Com a presença da morte, pela primeira vez, o homem divisou o sobrenatural.

Considere: cada “sociedade esforça-se para assegurar uma determinada ordem social, instrumentalizando normas de regulamentação essenciais, capazes de atuar como sistema eficaz de controle social” (WOLKMER, 2005, p. 01).

Portanto, o caldo cultural, em que cada sociedade se encontra imersa, contribui de forma decisiva para determinar o comportamento de cada um de seus membros.

Assim, houve um tempo em que a necessidade do sepultamento derivava da crença de que a alma se tornava nostálgica do solo pátrio. Daí porque era necessário cobrir o corpo, a qual a alma é ligada, com a terra da pátria natal.

E mais até do que isso, tinha-se a crença de que a morte inaugurava um outro tipo de existência, existência essa em um mundo diverso do mundo dos vivos. Ou seja, a vida continuava, com os homens desencarnados vivendo junto dos outros homens encarnados, aqueles sobre a terra e esses sob a terra.

Tinha-se, naqueles tempos, a crença de que ao se deitar o corpo à sepultura, estava-se enterrando algo vivo. Não havendo qualquer menção a qualquer morada celeste, pensamento mais adstrito à crença cristã.

Caso assim, não se fizesse, a alma vagaria errante. Portanto, privar o corpo de sepultura era privar a alma de morada, o que se mostrava muito injusto a esse ser, depois de todas as intempéries e trabalhos dessa vida.

Note que o sepultamento era fundamental para que a houvesse o repouso e a felicidade eterna. Tal era a crença que nas antigas cidades, a punição que era devida a grandes criminosos tratava-se justamente da privação de sepultura. Era equivalente ao suplício praticamente eterno.

E mais, assim como os hindus, os mortos, chamados de demônios, eram vistos como seres divinos. Vale dizer: o culto aos mortos deu origem ao sentimento religioso. Mortos esses a quem se dirigiam, não raramente, preces.

Mas, mesmo em sua condição sobre humana não se poderiam abster, os mortos, da necessidade de se valer regularmente das oferendas dos vivos. Caso contrário, a alma desrespeitada passaria a vagar errante, á procura de seus detratores. Logo, a importância desmesurada que era dada, pelos gregos e romana, aos banquetes fúnebres.

Razão maior de tantas honrarias aos mortos era que o morto esquecido era criatura malfazeja. Já o morto honrado era Deus que tomava partido dos seus no mundo dos vivos.

Portanto, o Deus primeiro, não foi Zeus ou Indra, mas, sim os demônios, lares, Gênios. Almas humanas divinizadas.

REFERÊNCIAS

WOLKMER, Antonio Carlos. Org. Fundamentos de História do Direito. 3ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.

COULANGES. Fustel de. A Cidade Antiga. Martin Claret, São Paulo, 2007.