Resumo:  O presente artigo faz uma breve reflexão sobre como a sociedade tem se esquivado de valorizar a cultura músical, bem como a inserção da mesma no contexto educacional.

Palavras-chave: cultura musical, sociedade e educação

Abstract: This article is a brief reflection on how society has shied away from valuing musical culture as well as the same firmation in the educational context.

Keywords: musical culture, society and education

O discurso sobre a realidade do ensino-aprendizagem de música, numa perspectiva universal, começa a se tornar consistente.  Percebe-se uma preocupação maior de pesquisadores, instituições, músico-educadores engajados na busca por um espaço maior do ensino desta arte que nos faz mergulhar em mares ainda desconhecidos.

Acontece que há uma certa resistência histórica para que se firme de fato uma prática educativa neste sentido. E, neste sentido, é necessário que se reflita os porquês de tanto empecilho. A sociedade como agente cultural e histórica, por causa das transformações que sofre, sensibiliza-se nesta ou naquela direção; apoia-se naquilo que mais lhe convém num dado momento. Infelizmente, no nosso país, o ensino da música ainda não se consolidou como uma necessidade social em si mesmo. Até porque a Educação Tecnicista que imperou a partir do Golpe Militar trouxe ao ensino da música um ar de lineariedade. Apesar disso, as investidas de Villa Lobos foram de fundamental importância para o reconhecimento de que um país sem o ensino da música é, culturamente, incompleto.  

A arte de transformar os sons em melodias, hoje, obteve, recentemente, seu lugar no espaço da educação escolar, mas infelizmente a promulgação da lei 11.769 não foi o suficiente para estabelecer de fato um canal entre o que os principais teóricos pensam a respeito do conceito de Educação Musical e o que está sendo realizado no cotidiano escolar. O descompasso é notório quando vemos, nas escolas, a disciplina de Artes  fragmentada e preconceituada ao desenho, pintura e colorido. Os alunos, naturalmente, questionam quando o professor trás algo diferente no horário de Artes: "Tio, cadê a arte de hoje". O professor responde: "Mas artes não é apenas colorir". Assim confirma-se a ideologia de que o indivíduo é o que o meio diz que ele é, em dissonância com o que se espera das novas visões sobre o ensino. A sala de aula torna-se um espelho de uma sociedade que prega a irrelevância da música, arte fundamental na construção de significados ao mundo sensível e fantástico. Toma-se por exemplo o distrito de Caçarema, com pouco mais de 2000 habitantes. Tem uma musicalidade enorme, afogada pelos preconceitos que a própria comunidade impõe. No incosciente da população convive uma intensa atividade musical, com melodias folclóricas, sertanejas e atuais; ao passo que há uma pressão da indústria musical e o descaso social com a educação musical das crianças.   

Conclui-se que a sociedade necessita reconhecer que a música tem na sua própria expressão uma contribuição muito grande, que precisa ser melhor aguçada. E a diversidade musical de hoje não pode, de forma alguma, ficar distante deste possível envolvimento maior com a arte. É de fundamental importância que se criem ambientes ricamente favoráveis à produção musical desinteressada, sem a pressão do mercado musical. Além disso, as escolas devem incorporar em seus programas o investimento em instrumentos musicais de qualidade e capacitação em Educação Musical aos professores envolvidos com a disciplina de Artes, envolvendo crianças e adolescendes num espaço-tempo musical que garantam a fruição, a composição e a interpretação.