-Dona Célia, quem são essas pessoas na recepção? Perguntou o Dr. Edelso.

-São consultores de projetos. Marcaram com o seu Menelau.

Havia alguns dias que a recepção da empresa era disputada. Vários consultores e técnicos estiveram ali para reunirem-se secretamente com o dono da construtora.

Edelso era um advogado experiente e o homem de confiança de Menelau, mas apesar disso, não sabia o que o empresário estava aprontando dessa vez. Os negócios não iam bem na construtora e Menelau andava estranho. Os mais próximos achavam que ele estava surtando devido à pressão no trabalho. Mas Menelau estava eufórico. Ria e falava sozinho pelos corredores. Nem mesmo o relatório diário de pendências do departamento financeiro o abalava. Havia um grande mistério no ar.

Certa manhã o interfone da sala de Edelso toca.

-Dedé, vem aqui na minha sala!

Ao entrar, o advogado se depara com o empresário debruçado sobre uma grande planta na mesa de reuniões.

-O que é isso, Menelau?

-Não está vendo, Dedé? Isso é a nossa salvação.

-Como assim?

-Dedé, você lembra como é que costumavam me chamar quando comecei esse negócio de construir prédios?

-De maluco?

-Claro que não.

-De Mané?

-Ô Dedé, estás variando? Midas. Era assim que me chamavam porque em tudo que eu colocava a mão virava ouro.

Menelau solta uma longa gargalhada enquanto Edelso tenta lembrar quando foi que alguém chamou o amigo de Midas.

-Dedé, essa é a planta da Agrolau. O empresário referia-se à sua imensa fazenda improdutiva no Amazonas.

-Pretendes construir prédios no Amazonas, Menelau?

-Bananas.

-O quê?

-Vou plantar bananas.

O advogado continuava sem entender.

-Dedé, ninguém pensou nisso antes. Naquele mundão de terras, ninguém nunca pensou em plantar bananas. Tinha que ser o Midas aqui.

Menelau dá outra longa gargalhada enquanto Edelso observa incrédulo. Agora estava explicado porque tantos consultores e técnicos frequentaram a sede da construtora nos últimos dois meses. Os projetos haviam custado caro à empresa, mas o empresário apostava que esse seria o seu grande negócio.

Edelso pensa...

Menelau o observa sorridente.

Edelso continua pensando...

-Que foi Dedé?

-Tô aqui pensando, Menelau. Onde mesmo você falou que vai ser essa plantação?

-Na Agrolau, claro.

-Amazonas?

-Sim.

-Menelau... e os macacos?

-O quê?

-Os macacos.

-Como assim?

-Lá deve ter um monte de macacos e macacos gostam de bananas.

Menelau fica sério de repente. Seu semblante muda e as imensas bochechas contraídas pelo sorriso agora vão despencando para dar lugar a uma fisionomia de preocupação e decepção. Na ânsia de descobrir um novo e lucrativo negócio o empresário havia esquecido os macacos e o quanto esses seres do mundo selvagem adoram bananas.

Após um longo e fúnebre silêncio, Menelau enrola a imensa planta e deixa Edelso sozinho na sala de reuniões. Era o fim do projeto bananas.

Depois disso poucos funcionários viram Menelau nos corredores da empresa. Ele permanecia a maior parte do tempo em sua sala e havia cancelado todas as reuniões da semana. Nenhum técnico ou consultor foi visto na recepção depois daquele dia. Apenas o garçom Ricardo tinha acesso à sua sala mais frequentemente.

-Meu patrão vai querer o lanchinho agora? Pergunta o simpático garçom ao abrir a porta com cuidado.

-O que é que tem aí? Quis saber o empresário.

-Hoje tem aquele docinho de leite que o patrão gosta, tapioca novinha e vitamina de banana.

-Traga só o doce de leite e a tapioca.

-Mas chefe, e a vitamina de banana?

-Essa você leva pra senhora sua mãe.

O garçom sai da sala sem entender nada.