A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA

Fernando Edson de Abreu Ramos

1.      Introdução

O presente artigo tem como foco de debate a agricultura no Brasil e o seu consequente processo de modernização. Para isso é necessário estabelecer as diferenças entre modernização e mecanização do campo. O objetivo geral é fazer uma reflexão sobre como se deu as transformações na agricultura brasileira, visando contribuir através da discussão teórica relativa ao tema.

2.      A diferença entre a modernização no campo e a mecanização agrícola

A modernização no campo é um fenômeno que ao nosso olhar engloba variáveis relativas às técnicas, mas também variáveis relativas ao social. As infra-estruturas e as mudanças da dinâmica da vida no meio rural permitem-nos compreender esse conceito no plano da realidade. Já a mecanização da agricultura está relacionada com a utilização de máquinas e tecnologias através de pesquisas com a finalidade de aumentar a produção agropecuária.

De acordo com Silva (1999) a mecanização da agricultura no Brasil, fez com que houvesse um crescente uso de insumos agrícolas, pois a modernização agrícola requer mais elementos artificiais nas atividades de produção.  Dessa forma a agricultura mecanizada é integrante de uma cadeia mais ampla, a indústria, que muitas vezes é implantada no próprio campo reduzindo assim os custos de transporte, tem a finalidade de processar a matéria prima, além de fornecer insumos a esse modelo de produção, formando grandes complexos agroindustriais, esse foi o caminho ao qual o Brasil resolveu escolher como modelo de desenvolvimento.

Mazoyer e Roudart (2010) afirmam que a revolução verde na década de 1960 veio trazendo uma intensa mecanização e houve em vários países políticas de incentivo para os agricultores se modernizarem, muitos fizeram o uso dessa modernização graças a essas políticas. No entanto, ao se falar em modernização da agricultura, devemos ter em mente que tal processo se dar de forma ampla e contraditória, não se limitando apenas aos aspectos puramente da mecanização produtiva, e sobre tudo revelando conflitos nas relações sociais de produção.

 

A organização do espaço brasileiro recebeu forte influência dos latifúndios escravocratas e do modelo agroexportador, primeiro com a cana de açúcar ou pecuária de gado no Nordeste, e depois com o café no Sudeste, de modo que tal sistema de produção ainda não demandava de mecanização. Somente é possível identificar o início do processo de modernização da agricultura brasileira a partir do processo de industrialização e urbanização do país. 

 

As relações de trabalho eram baseadas na mão de obra escrava e em alguns lugares, como no Sudeste, nos latifúndios do café, já coexistia a mão de obra contratada e temporária. Por tanto, a mecanização da agricultura brasileira, e a consequente proletarização dos pequenos agricultores, convertidos em mão de obra para os médios e grandes produtores, se evidencia simultaneamente ao processo de crescimento das cidades e do êxodo rural, resultado da mudança no padrão das relações sociais de produção no campo.

 

Nesse contexto, a trajetória do desenvolvimento e consolidação do setor industrial brasileiro, bem como da evolução das atividades agrícolas do modelo agroexportador contribuiu para o aumento do número de trabalhadores rurais expropriados no campo, favorecendo uma maior complexidade dos problemas sociais no campo (SANTOS, 2007, p. 23).

 

Aqui, cabe dizer que tal complexidade da problemática social no campo brasileiro, forjou o acirramento das lutas no campo e como consequência a uma maior organização sindical e maior conscientização política dos movimentos dos trabalhadores rurais. “Até então, pôde-se afirmar que o movimento dos trabalhadores rurais ocorria de forma isolada, sem um contexto classista e com conflitos bastante violentos” (SANTOS, R, 2007, p. 23).

 

“Nas novas relações de produção que iam se implantando no campo, nenhuma vantagem adicional era concedida à força de trabalho” (MARTINEZ, P, 1987, p. 19). Tal modernização não se estendeu além dos processos de mecanização concentrado em alguns grupos de grandes produtores agropecuaristas.

 

E dessa forma, não podemos falar em modernização trabalhista ou melhorias na qualidade de vida do trabalhador rural e do homem camponês, dentre tantas outras lutas que se desenrolam no campo. “Pelo contrário, até os vínculos de compadrio e de paternalismo se extinguiriam e o novo modelo de produção capitalista, ainda incipiente na época, agravaria em muito a situação do trabalhador” (MARTINEZ, P, 1987 p.19).

 

A concentração da posse da terra é um dos fatores responsáveis pelo agravamento da produção de alimentos no Brasil. Os produtores de exportação sempre foram privilegiados em termos de crédito, pesquisa e demais políticas governamentais de incentivos. Do açúcar dos tempos coloniais ao café republicano e à soja nos anos setenta, as condições de rentabilidade do setor exportador sempre foram as melhores, e para tais atividades se direcionavam os maiores capitais. Estas sempre foram à caracterização básica da agricultura brasileira até os anos recentes: o setor moderno, dinâmico, de grandes propriedades, vinculado ao mercado internacional, e o setor tradicional, de baixa produtividade, ligado aos pequenos produtores (SILVA, E, 1994, p. 24).

 

Como consequência desse estado de tensão social no campo, “as lutas dos trabalhadores vão se disseminando e várias tem sido as frentes, são os posseiros em luta pela propriedade da terra, são as nações indígenas demandando a demarcação dos seus territórios” (OLIVEIRA, 1993, p. 52). Ainda de acordo com o referenciado autor, podemos incluir os membros dos trabalhadores rurais sem terra, acampados, e mesmo os boias-frias em greve por melhores salários e condições de trabalho.

 

3.      Considerações finais

 

Podemos extrair do texto produzido durante os estudos de elaboração do presente artigo, que o Brasil enveredou pela opção do modelo de desenvolvimento pautado na grande propriedade, dessa forma dando continuidade ao modelo agroexportador que sempre predominou no espaço brasileiro desde o período colonial, com a diferença que agora temos mecanização, proletarização no campo, expropriação, além da permanecia de formas nada modernas de relações de exploração da forca de trabalho, a famosa “modernização conservadora” logo, tal modelo é em parte causa dos problemas sociais do Brasil, como exemplo o êxodo rural, favelização, dentre outros.

 

4.      Referências

 

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A Geografia das lutas no campo. 5° Edição. São Paulo: Contexto, 1993.

 

MARTINEZ, Paulo; Reforma Agrária: questão de terra ou de gente? São Paulo; Moderna, 1987.

 

MAZOYER, M, ROUDART, L. história das agriculturas no mundo do Neolítico à crise contemporânea. Tradução de Cláudia F. Falluh Balduíno Ferreira. São Paulo. UNESP, 2010, p.28-29.

 

SANTOS, Josafá Ribeiro dos. A questão agrária no Piauí e as políticas de sustentabilidade para os assentamentos rurais: a experiência do assentamento quilombo em Altos / José de Freitas - Pi. 2007. 151f.  Dissertação (Mestrado) - Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2007.

 

SILVA, G. Tecnologia e Agricultura familiar. Porto Alegre, UFRGS, 1999, p.92.

SILVA, Adenilde Evangelista. Agricultura e Ecologia. Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí. Carta CEPRO, Teresina, V.15 – n1, pág. 1 a 104, Jan;Jun, 1994.