Os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural Ater, foram iniciados, no país, no final da década de quarenta, no contexto da política desenvolvimentista do pós-guerra, com o objetivo de promover a melhoria das condições de vida da população rural e apoiar o processo de modernização da agricultura, inserindo-se nas estratégias voltadas à política de industrialização do país. Desde então, apesar das dificuldades enfrentadas ao longo dos anos, os serviços de Ater vêm sendo desenvolvidos no país com o intuito de melhoria de qualidade de vida da população rural.

Esses serviços vêm sendo prestados por técnicos que geralmente introduzem novas técnicas, ou fórmulas prontas para serem trabalhadas pelos agricultores, com o intuito de resolver problemas práticos da propriedade rural, os agricultores tornam-se agentes passivos durante o processo de assistência técnica. Neste caso, segundo Pinheiro (2000, p.29) prevalece a visão reducionista de desenvolvimento rural, o agricultor, ator mais interessado neste processo, em geral, não participa, acaba recebendo orientações técnicas inadequadas a sua realidade.

Com o intuito de minimizar os impactos do reducionismo na agricultura,  emergiu a visão de sistemas, inicialmente trabalhada na perspectiva hard-systems, que segundo Pinheiro (1998, in PINHEIRO, 2000 p.31) prevalece a visão de controle, que visualiza desenvolvimento como fruto de uma intervenção planejada. O técnico procura analisar de fora o sistema, controlando suas entradas e saídas. A interação entre técnicos e agricultores ocorre de forma limitada, estes últimos exercem o papel de apenas observadores, enquanto ocorre a transferência de tecnologia.

Diante o desafio de promover a harmonia entre os seres humanos e a natureza surge a necessidade de implementar estratégias de produção agropecuária que sejam compatíveis com os ideais do desenvolvimento sustentável, para isso, os atores de assistência técnica terão que transformar sua prática convencional e introduzir outras mudanças institucionais, para que possam atender às novas exigências da sociedade (PNATER, 2004).

A assistência técnica, deve dar lugar a extensão rural visando estender, ao povo rural, conhecimentos e habilidades, sobre práticas agropecuárias, florestais e domésticas, reconhecidas como importantes e necessárias à melhoria de sua qualidade de vida.A justificativa para a existência de um serviço de extensão é o de estimular a população rural para que se processem mudanças em sua maneira de cultivar a terra, de criar o seu gado, de administrar o seu negócio, de dirigir o seu lar, de defender a saúde da família, de educar os seus filhos e, por fim, de trabalhar em favor da própria comunidade.

Os objetivos da Extensão Rural são de natureza educacional, por isso destinam-se a provocar mudanças de comportamento do povo rural. A extensão rural deve objetivar o desenvolvimento social comunitário, economico-financeira, promovendo a educação rural; o diagnóstico participativo como processo de obtenção, sistematização e análise de informações; a articulação da Pesquisa e Extensão e instalação  de unidades de observação como estratégias para o desenvolvimento  rural.

Unidades de observação é um método da extensão utilizado para comprovar, no local que será aplicada, tecnologias geradas e testadas em condições distintas ou para provar linhas de exploração que tiveram êxito em outros lugares e verificar sua adaptação sob o ponto de vista agrotécnico e econômico. O pesquisador, o extensionista e os produtores em cuja propriedade é montada a unidade de observação, participam de todas as fases do método: planejamento, implantação, acompanhamento e análise dos resultados.

A prática sistêmica, torna essencial para este processo de extensão rural, evoluindo da visão hard-systems para soft-systems, onde numa perspectiva construtivista ocorre a interação entre agricultores, extensionista e demais interessados. Ambos são agentes ativos no processo de construção do conhecimento, os resultados são construídos coletivamente (PINHEIRO, 2000). O objetivo principal é entender as relações estabelecidas entre o homem e a natureza.

Schlindwein (2005) elenca algumas características da prática sistêmica, dentre elas que o foco está no processo de aprendizagem e que a ética presente é o da responsabilidade, já que considera o mundo resultado do ato de distinção de seres conscientes.

O processo de extensão rural deve ser realizado considerando as relações inrterpessoais e as relações com o meio ambiente em que o agricultor está inserido, o diálogo deve ser encarado como instrumento importante para construção de conhecimento. Assim, o processo de extensão será realizado,voltado para a libertação dos agricultores, em vez de ser mais um instrumento de domesticação popular (Freire, 2002).

Os limites da abordagem sistêmica para a prática do extensionista [1], seria a falta de conhecimento e o uso de técnicas prontas para o trabalho com o agricultor, as possibilidades, são muitas, se for trabalhada a abordagem sistêmica na visão s soft-systems, com a prevalência da ética e da responsabilidade com a construção de um desenvolvimento rural sustentável, com o intuito de melhoria de qualidade de vida da população rural.

Referências Bibliográficas

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação?. 12ª edição, Paz e Terra, 2002.

PINHEIRO, Sérgio L. G. O enfoque sistêmico e o desenvolvimento rural: uma oportunidade de mudança da abordagem hard-systems para experiência com soft-systems. Revista de agroeclogia e desenvolvimento rural sustentável. Porto Alegre, v.1.n.2.abril/junho. 2000. (Textos)

SCHLINDWEIN, Sandro Luiz. Prática sistêmica para lidar com situações de complexidade. Universidade Federal de Santa Catarina. NUMAVAM- Núcleo de Estudos em Monitoramento e Avaliação Ambiental. Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas. Florianópolis- SC, 2005. (Textos).

Texto da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural.

http://www.economiabr.net/economia/3_desenvolvimento_sustentavel_conceito.html, (acesso em: 13/05/2006)

http://www.ambientebrasil.com.br/agropecuario/extensao.html - (acesso em 15/03/2004).


[1] O autor  está inserido no texto  como extensionista.