A PLANTAÇÃO DE BANANAS
Publicado em 17 de janeiro de 2016 por Jairo Ricardo Borges de Lucena
-Dona Célia, quem são essas pessoas na recepção? Perguntou o Dr. Edelso.
-São consultores de projetos. Marcaram com o seu Menelau.
Havia alguns dias que a recepção da empresa era disputada. Vários consultores e técnicos estiveram ali para reunirem-se secretamente com o dono da construtora.
Edelso era um advogado experiente e o homem de confiança de Menelau, mas apesar disso, não sabia o que o empresário estava aprontando dessa vez. Os negócios não iam bem na construtora e Menelau andava estranho. Os mais próximos achavam que ele estava surtando devido à pressão no trabalho. Mas Menelau estava eufórico. Ria e falava sozinho pelos corredores. Nem mesmo o relatório diário de pendências do departamento financeiro o abalava. Havia um grande mistério no ar.
Certa manhã o interfone da sala de Edelso toca.
-Dedé, vem aqui na minha sala!
Ao entrar, o advogado se depara com o empresário debruçado sobre uma grande planta na mesa de reuniões.
-O que é isso, Menelau?
-Não está vendo, Dedé? Isso é a nossa salvação.
-Como assim?
-Dedé, você lembra como é que costumavam me chamar quando comecei esse negócio de construir prédios?
-De maluco?
-Claro que não.
-De Mané?
-Ô Dedé, estás variando? Midas. Era assim que me chamavam porque em tudo que eu colocava a mão virava ouro.
Menelau solta uma longa gargalhada enquanto Edelso tenta lembrar quando foi que alguém chamou o amigo de Midas.
-Dedé, essa é a planta da Agrolau. O empresário referia-se à sua imensa fazenda improdutiva no Amazonas.
-Pretendes construir prédios no Amazonas, Menelau?
-Bananas.
-O quê?
-Vou plantar bananas.
O advogado continuava sem entender.
-Dedé, ninguém pensou nisso antes. Naquele mundão de terras, ninguém nunca pensou em plantar bananas. Tinha que ser o Midas aqui.
Menelau dá outra longa gargalhada enquanto Edelso observa incrédulo. Agora estava explicado porque tantos consultores e técnicos frequentaram a sede da construtora nos últimos dois meses. Os projetos haviam custado caro à empresa, mas o empresário apostava que esse seria o seu grande negócio.
Edelso pensa...
Menelau o observa sorridente.
Edelso continua pensando...
-Que foi Dedé?
-Tô aqui pensando, Menelau. Onde mesmo você falou que vai ser essa plantação?
-Na Agrolau, claro.
-Amazonas?
-Sim.
-Menelau... e os macacos?
-O quê?
-Os macacos.
-Como assim?
-Lá deve ter um monte de macacos e macacos gostam de bananas.
Menelau fica sério de repente. Seu semblante muda e as imensas bochechas contraídas pelo sorriso agora vão despencando para dar lugar a uma fisionomia de preocupação e decepção. Na ânsia de descobrir um novo e lucrativo negócio o empresário havia esquecido os macacos e o quanto esses seres do mundo selvagem adoram bananas.
Após um longo e fúnebre silêncio, Menelau enrola a imensa planta e deixa Edelso sozinho na sala de reuniões. Era o fim do projeto bananas.
Depois disso poucos funcionários viram Menelau nos corredores da empresa. Ele permanecia a maior parte do tempo em sua sala e havia cancelado todas as reuniões da semana. Nenhum técnico ou consultor foi visto na recepção depois daquele dia. Apenas o garçom Ricardo tinha acesso à sua sala mais frequentemente.
-Meu patrão vai querer o lanchinho agora? Pergunta o simpático garçom ao abrir a porta com cuidado.
-O que é que tem aí? Quis saber o empresário.
-Hoje tem aquele docinho de leite que o patrão gosta, tapioca novinha e vitamina de banana.
-Traga só o doce de leite e a tapioca.
-Mas chefe, e a vitamina de banana?
-Essa você leva pra senhora sua mãe.
O garçom sai da sala sem entender nada.