RESUMO
O artigo com o tema “A moral e a ética na educação escolar”, desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica, descreve a importância da ética na educação escolar. Tem como objetivo levar a uma reflexão sobre o papel da escola enquanto instituição que tem a responsabilidade de formar cidadãos que reflitam sobre suas ações promover uma autonomia na constituição de valores.
Freqüentemente nos encontramos diante de situações que exigem tomadas decisões. Sempre que isso ocorre, essas decisões envolvem um julgamento moral da realidade, a partir do qual outras pessoas se orientam. Vivemos numa sociedade em que os conceitos morais e éticos se tornaram ridículos e na maioria das vezes é tratado como absurdo e ultrapassado.
. A escola é o espaço ideal para reflexão, e ao educador cabe a função de promover a vivência de valores éticos importantes que tornem a humanidade melhor
Palavras Chave: Educação, Ética, Moral, Cidadania
ABSTRACT
The article with the theme “the moral and the ethics on school-education”, develop through bibliographical search, describes the ethic’s importance on school-education. It has a point to a reflection about the school’s function when responsible institution in charge of graduate citizens who are able
to make a reflection about their action to promote an autonomy in value’s constitution.
Often we in with situations that demand ready decision. Always it happens, these decisions involve a moral judgment of reality, from which other people head themselves. We live a society which the moral and ethic conceptions became ridiculous and in the most times it is treated like nonsense and old-fashioned.
The school is the right place to reflection, and the educator is in charge of promote the existence of important ethic values which becomes a better humanity.
Key words: Education, Ethics, Morals, Citizenship
A MORAL E A ÉTICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR
INTRODUÇÃO
O termo ética tem sido nas ultimas décadas, tema de discussões e de preocupações em todas as áreas da atividade humana. Nessas discussões, as questões éticas permeiam no sentido de bem ou mal, embora em muitas situações práticas ela tenha sido contraditória.
Qual é o bem que o ser humano busca para sua vida? Qual é o lugar da ética? O que é moral?
Qual é a conduta desejável ou necessária diante de determinados problemas da vida?
Esses questionamentos surgem pela necessidade de estudar o problema da moral nas relações humanas, a postura ética nessas relações e nas tomadas de decisões que afetam tanto a nossa vida, bem como a sociedade a qual fazemos parte.
Como a educação, por meio da instituição escolar, pode contribuir para a formação de cidadãos que saibam discutir as questões éticas e cooperar para que suas ações contribuam como valores de solidariedade, respeito às
diferenças, integridade, e afinal, valores saudáveis entre indivíduos e entre estes e o meio ambiente?
Preparar os profissionais da educação para os desafios do futuro exige um constante repensar e aprender novas formas de comportamento. È importante conhecer pessoas, processos de grupos, diferenças culturais e formas de organização são essenciais para o educador que tem interesse de alcançar sucesso nas relações interpessoais e profissionais.
É papel central da escola a construção de uma referência ética à medida que leva o educando a pensar, explorar o mundo e designar a qualidade das relações, surge então uma visão clara da importância do trabalho na construção coletiva de uma qualidade de vida, do convívio em paz e da cidadania.
ÉTICA E MORAL
Embora os termos ética e moral por vezes sejam usados como sinônimos, há uma diferença entre eles. A ética é uma das áreas da filosofia que investiga sobre o agir humano na convivência com outros. A palavra ética vem do grego ethos que significa hábitos, costumes, se refere à moradia de um povo ou sociedade.
A palavra moral provém do latim moralis e significa costumes, conduta. Moral é o conjunto de normas e condutas reconhecidas como adequadas ao comportamento humano por dada comunidade humano. A moral estabelece princípios de vida capazes de orientar o homem para uma ação moralmente correta. O homem é um ser mora, um ser que avalia sua ação a partir de valores.
Segundo Edgar Morin em O Método 6: ética; a ética se manifesta em nós de maneira imperativa, como exigência moral. Pautada na concepção da condição humana, limitada às experiências, as interpretações clássicas da ética apresentam hoje suas brechas e insuficiências.
Na contingência de todas as pequenas e grandes decisões e escolhas, neutralizamos permanentemente, aprendizagens do passado não propriamente
humanos e, a partir deles, construímos novos padrões de escolhas e respostas cada vez menos estigmatizados, cada vez mais complexas e indeterminadas.
A ética é complexa por ter sempre de enfrentar a ambigüidade e a contradição; por estar exposta à incerteza; por se situar no limite entre o bem e o mal. Nada garante que uma boa intenção não se degenere em atrocidades futuras. As boas ações podem gerar maus resultados e o inverso. Assim como o pensamento complexo, a ética complexa não escapa ao problema da contradição. Há sempre incertezas escondidas sob a aparência unívoca do bem e do mal. Para Morin, a crença numa ética superior com finalidades emancipatórias universais toma, quase sempre, ilusões por verdade, daí a necessidade de vigilância ética, contra o perigo da ação que impulsiona a crueldade do mundo. É necessário ter consciência do vínculo entre consciência intelectual e consciência moral. Ter consciência de que não somos o centro de tudo, mas sujeitos ligados a outros sujeitos, ligados a outros e de que, além da identidade terrestre, temos uma identidade cósmica, e isso muda certamente a forma de ver a nós e ao mundo, de compreender nossa ligação com todas as coisas. Isso tem a ver com a arte de saber viver. Tem a ver também com a tomada de consciência de que o desenvolvimento tecnoeconômico leva à degradação da biosfera, das nossas sociedades e das nossas vidas.
O pior da crueldade e o melhor da bondade do mundo estão no ser humano. Somos um misto de barbárie e bondade. Mas esse complexo de bem e mal não ensaia nenhum horizonte imobilista e derrotista. Ao contrário, num argumento desafiador, Edgar Morin conclui que, mesmo que as forças de ligação sejam mínimas em relação à dispersão, mesmo que a crueldade e a barbárie sejam maioria, é preciso apostar na bondade. A ética de resistência à crueldade do mundo é também a ética de aceitação do mundo.
Aristóteles, em seus escritos faz grandes considerações sobre ética e moral. Na obra Ética a Nicômaco, considerado um dos escritos mais maduros, com seu sistema filosófico próprio e definitivo, Aristóteles promove reflexões sobre ética e sua importância como objeto do agir humano. Inicia fazendo questionamentos sobre o bem e o mal, mas também afirma que todo indivíduo, assim como toda ação e toda escolha, tem como alvo um bem. O fim de nossas ações é o Sumo bem. O fim que se tem em vista não é o conhecimento do bem, mas a ação do mesmo. Devemos procurar o bem e indagar o que ele
é. Se existe uma finalidade para tudo o que fazemos, a finalidade será o bem. A melhor função do homem é a vida ativa que tem um princípio racional. Falando das virtudes, Aristóteles cita duas espécies de virtudes: as intelectuais e as morais. As virtudes intelectuais são o resultado do ensino, e por isso precisam de experiência e tempo; as virtudes morais são adquiridas em resultado do hábito, elas não surgem em nós por natureza, mas as adquirimos pelo exercício. É pelos atos que praticamos nas relações com os homens que nos tornamos justos ou injustos. Por isso faz-se necessário estar atento para as qualidades de nossos atos, tudo depende deles, desde a nossa juventude existe a necessidade de habituar-nos a praticar atos virtuosos. É pela prática de atos justos que se gera o homem justo, é pela prática de atos temperantes que se gera o homem temperante; é através da ação que existe a possibilidade de alguém tornar-se bom.
A virtude relaciona-se com paixões e ações, mas um sentimento ou uma ação pode ser voluntária ou involuntária. As virtudes são voluntárias, porque somos senhores de nossos atos se conhecemos as circunstâncias, e estava em nosso poder o agir ou o não agir de tal maneira.
São virtude morais: a coragem, a temperança, a liberalidade,a magnificência, o justo orgulho, o anônimo, a calma, a veracidade, a espirituosa, a amabilidade, a modéstia, a justa indignação e a justiça.
O objeto de conhecimento científico é necessário e eterno; toda ciência pode ser ensinado e seu objeto aprendido.
Ética a Nicômaco traz contribuições que podem ser ainda hoje contestadas ou afirmadas como perfeitamente válidas no contexto atual. A responsabilidade Do homem frente aos seus atos é afirmada inúmeras vezes: “O homem é o princípio e genitor de seus atos como o é de seus filhos” [33]. O princípio da responsabilidade baseia-se em duas posições: o futuro não está definido e depende do indivíduo que age. O indivíduo é considerado autor de seus atos quando o ato depende dele.
Aristóteles afirma que o caráter é resultado de nossos atos; que adquirimos uma ou outra disposição ética agindo de tal ou tal maneira. Realizando coisas justas, assumiremos bons hábitos e o caráter torna-se justo.
No início da Ética a Nicômaco, Aristóteles afirma que o bem-estar deve ser uma atividade desejável em si mesma, e nunca um estado ou disposição. As
coisas desejadas em si mesmas são a atividade de acordo com a virtude e os divertimentos. O bem-estar deve ser uma atividade em conformidade com a virtude.
O estudo da conduta e do fim do homem como indivíduo cabe à ciência ética. Aristóteles deixa contribuições significativas esclarecendo qual é o ideal de felicidade; a conclusão foi de que feliz é aquele que vive as virtudes dentro da polis. É aquele que vive uma vida intelectual, sendo o exercício capaz de dirigir bem a vida, deliberando de modo correto o que é bem ou mal para si. É o exercício dessa virtude que constitui a perfeição da atividade contemplativa, e dessa forma que é possível alcançar a felicidade máxima. Toda ação humana está orientada para a execução de algum bem, ao qual estão unidos o bem e a felicidade; o bem possui caráter de causa final, que age sobre o agente. Mas há uma dificuldade em determinar em que consiste esse bem e essa felicidade, já que não há uma identificação do sumo bem do homem com deus, a ele corresponde o bem mais alto em si mesmo.
A felicidade é definida como atividade da alma, dirigida pela virtude perfeita; é excelência divina, mas não é presente dos deuses e nem produto do acaso, porque é preciso conquistá-la com muito exercício e muita prática da virtude.
Na obra O Banquete de Platão, trata da amizade, do amor e é um dos diálogos de Platão da categoria política. Mas como a discussão sobre a amizade pode inserir essa obra na problemática política? Para Platão, a amizade é uma força educadora e nexo que mantém o Estado. A amizade é "forma fundamental de toda comunidade humana que não seja puramente natural, mas sim uma comunidade espiritual e ética.” Não é possível existir uma comunidade que não seja baseada na amizade, pois essa tende para aquilo que é o bem e este une os homens. O bem é aquilo que é supremo, está impresso na alma, é o primeiro amado, aquilo que permite a admiração pelas demais coisas, em outras palavras, antes de tudo vem o bem, para o qual o ser humano deve voltar-se, aquilo que tudo une ente unificador. Depois de tantas exposições a respeito de Eros no Banquete, começando por Fedro, depois Pausânias, Erixímaco, Aristófanes e Agatão, Sócrates bem o caracteriza, como compêndio da aspiração humana ao bem. Ao contrário do que diziam seus discípulos, a amizade (ou amor, representado pelo deus Eros) não é o próprio belo e próprio bem. Eros é originado de duas
oposições, filho da riqueza e da beleza. Isso o coloca numa situação intermediária, não fazendo estar de nenhum lado oposto e extremo. A posição intermediária de Eros atribui-lhe movimento, sendo o mesmo movimento do homem em busca do bem supremo. O bem é o que há de mais supremo, é o divino, como Platão expressa literalmente no próprio Banquete. É a forma unificadora, é o que harmoniza e unifica o cosmos e o homem; é o que todo ser humano deve buscar. Toda forma de sociedade deve se voltar também para o bem e essa busca do bem, do supremo e divino, Platão a caracteriza como amizade, como Eros. Por isso dizemos que Eros (philia, amor e amizade) é movimento, a busca incessante do homem pelo bem e que tanto o homem quanto a sociedade não pode existir sem esse movimento em direção ao que o bom e belo.
Platão deixa como previsão que em relacionais, que Eros deve ser pensado, não em termos absolutos, não se deve compreender o amor como absoluto, mas como relativo, pois é amor de alguma coisa. O amor estabelece relação entre quem ama e aquele que é amado, assim como a opinião certa medeia a sabedoria e a ignorância. No texto, Platão retira de Eros (Amor) a condição de deus e transforma-o em elo um intermediário entre os Deuses e os mortais. O amor como ligação. O amor é um dos maiores bens do homem, não é o bem nem mal em si mesmo, como prática. Platão relaciona o amor com a verdade, pois quando se ama não é somente exercer o poder sobre alguém ou demonstrar força, mas trata-se de saber ser correspondido, ou seja, trata-se da verdade. Neste sentido o conceito de amor em O Banquete de Platão é um amor racional.
A EDUCAÇÃO E OS DESAFIOS DO CURRICULO
A discussão sobre os aspectos referentes à forma como se dá a percepção humana, as atitudes, valores, maneira como as pessoas lidam com a diversidade, os conceitos morais e éticos, se apresentam essenciais para a qualidade de vida e do ambiente escolar. Preparar profissionais da educação
para os desafios do futuro exige um contínuo repensar e aprender novas formas de comportamento.
Cabe à escola, por meio do desenvolvimento do pensar seu educando, o papel central na construção de uma referência ética.
Em “Os sete saberes necessários à educação do futuro” de Edgar Morin, o autor aborda problemas específicos para cada um dos níveis educacionais. Cita sete “buracos negros” da educação.
O primeiro diz respeito ao conhecimento. È claro que o ensino produz conhecimento, fornece saberes, mas nunca ensina o que é de fato o conhecimento deixando um possibilidades ao erro e a ilusão.O conhecimento nunca é reflexo da realidade. O conhecimento é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução, e toda tradução comporta o risco de erro. Este problema se apresenta de uma maneira perceptível e muito evidente, porque as traduções e as reconstruções são também um risco de erro e muitas vezes o maior erro é pensar que a idéia é a realidade.
Outras caudas de erro são as diferenças culturais, sociais e de origem.As idéias adquirem consistência como os deuses nas religiões.è algo que nos envolve e nos domina.O problema do conhecimento não pode ser um problema apenas dos filósofos, mas de todos nós, e cada um deve levá-lo em conta desde muito cedo a explorar possibilidades de erro para ter condições de ver a realidade.
O segundo “buraco” é que não ensinamos as condições de um conhecimento pertinente, ou seja, um conhecimento que não divide o seu objeto. É importante colocar o conhecimento de forma contextualizada. O ensino e muitas vezes fragmentado pelas disciplinas e não se coloca uma conexão entre elas. O ensino por disciplina, separado e isolado, impede a capacidade que deve ser estimulada e desenvolvida pelo ensino, a de ligar as partes ao todo e o todo as partes. O contexto tem uma necessidade, ele mesmo de, de seu próprio contexto. E o conhecimento atualmente deve se referir ao global.
O terceiro buraco e o aspecto da identidade humana. Na maioria das vezes nossa identidade é completamente ignorada pelos programas educacionais. Somos seres de uma sociedade e fazemos parte de uma espécie, mas ao mesmo tempo em que fazemos parte de uma sociedade, temos a sociedade como parte de nós, pois dede o nosso nascimento a cultura se nos imprime.
Nós somos de uma espécie, mas ao mesmo tempo a espécie é em nós e depende de nós. O importante é que somos uma parte da sociedade, uma parte da espécie, seres desenvolvidos sem os quais a sociedade não existe. A sociedade só vive com essas interações.
É importante mostrar que ao mesmo tempo em que o ser humano é múltiplo ele é parte de uma unidade. Sua construção mental faz parte de uma complexa formação humana.
O quarto aspecto é sobre a compreensão humana, mas o que significa compreender?
A palavra compreender vem do latim, compreendere que quer dizer: não ter somente um elemento de explicação, mas vários, é colocar junto todos os elementos de explicação. A compreensão humana, ela comporta uma parte da empatia e identificação. A grande inimiga da compreensão é a falta de preocupação em ensiná-la. O individualismo tem ganhado espaço cada vez maior, estamos vivendo numa sociedade individualista que favorece o sentido de responsabilidade individual, desenvolvendo o egocentrismo, o egoísmo e conseqüentemente, alimenta a auto-justificativa e a rejeição do próximo.
A redução do outro, a falta de visão coletiva e de percepção sobre a complexidade humana são os grandes obstáculos da compreensão.
É muito importante compreender não só os outros, mas a si mesmo, a necessidades de se auto-examinar, pois o mundo está cada vez mais devastado pela incompreensão que tem destruído os relacionamentos entre os seres humanos.
Um outro ponto apresentado é o da incerteza. Apesar de, nas escolas, ensinar somente as certezas, atualmente a ciência tem abandonado determinados elementos mecânicos para assimilar o desafio entre a certeza e a incerteza. É necessário mostrar em todos os domínios, sobretudo na história, o surgimento do inesperado.
As ciências mantêm diálogos entre hipóteses e dados prováveis. O inesperado aconteceu e acontecerá, porque não temos futuro e não temos certeza nenhuma do futuro. Essa incerteza é uma incitação à coragem. A aventura humana não é previsível, mas o imprevisto não é totalmente desconhecido. É necessário tomar consciência de que as futuras decisões devem ser tomadas
com o risco do erro e estabelecer estratégias que possam ser corrigidas no processo da ação, a partir dos imprevistos e das informações que se tem.
O sexto aspecto é a condição planetária, ainda mais na era da globalização no século XX que começou na verdade no século XVI com a colonização da América e a interligação de toda a humanidade. Conhecer o nosso planeta é difícil, os processos de todas as ordens, econômicos, ideológicos e sociais são tão complexos que entendê-los é um desafio para o conhecimento. É necessária certa distância em relação ao imediato para podermos compreendê-lo.
O ultimo aspecto discute o problema da moral e da ética que diferem a depender da cultura e da natureza humana. Cabe ao ser humano desenvolver simultaneamente, a ética e a autonomia pessoal. Isso só tem sentido se for na democracia, porque a democracia permite uma relação indivíduo e sociedade e nela o cidadão deve se sentir solidário e responsável. A democracia permite aos cidadãos exercerem suas responsabilidades através do voto.
Não existe democracia absoluta. Ela é sempre incompleta. O poder tecnológico tem agravado cada vez mais os problemas econômicos e como conseqüência, vivemos numa época de regressão da democracia. Mas o importante é orientar e guiar as tomadas de consciência social que leva à cidadania, para que o indivíduo possa exercer sua responsabilidade.
Estes são os sete saberes necessários à educação segundo Morin. Não temos que destruir disciplinas, mas reunirem-las, integrá-las, reunirem-las em uma ciência, todas elas articuladas em uma concepção sistemática da terra.
A teoria crítica do currículo, hoje é mais situada nas relações que são geradas entre o currículo e ideologia, currículo e estrutura social, currículo e cultura, currículo e poder. A igualdade no tratamento na aula pode produzir desigualdades de aprendizagens, pois a própria organização escolar produz o insucesso dos alunos e provoca a separação entre a escola e sociedade. A utilização de uma pedagogia diferenciada possibilita uma provocação de transformação profunda, ao propor enfrentamentos que respondam às diferentes expectativas e necessidades dos alunos para que adquiram competência de intervenção na sociedade. O currículo não deve descuidar da especificidade das diferenças, pluralidade, múltiplos olhares da aprendizagem e a chamada cultura popular, os professores devem ter competências para
entender que os alunos são tal como nós próprios, seres sociais com uma bagagem própria de crenças, significados, valores, atitudes e comportamentos adquiridos em ambientes extra-escolar, que devem ser considerados. O professor é o elo articulador entre a sociedade e a escola, fazendo da instituição escolar um local de pluralismo cultural, de referências e identidades legitimada, de caminhos e procedimentos de aprendizagem dos alunos.
A questão política maior é continuar a democratizar o ensino. O problema
teórico maior continua o de explicar as desigualdades de sucesso escolar, ou melhor, de compreender porque alguns obtêm êxito na escola e outros fracassam, em particular quando as condições de escolarização parecem as mesmas. Contudo, não se pode ignorar que o sucesso é um julgamento feito pela instituição, para distinguir rigorosamente o que sabem ou o que sabem fazer os alunos na realidade. Portanto, a explicação das desigualdades não pode ignorar essa construção social do sucesso e do fracasso.
Se cada um é livre para definir o sucesso escolar “ideal” segundo seu interesse, a definição institucional tem força de lei e exerce, queiramos ou não, uma forte influência sobre o destino dos alunos (progressão, orientação, certificação etc).
Como vimos a definição institucional do sucesso e das formas e normas de excelência escolar varia segundo os sistemas educacionais e, no interior de cada um, segundo as épocas. Ela não é imutável, ao contrário, varia, conforme os parâmetros de ensino, os níveis e as disciplinas. Cada julgamento feito sobre o sucesso de um aluno se baseia em formas e normas de excelência institucionalmente definidas, mas resulta também de uma transação – com armas desiguais – entre os atores.
CONCLUSÃO
A escola não tem o monopólio da instrução. Parte dos saberes e do saber-fazer aparentemente mais “escolares” são parcialmente construídos fora da escola, principalmente nas famílias, começando pelo saber ler.
Quer se trate de educação ou de instrução, a escola não se deve furtar à obrigação de fazer a sua parte específica dentro de um conjunto de influências – favoráveis ou desfavoráveis – em relação às quais ela não pode ser considerada a única responsável. Seria, portanto adequado definir um “sucesso educativo global”, incluindo a ação da escola, mas também levando em consideração o trabalho das outras instâncias, a família, a mídia, a rede de associações, a comunidade, os clubes esportivos etc.
O sucesso escolar deveria coincidir com o conjunto das missões da escola, portanto cobrir uma parte da ação educativa, aquela que caberia à escola assumir. Seria desejável que essa expectativa fosse explicitada e remetesse a objetivos de formação, em sentido amplo, em vez de permanecer subentendida, o que impede a escola de construir os meios para suas ambições educativas, como se vê a propósito da cidadania. Seria conveniente também romper com uma distinção simplista entre uma instrução essencialmente cognitiva e uma educação essencialmente afetiva, social ou relacional.
Todas as aprendizagens fundamentais associam de uma parte, conceitos, conhecimentos e, de outra, uma relação com o mundo, um projeto, atitudes, valores.
REFERÊNCIAS
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MORIN, Edgar. O Método 6: Ética. Porto Alegre: Sulina, 2005. 222 pp.
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Trad. Catarina E. F. da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: UNESCO, 2000.
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Aristóteles – Ética a Nicômaco ( Coleção Obra-Prima de cada autor). São Paulo. SP.Ed. Martim Claret Ltda. 2001
JARES, Xésus R. A Cidadania no Currículo. Pátio: Revista Pedagógica. Ed. Artmed, novembro de 2005/janeiro de 2006. N 36.
PERRENOUD, Philippe. SUCESSO NA ESCOLA: SÓ O CURRÍCULO, NADA MAIS QUE O CURRÍCULO! Tradução: Neide Luzia de Rezende Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Genebra. 2001