A pérola

por n. Gregório

 A ostra abriu-se e revelará a pérola forjada no silêncio, na aflição, no oculto do mar distante. Engolida pela escuridão, sozinha, ferida em agonia, em sua luta silenciosa no mar sem fim.

Não ha indícios de lamúrias, e quando se garimpava amarguras, encontrou-se uma jóia preciosa, polida por lágrimas de dor.

Quando se abriu, em vez de contar das tristezas passadas,

das injustiças sofridas, dos desencontros, da areia cruel, do escuro, do mar furioso e da distância, falou da experiência, do nácar, das camadas, de todas as fases da dor e do grão de areia que virou pedra preciosa e foi parar num colar onde ouviu histórias de gente que por muito menos murmura, reclama, mata e desata laços de um amor que de eterno nada tem além de vingança e condição. O grão de areia que de vítima, tornou-se inimigo, de presa, torturador, também sem escolhas. A ostra tratou seu algoz com camadas de nácar precioso, deu-lhe de comer, protegeu-se, ofereceu uma vingança, fez de seu inimigo algo precioso, tornou-o melhor, de insignificante, fez-lhe precioso, cobiçado, procurado.

Do gemido, fez uma gema. Da gema fez-se forte.