A MOBILIZAÇÃO DOS PROFESSORES DE DOURADOS E OS ATOS DOS GOVERNADORES DE MATO GROSSO DO SUL

Professor Me. Ciro José Toaldo

 Os impasses políticos afetaram ainda mais a situação do magistério público em Mato Grosso do Sul, pois, os desentendimentos no interior da ARENA, partido de sustentação do regime militar, fazem com que ocorra a nomeação de três governadores entre 1979 e 1980: Harry Amorim, Marcelo Miranda e Pedro Pedrossian. Neste período é grande a defasagem salarial dos professores, que passam pelo arrocho salarial, assim como a maioria dos trabalhadores brasileiros deste período.

Harry Amorim e Marcelo Miranda faziam grandes promessas de melhoria dos salários aos professores. O Secretário de Educação de Marcelo Miranda, Juvêncio da Fonseca, ao participar da Assembléia da ADP, pedia paciência ao magistério, promete melhorias no salário da categoria e os professores que ainda estavam ligados ao Mato Grosso seriam enquadrados. Cansados de ouvir promessas, o magistério organiza uma grande passeata em Campo Grande em 27 de março de 1980, contando com a presença de cerca de seis mil professores sendo que a ADP consegue levar 40 ônibus e vários carros particulares. Esta mobilização levou o jornal “O Impacto” a afirmar: “Campo Grande parou para ver a maior e mais ordeira passeata de protesto já realizado no Centro-Oeste brasileiro”. O professor Biasotto, na época vice-presidente da FEPROSUL, juntamente com o presidente da ADP, organizaram em toda a região da grande Dourados, compreendida pelos municípios de Ponta Porá, Itaporã, Rio Brilhante, Caarapó, Fátima do Sul, Deodápolis, Glória de Dourados, Ivinhema, Antonio João, Naviraí, Nova Andradina, Angélica e Bataguassu, Assembléias Gerais que mobilizavam a categoria. A mobilização deu resultados, pois, os professores conseguem o maior índice salarial da história do magistério público estadual que alcança, nesta época 2,9 salários mínimos7.

Um relato do que representa a ADP, no contexto das lutas reivindicatórias do magistério sul-mato-grossense, é feito pelo professor Biasotto, quando argumenta que a primeira grande greve estadual da categoria foi uma iniciativa dos professores douradenses: “A FEPROSUL não tomava a iniciativa da paralisação, pois, nas Assembléias Gerais, não se obtinha maioria favorável à paralisação. Não suportando essa conjuntura de indecisão, a ADP tomou a iniciativa do movimento, deflagrando a partir de 10 de novembro de 1981, aquela que seria a primeira greve geral do Estado”.

(1991,p.116)

Na eleição para o governo estadual de 1982, esteve presente na Assembléia Geral da ADP, em setembro, o candidato da oposição Wilson Barbosa Martins (PMDB) que dizia aos professores douradenses: “as sugestões da FEPROSUL e da ADP serão levadas em conta em meu governo”. E com o apoio dos professores e da sociedade, Wilson Barbosa Martins, se torna o 1º governador de MS, eleito pelo voto popular e Pedrossian, ao passar o poder ao sucessor, no início de 1983, entregava um Estado endividado e como revanchismo reajusta o salário do funcionalismo público em 97%.Mas o apoio eleitoral dado pelos professores a Wilson Barbosa Martins foi esquecido, pois, em abril de 1984, o piso salarial dos professores era de um salário mínimo e as reivindicações do magistério público não eram atendidas. Esgotadas as negociações é deflagrada a 2ª grande greve da categoria. A ADP mobiliza e organiza a região de Dourados.

As mobilizações dos professores são ainda maiores quando, novamente, em 1987, assume o governo do Estado, Marcelo Miranda, eleito pelo voto popular. A Associação Douradense de Professores na vigência do mandato de Marcelo Miranda (1987-1990) realizou 115 Assembléias Gerais, num espaço de três anos, ao passo que de sua fundação, em 1978, até o ano de 1986, em oitos anos e o Estado sendo governado por quatro governadores são realizadas 50 Assembléias Gerais.

Em 1987, os professores permaneceram 32 dias paralisados, com adesão de 97% da categoria, reivindicando 63% de reposição salarial, mas Marcelo Miranda oferecia 18%. Uma das estratégias utilizadas para surtir efeitos nesta greve foi a realização de uma grande passeata, em Campo Grande, em 11 de novembro de 1987, com 20 mil pessoas participando deste ato do magistério publico estadual, mas o governador Marcelo Miranda não recebia as lideranças do magistério e publicou no DO de 13/11/87, medidas autoritárias.

Em 1988 os professores ficam paralisados 30 dias, pois, Marcelo Miranda havia congelado os salários, e neste período, a ADP mobilizou a região de Dourados, participando de manifestações de professores em vários municípios, demonstrando que a força da FEPROSUL estava no interior de Mato Grosso do Sul.

Em 14 de março de 1989 a Associação Douradense de Professores era transformada em Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação de Dourados – SIMTED, pois, com a Constituição de 1988, os funcionários públicos podem se sindicalizar. O mesmo acontece com o organismo estadual do magistério – a FEPROSUL, passando a ser Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul  – FETEMS, mas a luta continuava. Como afirma Marx: “A luta de classe é o motor da história”. E em Dourados e no Mato Grosso do Sul o desrespeito dos governantes com o funcionalismo público, acirram a luta de classe, como no final do governo de Marcelo Miranda, ficam cinco meses sem receber os salários, promovendo o triste episódio da tomada da Governadoria (local onde o governador do Estado desempenha suas funções), onde permanecem por trinta dias.  E com o terceiro governador eleito em 1990, Pedro Pedrossian a luta se intensifica, pois, continua o descaso com o servidor público.

Dessa forma, ressaltam-se as palavras de Gramsci8 ao comentar sobre os movimentos sociais e a tomada de consciência de seus membros: “Podemos dizer que nenhum movimento real adquire repentinamente consciência de sua totalidade, somente por meio de experiências sucessivas, quando toma consciência, pelos fatos, de que nada do que é, é natural, mas que tudo existe porque existem certas condições cuja aparição trará conseqüências.”.(1990, p.26)

O rodízio de poder em Mato Grosso do Sul, com a política de arrocho salarial e desrespeito às organizações sindicais, notadamente na área educacional, seguindo o exemplo do Governo Federal, é estabelecida por três representantes da oligarquia tradicional sul-mato-grossense: Marcelo Miranda, Pedrossian e Wilson Barbosa Martins que permanecem no poder por 20 anos. Este ciclo da rotatividade do poder é rompido em 1998, com a vitória de José Orcírio, o Zeca do PT.

Pelo exposto, os anos oitenta e noventa, o movimento sindical foi intenso em grande parte do território brasileiro e, sobretudo entre o funcionalismo público, acontecem grandes mobilizações. Os professores, no Mato Grosso do Sul, se organizam em associações, como a ADP e tendo na FEPROSUL e FETEMS o centro dirigente das mobilizações.

A partir da interferência direta dos trabalhadores, buscando solucionar seus problemas, há um crescimento e fortalecimentos dos sindicatos brasileiros, contrariando a tendência de crise das organizações sindicais na maioria dos países latinos americanos, pois, os sindicatos cresciam e se fortaleciam com as ações vindas de sua organização. A mudança dentro do sindicalismo brasileiro demonstra, como argumenta Armando Boito o “fortalecimento e ampliação do movimento sindical”. Constatação esta também confirmada pelo professor Ricardo Antunes, dizendo que a década de 80 foi positiva ao sindicalismo brasileiro. 

A mobilização dos professores da rede pública de Mato Grosso do Sul e sua relação com a nova forma de organização dos trabalhadores do Brasil, demonstra o quanto o grupo do magistério sul-mato-grossense mobilizou-se e fez aumentar e crescer a luta pela autonomia e liberdade sindical.

Reacender a mobilização dos professores de Mato Grosso do Sul é um das forma para  revigorar os anseios e de uma categoria que deve ter viva em sua memória o espírito de luta, como bem sintetiza o editorial do Jornal Quadro Verde: “Como nós professores do ensino público de Mato Grosso do Sul, nunca nos acomodamos, precisamos estar unidos para mostramos nossa força e garra para continuarmos na luta por melhores condições de trabalho”.