A paciência é em sí uma prece muda, que cala a pulsão dos nossos instintos em detrimento à compreensão de que todo erro pressupõe ausência de sabedoria, haja visto a ignorância não ser um estado permanente e imanente no ser humano e sim somente uma ausência temporária, tal como o ódio não existe por sí só e revela-se somente como uma ausência temporária do imanente amor. A paciência nos permite uma segunda opinião menos turva e menos embriagada no imediatismo da resposta ríspida. É a paciência que nos permite um instante de vida na pele do outro, para que assim o julguemos de forma mais branda por talvez experienciar um instante de causa e efeito em sí mesmo. A paciência talvez seja a prece mais eloquente que reverbera no âmago de Deus e que permite no silêncio um instante de sabedoria divina. Antes de tudo é preciso silenciar, pois o silêncio é uma prece. A paciência é o silêncio que antecede a prece na sua verborrágica. A paciência é o silêncio que torna a reflexão causa da oratória antes pensada para depois ser verbalizada. A paciência nos incita a pensar antes de falar, e toda a prece antes de ser verbalizada é sentida, pois a prece é a transcrição intima do que de mais sublime e elevado possuímos em nosso sentimento. E para declamar uma prece, antes ela tem que fazer sentido em nosso íntimo e para que ela faça sentido é preciso experienciar um instante de silêncio que só a paciência e a reflexão permitem. A paciência é a razão subjugando a emoção que teima em reagir ao menor instinto de sobrevivência do ego que nos individualiza e nos aparta do todo refletido na fraternidade e igualdade perante Deus e os homens. A paciência é Deus em nós gozando férias, estado este que nos permite estar de bem com a vida e com os outros e como os outros são partes imanente da vida, a paciência só se justifica diante da presença dos outros que fazem parte da nossa vida. A paciência é a primogênita e a maior das preces, pois sem ela, tudo que sai da sua boca revela-se como um imenso vazio...