INTRODUÇÃO 

A escolha deste tema é baseada no meu interesse pela psicanálise, que envolve uma escuta singular do sujeito, ou seja, do sujeito do desejo. O tema será desenvolvido a partir da teoria psicanalítica, com base em Freud e Lacan.

O objetivo deste trabalho é o de desenvolver o conceito de perversão, fundamental em teoria psicanalítica, já que este termo é muito citado, mas geralmente pouco compreendido e, por vezes, mal interpretado.  

No presente trabalho, escrevo sobre as peculiaridades do sujeito perverso, traçando uma trajetória teórica sobre a constituição do sujeito até o estabelecimento da estrutura clínica denominada perversão.  É pertinente também desmitificar o rótulo geralmente utilizado no senso comum de que perverso seja sinônimo de “pervertido”, pois este termo nada tem a ver com a complexidade do termo “perverso” em Psicanálise.

A sexualidade nunca se desliga completamente de sua origem. A sexualidade infantil está diretamente relacionada às pulsões parciais, o que caracteriza a criança como um perverso polimorfo, esse é um momento de constituição psíquica comum aos sujeitos de estruturas diferentes de acordo com Lacan, ou seja, neurótico, psicótico e perverso, e não necessariamente perversos. Quando o sujeito começa a se desenvolver subjetivamente, as pulsões parciais funcionam como um prazer preliminar. (SAMICO, 2008b)

Para Freud (2002), em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, de 1905, a perversão surge, no adulto, quando o indivíduo ainda focaliza objetos ou partes do corpo como única forma de investimento libidinal. Há patologia quando o fetiche se constrói a partir da história do sujeito e há a fixação extrema em um determinado objeto para se obter prazer. O fetiche não funciona como complementar à obtenção de prazer, e sim é indispensável para que exista prazer sexual. Essas colocações serão mais detalhadas no desenvolvimento deste trabalho. 

Geralmente, o perverso não reconhece sua “condição” subjetiva como um problema, e não procura análise, pois suas peculiaridades, não o angustiam. O fetiche surge em análise, de uma forma secundária à queixa inicial apresentada pelo analisando.

Segundo a teoria freudiana (LAPLANCHE E PONTALIS, 2001), existe perversão, de forma geral, quando o prazer é obtido visando outros objetos sexuais, por outras partes corporais e/ou quando o prazer depende de um fator extrínseco. Estas possibilidades podem proporcionar o prazer sexual. A perversão é o comportamento psicossexual que segue alguns “parâmetros” atípicos, considerados moralmente desviantes, pois não vão ao encontro ao que é observado como “natural e habitual” numa sociedade.

A partir desta definição, enfocarei uma das condições extrínsecas que subordinam o orgasmo, que é a necessidade, quase sempre presente, de o perverso necessitar do fetiche para obtenção de prazer. A teoria psicanalítica articulada à prática tem contribuído muito para o entendimento dessa estrutura e a possibilidade de uma intervenção clínica. Para isso é necessário um estudo mais detalhado do processo de constituição psíquica do sujeito e para um possível entendimento sobre suas escolhas inconscientes.

Em relação à perversão, destaque deste trabalho, pode-se pensar que:

 

[...] a passagem para a plena organização genital supõe, para Freud, que o complexo de Édipo tenha sido ultrapassado, o complexo de castração assumido, a interdição do incesto aceita. As últimas pesquisas de Freud sobre a perversão mostram, aliás, como o fetichismo está ligado à “recusa” da castração. (LAPLANCHE E PONTALIS, 2001, p. 343).

 

Posteriormente, nos capítulos subseqüentes, será enfatizada a clínica da perversão de forma detalhada, demonstrando suas peculiaridades.

A metodologia utilizada no presente trabalho é baseada em revisão teórica, através de fontes bibliográficas. A revisão teórica será fundamentada em pesquisas ligadas a alguns autores que fazem referência às obras de Sigmund Freud e Jacques Lacan.

            No primeiro capítulo, discutirei sobre o nascimento da psicanálise a partir do abandono da teoria da sedução e a fantasia como realidade psíquica em Freud. O segundo e o terceiro capítulos serão destinados ao enfoque do Complexo de Édipo para Freud e o Complexo de Édipo segundo Lacan. O quarto capítulo demonstrará outras peculiaridades do sujeito perverso. No quinto capítulo, será enfocada a questão da possibilidade analítica para o perverso. E, finalmente, o sexto capítulo será ilustrativo, onde serão descritas algumas características de um perverso em particular: Marquês de Sade.