A paixão.

Gostar é um exercício. Isto não se satisfaz. Torna virtuoso quem é capaz. Gostar de quem simpatiza, nenhum valor traz. Gostar do alheio e diferente, pode até corromper demais. O ideal é aceitar o oposto ao seu pensar, de forma sincera, interpretar o seu agir e entender a sua razão. O gostar acaba por vir então.
Tudo bem, gostar é uma coisa que a razão traz, amar é um reflexo em estar a gostar demais. Paixão e amor se misturam no sentir, se destilam no querer de estar ali. Querer tanto e não saber como agir. Querer tanto estar junto, que o temor remete ao fugir. Fugir de se encontrar alheio ao seu devir. Fugir por perceber o tão fraco está de si. Foge tanto que esquece que não adianta fugir, tanto mais longe fica de quem ama, mais impregnado se faz, mais pensamentos traz de quem deixou para trás. Nada satisfaz, nem adianta fugir mais, só resta esperar, acreditando que tudo um dia vai passar. O tempo passa e não há sossego, muito menos desapego. Há ausência e solidão, muita, muita e muita inquietação. Há entrega em se entorpecer, a favor ou contra, o próprio querer. Há certeza que o tempo apagará, uma lembrança que insiste em voltar. Há descrença na própria razão. Há fracasso em possuir um coração.
Frágil e derrotado, não há outra opção, ir atrás de quem um dia deixou na mão. Finalmente aceita o poder da paixão e desmorona seus castelos erguidos na pretensão. Pretensioso acreditar no poder de sua razão, muito fácil derrubar esta falsa pretensão. Basta existir no tórax um coração, que trabalha sem parar na humilde importância de sua função: encher o corpo e a mente da mais pura e forte paixão.


Vila Velha, 22 de novembro de 2007.