A PERMISSIVIDADE DO DEUS QUE É SOBERANO

                                                              Mateus 28.18

Introdução

O capítulo 28 do Livro de Mateus relata três narrativas para nossa reflexão: 1ª. A ressurreição de Jesus Cristo. 2ª. A mentira sobre o sumiço de seu corpo e; a 3ª. Seu aparecimento junto aos discípulos.

Primeira narrativa (28.1): “E, ao final do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ao sepulcro”. Desse episódio, merece realce o que está registrado no capítulo 27.57-60, do mesmo Livro de Mateus: 

Mateus 27.57-60: E, vinda já à tarde, chegou um homem rico de Arimatéia, por nome José, que também era discípulo de Jesus (João 19.38). Este foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Então, Pilatos mandou que o corpo lhe fosse dado. (...), tomando o corpo, envolveu-o num fino e limpo lençol, e o pôs no seu sepulcro novo, que havia aberto em rocha, e, rolando uma grande pedra para a porta do sepulcro, foi-se.

Arimatéia é a forma grega usada para Ramá = “Altura”. Era uma cidade pertencente à Judéia[1]. José era assim conhecido por ser natural daquela localidade.  Era Homem rico, senador e membro do Sinédrio. Este era o colégio dos mais altos magistrados do povo judeu e que formava a suprema magistratura judaica.

Segunda narrativa (28.12,13): “E, congregados eles com os anciãos e tomando conselho entre si, deram muito dinheiro aos soldados, ordenando: Dizei: Vieram de noite os seus discípulos e, dormindo nós, o furtaram”.

Terceira narrativa (28.16-18): “Partiram, pois, os onze discípulos para a Galiléia[2], para o monte onde Jesus lhes ordenara. Quando o viram, o adoraram, mas alguns duvidaram. E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É me dado todo o poder no céu e na terra” (v.18).

Vê-se que nos primeiros versículos do capitulo 28, há o registro do encontro e diálogo entre Maria Madalena e outra Maria, com um anjo do Senhor que estava no sepulcro onde José de Arimatéia colocara o corpo de Jesus.

Mateus 28.2-3,6: E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra (...). E o seu aspecto era como um relâmpago, e a sua veste branca como a neve. (...). Ele não está aqui, porque já ressuscitou como havia dito.

Observa-se nesta e outras narrativas Bíblicas, que o Deus-Pai detém todo o Poder tanto no céu como na terra. E Ele permitiu que seu único Filho descesse a terra para possibilitar que a humanidade fosse remida (resgatada, liberta) de seus pecados e pudesse herdar a salvação eterna. Sendo assim, Ele, dentre as várias formas que pode exercer todo seu Poder, costuma atuar de forma tríplice; traduzida em sua Vontade Soberana, Vontade Diretiva ou Vontade Permissiva

Desenvolvimento

Em todo o transcorrer de nossa vida cristã, temos que estar convictos de que nada do que fazemos ou realizamos é para nós mesmos ou de nosso próprio mérito (ou demérito[3]), mas sim do SENHOR e para o SENHOR. E por mais que tentemos, jamais iremos entender ou compreender porque Deus faz, fez ou deixa de fazer, naquele momento ou circunstâncias, alguma coisa em nosso favor.

O cristão é um “vaso de barro” e, muitas vezes, precisará ser amassado, quebrado ou refeito pelas aflições, angústias, fraquezas, sofrimentos e pelo derramamento de lágrimas.  

2 Corintios 2.4: Pois eu lhes escrevi com grande aflição e angústia de coração, e com muitas lágrimas, não para entristecê-lo mas para que soubessem como é profundo o meu amor por vocês.

Tudo isso acontece com o Cristão, com a devida permissão do Oleiro (Nosso Deus e Senhor). No entanto, ele não será derrotado, por causa do “tesourocelestial” que nele habita (o Espírito Santo).

1 Corintios 6.19: Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário (templo) do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuis da parte de Deus e que não sois de vós mesmos?.

Portanto, não se iluda meu irmão, todas essas coisas podem estar acontecendo com você (cristão), mas se você permanecer firme e constante em Cristo e pela causa de Cristo (defesa do seu Evangelho), elas os tornará receptivo a Graça abundante D’Ele e permitirá que sua Vida (de Cristo) seja manifesta em seu Corpo. Mesmo porque, diante de tudo isso, podemos ser mais do que vencedores mediante o Poder e o Amor de Deus.

Romanos 8.31-32, 36-37: Que diremos, pois, a estas coisas?  Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes, o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? (...). Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; fomos reputados[4] como ovelhas para o matadouro. Mas, em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou.

Diante de todas estas coisas, precisamos entender um pouco sobre essa forma tríplice que Deus tem usado constantemente para demonstrar em nós e por nós, todo o seu Poder e o seu Amor:

A Vontade Soberana e Diretiva de Deus

Deus é único e soberano, mas Ele não é arbitrário. Em seu relacionamento com a humanidade Ele apresenta três formas distintas de expressar a sua vontade (ou seu Poder). Uma, de forma totalmente absoluta = onipotência (Ele pode tudo e todas as coisas são sujeitas a Ele).

Gênesis 1.1,26: No princípio criou Deus os céus e a terra.  (...).  E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra.   

A outra, de forma diretiva[5] ou participativa[6] = onipresença. Ele se aproxima ou se revela ao homem (Porta Voz, Ungido, Escolhido) e o comunica sobre algo ou alguma coisa que faz parte de seus planos, mas que requer dele a sua execução. Em outras palavras, Ele chama o homem para participar ativamente da execução e realização de sua inteira vontade. 

Gênesis 12.1-3: Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de ti uma grande nação; abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu, serás uma benção. Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei aquele que te amaldiçoar; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.  

É importante entender que a vontade diretiva de Deus, deve estar em perfeita sintonia com a sua sabedoria e sua vontade soberana.  É Ele quem governa, administra e detém todo o controle do universo e do decorrer da história humana, tudo isso pautado em seus planos e propósitos. E tudo que foi por Ele planejado será cumprido.

Joel 2.28-32: Acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões; e também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito. E mostrarei prodígios no céu e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; pois no monte Sião e em Jerusalém estarão os que escaparem, como disse o Senhor, e entre os sobreviventes aqueles que o Senhor chamar (Atos 2.17-18).

Por fim, nos deteremos na terceira forma que Deus costuma agir no meio de seu Povo: a Vontade Permissiva de Deus.  

A Vontade Permissiva de Deus

Uma das mais antigas perguntas formuladas pelas pessoas, inclusive Cristãs é: Por que Deus não impede que o homem faça o mal ou por que Deus permite tanta violência no mundo? Sobre essa questão, não podemos esquecer-nos de algumas coisas:

1º.  Deus concedeu a sua Criatura (ao homem) o Livre Arbítrio, ou seja, a capacidade e o direito de fazer suas próprias escolhas.

2º.  Deus tem todo o Poder e a Capacidade para impedir que aconteça qualquer tipo de fato que seja praticado pelo homem (criatura) ou qualquer tipo de violência (mal).

Entretanto, vale acentuar que Deus não viola um direito que Ele próprio concedeu ao Homem, isto é, de poder optar ou escolher fazer o que bem achar melhor aos seus olhos. Mas, ao mesmo tempo, Ele adverte a esse mesmo homem quanto a este liberdade concedida que:

Gálatas 6.7-8: Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer, pois tudo que o homem semear, isso também ceifará. Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.  

3º. Nossa compreensão humana, jamais poderá alcançar os desígnios de Deus. Nós somos totalmente limitados em tudo, mas o nosso Deus é Infinito e Soberano. Diante de sua permissão ao acontecer alguma coisa, mesmo que aos nossos olhos sejam reprováveis e incompreensíveis (uma morte trágica), por detrás disso algo muito grandioso poderá vir a ocorrer posteriormente. 

Exemplos de Atos Permissivos por Deus:

1.   JOSÉ: Foi vendido por vinte siclos de prata por seus próprios irmãos. Os hebreus, antes da fabricação da moeda, pesavam o ouro e a prata para todos os tipos de pagamentos. As balanças eram simples e os pesos eram de pedras.

Gênesis 23.2,16,19. E morreu Sara em Quiriate-Arba, que é Hebrom, na terra de Canaã; e veio Abraão lamentá-la e chorar por ela. (...):  E Abraão ouviu a Efrom, e pesou-lhe a prata de que este tinha falado aos ouvidos dos filhos de Hete, quatrocentos siclos de prata, moeda corrente entre os mercadores. (...). Depois sepultou Abraão a Sara sua mulher na cova do campo de Macpela, em frente de Manre, que é Hebrom, na terra de Canaã.      

José ficou preso por 13 anos no Egito. Nos três últimos anos dessa prisão, após a interpretação de dois sonhos de Faraó, foi elevado ao cargo de Governador do Egito, o segundo posto de maior status e importância no Egito (Gênesis 41.25-32).

2. SADRAQUE, MESAQUE e ABEDENEGO: Antes, seus nomes eram Hananias, Misael e Azarias, amigos de Daniel. Deus não evitou que eles passassem pela fornalha de fogo, mas por não terem negado a sua Fé e o seu Deus, não deixou que fossem consumidos pelas labaredas de fogo, nem sequer suas roupas e seus cabelos foram queimados.

Daniel 3.5,6: Logo que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles, e de toda a sorte de música, prostrar-vos-eis, e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonozor tem levantado. E qualquer que não se prostrar e não a adorar, será na mesma hora lançado dentro duma fornalha de fogo ardente.   

3. DANIEL: Foi levado cativo juntamente com outros príncipes, mas por ser muito inteligente e se destacar dentre os outros, foi elevado a Administrador do Rei Dario. Com isso, suscitou a inveja dos demais que queriam matá-lo.

Daniel 6.3,4: Então o mesmo Daniel sobrepujava a estes presidentes e aos sátrapas; porque nele havia um espírito excelente; e o rei pensava constituí-lo sobre todo o reino:  Nisso os presidentes e os sátrapas procuravam achar ocasião contra Daniel a respeito do reino mas não podiam achar ocasião ou falta alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem falta.   

4. PAULO E SILAS: Foram jogados no cárcere romano, mas por volta da meia-noite louvavam ao Senhor (Atos 16.25). Desta prisão, resultou na conversão do carcereiro e de toda sua família (30-32).

5. JESUS CRISTO: Foi o sacrifício de maior crueldade e importância de toda a história, pois Ele não cometeu nenhum pecado e nem transgrediu qualquer lei, mas mesmo assim, foi zombado, escarnecido, esbofeteado, ferido com a ponta da lança na costela, crucificado e morto. Na época das crucificações o cadáver não era sepultado, o réprobo[7] era jogado a céu aberto, em local específico, para apodrecer e ser devorado pelas "feras".

Conclusão

O Deus-Pai e Todo Poderoso, não eximiu seu próprio Filho de passar por toda a desonra e afronta possível, sabendo que seu martírio traria como resultado algo muito mais grandioso do que qualquer tipo de humilhação sofrida por Ele, a garantia da Vitória sobre a Morte e Satanás e, ainda, a de poder conceder a Vida Eterna para todos aqueles Crerem e O seguirem.

1 Coríntios 15.54-58: Mas, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrito: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graça a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor. 

O ato cometido por Deus, em permitir a Morte de seu próprio Filho Jesus Cristo, foi o que nos possibilitou a ter uma vida livre de todo o mal e do pecado que envolve o mundo. Por mais incompreensível que possa parecer, este ato teve um dos maiores propósitos e planejamento que nasceu no coração de Deus cumprido em seu Filho na Cruz – a Salvação Eterna de seu Povo Escolhido.

 EDUARDO VERONESE DA SILVA

Obreiro da Assembléia de Deus/Ministério IX Marcas – Cariacica/ES

Professor da Escola Bíblica Dominical

Professor de Educação Física

Bacharel em Direito

 



[1] Judéia. Seu nome quer dizer Terra dos Judeus. Das três divisões da Palestina ocidental, no tempo de Jesus Cristo, era a cidade que ficava mais para sul.

[2] Galiléia. Em hebraico significa “Circuito”. Era uma província que compreendia toda a parte do norte de Palestina, repartida pelas tribos de Issacar, Zebulom, Aser e Naftali. 2. Originalmente era um pequeno território, na qual estavam as 20 cidades que o rei Hirão deu a Salomão (1 Reis 9.11).

[3] Demérito. Que não tem merecimento. 2. Ação pela qual se desmerece.

[4] Reputados. Considerados, julgados. 2. Dar reputação ou bom nome a.

[5] Diretiva. Criteriosa. 2. Normativa.

[6] Participativa. Comunicar. 2. Pessoa que toma parte em.

[7] Réprobo. Condenado as penas do inferno. 2. Banido da sociedade. 3. Reprovado.