Eu ouvi uma frase que achei bem interessante, que dizia, mais ou menos, assim: "Nós não envelhecemos com os anos, isso acontece com sapatos e carros, vamos, a cada dia evoluindo, aprendendo e melhorando e, quando chegamos a certa idade, estamos no auge, no melhor momento. Hoje eu sou a mais nova versão de mim mesmo".

A mais nova versão de nós mesmos.

Estamos aqui, com toda essa experiência, conhecedores de todas as portas que dão choques, no labirinto de ratos de laboratório da vida, sentados na primeira fila, como espectadores privilegiados, assistindo ao espetáculo de descobrimento do mundo, de nossos filhos, sobrinhos e netos.

Estamos aqui, bem vivos, com palavras mais bonitas para dizer e com mais coragem para dizê-las.

Estamos aqui, um pouco longe daquele bando de amigos que tínhamos, mas abertos para um dia encontrá-los e quem sabe, não sair por aí, quebrando uma vidraça ou empinando juntos, uma pipa.

Estamos aqui, aquela eterna criança, que ficou mais pesada e lenta fisicamente, mas que multiplicou a velocidade de suas emoções e sentimentos.

Qualquer um de nós têm consciência, lá no seu íntimo, que quando éramos mais jovens, andavámos e corriámos mais rápido, tremiámos menos as mãos, e nossos corações eram bem mais disputados naquela época do que agora (a não ser pelos cardiologistas, nos dias de hoje).

Mas o que sempre tivemos e continuamos tendo é a nossa percepção de mundo, o nosso olhar para as coisas, as nossas lembranças e a maneira com que enfrentamos as situações que a vida nos coloca à frente.

Se não existissem espelhos, nós só nos surpreenderíamos de não conseguir mais escalar um muro de dois metros, mesmo muitosanos depois de nossa infância, na oitava tentativa, quando, então iríamos parar e achar que algo não estava mais igual a antes.

Para todos os que estão lendo esse texto, eu gostaria de parabenizá-los, dizendo : "Hoje você é a nova versão de você mesmo".

Apesar de admitir, que para mim mesmo, o meu modelo,1980, era bem mais esportivo, termino citando Mário Quintana :

" Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!..."

Sérgio Lisboa.