INTRODUÇÃO

Os sistemas de ensino no Brasil atualmente têm incorporado às suas práticas pedagógicas dispositivos visando à efetivação de ações afirmativas relativas à dívida contraída para com a população afro-descendente, como é o caso da Lei 10639 de 2003, que trata de incorporar ao currículo oficial a história e historicidade dos povos que aqui chegaram no Brasil colônia.
Considerando os aspectos pedagógicos inerentes ao processo em que se desenvolve a dialética entre educação e estética no universo das relações inter-raciais, e tendo em vista as teorias que sustentam as práticas educativas neste cenário, propõe-se através deste trabalho refletir sobre o posicionamento a ser assumido pela mulher negra, entendendo a estética além dos padrões pré-estabelecidos cultural e socialmente, identificando uma postura crítica e reflexiva sobre os desdobramentos advindos de tais questionamentos.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica contemplando estudos sobre a mulher negra, a estética e suas concepções de beleza, convergindo para os aspectos educativos, considerando que tais pressupostos estão diretamente vinculados aos tipos de relação que se efetivarão em suas práticas pedagógicas, desde que estas se incorporem à vivência cotidiana.
Nessa perspectiva espera-se contribuir para a emergência de uma mentalidade livre de estereótipos, em que a identidade negra e a valorização da mulher nesse contexto sejam objetos de reflexão, abrindo discussão e possibilidades de debate no espaço acadêmico, tratando as questões étnico-raciais como relações sociais, promotoras de valorosos preceitos éticos e estéticos.


1. O que é estética

A palavra estética tem sua origem do grego (aisthesis), significando "faculdade de pensar", "compreensão pelos sentidos", "percepção totalizante". Assim, à luz dos conceitos filosóficos, enquadra-se a um ramo da filosofia que se ocupa do estudo sobre o racionalmente belo, tendo como apreciação crítica o sentimento despertado no ser humano.
Todavia, a filosofia agrega um olhar sobre a estética relacionado à noção de beleza, criando aí, um cenário em que a arte passa a ser refletida sob uma linha de julgamento a exprimir a beleza de modo sensível, o que a distancia, de um posicionamento galgado pelo senso comum.
Nos pontos de vista absorvidos pelo senso comum, a estética está diretamente relacionada a noções de beleza física abrangendo desde o visual do cabelo, pele, maquiagem, cirurgias plásticas, forma escultural do corpo, entre outros termos. Assim, se na filosofia, a estética é tratada como substantivo, por exprimir "um conjunto de características formais que a arte assume em determinado período e que poderia, também, se chamado de estilo" (ARANHA & MARTINS, 2003, p. 369), no senso comum ela adquire um tom de adjetivo, qualidade.
Partindo dessas considerações, surge uma importante indagação: O que é beleza? Será que o conceito de beleza assume o mesmo sentido tanto na filosofia como no senso comum?
Desde Platão ao classicismo, observa-se uma preocupação em fundamentar arte e beleza. Para Platão, "a beleza é a única idéia que resplandece no mundo. Se, por um lado, ele reconhece o caráter sensível do belo, por outro continua a afirmar a sua essência ideal, objetiva" (Idem, p. 369). Em linhas gerais, o pensador admite a existência do "belo em si".
A concepção do classicismo, "deduz regras para o fazer artístico a partir desse belo ideal, fundando a estética normativa. E o objeto passa a ter qualidades que o tornam mais ou menos agradável, independente do sujeito que as percebe" (Ibidem, p. 369).
Com efeito, é possível afirmar, que a visão atual sobre o belo consagra o fator qualidade, dando a entender, que dependendo da sensibilidade de quem aprecia, é considerado belo aquilo que consegue realizar o seu destino, carregando um significado para a experiência estética.
Dessa forma, pode-se afirmar que a questão do feio residirá no campo implícito das aferições sobre o que é belo. E, se arte e beleza se relacionam, aquilo considerado feio não pode ser arte, pelo menos na concepção assumida na Antiguidade grega até à época medieval, passando por uma reabilitação no século XIX.
Evitando fazer contradições entre o que foi dito sobre o considerado belo do ponto de vista filosófico, a construção de um posicionamento acerca do belo ou feio sofre influências da subjetividade, ou seja, abarca a questão do gosto de quem aprecia o objeto estético, "nesse sentido, ter gosto é ter capacidade de julgamento sem preconceitos. É a própria presença da obra de arte que forma o gosto: torna-nos disponíveis, supera as particularidades da subjetividade, converte o particular em universal" (Ibidem, p. 370), dando à estética uma recepção gratuita e desinteressada. Assim, vale citar o provérbio: "a beleza está nos olhos de quem vê".

2. Um mergulho na história

Fazer uma retomada na história, com o objetivo de elencar possíveis fatores que tornam a mulher negra diferente da mulher branca, é uma tentativa de entender a situação atual da mulher negra no Brasil.
Assim, de acordo com os pontos de vista levantados, essa retomada vem revelar paradoxos preocupantes acerca das especificidades que diferenciam a mulher branca da negra. No período colonial, enquanto esta apresenta uma trajetória de vivências que a reduzem à condição de escrava, sujeita ao trabalho forçado, assumindo como "mercado de trabalho" a cozinha dentro das casas dos brancos, na lavoura, nas minas, no comércio ambulante, conforme Rufino (2005), a mulher branca desfrutava uma posição privilegiada:

Era mantida sob rigorosa vigilância moral, reservada para as respeitadas funções de esposa e mãe, a sociedade sujeitava a mulher negra ao abuso sexual do homem branco e adotava o estupro da escrava negra como instrumento de afirmação da virilidade machista do colonizador.

Sob uma trajetória cotidiana de trabalho voltada para o cuidado da casa grande, tendo por atribuições desde o lidar com a cozinha a servir de ama de leite para os filhos dos senhores brancos, desde os tempos coloniais, as habilidades culinárias dessa personagem a conotam a figura da vendedora de quitutes.
Mesmo com a abolição dos escravos, após a Lei Áurea, o quadro de vida mulher negra não sofre alterações favoráveis, pois com a vinda de imigrantes europeus, a mão-de-obra do trabalho negro sofreu sérias conseqüências, sobrecarregando mais ainda a jornada de trabalho da mãe de família negra, uma vez que os imigrantes ocuparam o lugar dos trabalhadores negros tanto na agricultura quanto na indústria e comércio, e as mulheres negras continuaram com o trabalho nas casas dos ex-senhores, para assegurar a sobrevivência da família.
Tal situação revela, mais uma vez, o papel de resistência que a mulher assume na história da sociedade, diante das conseqüências ocasionadas com a substituição do trabalho de seus cônjuges pelos imigrantes europeus, levando com que os homens negros perdessem seus postos de trabalho, portanto reduzidos à marginalidade, dando à esposa o papel de responder pelo orçamento familiar.
O novo contexto abre espaço para a procura de outras opções de trabalho como a venda de quitutes nos mercados, dando em continuidade às alternativas de trabalhar nas cozinhas das casas dos ex-patrões, amamentando e criando os seus filhos dos patrões, todo esse esforço, para proverem o sustento de suas famílias, conservando o ideário de família comunitária trazido da África.
Um dos pontos que mostra a conservação da cultura africana, diz respeito à criação das casas de candomblé, que segundo Rufino (2005), constitui-se ponto "fundamental para resgatar a identidade cultural negra, preservando a visão de mundo africana".
Atrelada a todo esse enfoque histórico, a situação atual da mulher na sociedade tem sofrido alterações significativas. No entanto, vem se constituído lócus para algumas críticas, e não se trata aqui somente sobre o quadro da mulher negra, tomando espaço uma importante discussão sobre gênero, conforme assevera Chauí (1996), em uma pesquisa feita entre trabalhadores urbanos de grandes cidades do Brasil, ao serem indagados a respeito das vantagens e desvantagens de ser homem ou mulher:

Mulheres: vantagens de ser mulher: ser sensível, ser frágil, precisar de proteção, maternidade, dedicar-se à casa e aos filhos, ser amada pelo marido e pelos pais.
Homens: vantagens de ser homem: ser livre e independente, ser responsável, não menstruar, não engravidar, poder sair pelas ruas, ter uma profissão.
Mulheres: desvantagens de ser mulher: ter muitos filhos, ficar na dependência e sob a vigilância de pais e maridos, não ter liberdade, ser forçada ao ato sexual sem ter vontade, ficar na casa e, quando trabalhadora fora de casa, a dupla jornada de trabalho.
Homens: desvantagens de ser homem: ser forçado a prover e proteger a família, não ter direito de chorar, errar, falhar e de ter medo, ter que cumprir as exigências da profissão (CHAUÍ, 1996, p. 144, 145).

A autora interpreta as respostas acima sob uma linha que assinala que as vantagens apresentadas para as mulheres são as vantagens invertidas para os homens e que, aquilo considerado desvantagens para ambos os sexos, nada mais referenda que o experimento concreto de suas vantagens. Todavia, o que se deseja ressaltar com essa citação, é a situação de repreensão e descaso à mulher, nos dias atuais, posicionamento que permite perceber, que a mentalidade machista que vigorou a séculos atrás, ainda está muito presente, merecendo estudos e reflexões acerca de uma realidade que necessita mudar, lutando mais pela igualdade entre os sexos.
Uma situação que suscita o posicionamento não só das mulheres, em relação ao que a sociedade machista pensa e age, diz respeito à mulher conhecer seus direitos, porque a faculdade de conhecer exerce um grande peso na vida do indivíduo, seja homem ou mulher, preto ou branco, pobre ou rico, enfim, conhecer, possibilita atuar no mundo de forma mais crítica e reflexiva.
Quando se trata de refletir a formação cultural do povo negro é importante destacar o quadro situacional dos escravos/as, no tocante às oportunidades no que diz respeito à educação escolar. Vale citar que o Decreto no 1.331, de 17 de fevereiro de
1854, "estabelecia que nas escolas públicas do país não seriam admitidos escravos, e a
previsão de instrução para adultos negros dependia da disponibilidade de professores", (BRASIL, 2004, p. 7), já o Decreto no 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, "estabelecia que os negros só podiam
estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares" (Idem, p. 7).

Nessa atmosfera, sob uma ideologia social discriminatória, os negros foram podados, por muito tempo, até mesmo de ter acesso a uma escolarização, tal como alerta a ativista negra Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva (apud VALENTIN & BACKES, p. 6), que "aos africanos escravizados, considerados objetos de uso antes de seres humanos, foi praticamente vedada a possibilidade de acesso à aprendizagem do ler e escrever". Entretanto, ao passo que a oferta à escolarização vem ganhando forças, especialmente, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, com a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nº 9.394/96 e, como fruto destes marcos legais, ainda a Lei Nº 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da cultura da África na educação, permanece gigantesco o número de pessoas fora das escolas e universidades, especialmente os/as negros/as.
A exemplo do quanto a falta de conhecimento leva as pessoas a agirem distintamente, a matéria de Angélica Basthi, intitulada "Retratos de mulher negra", descreve um paradoxo entre duas mulheres no dia Internacional da Mulher. Em seu primeiro momento de descrição, ela fotografa, em palavras, uma mulher bem-sucedida:

Rita tem 37 anos, é negra, casada, tem 3 filhos. Trabalha como secretária bilíngüe numa multinacional. Mora no Méier, bairro da zona norte carioca. No dia Internacional da Mulher, recebeu flores do marido, que é branco, cumprimentos dos colegas de trabalho, e-mails de amigos, elogios do chefe.
Rita viu reportagens na TV, leu matérias em revistas, ficou ciente de que a mulher teve um avanço extraordinário nos últimos 40 anos. Sentiu vontade de saber sobre o avanço da mulher negra através de pesquisas. Queria ver matérias na mídia sobre o assunto. Não achou (Fonte: http://www.portalafro.com.br/mulherespecial/retrato.htm).

O segundo momento é dedicado à descrição de uma mulher, também negra, sem perspectivas, cujas características traduzem ranços do biotipo da beleza branca padronizada e repressiva:

Marina tem 19. É negra, tem uma filha de quatro. Não tem residência fixa. Ultimamente tem dado um tempo na casa da tia, no morro da Providência. Fugiu de casa aos 9. Vive de esmola. No dia Internacional da Mulher estava com a filha B. perambulando pelas ruas do Centro do Rio. Um pouco antes, ouviu cedinho, no rádio, um homem cantando parabéns. Pensou na Xuxa. Nem percebeu (Idem).

Feita a exposição do quadro situacional dessas personagens, relata Basthi, que ambas "experimentaram o efeito sutil e devastador da fragmentação da auto-estima no mundo real" (Ibidem), posicionando-se contra os efeitos drásticos de um mundo de desigualdades, especialmente no meio educacional, mesmo sob o discurso de uma educação que dá acesso a todos, todavia, a disparidade existente entre ambas soa "normal" aos olhos da sociedade, desenhando um cenário em que os bem-sucedidos são aqueles que subiram na vida, sabendo aproveitar as oportunidades que o sistema lhes possibilitou conhecer e se não as usufruiu é porque não se esforçou para tal.
Os quadros acima citados revelam mais uma vez, que as desigualdades que separam a humanidade não são apenas as questões raciais ou mesmo a existências veementes entre pobres e ricos, feios ou bonitos, situando o acesso ao conhecimento como uma das grandes barreiras para a taxionomia que insiste permanecer constante.


3. Cabelo e identidade: quebrando estereótipos

Aliada às mais diversas formas de discriminação ao negro, a capilar se faz uma das mais evidentes. Fruto de uma cultura seletiva, que busca impregnar que o ideal de beleza é aquele em que os cabelos devem ser controlados pela química com os processos de alisamentos, às vezes nocivos à saúde da consumidora, como é a crítica que gira em torno das escovas permanentes, as chapinhas, etc., especialmente a mulher negra é alvo de múltiplas críticas devido seus cabelos não corresponderem aos "padrões de comportamentos" típicos da raça branca.
Em uma matéria assinada por Gisele Netto, o ponto de vista de especialistas tece crítica sobre a padronização pregada como modelo de beleza para os cabelos afro, sustentando:

A busca pela beleza muitas vezes se torna uma busca por aprovação. E neste caminho muitas mulheres negras acabam indo contra a própria natureza. "Os Panteras Negras protestaram nos anos 70 contra as indústrias de cosméticos da época, porque o desejo delas era impor um padrão estético", afirma Fly. Ou seja: a resistência também está no cabelo. Seja ele trançado, alisado ou enrolado, o importante é a liberdade de opção pelo visual, aceitação da própria mulher e o mais importante: que, mesmo longe dos alisantes, ela se sinta bonita (Fonte: http://www.belezapura.org.br).

Aqui, a palavra-chave é conscientização. É o aspecto vetor, em desfavor à padronização, sob uma via de questionamento que sustenta que, "conscientes, as pessoas são capazes de fazer uma opção e não apenas seguir um modelo que é imposto a elas. O importante é respeitar as diferenças aqui dentro e lá fora", conclui Jana" (Idem).
Sob a afirmação sucinta de que "o belo é simplesmente belo, independente de raça ou cor" (Fonte: http://www.portalafro.com.br/malaquias.htm), um exemplo de perseverança em manifestar a sua identidade, aparece na entrevista da modelo-vivo Terezinha Malaquias, ao retratar alguns momentos de sua trajetória profissional. Embora sob o discurso de se vivenciar um momento em que a beleza negra toma espaço na mídia, por exemplo, prevalecem concepções alicerçadas na visão padronizada do biotipo branco. As barreiras no cenário profissional variam em diversas formas, conforme expõe a modelo em alguns trechos da entrevista à página virtual Portal Afro:

Portal - Alguns maquiladores não estão acostumados a trabalhar com negras, principalmente com traços negróides tão evidenciados, como os seus. A tendência é tentar ocultá-los. Você já passou por este constrangimento?
Terezinha Malaquias - Infelizmente, sim. Algumas vezes trabalhei com profissionais que não sabiam o que fazer com meu cabelo ou que produtos usar para acertar o tom de minha maquilagem. Muitas vezes fiquei com o rosto cinza ou pálido. Também é muito desagradável quando perguntam se quero diminuir minha boca ou nariz.
Portal - O problema é que estão sempre querendo camuflar os traços negros para aproximá-los da estética branca...
Terezinha Malaquias - Com certeza. Se querem afilar meu nariz e diminuir minha boca, pretendem mudar minhas características de negra quase africana, transformando-me numa "morena", com traços finos.
Portal - Você foi uma das estrelas do sabonete Dove e participou de editorias de arte em revistas sofisticadas, para seletos consumidores. Seria este um sinal do início de um novo olhar sobre a beleza negra?
Terezinha Malaquias - Acredito que seja um pequeno avanço. Fiquei sabendo até que o comercial da Dove foi usado em um seminário de Marketing, como exemplo de evolução da publicidade brasileira. A maioria das pessoas da área publicitária adora dizer que negro não vende. Isto para mim é sinal de burrice e incompetência. Os profissionais inteligentes perceberão que formamos um respeitável contingente de consumidores e precisamos nos ver na mídia (Idem).

Diante de um mercado altamente seletivo, a beleza negra é alvo das empresas voltadas ao consumo de cosméticos, sob um mal formulado discurso de que

a beleza da mulher negra está cada vez mais em evidência. Devido a isto, o mercado de cosméticos, para este público, tem crescido de uma maneira significativa. Para a mulher negra, sempre chega ao mercado produtos específicos para o tom da sua pele. Na linha de maquiagem isso não é diferente, as empresas encontraram na beleza negra um novo nicho para aumentar as vendas (Fonte: http://www.belezainteligente.com.br).

Satisfatório é o discurso do cabeleireiro Beto Fernandez, do Jacques Janine, ao sustentar que os cabelos crespos são sinônimo de resistência. Alerta esse profissional que, "na verdade, eles são delicadíssimos, por serem muito porosos e sempre tenderem ao ressecamento. É preciso muito cuidado com eles" (Fonte: http://delas.ig.com.br/materias).
Quando o assunto em pauta discute cabelo, sendo foco o estilo a ser adotado para os afro-descendentes, não se limita a expor pontos de vista contrários a quem alisa, prega-se, portanto, que haja resistências no sentido de se opor à padronização. Contudo, o importante mesmo, é adotar um visual que realmente agrade, sem ferir as raízes e traços de origens que não podem ser camuflados só para evitar com que seja alvo de crítica para os "senhores/as" que aplicam a lei dos padrões e biotipos da beleza branca.
Entre as opções conhecidas estão os bobes de cabelo (do tempo da vovó), a escovinha, escova definitiva, alisamentos, relaxamentos, defrisagens, cauterização de fios / Plástica dos fios / Queratinização, mas o uso contínuo dessa alternativa provoca ressecamento dos cabelos.
Muitas das alternativas acima são fruto de providências de um mercado consumidor altamente preocupado com adeptos. Assim, o mercado de cosméticos não abre mão de lançar novos produtos de beleza para negras, que envolve um guia de cuidados para a pele, cabelos e maquiagem.


Considerações Finais

Ao passo em que se aprofundam as discussões sobre questões que envolvem padrões de beleza, fica a inferência de que a busca pela beleza tem raízes ainda na antiguidade, revelando-se tão antiga quanto a história da própria humanidade.
Mais interessante ainda, é que, em se tratando do universo feminino as exigências são maiores e, com o passar dos séculos, a beleza feminina sofre adaptações que buscam contemplar os padrões de cada época. No entanto, fica à margem de discussões, afirmar que a mulher atual é livre para assumir e destacar sua beleza natural, sem levar em conta os padrões estéticos, artifícios e idade. O melhor exemplo disso é a discriminação sobre a identidade da mulher afro-descente brasileira, que, por viver em uma sociedade que insiste em adotar padrões de beleza importados, as críticas concebem um caráter forçoso, com fins a camuflar suas origens, portanto a sua identidade.
Na verdade, as críticas às afro-descendentes revelam a constante onda de discriminação ainda existente na sociedade brasileira, que por intermédio de uma ideologia padronizadora, vão de encontro à valorização dos traços e características raciais, desprezando a cultura e as tradições negras.
Em uma sociedade em que o padrão de preferência nacional é o loiro, portanto as características brancas, a mulher negra é alvo de críticas constantes. Ser bonita é ter ou adotar traços finos, embora artificialmente, um nariz afilado, cabelos lisos, lábios menos carnudos e menores, corpo em forma, entre outros afins, salientando que, na expressão corporal a mulher negra se sobressaia naturalmente bem, devido o seu biotipo.
Diante das discussões levantadas, não se deseja, de forma alguma, depreciar personagens negras que, por questão de gosto, decidam seguir os padrões de beleza internacionais ou não, sendo que o objetivo maior para a discussão é abrir espaços para o diálogo, para que estas personagens tenham vez e voz para viver suas identidades, sem abrir mão da própria história, não se submetendo a ditaduras estéticas.
Outro ponto em ênfase nesta pesquisa, diz respeito à maquiagem adequada para a pele negra. Até certo tempo, esse público consumidor vivenciou dificuldades em encontrar produtos nessa linha, que correspondessem ao seu exato tom de pele. Até mesmo no meio artístico, como a pesquisa revelou, há profissionais que ainda se mostram um tanto despreparados para cuidar das particularidades que adornam a pele negra. Isso demonstra, certamente, a supremacia adotada pelo mercado consumidor, em valorizar a cultura branca, como se não valesse a pena investir na beleza negra também.
Diante dessas críticas, ressalta-se que já é possível encontrar produtos no mercado e partilhar dicas de maquiagem exclusivas para a pele negra via internet e em revistas na área de estética.
No item pele negra, aqui destacado como atributo invejável, por sua resistência aos efeitos dos raios solares, pela não tendência a rugas e ao ressecamento, as dicas recomendam cuidados diários, proteção solar e tratamentos. Outro importante ponto, é que as cores quentes combinam com o tom de pele negra, variando tanto a opção pela maquiagem quanto pela tonalidade nos vestuários.
Quanto ao visual do cabelo, as falas dos especialistas buscam derrubar os ranços preconceituosos que emitem opiniões de que cabelo negro é grosso e duro, revelando que, na verdade, eles são muito sensíveis e macios, devido às diferentes espessuras apresentadas. O problema, é que suas escamas são mais abertas, dificultando a hidratação natural, dando-lhes um aspecto seco, o que os torna mais sensíveis ainda.
As recomendações dos especialistas na estética capilar são de que, além de xampus e condicionadores específicos, o cabelo afro tem ainda como opção outros produtos para tratamento como máscaras ou cremes hidratantes, que protegem e controlam o volume, valorizando as ondulações.
Outro ponto em ênfase é a opção do relaxamento, que é menos radical que o alisamento, devido apresentar componentes químicos menos agressivos, lembrando que essa alternativa apresenta como resultado a preservação dos cachos, sem abdicar da graciosidade da ondulação característica do cabelo afro.
Já em se tratando da cor do cabelo, a escolha não vai sofrer também uma padronização, vai depender, portanto, do senso estético individual. Todavia, é lógico, os profissionais podem ofertar dicas de que a cor do cabelo deve estar em conveniência com o tom da pele também, pois a cor do cabelo influencia muito na aparência da pessoa, podendo contribuir com um visual mais jovem ou até mesmo dá um caráter envelhecido.
Feitas essas considerações, espera-se que as reflexões aqui apresentadas possam surtir efeito acerca do posicionamento a ser assumido pela mulher negra, sendo alvo de discussão repensar a estética além dos padrões socialmente "aceitos", envolvendo um olhar crítico-reflexivo sobre os desdobramentos assumidos, lembrando que a diferença entre mulher a negra e a branca, não está somente nas peculiaridades da pele, traços físicos e faciais, maquiagem, penteados e adereços associados ao cabelo, reunindo outras linhas de discussões.
Portanto, sendo essa uma discussão que merece maiores abordagens, para que a auto-afirmação sociocultural da mulher (negra ou branca) aconteça, é importante a contribuição da educação em parceria com outras instâncias como organizações não-governamentais e salões de beleza, por exemplo, para o fortalecimento de uma nova mentalidade em âmbito local, em que estereótipos que se reservem a camuflar a identidade negra sejam refletidos, oportunizando espaços saudáveis para discussões acerca de questões étnico-raciais, relações sociais, para que os valores éticos e estéticos possam ser refletidos de forma dinâmica e distante de ditaduras estéticas.



Referências

BASTHI, Angélica. Retratos de mulher negra. Disponível em <http://www.portalafro.com.br/mulherespecial/retrato.htm>, acessado em 05/09/2008.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília, outubro de 2004.


MALAQUIAS, Terezinha. (Entrevista). Disponível em <http://www.portalafro.com.br/malaquias.htm>, acessado em 09/09/2008.

Maquiagem para as mulheres negras. Disponível em <http://www.belezainteligente.com.br>, acessado em 09/09/2008.

NETTO, Gisele. Da cor do orgulho. Texto editado em 08/03/2004. Disponível em <http://www.belezapura.org.br>, acessado em 09/09/2008.

RUFINO, Alzira. Mulheres nada frágeis. Texto editado em 24/11/2005, disponível em <http://www.belezapura.org.br>, acessado em 05/09/2008.

VALENTIN, Ruth Martins & BACKES, José Licínio. A lei 10.639/03 e a educação étnico-cultural/racial: reflexões sobre novos sentidos na escola. Disponível em <http://www.neppi.org/anais/textos/pdf/lei_10639.pdf>, acesso em 16/08/2008.