A mulher do vizinho

Por Mário Paternostro | 22/05/2010 | Contos

A mulher do vizinho


ETA! Que mulher gostosa é essa minha vizinha. Esse é o comentário que se ouve pelas ruas. Não há quem não note a beleza estonteante de Carolina. Casada e com dois filhos, ela ainda parece uma menina, com a pele macia e o corpo curvilíneo, deixa a vizinhança ouriçada. A vizinhança e Roberto, que não se contém só em vê-la, faz questão de cumprimentá-la.
- Como vai, Carolina? Num suspiro, ele pergunta.
- Bem e você, Roberto? Educadamente ela responde.
Para quem quer pecar, qualquer gesto pode se transformar em uma "deixa" e Roberto acha que pelo simples fato dela lhe cumprimentar, isso já é um começo. Agora, ele não sabe de que.
Em sua casa, Cláudia, sua esposa, espera ansiosa a sua volta. Ela prepara o jantar e tudo que ele gosta, uma esposa a "la Amélia", aquela que todo homem deseja ter. Mas parece que só Roberto não enxerga e sempre a trata com desdém, não retribuindo o carinho que ela o oferece. Sua cabeça está sempre na mulher do vizinho, a proibida, aquela que ele quer e deseja.
Certo dia encontrou Antônio, seu rival, esposo de Carolina e os dois começaram a conversar. Nunca haviam conversado tanto, só se cumprimentavam e nada mais.
- E aí Antônio, como vai a vida? Perguntou Roberto.
- A minha está ótima, tenho uma família maravilhosa, está correndo tudo bem. Respondeu feliz Antônio.
- A minha também está ótima, mas a gente sempre quer um pouco mais.
- Então está faltando alguma coisa!
- Aventura, meu caro. Aventura!
- A rotina também é uma aventura, Roberto.
- Ela é massacrante, acaba com tudo.
- Eu gosto muito da minha, sou muito feliz!
- Você é que tem sorte.
- Como assim. Desconfiado perguntou Antônio.
- Gosta da vida que leva. Suspirou, mas respondeu o que Antônio queria ouvir.
- Gosto mesmo e você tem que saber viver a sua.
Depois de horas de conversa os dois se despedem, cada um vai para a sua vida. Roberto sempre fica à noite a espreitar Carolina, que sempre dá a sua graça noturna. Ela costuma ir até a sacada ficar algum tempo olhando o movimento da lua. Coisa de mulher romântica, pensa Roberto. Cláudia dorme cedo, gosta de ir à academia quase de madrugada, afinal, tem que voltar cedo para cuidar da casa. Enquanto não pega no sono, Roberto fica sonhando acordado com Carolina. Está virando uma obsessão.
Amanhece, Cláudia vai para a academia, volta e prepara o café para Roberto. A vida começa novamente para todos.
Roberto no trabalho só pensa em Carolina e em sua cabeça começa a arquitetar maneiras de lhe assediar. Ele nesse momento não está pensando nem em Antônio e nem em sua esposa Cláudia. Ele está determinado em conquistá-la e não está vendo o perigo que isso pode acontecer. Depois de forçar vários encontros, ele enfim consegue.
- Oi Carolina, você aqui no shopping!!?
- Eu é que pergunto, homem nunca vem ao shopping.
- Realmente, mas eu resolvi entrar para tomar um café. Não quer tomar comigo?
Carolina aceitou o convite e os dois foram para a cafeteria e começaram a conversar. Roberto quer conquistar e Carolina parece...
- Ainda bem que encontrei alguém pra conversar, estou muito deprimida. Falou Carolina.
- O que houve? Por que está assim?
- Estou desconfiada que o Antônio tem outra.
- Como assim, outra?
- Outra mulher.
- Mas quem é?
- Eu não sei, mas ela vive ligando pra ele. Eu sei por que eu ouvi voz de mulher. E quando ela liga, ele sai de fininho.
- Mas o Antônio parece muito sério.
- Só fachada, ele só me ignora.
- Como assim?
- Ele me trata mal, não quer saber dos meus problemas, é um desconhecido dentro de casa.
A conversa durou por horas e acabaram esquecendo do tempo. Roberto volta pra casa e resolve dar atenção para Cláudia. Parece que a conversa com Carolina lhe despertou algo. Cláudia parece não dá muita importância e agora é ela quem o ignora. O jogo mudou, Roberto quer diálogo e Cláudia pede sossego. Realmente ele não entende nada! Dias passam e Cláudia está mais distante e ele já nem pensa mais em Carolina. Quer entender o que está se passando com sua esposa. Certo dia, sem forçar o encontro ele viu Carolina. Mas dessa vez foi para chorar suas mágoas e não para tentar conquistá-la. Sentaram pra conversar e Roberto começou a falar.
- Você acredita que meu casamento está estranho?
- Como assim?
- Cláudia me trata bem, mas está indiferente, estranha, sei lá.
- Depressão?
- Não! Por sinal anda cantarolando pela casa. Parece até feliz demais.
- Então o que lhe preocupa?
- Não sei. Você que é mulher não sabe?
- Eu estou passando por isso também e não sei como resolver.
- O que está acontecendo com a gente?
- É o que quero saber.
Depois de muita conversa e indagações eles se despedem. Carolina parece estar conformada, mas Roberto quer entender essa situação.
Quando chega em casa, Roberto tem uma surpresa. Sua mulher o abandonou. Ela foi embora e apenas deixou um bilhete dizendo: seja feliz, pois eu encontrei a minha felicidade. É quando ele olha para a casa do vizinho e vê Carolina chorando, então ele pergunta:
- O que houve?
- Antônio foi embora com outra mulher.
Roberto nessa hora sentiu o punhal da traição, descobriu que sua mulher tinha um amante e que o abandonara por ele. Ele que tanto cobiçou a mulher do vizinho, deixou de dar assistência à sua mulher e deu brechas para o vazio entrar. Além de perder a mulher, ele que tanto cobiçou a esposa de Antônio, viu o próprio levar a sua. Sem Cláudia e Carolina ele percebeu a muito custo que quem não dá assistência, abre concorrência.