêutica milenar, que tem a teoria do yin-yang e a teoria dos cinco elementos como bases fundamentais para avaliar o estado energético e orgânico do indivíduo na inter-relação harmônica entre as partes, visando tratar quaisquer desequilíbrios considerando o ser humano em sua integralidade.

 

É importante destacar, que a acupuntura vem conquistando importantes espaços no Brasil, atualmente, através de resoluções próprias, a acupuntura já é reconhecia por diversos Conselhos de Classes, tais como: Educação Física, Fisioterapia, Medicina, Farmácia, Biomedicina, Fonoaudiologia, Psicologia, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Odontologia e Medicina Veterinária, o que torna a acupuntura uma técnica tanto multidisciplinar uma vez que pode ser parte de um conjunto de disciplina estudadas simultaneamente em função do seu ecletismo, quanto interdisciplinar, por possibilitar uma compreensão mais especializada.

 

Para Dulcetti Junior (2001, p 36), tudo é composto de energia vetorizada e que a energia tem a propriedade de movimentação no espaço-tempo e é conduzida por vetores energéticos conhecidos no Ocidente pelo vocábulo Meridiano. Tais Meridianos com seus acupontos são na verdade os caminhos percorridos pela energia.

 

O ocidente demorou muito para dar início às pesquisas sobre a Acupuntura, apenas nos últimos anos é que a comunidade científica tem discutido o tema e tem demonstrado resultados animadores nos tratamentos com esta técnica milenar largamente utilizada nos países asiáticos como Japão, Coréia, Vietnã e especialmente na China que hoje se amplia por quase todo o mundo.

 

 A acupuntura é o ato de inserir no paciente, agulhas específicas com objetivo de tratar o doente, que em seu sentido mais amplo significa a arte de curar. Traduzindo do chinês Zhen Jiu Faz pode-se ver que a acupuntura é a Terapia Clássica das Agulhas e Moxa.

 

Embora só tenha chegado ao ocidente no início do século XX a acupuntura é uma técnica praticada desde a antiguidade como se pode observar no diálogo do Imperador Amarelo com o mestre Taoista Qibao, nos seguintes termos:

 

Fiquei sabendo que nos tempos antigos, as pessoas todas podiam viver bem mais do que cem anos, e apresentavam estar muito bem de saúde e firmes nas ações; mas as pessoas nos tempos presentes são diferentes, não são tão lépidas no agir, já quando têm apenas cinquenta anos; qual a razão? Isto se deve à mudança dos princípios espirituais ou é causado pelo comportamento artificial do homem? (BING, 2013, p 25).

 

Infere-se do excerto acima que a preocupação com saúde geral do ser vem de muito antes do início da era cristã uma vez que o sábio Imperador Chinês Huang Di governou a China durante um período anterior à Dinastia Xia. A bem da verdade, o Imperador Amarelo reinou na China de 2697 a.C. a 2597 a.C, e naquela remota época o imperador demonstrava sua preocupação com aspectos relativos à saúde humana quanto aos problemas desde o nascimento, maturação sexual e envelhecimento. A MTC, e por analogia a acupuntura, visa à promoção da saúde do corpo (Xing), do espírito (Shen), e de um conjunto de receitas da vida regrada (Tao). (DULCETTI JUNIOR, 2001, p 26). Em outras palavras, a acupuntura visa à promoção do equilíbrio energético do corpo humano.

 

A acupuntura não se resume na inserção de agulhas, e sim, num conjunto de técnicas específicas tais como massagem chinesa, naturoterapia, fitoterapia chinesa, exercícios físicos, exercícios mentais, orientação de alimentação, moxabustão, dentre outros.

 

Na verdade, aliada a outros sistemas, a acupuntura visa atingir a dimensão sutil do ser humano que segundo Abreu (2015), acrescentados ao complexo sistema “psiconeuroimunoendocrinológico”, se obtém a compreensão bem mais abrangente e complexa da natureza humana.

 

Nas palavras de BORSARELLO (1995), a evolução da medicina chinesa, não se limita à acupuntura. Ela continua a carrear seu peso de símbolos, porém representa um dos grandes cursos de pensamento universalNa filosofia chinesa, o Yin significa escuridão e Yang é a claridade. A luz, de uma energia luminosa e intensa, é o yang, já a luz fraca, é o yin.

 

Para os chineses, tudo no mundo é composto por forças opostas, porém complementares, sendo necessário o equilíbrio. E este equilíbrio entre o yin e o yang nos remete a algo próximo do Tao que é a expansão do universo, é a própria manifestação da vida em nós, resultado da interação do yin e do yang como duas forças antagônicas e ao mesmo tempo complementares.  

 

Em termo de saúde, para a MTC o fundamental é o equilíbrio energético, para isto é preciso uma perfeita compreensão da fisiologia e da patologia segundo o fluxo de energia e de sangue nos meridianos em obediência aos movimentos transformadores do princípio da filosofia chinesa, o yin e o yang. Entende-se que a teoria do Yin e Yang não é limitada exclusivamente à filosofia chinesa, essa teoria é aplicada a todos os conceitos existentes (claro X escuro, o preto X o branco, o certo X o errado, céu X terra).

 

A Medicina Tradicional Chinesa trabalha fundamentalmente com base nas estruturas energéticas, entendendo o ser humano em sua totalidade. No tratamento, a Medicina Tradicional Chinesa, procura estimular o organismo para que este encontre o seu próprio equilíbrio, uma vez que o objetivo é curar o próprio organismo, a pessoa, o paciente, onde o diagnóstico energético é realizado com base na compreensão dos sintomas e na identificação dos sinais mais importantes.

 

São várias as teorias que tem buscado explicar a relação existente entre as manifestações biológicas e psicológicas. Dentre as teorias temos as que se baseiam no efeito que as emoções provocam no organismo através do sistema nervoso e seus neurotransmissores (psicofisiologia), e teoria psicanalítica, que tenta esclarecer alguns mecanismos psicológicos envolvidos na gênese das doenças. a emoção se caracteriza por se tratar de uma sequência de eventos que começa com a ocorrência de um estímulo e termina com um sentimento, ou seja, uma experiência emocional consciente. 

 

Para Ballone (2001) As emoções causam sentimentos diferentes de outros estados mentais porque elas estão envolvidas com respostas corporais que originam sensações internas e diferentes emoções causam sentimentos diferentes porque elas são acompanhadas por diferentes respostas corporais e sensações.

 

Emoções como a raiva, a alegria, preocupação-ansiedade, o medo, a tristeza, dentre outras, quando experimentadas, mas não devidamente processadas, possivelmente levarão a alguma situação de lesão fisiológica ou transtornos de ordem psicossomática e ainda psicofisiológicas, aspectos afetivos tento conscientes quanto inconscientes, formadores da subjetividade e personalidade individual.

 

Entendemos que toda situação de desequilíbrio do organismo pode se tornar geradora de fortes emoções suficientemente capazes de:

 

“originar transtorno funcionais, os quais, repetidos e persistentes, por vez, alteram a vida celular, acarretando a lesão orgânica e suas complicações. Aquilo que ao nível dos sentimentos ‘e medo, raiva, tristeza, alegria e fome, no corpo, concomitantemente, expressa-se por modificações no sistema hipotálamo-esquelético, neurovegetativo e imunoendócrino, por intermédio de modificações das funções motoras, secretoras e de irrigação, coordenados pelo sistema hipotálamo-hipófise-límbico (RODRIGUES; CAMPOS; PARDINI, 2010. p. 150).

 

Em assim sendo,  uma vez que, não existindo o conflito, a emoção ou a tensão, não ocorreriam transtornos funcionais, alterações da vida celular e processo patológico, entende-se que tais fatores são partes essenciais no processo de adoecimento, e, desse modo, tanto emoção quanto a lesão anatomopatológica devem receber cuidado.

 

Considerando a multiplicidade de fatores e a complexidade das relações que eles estabelecem entre si, das quais depende a configuração de diferentes formas clínicas, depreende-se que se faz necessário um olhar interdisciplinar sobre o processo saúde-doença-cuidado, a fim de que se possa prestar um atendimento mais adequado às demandas do sujeito, cuja complexidade nenhuma teoria, isoladamente, comporta.

 

A Acupuntura que para muitos é uma Medicina Alternativa, para nós da Medicina Tradicional Chinesa ela vai muito além, ocupando um lugar de terapia complementar aos tratamentos convencionais bem como em muitos casos sendo a única medicina para quem realmente conhece os seus benefícios, até pelo fato de possuir um modelo de avaliação e diagnóstico específico e ter uma visão holística do ser humano, ou seja, enxerga o homem de forma integral, na sua forma mais sutil (corpo-mente), tratando sua doença levando em consideração também o seu meio social e seus aspectos psiconeuroimunoendocrinológico Abreu (2015).

 

Segundo Farias (2015), especialidades como a Psicologia, Biotipologia e Neurociências foram primordiais na obtenção dos conhecimentos necessários a formulação de outras linhas de raciocínios que pudesse sustentar a proposição de uma teoria denominada pelo autor de “teoria psicoenergossomática”. A integração dessas especialidades com os conceitos da fisiologia energética zang/fu da MTC, construiu a base da teoria que serve como opção para o entendimento do mecanismo de adoecimento a partir de um desequilíbrio energético causado por um processo emocional na visão da medicina chinesa.

 

Segundo Farias, (2015), o avaliar sob o olhar da psicoenergossomática vai muito além de uma anamnese em consultório, tudo e todos em volta passam a ser observados sob o olhar desses paradigmas. Tudo é passível de analise, por exemplo na rodoviária, dentro do ônibus, no consultório ou na faculdade, todos eram analisados criteriosamente.

 

O ato de observar a proporção do corpo, a consistência da pele, a cor da roupa e o sabor do sorvete, trazia essas informações para serem confrontadas na plataforma mental criada pelos conceitos da fisiologia energética, biotipologia e psicologia.

 

A Saúde humana depende da interação com o ambiente, emoções, alimentação e estilo de vida. Para a MTC os fatores de adoecimento podem ter origem interna como a estrutura genética e hereditária, o modo de vida, e os sentimentos e por fatores externos que dependem do clima como: calor, frio, etc, bem como suas manifestações como: vento, umidade, secura, etc.

 

As emoções por si só não são necessariamente causadoras das doenças, pois são típicas da natureza humana, o problema reside na forma como cada indivíduo processa as suas emoções.

 

É normal ter variadas emoções, no entanto, se elas são prolongadas, intensas, ou erroneamente reprimidas e/ou admitidas, podem afetar o equilíbrio do organismo, alterando o fluxo energético, e pode provocar uma seria desarmonia nos órgãos e vísceras e que isso podem gerar as mais variadas doenças.

 

A Teoria Psicoenergossomática trata-se da uma abordagem que descreve:

 

“a possibilidade de conteúdo de manifestação, formado pela associação de ideias, sentimentos ou emoções e energias, seguir caminhos pré-determinados e influenciar positiva ou negativamente sistemas orgânicos específicos. (...) considera a influência dos aspectos mentais e energéticos organizados em cada conteúdo de manifestação como a causa principal de alteração da homeostase orgânica. Enquanto a teoria psicossomática não considera a influência das energias como fator de desequilíbrio e também não relaciona o efeito da desordem psíquica a uma especificidade integrada entre a consciência-sistema energético-corpo físico. (FARIAS, 2015. p 60).  

 

A Teoria Psicoenergossomática tem como paradigma principal o fato de que a sua mente, ou seja, o desequilíbrio mental psíquico é o causador da maioria das patologias, uma vez que esse desequilibro altera a “configuração energética” e uma vez alterada, essa configuração energética vai chagar aos órgãos, vísceras e cérebro.

 

Para Farias (2015) a teoria “psicoenergossomática considera a influência dos aspectos mentais e energéticos organizados em cada conteúdo de manifestação como a causa principal de alteração da homeostase orgânica”. Nota-se uma diferença primordial entre a teoria psicoenergossomática e psicossomática uma vez que esta última não considera a influência das energias como fator de desequilíbrio.  

 

O estilo de vida levado por cada consciência, determina o estado energético individual. e o estresse direciona a “formatação do conteúdo de manifestação para o lado negativa da essência energética, permitindo a contaminação das estruturas correlacionadas. Por outro lado, o equilíbrio consciencial confere maior leveza ao conteúdo energético, tornando-o positivo e benéfico ao sistema”. (FARIAS 2015, p. 61). 

Segundo Vieira (1994), a conscienciologia estuda a consciência e suas diversas formas de manifestação. A consciência é a essência do que somos, o ego, a alma, o ser ou o self. A conscienciologia considera os fenômenos em que vivenciamos, tanto em aspectos físicos quanto energéticos. Sendo assim, fica mais fácil entender, dominar e estabelecer técnicas a serem aplicadas na prática diária com vista ao alcance da saúde e bem-estar geral.

 

Acupuntura é o recurso, técnica ou modalidade terapêutica originária da Medicina Tradicional Chinesa, onde se utiliza a inserção de agulhas especiais em pontos e em localizações  específicas do corpo, cuja finalidade é levar o corpo a reagir e produzir a cura de doenças, bem como promover o bem-estar geral do organismo, contribuindo, desse modo, com a homeostase holossomática do indivíduo.

 

Observa que a ligação não é  apenas com o desequilíbrio bioquímico e nem somente neuroquímico, ocorre uma correlação com a intoxicação energética que o indivíduo produziu através do desequilibro energético que vai chegar no pulmão limitando a sua função, além de provocar pelo cérebro, uma drástica redução na produção de serotonina aumentando como isso o mau humor. E é aí que cabe pensar na acupuntura em perspectiva da teoria psicoenergossomática, uma vez que ela tem o poder de equilibrar o organismo limpando essa energia turva, em uma insatisfação por exemplo, o tratamento com acupuntura pode levar o indivíduo  perceber que não há necessidade de ficar insatisfeito com tudo o tempo todo.

 

A insatisfação quase sempre é fruto da incoerência do ser humano que não entendeu corretamente algumas informações recebidas. A gênese da doença vem da intoxicação energético que foi produzida pelo próprio paciente por nutrir a insatisfação e não foi capaz de processá-la corretamente. Podemos citar a caso do gene do fígado que é carregado de algumas emoções tais como: ódio, mágoa, rancor, esse processo emocional quando crônico, que talvez desde cedo já começa a fazer parte do seu ser, ou seja, traços do seu temperamento, será expressado por algumas atitudes como por exemplo, o alcoolismo.  

 

O alcoolismo tem relação direta com o ódio e com a frustração, o amadurecimento dessas emoções seguramente vai afetar o sistema energético no fígado, ocorre que com o tempo esses problemas se tornam doenças não somente emocional, mais sobretudo físicas.  

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Considera-se que o ser humano deve ser entendido como um ser integrado e vive situações reais e imaginárias interligadas influenciando nas suas atitudes no meio onde vive, bem como nos seus sistemas sociais. Reconhecer as manifestações psicossomáticas, portanto, as intimas relações do corpo com a mente e meio externo é importantíssimo, pois a partir desse entendimento, novas ações em termos de atenção primária e secundária em saúde podem ser desenvolvidas e/ou aprimoradas.

 

Considera-se ainda que a Psicoenergossomática tem como padrão o fato de que o desequilíbrio mental é causador de uma série de patologias, uma vez que esse desequilibro pode alterar configuração energética e uma vez alterada, essa configuração energética vai chegar aos órgãos, e também ao cérebro provocando lesões físicas e psicológicas 

 

Finalmente considera-se que a Medicina Tradicional Chinesa é sempre melhor explicada quando se leva em conta a Teoria Psicoenergossomática uma vez que no seu entendimento  um pensamento negativo que pode vir de uma insatisfação prolongada, promovendo o pessimismo, o negativismo, causadores de uma energia tóxica que ao ser transportada por meio dos canais energéticos e quando essa informação chegar ao cérebro ela pode inibir a formação do neurotransmissor chamado serotonina, sendo que a deficiência desse elemento vai provocar uma emoção que é a tristeza, e essa emoção vai provocar uma diminuição do oxigênio no organismo em função do aumento do gás carbônico provocado pela tristeza que o indivíduo criou para seu corpo físico. E quanto mais gás carbônico, ou seja, mais energia turva, energia tóxica, menos energia yang, energia limpa. E estas energias turvas são causadoras das doenças uma vez que as doenças têm ligação direta com este tipo de energias tóxicas que na maioria das vezes é elaborada diretamente pelo próprio ser humano.

 

 

 

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